Entenda como a privatização do transporte público influencia na sua segurança
por
Amanda Campos
Gabriela Blanco
Lorena Basilia
Manuela Schenk
|
10/06/2025 - 12h

Após o trágico acidente na linha 5-lilás que matou um homem de 35 anos, o assunto segurança no transporte público vem sendo amplamente discutido, principalmente quando se fala das vias privadas. A reportagem a seguir fala sobre a falta de segurança na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Em entrevista à AGEMT, o especialista Igor Bonifácio responde algumas das perguntas mais recorrentes sobre o assunto. Assista. 

 

 

 

Casos de violência escolar evidenciam problemas estruturais que demandam políticas públicas urgentes
por
Eduarda Amaral
Emily de Matos
Luis Henrique Oliveira
|
10/06/2025 - 12h

Em abril deste ano, uma aluna bolsista no Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) foi encontrada desacordada no banheiro, após tentativa de suicídio e levada às pressas para o hospital Santa Casa de Misericórdia, no qual ficou internada durante três dias. Segundo a advogada da família, a jovem era alvo de bullying entre os colegas e comumente ouvia xingamentos como “cigarrinho queimado” e “preta lésbica”, além da frase “volta para a África”.

De acordo com a mãe da adolescente, o instituto de ensino já havia sido contactado duas vezes antes do episódio, sem que medidas concretas fossem tomadas. “Ela já vinha relatando casos de racismo dentro da escola desde maio de 2024. Ela chegava em casa chorando, dizia que não tinha amigos e era excluída. Quando a avó ia buscá-la, os outros alunos tiravam sarro dela, com xingamentos racistas”, relatou para o UOL

Em nota, o colégio informou que “está apurando cuidadosamente as circunstâncias do ocorrido, com seriedade e zelo, ouvindo todos os envolvidos no tempo e nas condições adequadas, inclusive a aluna, assim que estiver pronta para se manifestar no ambiente pedagógico”.

O caso infelizmente não é isolado e, hoje, o Brasil conta com mais de 280 mil registros de injúria racial, sendo 318 desses processos envolvendo crianças e adolescentes, conforme dados oficiais levantados pelo Escavador durante os anos de 2022 e 2025. Além disso, foram classificados 175 processos como “Bullying, Violência e Discriminação” no campo de Direito à Educação.

Colégio Mackenzie Higienópolis
Colégio Presbiteriano Mackenzie Higienópolis Foto: Reprodução/Folha deS.Paulo

O ensino privado tem como foco priorizar qualidade educacional, mas muitas instituições negligenciam a construção de relações inclusivas. Para Lanna Cristine, licencianda em linguagem pela Faculdade SESI-SP de Educação, em entrevista à AGEMT, a verdadeira qualidade educacional emerge de ambientes que acolhem todos os estudantes, independente de quem for. Ela observa que muitos estagiários sem formação específica em inclusão tentam integrar alunos ao espaço escolar, mas, na verdade, “é o espaço que precisa ser incluído para o estudante”, pontua Cristine, enfatizando a importância de estruturas institucionais receptivas. “Um espaço que promove acolhimento para o estudante vai promover, consequentemente, a aprendizagem”, conclui.

O problema não se limita apenas às instituições privadas, casos de discriminação são comumente vivenciados em escolas públicas. A última ocorrência que ganhou destaque na mídia situou-se em uma escola pública de Luziânia (GO), quando uma aluna em tratamento de câncer virou alvo de bullying na sala de aula por duas colegas. Os xingamentos – que iam desde o jeito de andar até o cabelo, que estava crescendo após a quimioterapia – afetaram o psicológico da jovem, que, segundo a irmã, “não está conseguindo dormir, não quer mais ir à escola, se sente triste, insegura e muito humilhada”, relatou em entrevista para o Metrópoles.

A Secretaria de Educação do Estado de Goiás (SEDUC-GO) informou em nota que o colégio não havia sido informado pela família da vítima sobre a situação e apenas tomou conhecimento a partir de um vídeo nas redes sociais. Ainda em nota, o órgão estadual disse que acionou o programa “Ouvir e Acolher” para investigar o ocorrido e prestar apoio psicológico para a vítima. 

Dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2019), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, revelam que 23,0% dos estudantes brasileiros se sentiram humilhados por colegas duas ou mais vezes durante os 30 dias anteriores à pesquisa. O levantamento ouviu 11,8 milhões de estudantes entre 13 a 17 anos, e mostrou a disparidade entre as escolas públicas com 50,7% de alunos e 14,5% nas instituições privadas. Características físicas motivam a maior parte das discriminações, aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e cor ou raça (4,6%). O cenário reforça a demanda por políticas efetivas de combate à violência escolar.

