No dia 13 de março aconteceu no Tucarena o evento “Pública 13 anos: O jornalismo na linha de frente da democracia”, em comemoração aos treze anos da Agência Pública, essa que desde 2011 é a primeira agência de jornalismo sem fins lucrativos no Brasil. O encontro reuniu jornalistas, intelectuais e estudantes para debater assuntos como desinformação e populismo digital, cobertura de governos de uma forma equilibrada e por fim o colapso climático e o Antropoceno.
Ao longo do dia, a palestra contou com três mesas, com tópicos de grande relevância, e a última do dia tinha como tema “Colapso Climático e o Antropoceno”, com nomes importantes para o assunto, como o indígena Ailton Krenak, o climatologista, Carlos Nobre, e a repórter ambientalista do valor econômico, Daniela Chiaretti. O debate teve como mediadora Giovana Girardi, jornalista e chefe de na cobertura socioambiental da Agência.
O debate teve reflexões sobre a emergência e o esgotamento global. No decorrer da palestra, houve reflexões sobre a ascensão de governos extremistas e autoritários e como eles crescem por meio das eleições, de uma forma democrática, desafiando diariamente a luta pelas causas ambiental. Além da questão não ser uma pauta política e nem que elege candidatos.
Para Krenak, a UNESCO e ONU são órgãos incoerentes quando se trata de meio ambiente e que “são superestruturas autoritárias que suportam a marcha do capitalismo no planeta comendo o corpo da terra”, afirma o ativista. Ainda compartilhou, indignado, quando estava em um comitê com a UNESCO para delimitar reservas de biosfera, e no dia seguinte o mesmo órgão estava patrocinando uma reunião em Paris sobre como iriam explorar outras reservas para a mineração.
Quem é Ailton Krenak?
Ailton Alves Lacerda Krenak é um ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro. Original de Minas Gerais, Ailton nasceu em 29 de setembro de 1953 no município de Itabirinha, região do Médio Rio Doce, onde morou até o final de sua adolescência. Mudou-se para o Paraná com sua família, onde foi alfabetizado e posteriormente se tornou jornalista e produtor gráfico. Em 2023 tornou-se o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), eleito com 23 votos.
Ailton, que nasceu e cresceu no povoado indígena Krenak, acompanhou desde sempre as grandes devastações ecológicas causadas pela extração de minérios. Acompanhar tão de perto essa situação o motivou a participar de projetos que pudessem proteger o meio ambiente e hoje ele se tornou um dos grandes líderes da sua comunidade.
Durante a década de 80, Krenak passou a direcionar seu estudo e participar cada vez mais ativamente de causas indígenas. Fundou a organização não governamental (ONG) Núcleo de Cultura Indígena e teve grande influência na reformulação da mais recente Constituição Federal. Protagonizou uma cena emblemática durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1987, em forma de protesto pintou seu rosto com tinta preta de jenipapo.
"O ovo indígena tem regado com sangue cada hectare dos 8 milhões de quilômetros quadrados do Brasil. Os senhores são testemunhas disso”. Criticou as violências sofridas pelos povos originários, principalmente as que beneficiam economicamente alguns grupos, ao passo que sua face era coberta por um pigmento que em sua tribo é usado para simbolizar o luto. Esse momento foi essencial para a redemocratização do país, sendo, no ano seguinte (1988), adicionado um capítulo na Constituição que engloba os direitos indígenas e garantem que os ferimentos dos mesmos possam ser julgados.
Sua obra A vida não é útil traz uma visão de como a sociedade brasileira se estruturou com todos os reflexos deixados pela colonização europeia tanto no âmbito social quanto no ambiental. Ressalta que a exploração dos recursos naturais da Terra está diretamente ligada à invisibilidade que os negros e povos originários estão acometidos. O livro é um compilado de entrevistas e palestras que o autor deu ao longo de 2019 e 2020, então aborda também questões do Covid-19 onde Ailton se opõe ao discurso capitalista de que a economia não deveria parar.
Krenak expressa uma opinião contrária a biólogos e alguns economistas. Para ele não existe uma era e sim um fragmento curto que eventualmente pode fazer a humanidade desaparecer da terra, assim como o ser humano já está fazendo com outros organismos que vieram antes. As pessoas usam erroneamente o pretexto de estar num mundo que já está desaparecendo e por isso não se movimentam para tentar fazer de fato uma mudança efetiva. "Nós somos bem-vindos aqui, o que não é bem-vindo é o nosso modo de estar aqui. Nós estamos do jeito errado aqui na Terra."
