Entenda como a privatização do transporte público influencia na sua segurança
por
Amanda Campos
Gabriela Blanco
Lorena Basilia
Manuela Schenk
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10/06/2025 - 12h

Após o trágico acidente na linha 5-lilás que matou um homem de 35 anos, o assunto segurança no transporte público vem sendo amplamente discutido, principalmente quando se fala das vias privadas. A reportagem a seguir fala sobre a falta de segurança na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Em entrevista à AGEMT, o especialista Igor Bonifácio responde algumas das perguntas mais recorrentes sobre o assunto. Assista. 

 

 

 

Casos de violência escolar evidenciam problemas estruturais que demandam políticas públicas urgentes
por
Eduarda Amaral
Emily de Matos
Luis Henrique Oliveira
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10/06/2025 - 12h

Em abril deste ano, uma aluna bolsista no Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) foi encontrada desacordada no banheiro, após tentativa de suicídio e levada às pressas para o hospital Santa Casa de Misericórdia, no qual ficou internada durante três dias. Segundo a advogada da família, a jovem era alvo de bullying entre os colegas e comumente ouvia xingamentos como “cigarrinho queimado” e “preta lésbica”, além da frase “volta para a África”.

De acordo com a mãe da adolescente, o instituto de ensino já havia sido contactado duas vezes antes do episódio, sem que medidas concretas fossem tomadas. “Ela já vinha relatando casos de racismo dentro da escola desde maio de 2024. Ela chegava em casa chorando, dizia que não tinha amigos e era excluída. Quando a avó ia buscá-la, os outros alunos tiravam sarro dela, com xingamentos racistas”, relatou para o UOL

Em nota, o colégio informou que “está apurando cuidadosamente as circunstâncias do ocorrido, com seriedade e zelo, ouvindo todos os envolvidos no tempo e nas condições adequadas, inclusive a aluna, assim que estiver pronta para se manifestar no ambiente pedagógico”.

O caso infelizmente não é isolado e, hoje, o Brasil conta com mais de 280 mil registros de injúria racial, sendo 318 desses processos envolvendo crianças e adolescentes, conforme dados oficiais levantados pelo Escavador durante os anos de 2022 e 2025. Além disso, foram classificados 175 processos como “Bullying, Violência e Discriminação” no campo de Direito à Educação.

Colégio Mackenzie Higienópolis
Colégio Presbiteriano Mackenzie Higienópolis Foto: Reprodução/Folha deS.Paulo

O ensino privado tem como foco priorizar qualidade educacional, mas muitas instituições negligenciam a construção de relações inclusivas. Para Lanna Cristine, licencianda em linguagem pela Faculdade SESI-SP de Educação, em entrevista à AGEMT, a verdadeira qualidade educacional emerge de ambientes que acolhem todos os estudantes, independente de quem for. Ela observa que muitos estagiários sem formação específica em inclusão tentam integrar alunos ao espaço escolar, mas, na verdade, “é o espaço que precisa ser incluído para o estudante”, pontua Cristine, enfatizando a importância de estruturas institucionais receptivas. “Um espaço que promove acolhimento para o estudante vai promover, consequentemente, a aprendizagem”, conclui.

O problema não se limita apenas às instituições privadas, casos de discriminação são comumente vivenciados em escolas públicas. A última ocorrência que ganhou destaque na mídia situou-se em uma escola pública de Luziânia (GO), quando uma aluna em tratamento de câncer virou alvo de bullying na sala de aula por duas colegas. Os xingamentos – que iam desde o jeito de andar até o cabelo, que estava crescendo após a quimioterapia – afetaram o psicológico da jovem, que, segundo a irmã, “não está conseguindo dormir, não quer mais ir à escola, se sente triste, insegura e muito humilhada”, relatou em entrevista para o Metrópoles.

A Secretaria de Educação do Estado de Goiás (SEDUC-GO) informou em nota que o colégio não havia sido informado pela família da vítima sobre a situação e apenas tomou conhecimento a partir de um vídeo nas redes sociais. Ainda em nota, o órgão estadual disse que acionou o programa “Ouvir e Acolher” para investigar o ocorrido e prestar apoio psicológico para a vítima. 

Dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2019), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, revelam que 23,0% dos estudantes brasileiros se sentiram humilhados por colegas duas ou mais vezes durante os 30 dias anteriores à pesquisa. O levantamento ouviu 11,8 milhões de estudantes entre 13 a 17 anos, e mostrou a disparidade entre as escolas públicas com 50,7% de alunos e 14,5% nas instituições privadas. Características físicas motivam a maior parte das discriminações, aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e cor ou raça (4,6%). O cenário reforça a demanda por políticas efetivas de combate à violência escolar.

As denúncias de violência nas escolas brasileiras cresceram 50% em 2023, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O Disque 100 recebeu 9.530 denúncias sobre violência em instituições de ensino, superando os registros de 2022. Entre janeiro a setembro de 2023, mais de 50 mil violações de direitos humanos foram reportadas em cenários escolares, crianças e adolescentes representaram 74% dos casos envolvendo grupos vulneráveis em setembro.

Luciano Felipe da Silva, professor na EMEF Hipólito José da Costa, defende que não é apenas o ambiente educacional que precisa mudar e que, muitas vezes, os alunos já chegam com os valores deturpados, reproduzindo o que ouvem em casa. “Frequentemente recebemos responsáveis de estudantes que vem à escola registrar reclamações pelo fato de os professores trabalharem temas fundamentais, que estão no currículo, tais como escravidão e intolerância religiosa”, relatou. 

Para Lanna, é possível mudar a questão da cultura escolar a partir de uma gestão que se baseie em questões humanitárias e sociais dentro das instituições, junto de trabalhos pedagógicos que complementem e trabalhem com os alunos como superar a cultura da violência e da intolerância com o diferente. Ela explica que “toda violência que acontece na sala de aula precisa de uma prática inclusiva que parta não de situações, mas de uma missão humanitária. Além de estudantes, eles [alunos] são pessoas em formação, tanto a vítima quanto o agressor, e precisam ser educados para respeitar as diferenças não só no âmbito educacional, mas na sociedade em si”. 

O combate ao racismo e ao bullying no ambiente escolar exige ação constante e políticas públicas efetivas. Como destaca Luciano, “É um trabalho contínuo, a partir da realidade em que eles vivem. Um cidadão pode levar isso para o local em que está inserido e ser um agente de transformação no território.” Enquanto isso não se torna prioridade em todas as esferas educacionais, estudantes de todas as classes sociais seguem sendo vítimas de uma sociedade que ainda não aprendeu a educar sem excluir.

O cantor porto-riquenho Bad Bunny conquistou sucesso no país por meio de trend no Tiktok
por
Mariane Beraldes
Thainá Brito
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10/06/2025 - 12h

Artistas latinos dominam as paradas mundialmente, mas no Brasil, a presença só cresce impulsionada por trends no TikTok. Bad Bunny e a capa de seu novo álbum "Debí Tirar Más Fotos" confirma isso. Sua música viralizou na plataforma com a produção de memes e vídeos curtos em Janeiro de 2025. "DTMF", uma de suas músicas que ficou famosa, finalmente fez o artista aparecer entre as mais ouvidas no Spotify Brasil, um cenário marcado pela forte presença do funk e sertanejo. 

Rafael Silva Noleto, antropólogo, cantor e compositor, além de professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, em entrevista à AGEMT, explica o porquê do Brasil, mesmo tão próximo geograficamente, não ter costume de ouvir música hispânica. Apesar dos sinais de mudanças no país, ainda há resistência por parte do público brasileiro em consumir músicas em espanhol.

Circo de rua no Ceará leva alegria e risadas em quatro rodas
por
Juliana Bertini de Paula
Maria Eduarda Cepeda
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09/06/2025 - 12h

Em 2019, Henrique Rosa e Amanda Santos, um casal de artistas no Ceará, voltavam depois de mais um expediente de espetáculos que faziam como palhaços no Parque Aquático de Aquiraz, quando uma ideia, misturada com um sonho, dá origem a um projeto: um circo itinerante em um fusca. Na entrevista, conhecemos mais sobre a história do projeto e seu trabalho pelas ruas do Ceará. 

 

Entenda como as redes sociais podem afetar o desenvolvimento psicológico dos jovens
por
Julia Naspolini
Liz Ortiz
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09/06/2025 - 12h

Recentemente, as redes sociais foram tomadas por uma “treta teen”. Por dois dias o grande assunto entre adultos e adolescentes foi uma briga envolvendo um grupo de meninas tiktokers. Liz Macedo, Antonella Braga, Júlia Pimentel e Duda Guerra, jovens na faixa de 15, 16 anos, que somam milhões de seguidores nas redes e tiveram um desentendimento envolvendo os namorados, levando a discussão para internet ao gravarem pronunciamentos de suas versões.