As denúncias de violência nas escolas brasileiras cresceram 50% em 2023, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O Disque 100 recebeu 9.530 denúncias sobre violência em instituições de ensino, superando os registros de 2022. Entre janeiro a setembro de 2023, mais de 50 mil violações de direitos humanos foram reportadas em cenários escolares, crianças e adolescentes representaram 74% dos casos envolvendo grupos vulneráveis em setembro.

Luciano Felipe da Silva, professor na EMEF Hipólito José da Costa, defende que não é apenas o ambiente educacional que precisa mudar e que, muitas vezes, os alunos já chegam com os valores deturpados, reproduzindo o que ouvem em casa. “Frequentemente recebemos responsáveis de estudantes que vem à escola registrar reclamações pelo fato de os professores trabalharem temas fundamentais, que estão no currículo, tais como escravidão e intolerância religiosa”, relatou. 

Para Lanna, é possível mudar a questão da cultura escolar a partir de uma gestão que se baseie em questões humanitárias e sociais dentro das instituições, junto de trabalhos pedagógicos que complementem e trabalhem com os alunos como superar a cultura da violência e da intolerância com o diferente. Ela explica que “toda violência que acontece na sala de aula precisa de uma prática inclusiva que parta não de situações, mas de uma missão humanitária. Além de estudantes, eles [alunos] são pessoas em formação, tanto a vítima quanto o agressor, e precisam ser educados para respeitar as diferenças não só no âmbito educacional, mas na sociedade em si”. 

O combate ao racismo e ao bullying no ambiente escolar exige ação constante e políticas públicas efetivas. Como destaca Luciano, “É um trabalho contínuo, a partir da realidade em que eles vivem. Um cidadão pode levar isso para o local em que está inserido e ser um agente de transformação no território.” Enquanto isso não se torna prioridade em todas as esferas educacionais, estudantes de todas as classes sociais seguem sendo vítimas de uma sociedade que ainda não aprendeu a educar sem excluir.

O cantor porto-riquenho Bad Bunny conquistou sucesso no país por meio de trend no Tiktok
por
Mariane Beraldes
Thainá Brito
|
10/06/2025 - 12h

Artistas latinos dominam as paradas mundialmente, mas no Brasil, a presença só cresce impulsionada por trends no TikTok. Bad Bunny e a capa de seu novo álbum "Debí Tirar Más Fotos" confirma isso. Sua música viralizou na plataforma com a produção de memes e vídeos curtos em Janeiro de 2025. "DTMF", uma de suas músicas que ficou famosa, finalmente fez o artista aparecer entre as mais ouvidas no Spotify Brasil, um cenário marcado pela forte presença do funk e sertanejo. 

Rafael Silva Noleto, antropólogo, cantor e compositor, além de professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, em entrevista à AGEMT, explica o porquê do Brasil, mesmo tão próximo geograficamente, não ter costume de ouvir música hispânica. Apesar dos sinais de mudanças no país, ainda há resistência por parte do público brasileiro em consumir músicas em espanhol.

Circo de rua no Ceará leva alegria e risadas em quatro rodas
por
Juliana Bertini de Paula
Maria Eduarda Cepeda
|
09/06/2025 - 12h

Em 2019, Henrique Rosa e Amanda Santos, um casal de artistas no Ceará, voltavam depois de mais um expediente de espetáculos que faziam como palhaços no Parque Aquático de Aquiraz, quando uma ideia, misturada com um sonho, dá origem a um projeto: um circo itinerante em um fusca. Na entrevista, conhecemos mais sobre a história do projeto e seu trabalho pelas ruas do Ceará. 

 

Entenda como as redes sociais podem afetar o desenvolvimento psicológico dos jovens
por
Julia Naspolini
Liz Ortiz
|
09/06/2025 - 12h

Recentemente, as redes sociais foram tomadas por uma “treta teen”. Por dois dias o grande assunto entre adultos e adolescentes foi uma briga envolvendo um grupo de meninas tiktokers. Liz Macedo, Antonella Braga, Júlia Pimentel e Duda Guerra, jovens na faixa de 15, 16 anos, que somam milhões de seguidores nas redes e tiveram um desentendimento envolvendo os namorados, levando a discussão para internet ao gravarem pronunciamentos de suas versões.