Uma nova era geológica?
O Antropoceno, termo de Paul Crutzen, é um conceito que tem ganhado destaque significativo no âmbito acadêmico e científico nas últimas décadas. Originado da junção das palavras gregas "anthropos" (ser humano) e "kainos" (novo), o termo foi proposto para descrever uma nova época geológica na qual as atividades humanas se tornaram a principal força modificadora dos processos naturais da Terra. Sua adoção como uma unidade formal de tempo geológico ainda é objeto de debate entre os geocientistas, mas sua relevância transcende as fronteiras disciplinares, influenciando campos tão diversos quanto ecologia, sociologia, economia e ética. Em 1995 Paul Crutzen, um químico atmosférico que recebeu o Prêmio Nobel de Química por seu trabalho sobre a química da atmosfera, especialmente a formação e decomposição do ozônio. Além disso, eventualmente ficou conhecido por popularizar o termo "Antropoceno".
“Estava em uma conferência e alguém mencionou o holoceno. De repente, pensei que esse termo era incorreto. O mundo tinha mudado muito. Eu disse não, estamos no antropoceno.”— Paul Crutzen
Uma das principais questões para definir esse evento é a noção de escala. Enquanto os processos geológicos “tradicionais” operam em escalas de tempo e espaço longos, e muitas vezes imperceptíveis em uma vida humana, as transformações associadas ao Antropoceno ocorrem em uma escala temporal e espacial significativamente mais curta. Fenômenos como a contaminação dos oceanos, o derretimento das calotas polares e a urbanização rápida são algumas das mudanças que ocorrem em escalas de tempo de décadas ou séculos, em contraste com os milhões de anos associados a eventos geológicos anteriores.
As atividades humanas não apenas moldam o ambiente natural, mas também são moldadas por ele, criando sistemas socioecológicos complexos e dinâmicos. Na ciência, sua aceitação como uma unidade de tempo geológico pode mudar nossa compreensão da história da Terra e ajudar na previsão e gestão de mudanças ambientais. No campo político e econômico, exige uma revisão dos modelos de desenvolvimento que dependem da exploração irrestrita dos recursos naturais. Eticamente, levanta questões sobre nossa responsabilidade para com o futuro do planeta e sua biodiversidade.
Clodovil Hernandes nasceu no interior de São Paulo, em Elisiário, no dia 19 de junho de 1937. Neste ano de 2024, completam 15 anos da sua morte. O garoto teve uma educação rígida e estudava em um colégio interno católico, mesmo não tendo tantos subsídios para isso. Sua formação inicial foi de professor, entretanto, acabou não seguindo a profissão, pois seus interesses eram outros. Não chegou a conhecer a sua família biológica, mas foi adotado por uma de espanhóis. Mudou-se de cidade algumas vezes, para Catanduva e Floreal, onde seu pai abriu uma loja de tecidos, e lá sua mãe fazia e vendia vestidos de noiva. A partir desse acontecimento, lhe foi despertada a curiosidade pela moda.
Iniciou sua carreira nos anos 50, em uma época, onde meninos gostarem de ‘’coisas femininas’’, como assuntos que envolviam o universo da moda e habilidades de corte e costura, eram considerados ‘’errado e impensável’’, apesar de seu talento nato, desde jovem para técnicas de desenho. Aos 20 anos, em 1937, se mudou para São Paulo. Nos anos 60, engatou de vez como estilista e nos anos 70, ganhou notoriedade.
Ele foi um dos pioneiros a trazer o prêt-à-porter - roupas de boa qualidade, feitas por um designer, que não são sob medida, mas sim, produzidas em grande escala para serem vendidas ao público; para o Brasil, apesar de, também, ter alcançado sucesso na alta-costura. Em 1991, durante uma entrevista dada a jornalista Lilian Pacce, ,para o veículo da Folha de S.Paulo, foi questionado sobre a sua maior invenção de moda, e respondeu, sem titubear, ‘’inventei o Saint-tropez – o biquíni pedia um cós baixo. Lancei o uso da saia curta por um erro da contramestra. Mandei descer 8 cm num vestido que a Elis Regina usaria no “Fino da Bossa” e ela subiu 8 cm. Só vi na TV. Disse para a Elis: você é louca. Ela respondeu: você mandou! Como boa cliente, não questionava minha criação.’’