Pelo grande número de seguidores, a história viralizou, levando a rede a se dividir em lados na briga e fazendo com que as meninas recebessem muitos comentários de ódio. Toda essa polêmica fez muitos pais se preocuparem com essa superexposição digital que os jovens presenciam. É inegável que as redes sociais têm se expandido cada vez mais entre o público juvenil - tanto no consumo do conteúdo, quanto na produção dele. No mundo de hiperconexão é difícil impedir que as crianças tenham contato com a internet, mas é necessário que haja algum controle, ou no mínimo uma orientação parental do que os filhos estão consumindo ou produzindo.

Foto de Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Foto:Reprodução Instagram

Crescer já é, por si só, um processo delicado. Agora, crescer lidando com uma plateia invisível que pode curtir, compartilhar e criticar suas ações, leva a vulnerabilidade da adolescência a um novo nível.  A internet é uma terra de ninguém, onde há muita desinformação e muitas pessoas escondidas no anonimato que não possuem filtro algum para xingamentos. 

Antes das redes sociais,  cada um era exposto a uma quantidade pequena de pessoas. Hoje, com a vida online tudo que é postado de forma pública, pode ser acessado e comentado por qualquer um. Durante a fase de desenvolvimento em que o cérebro busca constante aprovação, essa superexposição pode ser  extremamente prejudicial à saúde mental, podendo levar o adolescente a desenvolver transtornos como a ansiedade e a depressão.

Além das plataformas digitais reforçarem uma autoimagem baseada na aprovação externa, onde os jovens buscam validação através de curtidas e comentários, elas também fazem com que eles consumam as postagens de outras pessoas que podem gerar constantes comparações com padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade. 

A psicóloga Bruna Marchi Moraes, formada pela Faculdade São Francisco, em entrevista à AGEMT, comenta sobre a diferença entre o uso saudável da internet e de um uso prejudicial. Para Bruna, "o uso saudável é aquele que é intencional, equilibrado e supervisionado — contribui para aprendizado, lazer e socialização, sem substituir as experiências offline. Já o uso prejudicial envolve excesso de tempo de tela, isolamento, consumo passivo de conteúdo, dependência emocional das redes e prejuízo nas atividades do cotidiano como sono, escola e convívio familiar".

A autoestima não é o único aspecto abalado pela exposição em excesso às redes sociais, ela pode afetar também a forma que o adolescente se relaciona com os outros, gerar mudanças bruscas de humor, isolamento, queda no rendimento escolar, desinteresse em atividades que antes eram prazerosas e irritabilidade. Bruna ainda alerta que “estudos apontam correlações entre uso excessivo de telas desde cedo e sintomas de ansiedade, depressão e dificuldades de atenção. A hiperestimulação digital pode afetar o funcionamento do cérebro em desenvolvimento, especialmente em crianças com predisposições genéticas ou ambientais para esses transtornos.”

Para evitar que uma ferramenta valiosa como a internet se transforme em algo negativo, ela defende que o papel dos pais, é  de orientar, supervisionar e modelar o uso responsável da internet. Limites saudáveis envolvem horários pré-estabelecidos, escolha de conteúdos adequados, conversas abertas sobre os riscos e incentivo a atividades offline. Mais do que proibir, é importante ensinar o uso consciente e equilibrado.

Um recado de Bruna aos adolescentes, “Gostaria que soubessem que a internet pode ser uma ferramenta incrível, mas também pode influenciar seus pensamentos, emoções e autoestima de maneira sutil e profunda. Que não precisam se comparar com os outros o tempo todo, e que os momentos desconectados também são essenciais para se conhecer, descansar e crescer com mais equilíbrio”.