Pelo grande número de seguidores, a história viralizou, levando a rede a se dividir em lados na briga e fazendo com que as meninas recebessem muitos comentários de ódio. Toda essa polêmica fez muitos pais se preocuparem com essa superexposição digital que os jovens presenciam. É inegável que as redes sociais têm se expandido cada vez mais entre o público juvenil - tanto no consumo do conteúdo, quanto na produção dele. No mundo de hiperconexão é difícil impedir que as crianças tenham contato com a internet, mas é necessário que haja algum controle, ou no mínimo uma orientação parental do que os filhos estão consumindo ou produzindo.

Foto de Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Foto:Reprodução Instagram

Crescer já é, por si só, um processo delicado. Agora, crescer lidando com uma plateia invisível que pode curtir, compartilhar e criticar suas ações, leva a vulnerabilidade da adolescência a um novo nível.  A internet é uma terra de ninguém, onde há muita desinformação e muitas pessoas escondidas no anonimato que não possuem filtro algum para xingamentos. 

Antes das redes sociais,  cada um era exposto a uma quantidade pequena de pessoas. Hoje, com a vida online tudo que é postado de forma pública, pode ser acessado e comentado por qualquer um. Durante a fase de desenvolvimento em que o cérebro busca constante aprovação, essa superexposição pode ser  extremamente prejudicial à saúde mental, podendo levar o adolescente a desenvolver transtornos como a ansiedade e a depressão.

Além das plataformas digitais reforçarem uma autoimagem baseada na aprovação externa, onde os jovens buscam validação através de curtidas e comentários, elas também fazem com que eles consumam as postagens de outras pessoas que podem gerar constantes comparações com padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade. 

A psicóloga Bruna Marchi Moraes, formada pela Faculdade São Francisco, em entrevista à AGEMT, comenta sobre a diferença entre o uso saudável da internet e de um uso prejudicial. Para Bruna, "o uso saudável é aquele que é intencional, equilibrado e supervisionado — contribui para aprendizado, lazer e socialização, sem substituir as experiências offline. Já o uso prejudicial envolve excesso de tempo de tela, isolamento, consumo passivo de conteúdo, dependência emocional das redes e prejuízo nas atividades do cotidiano como sono, escola e convívio familiar".

A autoestima não é o único aspecto abalado pela exposição em excesso às redes sociais, ela pode afetar também a forma que o adolescente se relaciona com os outros, gerar mudanças bruscas de humor, isolamento, queda no rendimento escolar, desinteresse em atividades que antes eram prazerosas e irritabilidade. Bruna ainda alerta que “estudos apontam correlações entre uso excessivo de telas desde cedo e sintomas de ansiedade, depressão e dificuldades de atenção. A hiperestimulação digital pode afetar o funcionamento do cérebro em desenvolvimento, especialmente em crianças com predisposições genéticas ou ambientais para esses transtornos.”

Para evitar que uma ferramenta valiosa como a internet se transforme em algo negativo, ela defende que o papel dos pais, é  de orientar, supervisionar e modelar o uso responsável da internet. Limites saudáveis envolvem horários pré-estabelecidos, escolha de conteúdos adequados, conversas abertas sobre os riscos e incentivo a atividades offline. Mais do que proibir, é importante ensinar o uso consciente e equilibrado.

Um recado de Bruna aos adolescentes, “Gostaria que soubessem que a internet pode ser uma ferramenta incrível, mas também pode influenciar seus pensamentos, emoções e autoestima de maneira sutil e profunda. Que não precisam se comparar com os outros o tempo todo, e que os momentos desconectados também são essenciais para se conhecer, descansar e crescer com mais equilíbrio”.

Como uma produção brasileira encontrou eco no cenário cinematográfico mundial, tocando plateias de diferentes culturas.
por
Eduarda Gonçalves Amaral
Emily de Matos
Luis Henrique Oliveira
|
21/03/2025 - 12h

Ainda estou aqui, filme brasileiro que mesmo após o fim da temporada de premiações continua conquistando o público e levando pessoas do mundo inteiro as salas de cinema, além do fato de ter se destacado em festivais e conquistado também a crítica especializada. O longa se tornou um símbolo do potencial do cinema brasileiro de conseguir dialogar com públicos diversos, rompendo barreiras culturais e ampliando sua presença no cenário global. Para entender o fenômeno e o grande alcance e impacto da obra, conversamos com Alexandre Almeida, crítico do site Omelete, e Kelvin Andrade, cineasta, que falaram sobre a obra e como ela refletiu no momento atual do audiovisual brasileiro. Como destaca um dos entrevistados, "o coração da obra, vamos chamar assim, é afeto, memória, resistência" — elementos universais que ajudaram a levar o filme a novos territórios e a sensibilizar diferentes culturas.