Sua casa de moda estava localizada na rua Oscar Freire - um dos redutos mais nobres da cidade paulistana, e seu público-alvo era a alta sociedade que desejava vestir modelos elegantes para festas de debutantes e de casamentos (os mais requisitados), sendo a maioria deles exclusivos. Em suas coleções, era detalhista e apostava sempre nas listras, no xadrez inglês, e adorava trabalhar com linho - era o seu tecido favorito. Suas peças eram focadas no glamour e na elegância da mulher aristocrata. Entre suas clientes mais famosas, estavam a cantora Elis Regina, a atriz Cacilda Becker e as famílias Diniz e Matarazzo.
A parte de sua função como estilista, também chegou a exercer os ofícios de figurinista e ator, trabalhando em algumas produções do audiovisual, do teatro e da dramaturgia: no filme ‘’Corpo Ardente’’ (1966) dirigido por Walter Hugo Khouri; na telenovela ‘’Beto Rockfeller’’, exibida na TV Tupi (1968/1969), e em ‘’Marron Glacé’’ (1979/1980) na mesma emissora. Atuou em algumas obras, interpretando ele mesmo, inclusive em uma peça de sua autoria, intitulada ‘’Ela & Eu’’. Além disso, fez os croquis e os projetos de figurinos da mesma.
Nos anos 80, apresentou o programa ‘’TV Mulher’’ na Globo junto de Marília Gabriela, Marta Suplicy, Ala Szeman e Xênia Bier, que foi um marco na televisão aberta por falar livremente sobre sexo e comportamento feminino. Em 1983, foi para a Band fazer um programa chamado ‘’Clodovil’’. Em 1987, estreou seu primeiro programa solo na Manchete, ‘’Clô para os íntimos’’.
Nos anos 90, a sua marca homônima ficou enfraquecida, e a moda deixou de ser sua fonte de renda principal, perante a isso, ele decidiu mudar o rumo de sua vida, e seguir carreira como apresentador. Em 1992, estreou em um programa de maior visibilidade, ‘’Clodovil abre o jogo’’. Foi nesse talk show em que ele disse, pela primeira vez, um de seus bordões mais famosos: ‘’olha para a lente da verdade e me diz...”. Ainda na televisão, teve uma passagem pela Gazeta no ‘’Mulheres’’ em 2001, e pela RedeTV, no ‘’A casa é sua’’ em 2003. A última atração foi ‘’Por excelência’’ na TV JB, em 2007, após ser eleito deputado federal.
Após alguns desentendimentos que culminaram em sua demissão, decidiu entrar para a política, e se candidatou como deputado federal, por meio do PTC (Partido Trabalhista Cristão). Foi eleito com 493 mil votos, se tornando o terceiro candidato mais votado do país e de São Paulo, sendo o primeiro homossexual eleito neste cargo. A sua orientação sexual, contudo, não o deteve de se posicionar contra a Parada do Orgulho LGBT, contra o casamento homoafetivo e contra o movimento LGBT (na época, só era utilizado a sigla com estas quatro letras). Em uma entrevista para o jornalista Ruy Castro, em 1980, à revista Playboy, Clodovil chegou a proferir o seguinte comentário ‘’nunca fiz apologia de homossexualismo e nunca farei, porque acho um horror levantar bandeira de qualquer coisa. É uma besteira esse negócio de homossexual querer direitos e não sei o quê (...) Este excerto foi publicado posteriormente no jornal Folha de S.Paulo, em 2009.
Em 2007, filiou-se ao PR (Partido da República). Em 2008, apresentou uma proposta de emenda constitucional, que tinha como objetivo reduzir a quantidade de deputados, de 594 para 250, pela economia e eficiência do trabalho. Em 2009, deixou o partido alegando que havia sofrido perseguição interna. Neste mesmo ano, dez dias após a sua morte, três de seus projetos foram aprovados na Comissão de Constituição e Justiça: a obrigatoriedade das escolas divulgarem a lista de material escolar 45 dias antes da data final para a matrícula, a criação do ‘’Dia da Mãe Adotiva’’, como uma homenagem à sua mãe adotiva e a obrigatoriedade da menção dos nomes dos dubladores nos créditos das obras audiovisuais dos quais eles tenham participado.