Rimadores de vagão sofrem com a restrição de trabalho, motorista de aplicativo e cabeleireira independente se adaptam a realidade da pandemia através do uso de equipamentos sanitários para manterem a rotina profissional
por
Carlos Eduardo da Cruz Pires de Moraes
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26/06/2020 - 12h

  

       A quarentena no estado de São Paulo começou no dia 22 de março, obrigando diversos trabalhadores a ficarem em suas casas trabalhando a partir do “Home office”. Só agora o processo de confinamento começa a ter uma flexibilização em alguns munícipios e cidades. Apesar de alguns trabalhadores executarem suas funções em seus domicílios, outros não tiveram essa oportunidade, principalmente os autônomos, entre eles os rimadores de vagões que não estão nesse tempo de pandemia indo para as linhas, deixando os trens e metros menos alegres e poéticos.

Entre esses poetas está Rafael Gomes Alves (18) morador de Itapevi, que antes da pandemia tinha como profissão espalhar sua arte, com suas rimas de improviso pelos trens e metros de São Paulo. “Não estou mais indo por conta da pandemia. Acho que é melhor do jeito que está, os riscos são altos, tanto para mim para quem vai estar assistindo”.

Segundo Alves ainda existiria o agravante da segurança, pelo fato de que é ilegal a pratica de comércio ambulante, de qualquer que seja o tipo nos vagões de São Paulo. “Acho que a CPTM aumentou a segurança, pra evitar contágio pelos produtos dos ambulantes.”Foto do acervo de Rafael Gomes Alves

Para Thiago de Araújo Pires (24), também morador de Itapevi, igualmente praticante de rimas improvisadas pelos vagões da cidade, não está praticando sua forma de sustento na quarentena e também acredita que as segurança nas linhas tenha aumentado. “Não estou indo mais para os vagões por causa da escolta de segurança dentro dos vagões e por causa da pandemia, estou evitando o mínimo de contato com outras pessoas”.

“Acho que por conta da pandemia as pessoas estão tendo gastos maiores, o que vai fazer elas quererem um ganho maior e se arriscarem mais, o que de alguma forma vai aumentar a repressão”, acrescenta Pires para justificar a questão do aumento da dificuldade que os autônomos tem para trabalharem nos trens e metros de São Paulo, ainda mais no momento atual. O artista de rua também revela, assim como Alves não estar trabalhando com nada no momento. “No momento estou desempregado”.

 Foto do acervo de Thiago de Araújo Pires

A situação não está a mesma para todos os trabalhadores informais, por exemplo para Eduardo Trevisan (41), motorista de aplicativo a rotina está a mesma, até mais puxada segundo ele. “Só para ter uma noção antes da quarentena em quatro horas de trabalho das sete às onze, fazia cerca de dez a doze corridas, hoje em quatro horas eu faço de seis a sete corridas”.

“Na região central diminuiu bastante (trânsito), mas dentro dos bairros e avenidas regionais o trânsito continua o mesmo como se não houvesse quarentena”, complementa ainda Trevisan em relação a quantidade de carros na cidade.

O motorista ainda afirma estar seguindo padrões de higiene, usando equipamentos de proteção individual e para seu veículo pessoal, que ele usa para trabalho. “Eu tenho álcool em gel no carro e uso também um frasco de água com água sanitária, passo nas portas e maçanetas do carro. Faço uso de máscara.” O profissional acredita que os clientes estão atentos com a atual situação de saúde e bastante preocupados em relação a higiene. “Todos os passageiros que eu transportei são bem conscientes com os equipamentos de proteção. Perguntam se eu tenho álcool em gel e estão bastante preocupados com o que vai acontecer com essa pandemia”.

 Foto do acervo de Eduardo Trevisan

      Priscila Barbosa Rodrigues (35), cabeleireira informal, moradora do Jardim Veloso, no município de Osasco, também acredita que o número de atendimentos diminuiu nessa quarentena e revela ter um padrão novo para atendimento, devido a problemática sanitária que assola o Brasil e o mundo. “Nossa diminuiu muito. Atendo somente três clientes no dia, com horários mais distantes um do outro, e no intervalo dos horários, higienizar as cadeiras, bancadas com álcool e cloro no chão.”

Rodrigues entende o perigo de trabalhar no atual momento e da facilidade de contágio em seu ambiente de trabalho, além de acreditar que a dinâmica no salão tenha se diferenciado, devido a tensão. “Tem pessoas que não tem nenhum sintoma e não sabe que está com o vírus e é onde pode acabar passando o vírus. As pessoas também tem conversado muito pouco.”