Elenco de “Ainda Estou Aqui” durante as filmagens
Elenco de “Ainda Estou Aqui” durante as filmagens. Foto: Reprodução/Instagram/@valentinaherszage

A adaptação cinematográfica dirigida por Walter Salles conquistou 39 prêmios e recebeu três indicações ao Oscar, levando pela primeira vez um filme brasileiro ao prêmio de Melhor Filme Internacional. Ainda Estou Aqui está sendo exibido em 25 países e no dia 18 de março de 2025 o longa arrecadou mundialmente US$36 milhões, conforme dados divulgados pelo site Collider. De acordo com o Box Office Mojo, nos Estados Unidos o filme teve uma arrecadação de US$ 6 milhões e alcançou a posição de terceiro filme com maior bilheteria mundial entre as produções brasileiras, ficando atrás de Minha mãe é uma peça 2 (2016), com US$ 39 milhões, e Tropa de Elite 2: O inimigo Agora é Outro (2010), com US$63 milhões.

Segundo Andrade, o longa-metragem teve uma grande expansão de salas em diversos países porque “o filme já vinha com o ‘burburinho’ gerado pela premiação em Veneza e por ser dirigido pelo Walter Salles, que é conhecido internacionalmente”. Além disso, destaca a estratégia da indústria cinematográfica e o investimento da Sony Classics ao expandir o filme ao público geral a partir da campanha do Oscar, que incluiu a indicação de Fernanda Torres como melhor atriz e de Ainda Estou Aqui como melhor filme.

“O festival de cinema é uma vitrine”, afirma Alexandre. “Festivais como Cannes, que é muito fechado para imprensa e para convidados, funcionam pelo glamour.” mas de acordo com o crítico, Cannes é importante para filmes que estão em busca de distribuição internacional. “Outros festivais por exemplo, Toronto é um evento aberto para o público e funciona como burburinho”

O crítico argumenta que a qualificação de um filme é moldada tanto pelo reconhecimento de festivais de cinema que premia filmes selecionados por júris qualificados quanto pela busca do público por validação externa. “A gente adora um rótulo, adoramos uma legitimação que não é propriamente a nossa, é de outra, de alguma esfera de fora que vai dizer para a gente que aquilo é bom para a gente poder ver.”

A película foi baseada na autobiografia de mesmo nome escrita por Marcelo Rubens Paiva, na qual conta sobre sua infância enquanto lidava com o exílio de seu pai na ditadura. Na trama, acompanhamos Eunice Paiva (Fernanda Torres), matriarca da família que vê sua vida mudar drasticamente após o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva (Selton Mello), enquanto luta pela verdade sobre seu paradeiro. 

“O aspecto principal é a família, é essa mãe. Se você for pegar todas as críticas e entrevistas, sempre se é falado da mãe, o relacionamento, a dor e o luto dela para segurar essa família. Além de ser uma situação que qualquer um pode se identificar, porque todo mundo pode pensar sobre estar com a sua família um dia e no outro um regime opressivo  vir e tirar o seu pai ou sua mãe e você nunca mais vê-los” explica Almeida sobre como a representação da  família foi o que gerou reconhecimento e comoção do grande público, elevando a fama do filme.

Kelvin ressalta que a forma como a ditadura foi abordada na obra também resultou na identificação do público, principalmente aqueles provenientes de países latino americanos que também enfrentaram governos autoritários como o Brasil. “Outros países da América Latina passaram por períodos de ditadura semelhantes a gente, e isso foi um ‘apelo’ muito forte internacionalmente, ainda mais para esses países em volta do nosso, que passaram por esses períodos horríveis. Acho que nesses países deve ter tido uma certa identificação por esse fato”.

A universalidade da história fez com que o público estrangeiro conseguisse compreender a narrativa e o que se passava no país durante os anos 1970, ajudando a propagar cada vez mais o filme. Alexandre Almeida explica que, quanto mais universal o filme é, mais chances de quebrar as barreiras entre culturas pela identificação. “O Parasita, por exemplo, que foi o último filme internacional realmente badalado no Oscar e nas premiações, é um filme sobre família e sobre questões sociais que não são só da Coreia do Sul. A mesma coisa acontece em Ainda Estou Aqui, a história da família Paiva também é muito universal para outros lugares. Em qualquer lugar do mundo você pode ter histórias em que a violência de uma ditadura tira o pai ou a mãe ou algum membro da família”.