Cometeu incontáveis gafes ao longo de sua trajetória. Foi racista quando proferiu a frase ‘’Macaca de tailleur’’ para a vereadora Claudete Alves; antissemita quando afirmou que o holocausto havia sido causado pelos judeus, além dos comentários maldosos, por exemplo, quando falou para a deputada Cida Diogo, a seguinte frase: ‘’digamos que uma moça bonita se ofendesse porque ela pode se prostituir. Não é o seu caso. A senhora é uma mulher feia’’. Para celebridades, não tinha papas na língua, dizia que enxergava a ativista Luisa Mell como uma ‘’atriz pornô’’, falava que a apresentadora Luciana Gimenez devia ser alvo do Programa Pânico mais do que ele, e que a prefeita de São Paulo, da época, Marta Suplicy, era ‘’uma idiota que pensa que é poderosa’’. Estilista, figurinista, político, apresentador de TV e ator foram algumas das facetas que Clodovil Hernandes chegou a desempenhar antes de falecer em março de 2009, em detrimento de um AVC hemorrágico.
Ocorreu na quarta-feira, 13 de março, uma conversa na PUC-SP sobre a crise climática e o chamado antropoceno, conhecido como a era dos humanos. Os convidados eram o ativista e escritor Ailton Krenak, o climatologista Carlos Nobre e a jornalista Daniela Chiaretti. Foi debatido, principalmente, as mudanças climáticas e o impacto da humanidade na Terra. Krenak abriu a conversa falando sobre como a crise climática afeta de diferentes maneiras as populações, entre as mais desenvolvidas e as mais pobres, existe uma grande diferença de consequências e a gravidade delas. Citando o também escritor Eduardo Galeano, ele diz: “A serpente prefere picar o pé descalço, não de quem usa bota”.
Em sua primeira fala, Chiaretti comentou o fato de o dinheiro proveniente de investimentos para a descarbonização das economias globais foi destinado majoritariamente para países com situação econômica forte, ao invés dos mais fragilizados, citando como exemplo que apenas 6% foram enviados à países latino-americanos. Ela terminou dizendo que “sem dúvida”, a crise climática ameaça as democracias, visto que ela agrava problemas sociais.
Mais tarde, foram respondidas às perguntas do público. Sobre à relação entre o clima e o capitalismo, Carlos Nobre dissertou sobre como estamos chegando perto de ultrapassar os limites em problemas categorizados como “pontos de não retorno”, levando o planeta a um ponto de “ecosuicídio”. Também abordou a questão da juventude, que hoje em dia é mais ansiosa do que nunca, também causado pela incerteza do futuro diante das mudanças do clima.
Nem tudo foi pessimista, porém. Nobre urgiu a todos, dizendo que com uma juventude engajada, é possível tornar o Brasil líder em causas ambientais, ele citou primariamente o problema das emissões de carbono como uma causa viável de ser solucionada.
Fotos por Anderson Guilherme e Matheus Henrique
O aniversário da Agência Pública ocorreu na quarta-feira (13). O local escolhido para sediar o evento foi o Tucarena, teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em parceria com o curso de Jornalismo e a Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes. O público pôde acompanhar três mesas redondas que discutiram os diversos aspectos da defesa da democracia. A primeira, teve como tema: “Desinformação e Populismo Digital” que discutiu o uso de discursos manipulados e extremismo para a promoção de figuras políticas, e como o avanço de tecnologias de inteligência artificial representam uma nova era no combate às fake news.
Em entrevista exclusiva à AGEMT, Natália Viana, co-fundadora da Agência Pública, reforça que deve existir uma maior abertura para o diálogo com diferentes opiniões e que em ambos os lados existem vítimas do discurso único: “O seu adversário político não é seu inimigo, é seu adversário; inimigos mortais não fazem parte da política”, ressalta Viana.
Venha conferir mais informações no link a seguir: https://www.instagram.com/reel/C4tABYuuVZM/?igsh=MXI3MW55dzhxeGdjZw==
Dia 13 de março a Agência Pública comemorou seus 13 anos em um evento realizado na PUC-SP. A agenda contou com três mesas com temas focados no jornalismo independente e luta pela democracia. A mesa “Desinformação e Populismo Digital” trouxe entrevistas com a jornalista e co-fundadora da Pública, Natalia Viana, e de Letícia Cesarino, antropóloga, A cobertura em vídeo para o TikTok pode ser acessada aqui