 

 Foto do acervo de Priscila Barbosa Rodrigues

 

 

 

 

A interrupção da gravidez considerada como crime viola o direito da mulher de escolha sobre seu próprio corpo e resulta em problemas de saúde
por
Giovana Yamaki e Sofia Luppi
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25/06/2020 - 12h

            O aborto é um procedimento muito comum na vida das mulheres, sejam elas brasileiras, brancas, pretas, pardas, ricas ou pobres. As únicas diferenças que existem se encontram entre o método clandestino e consequentemente perigoso, ou sancionado e seguro. A interrupção ilegal provoca riscos à vida mulher, podendo levar até à morte; enquanto a sancionada é segura, já que passa por procedimentos médicos confiáveis. Sua legalização é de extrema importância tanto em âmbitos da saúde quanto em questões do corpo da mulher. Isso pode ser evidenciado nos 63 países em que já o descriminalizaram, como a Argentina, Islândia e Irlanda. 

            Primeiramente, o aborto indica simplesmente a interrupção de uma gestação de forma espontânea ou de maneira voluntária. O primeiro caso é mais comum que ocorra no início da gravidez, com uma chance de 10 a 25%. Mas ele se divide em dois períodos: o precoce, com menos de 13 semanas e o tardio, de 13 a 22 semanas podendo ocorrer por não ter tido um desenvolvimento adequado do feto ou pela mulher ter a idade muito avançada. Já o segundo, pode ser realizado por via de medicamentos. Nesse caso, não é necessário acompanhamento de um profissional, como também pode ser feito por procedimentos médicos como a Aspiração Manual Intra-Uterina (AMIU) e a curetagem, uma raspagem da parede intrauterina.  Os processos voluntários citados são os considerados seguros pela Organização Mundial da Saúde (OMS).  

            Por meio de uma análise a respeito do ranking dos continentes que possuem as legislações mais conservadoras e punitivas em relação ao aborto, a América Latina encontra-se em segundo lugar, abaixo apenas da África. Devido a isso, conforme o regulamento brasileiro, a interrupção considerada voluntária só é permitida quando a gestante enfrenta risco de vida, gravidez provocada por estupro e também quando o feto é anencéfalo, ou seja, não tem cérebro. Em qualquer outro caso, é proibido o abortamento levando à reclusão de até três anos e podendo ser investigada até oito anos depois da realização. 

Diante do regimento, em entrevista ao El País, Debora Diniz, pesquisadora da organização Anis Instituto de Bioética e professora da Universidade de Brasília (UNB) acredita que o Código Penal é inconstitucional. “O código penal de 1940 manda prender mulheres que fizeram o aborto. A Constituição é de 1988 e, portanto, posterior a 1940. Uma leitura do Código Penal pela Constituição diz que eu não posso prender mulheres se é uma necessidade de saúde, se o aborto é parte da dignidade da vida das mulheres ao tomar essa decisão. Então, uma leitura da Constituição sobre o Código Penal diz que ele é inconstitucional”, afirma a professora. Isso é fato, todos os cidadãos têm inúmeros direitos fundamentais, como o direito à vida, saúde e igualdade, mas que deixam de ser garantidos quando o aborto é tratado como crime.

Mesmo nos casos em que a interrupção é legal no Brasil, é difícil de ser realizada. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2011, 67,4% de cidadãs que sofreram estupro não conseguiram fazer o procedimento no serviço de aborto da rede pública. As que mantiveram a necessidade de seguir com a decisão precisaram optar pela insegurança da clandestinidade. Conforme informado ao HuffPost pela Dra. Maria de Fátima Marinho, diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis, 4262 adolescentes de 10 a 19 anos foram abusadas sexualmente e tiveram o consequente nascimento do feto entre 2011 e 2016. "Há mais de 400 mulheres tendo bebês anencéfalos por ano, mesmo tendo direito ao aborto legal", comenta. Isso ocorre por falta de informação, recusa de atendimento, precariedade no sistema de saúde pública e dificuldade em denunciar o estupro, esse, na maioria das vezes, é cometido por algum familiar. 

Em março de 2017, a Anis e o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) convocaram uma ação ao Supremo Tribunal Federal (STF) referente à legalização do aborto até a 12ª semana, como é atualmente na Espanha, Finlândia e Dinamarca. "Declare a não-recepção parcial dos artigos 124 e 126 do Código Penal, para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção da gestação induzida e voluntária realizada nas primeiras doze semanas", era o que a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) pedia ao STF. Esse período destacado foi escolhido justamente pelo fato de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ressaltar que o risco de complicações é de apenas 0,05%. No entanto, não foi possível que essa medida se concretizasse, mantendo a criminalização de um direito. Uma violência à mulher.