Em um cenário cinematográfico cada vez mais globalizado, Ainda estou aqui se destacou não só pela sua narrativa sensível sobre a família Paiva, mas também pela sua veracidade sobre a realidade do Brasil, Andrade reforça que o que impulsiona as audiências internacionais é o jeito, que o filme retrata o período da ditadura no Brasil, e isso ressoa muito na sociedade, por gerar identificação e também a realidade da história do país. O filme conseguiu tocar o público com uma história que mesmo sendo brasileira, continua tendo uma linguagem universal, que reflete a originalidade e a identidade de um país que por muitas vezes é marginalizado em obras de grande alcance.

Essa autenticidade, aliada a uma abordagem inovadora e realista não é o único fenômeno nacional cinematográfico isolado. “Central do Brasil, Cidade de Deus e Que horas ela volta? A gente pode falar que não teve essa mesma expansão Internacional, mas para mim tem, independentemente dos números de bilheteria, tem uma relevância cultural bem semelhante e, esses filmes que citei não tiveram só o impacto nacional, mas Internacional também. Foram filmes que retratam outras realidades e momentos do Brasil e a relevância cultural indiscutível.” afirma Andrade. 

Marjorie Estiano e Isabél Zuaa como Ana e Clara, respectivamente, no filme “As Boas Maneiras”
Marjorie Estiano e Isabél Zuaa como Ana e Clara, respectivamente, no filme “As Boas Maneiras”. Foto: Divulgação/Reprodução/O Globo

O entrevistado também ressalta sobre nossa diversidade audiovisual, com o investimento em gêneros como terror e comédia que levaram as pessoas para a sala de cinema, usando de exemplo Lobo Atrás da Porta e Minha mãe é uma peça que são memoráveis. 

“Essas obras vão influenciar também outros filmes, já se tem os filmes de terror, tipo Boas Maneiras, então são filmes que vão influenciar culturalmente as obras e ter a atenção do público. É fácil a gente apontar a Tropa de Elite, Cidade de Deus, Central do Brasil como as grandes influências na cultura, sendo que eles na verdade são os nossos blockbusters”.

Descubra como a criação legal de animais selvagens pode contribuir para a preservação da biodiversidade
por
Francisco Barreto Dalla Vecchia
|
18/03/2025 - 12h

O Brasil tem um dos maiores mercados de pets do mundo. A  Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) estima que o mercado atingiu um faturamento de R$ 77,3 bilhões em 2024, representando um crescimento de 12,6% em relação a 2023. Neste cenário, o mercado de animais silvestres e exóticos é o que mais cresce proporcionalmente a cada ano.

Entre 2022 e 2024, o mercado brasileiro de aves ornamentais apresentou um crescimento significativo. O faturamento aumentou de R$ 41 milhões para R$ 47 milhões, representando um incremento de R$ 6 milhões, ou aproximadamente 14,6% no período. No mesmo intervalo, o segmento de animais não convencionais, que inclui pequenos mamíferos, répteis e anfíbios, registrou um aumento de faturamento de R$ 10 milhões para R$ 14 milhões. Isso equivale a um crescimento de R$ 4 milhões, ou 40% no período. Ezequiel Dutra é biólogo, responsável técnico e gerente do Galpão Animal, loja de animais exóticos mais tradicional de São Paulo. Com mais de 16 anos de experiência no local, ele acompanha de perto a evolução do mercado e o crescente interesse por esses animais. Assista a entrevista completa em vídeo

 

 

 

Em 2025, após o aumento de 13,4% na tarifa de ônibus, a população segue questionando qualidade e falta de investimentos na infraestrutura da cidade
por
Mariane Beraldes
Thainá Brito
|
18/03/2025 - 12h

Na cidade de São Paulo, os passageiros de ônibus enfrentam diariamente desafios para se locomover, devido a atrasos, trânsitos e falhas na infraestrutura para mobilidade. No começo de 2025, o valor da tarifa de ônibus foi ajustado pela Prefeitura de R$4,40 para R$5,00, um aumento de 13,6%. As principais razões apontadas para o reajuste são a diminuição do número de passageiros pagantes e o aumento de custos operacionais.

Para Reynaldo Mantovani, motorista da cidade de São Paulo, os principais desafios enfrentados são as dificuldades de locomoção. “As ruas estão superlotadas de carros e por mais que o rodízio ajude, não é o suficiente. O ideal seria diminuir a quantidade de carros nas ruas no horário de pico, que é das 7h às 10h e das 17h às 20h. Além disso, as ruas são bem apertadas. A gente acaba tendo que dividir com pedestres e ciclistas, isso atrasa bastante”, diz Mantovani.

Segundo a pesquisa Viver em SP 2024, realizada pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ipec, o tempo médio de deslocamento diário de quem utiliza transporte público em São Paulo é de 2h47, somando cerca de 42 dias por ano. Além da demora para se locomover, os paulistanos ainda enfrentam ônibus lotados, realidade ainda mais crítica nas periferias. Segundo Mantovani, a superlotação tem se agravado nos últimos anos. “O problema da lotação existe e não vai acabar tão cedo, porque as pessoas estão cada vez mais nessas áreas. As empresas não investem tanto na periferia, o que acaba sobrecarregando e criando muito transtorno para quem está dentro do ônibus”, desabafa.

Terminal Grajaú, zona sul de São Paulo. Foto: Oliver Santiago
Terminal Grajaú, zona sul de São Paulo. Foto: Oliver Santiago

Nesses locais a falta de manutenção e acessibilidade das ruas, estradas e vias de acesso são mais visíveis e dificultam o processo do percurso do passageiro. Marília Mendonça, moradora da Freguesia do Ó, usuária dos ônibus 9014-10 Morro Grande/Terminal Lapa e 917M Morro Grande/Ana Rosa, evidencia a precariedade da infraestrutura da cidade, a falta de supervisão das periferias e o tempo de espera. “Existem muitos buracos e quase não há manutenção nas ruas, além de ter muita lotação e demora para o ônibus passar. Algumas vezes chego atrasada ou tenho que sair bem mais cedo de casa, principalmente em horários de pico. Nos últimos tempos as vezes compensa mais usar carro de aplicativo”, explica Mendonça. 

O principal projeto de mobilidade do prefeito Ricardo Nunes aposta na implementação de ônibus elétricos como solução sustentável e econômica para a cidade. Esse planejamento não contempla todos os problemas enfrentados pelos usuários, como a dificuldade de integração entre as regiões periféricas e o centro, a lotação dos veículos e o aumento do tempo de espera.

 

Lançamento de inteligência artificial chinesa evidencia a rivalidade com os EUA
por
Ana Julia Mira
Victória Miranda
|
18/03/2025 - 12h

Em janeiro deste ano, a startup chinesa DeepSeek, sediada em Hangzhou, lançou o modelo de inteligência artificial DeepSeek-R1. Um chatbot que concorre com os modelos ocidentais em desempenho, como o ChatGPT, o Google Gemini e o MetaAI, mas com custos menores. Este lançamento destaca a rápida evolução da China no campo da inteligência artificial, desafiando a hegemonia tecnológica dos Estados Unidos e sinalizando uma mudança no equilíbrio global da inovação. 

Aba de início da nova I.A. chinesa, DeepSeek, representada por uma baleia
DeepSeek é concorrente direto de ChatGPT. Foto: Arquivo pessoal.

Para consolidar sua posição, a gigante asiática tem investido massivamente em pesquisa e  desenvolvimento (P&D). Em 2021, o país destinou mais de 400 bilhões de dólares para o setor, tornando-se um dos maiores investidores em inovação. De acordo com o 14º Plano Quinquenal (2021 - 2025), o governo chinês estabeleceu a meta de aumentar esses investimentos priorizando áreas estratégicas como inteligência artificial e biotecnologia. 

O impacto desse avanço se reflete no surgimento das grandes empresas chinesas de tecnologia, como Huawei, Tencent, Alibaba e Xiaomi, que competem diretamente com empresas ocidentais no setor digital e de telecomunicações. Em entrevista à AGEMT, Edgar Nishiyama, diretor de dados, análises e inteligência artificial, da Qbem, e John Pierman, engenheiro em aprendizagem de máquina, da Arancia, detalham as questões que as companhias chinesas ainda enfrentam para superar as norte-americanas.

“A  China continuará avançando em setores onde tem autossuficiência (ex.: baterias, energia solar), mas a dependência de semicondutores ocidentais limita sua capacidade de liderar em IA e computação quântica. Sob sanções de Trump, a liderança será fragmentada: EUA dominarão tecnologias de ponta; China, aplicações comerciais em escala.” diz Nishiyama, que acrescenta: "apesar da rápida evolução chinesa e o forte empenho do país em inovação, a confiabilidade da população mundial em produtos estadunidenses segue consolidada e pode ser um empecilho para a aderência do público em tecnologias vindas do oriente". 

Após, o lançamento da IA chinesa, a Microsoft e a OpenIA iniciaram uma investigação para checar se haviam tido acesso indevido aos dados de treinamento de modelos avançados da empresa. Há desconfiança no campo global a respeito do tratamento de dados por parte da China, que possui uma Lei de Segurança de Dados Cibernéticos que exige o acesso a dados sensíveis de empresas privadas em seu território. A respeito do roubo de dados, com frequência os Estados Unidos os acusam de alguma forma.

O banimento temporário do TikTok durante o Governo Biden, acendeu alertas no mundo todo, por alegar armazenamento de informações de milhares de estadunidenses a pedido do governo chinês, afirmação que foi negada pelos proprietários do aplicativo. Depois de quase um mês fora das lojas de aplicativo, Trump adiou a aplicação da lei que exige a venda da empresa ou a saída do país.

“Acredito que a única maneira da China ser líder global em inovação é, não apenas continuar a desenvolver inovações revolucionárias em vários setores de tecnologia, mas também deve haver alguma queda de confiança na inovação americana”, explica Pierman. 

A ascendência chinesa desafia mais do que apenas o mercado tecnológico, mas uma forte política mundial centrada nos países ocidentais, em especial, os Estados Unidos, que trava uma guerra tecnológica silenciosa que visa minar o crescimento do rival.

Essa expansão não é de hoje, mas, liderada pelo Partido Comunista Chinês (PCC), teve início na década de 1980, impulsionada pelas reformas promovidas por Deng Xiaoping. Ele assumiu o poder em 1978, após a morte de Mao Tsé-Tung, fundador da República Popular da China. Diferente de seu antecessor, Deng implementou uma série de medidas para modernizar a economia, adotando elementos do capitalismo enquanto mantinha o controle centralizado do Estado. Entre suas principais iniciativas estavam a criação das zonas econômicas especiais (ZEEs) que atraíram investimentos externos, e a flexibilização da propriedade privada nos setores produtivos. Essas estratégias transformaram a China em um dos principais polos industriais do mundo e abriram caminho para sua atual aspiração à liderança tecnológica.

A presença de frevo e maracatu nas ladeiras estreitas do sítio histórico da cidade mantém vivas as suas raízes culturais
por
Maria Dantas Macedo
|
17/03/2025 - 12h

Olinda, reconhecida como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco e identificada pelas autênticas festas populares no carnaval, recebeu mais de 4 milhões de foliões neste ano (2025). Essa celebração, que tem suas raízes na resistência e identidade popular, representa grupos africanos e indígenas que deram forma a um dos carnavais mais tradicionais do Brasil. 

O carnaval, apesar de ser organizado sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal de Olinda, tem como protagonismo a participação popular. Em sua origem, no século XIX, festas populares como o entrudo – um tipo de brincadeira de rua em que as pessoas jogavam uns nos outros farinha, baldes de água, luvas cheias de areias etc. – deram lugar a blocos organizados, clubes de frevo, trocas carnavalescas e o maracatu, que estão vivos até hoje.

Com diferentes tipos de festas, como o tradicional clube de frevo “Vassourinhas de Olinda”, as Troças Carnavalescas como “Eu Acho É Pouco”, Clube do boneco com a famosa “Corrida dos Bonecos Gigantes” e o Maracatu, o carnaval acontece gratuitamente nas ruas, sem sambódromos, cordões de isolamento ou trios elétricos segregando as pessoas.  

O jornalista Leokarcio Cavalcanti, pós-graduado em estudos cinematográficos, tem 31 anos e usa da riqueza cultural olindense para criar conteúdos no Instagram e Youtube, conhecido pelo nome de Anfitrião de Olinda. Nascido em Timbaúba, na Zona da Mata, norte de Pernambuco, morou a maior parte da vida em Olinda. Ele comenta sobre a essência popular da festa: “A principal característica dessa festa é ser de rua, feito pelo povo. Qualquer um pode brincar, seja rico ou pobre”. 

Além disso, o frevo e o maracatu são não apenas símbolos da cultura pernambucana e do carnaval, mas também resistência de grupos reprimidos de uma cidade histórica, que possui a religião de matriz africana e indígena em sua construção. Leokarcio acrescenta que “O batuque do frevo e do maracatu eram marginalizados pela elite, sendo motivo de detenção policial. Assim, os grupos artísticos enxergaram sua entrada no carnaval como uma tentativa de sobrevivência”.

Segundo o jornalista, o frevo surgiu no Recife no final do século XIX, com a abolição da escravatura e a Proclamação da República, derivado de uma mistura de ritmos musicais, como o gênero “dobrado”, vindo das marchas militares europeias, e do grupo “fanfarras”, músicos que tocam instrumentos de metal. A manifestação musical foi criada pelos especialmente pelos homens, negros, escravos recém libertos que encontravam no Carnaval de rua sua resistência. 

De acordo com o historiador Mario Ribeiro, devido as brigas e resistências do povo com os movimentos da capoeira durante as festas, o governo proibiu esse esporte. Quando os escravos estavam jogando capoeira na rua e chegava um militar, eles trocavam os movimentos, surgindo, assim, o passo do frevo. A influência da capoeira no passo é perceptível até hoje, no movimento corporal da dança e no nome dos passos. Com uma música de ritmo acelerado, a palavra “frevo” tem origem em 1907, vem do verbo “ferver” e faz associação a como as pessoas dançavam nas ruas, como se estivessem em ebulição.  

Passistas em frente ao Mosteiro de São Bento, no compasso do frevo.
Passistas em frente ao Mosteiro de São Bento, no compasso do frevo. Crédito: Prefeitura de Olinda

A mistura de ritmos, quando somado o povo e a sua diversidade, fez do frevo uma expressão cultural singular, e de grande relevância para o carnaval. Sua contribuição sociocultural é tanta, que teve reconhecimento como Patrimônio Imaterial do Brasil, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Unesco.

Outra manifestação cultural que marca o Carnaval de Olinda é o maracatu. Dividido em duas principais vertentes, o maracatu nação (ou baque virado) e o maracatu rural (ou baque solto), essas tradições também têm raízes na cultura ancestral. Manifestação cultural performática criada para homenagear os Reis do Congo, no qual um cortejo real, composto por rei, rainha, príncipes, princesas, figuras da nobreza, vassalos, baianas, dentre outras personagens, desfilam pelas ruas de Recife e Olinda. O maracatu executa uma dança específica e é acompanhado por uma orquestra percussiva, composta por instrumentos como alfaias (tambores grandes), caixas e taróis, gonguê e ganzás. Este representa uma cultura negra ancestral, presente na região metropolitana do Recife desde o século XIX, com as antigas nações de escravos africanos. Em sua maioria, possuem vínculo religioso com as religiões de matriz africana, como o candomblé. 

Dama do paço e calunga no maracatu nação
Dama do paço e calunga no maracatu nação. Crédito: Tiago Guillen Coreg

Já o maracatu rural, influenciado pela cultura afro-indígena, teve sua origem nas áreas onde foi consolidada a economia açucareira e possui forte presença na Zona da Mata, norte de Pernambuco. Desfilam em cortejo sob a orientação do apito do mestre e sua música apresenta instrumentos percussivos e de sopro. Trata-se de uma manifestação do sobrenatural, em que entidades protetoras são invocadas, em rituais de umbanda, para que propiciem aos brincantes do maracatu sucesso nas suas andanças. 

Em Cidade Tabajara, bairro de Olinda, foliões dançam no Encontro Estadual de Maracatus de Baque Solto de Pernambuco
Em Cidade Tabajara, bairro de Olinda, foliões dançam no Encontro Estadual de Maracatus de Baque Solto de Pernambuco. Crédito: Prefeitura de Olinda 

Leokarcio ressalta que “o frevo e o maracatu existem no carnaval de Olinda não apenas como grandes símbolos da nossa cultura, mas como resistência de uma cidade histórica, que, até os dias de hoje, sente as consequências da escravidão, formada em grande parte por descendentes de pessoas escravizadas. Naturalmente existe uma grande relação dos moradores da cidade na manutenção do frevo e do maracatu pela própria identificação cultural".

Assim, o carnaval de Olinda vai muito além de uma simples festividade. É uma manifestação viva da história, da resistência e da identidade popular. Com raízes nas tradições dos povos africanos e indígenas, o frevo e o maracatu expressam a luta e a criatividade de um povo que transformou a rua em palco de afirmação cultural. No pulsar do frevo e na cadência do maracatu, a cidade reafirma mais um ano seu compromisso com a memória coletiva e com a liberdade de expressão, fazendo do carnaval uma celebração da liberdade, identidade e cultura.