Vizinha ao Brasil, a Argentina, em 2018, havia aprovado a lei que validava o aborto até a 14ª semana de gestação obrigando o Estado a pagar todos os gastos da realização. Porém não foi aprovada pelo Senado. “Todos somos pró-aborto. Uns pró-aborto clandestino; nós, pró-aborto legal”, foi uma das frases encontradas nas ruas enquanto não obtiveram resposta do Legislativo. 

Mulheres unidas em prol da descriminalização no dia de votação do Senado da Argentina
Mulheres unidas em prol da descriminalização no dia de votação do Senado da Argentina - Foto: Monica Yakaniew / Agência Brasil 

Diferentemente desses dois países, há inúmeros outros que já tornaram a prática do aborto legal, como todos os Estados da Europa, exceto Malta e Polônia. Nessa perspectiva, em 1935, a Islândia foi a pioneira do Ocidente a permitir que isso pudesse acontecer. Atualmente, é válido lá que a mulher tem como direito sua liberdade individual, permitindo que a prática possa ser feita até 16 semanas de gestação, como em casos de falta de renda ou em razão das condições mentais da mãe. 

A legalização mais recente foi da Irlanda em 2018. O governo aprovou um referendo legalizando o aborto mesmo com 78% de sua população seguir o catolicismo. No momento, mulheres até a 12ª semana que apresentem algum risco de vida ou em casos de feto anencéfalo até a 23ª semana podem fazer a interrupção da gravidez indesejada. Percebe-se que o viés religioso foi deixado de lado para que não interferisse diretamente na escolha das mulheres, sendo elas religiosas ou não.

O primeiro-ministro irlandês, Taoiseach Leo Varadkar, afirma que a descriminalização foi um grande ato democrático, visto que conseguiram quebrar barreiras ideológicas. Em contrapartida, em muitos países, a questão religiosa se torna um obstáculo na legalização do aborto até mesmo nos que são laicos segundo a Constituição, como é o caso do Brasil. A doutrina acaba por influenciar certas decisões políticas e morais, afetando todos os brasileiros. Voltado para a Igreja, o padre Júlio Renato Lancellotti, da Pastoral de Rua de São Paulo, crê que o aborto se enquadra no mandamento “não matarás”, ou seja, que as mulheres não devem abortar e sim, prezar pela vida do feto. Contudo, em 2015, o Papa Francisco determinou o direito do perdão às mulheres que abortam. 

“Minha primeira visão é a pessoal de que eu nunca faria o aborto, pelo fato de ter um ponto de vista religioso. Isso influencia, porque vejo na Bíblia a defesa pela vida, então não tem como não levar para esse lado. Mas sei que isso não pode interferir no Estado. Afinal, ele é laico. Dessa forma, os deputados, por exemplo, não podem justificar voto falando que é porque Deus quis”, enfatizou, em entrevista, Giovanna Marie que faz parte do Anjo Guardião, um grupo de ideologias católicas. Além disso, diz “acredito que muitas pessoas o fazem de qualquer forma, mas muitas são barradas pela lei, porque tem o filho e depois nem dão atenção necessária a ele, deixam-no largado por aí”. 

Rafaela Carrare, estudante do 3º ano do Ensino Médio em preparação para enfrentar os vestibulares e conseguir uma vaga em psicologia também analisa por essa via. “Muitas pessoas entendem que se o aborto for legalizado, vão deixar de se prevenir e passarão a realizá-lo como um método contraceptivo para a interrupção da gestação. Mas ele é apenas uma alternativa usada em casos que a mulher foi abusada ou para quando anticoncepcionais e preservativos falham, já que não são totalmente eficazes. Todas as mulheres possuem o direito de decidir sobre seu corpo e seu futuro. Com isso, a responsabilidade de escolher fazer o aborto ou não está nas mãos delas a partir dos seus ideais e não de valores exteriores como uma crença ou um juízo de valor de outra pessoa.”, declara a estudante. 

Nesse contexto, seria fundamental a legalização do aborto. Afinal, a interrupção da gestação é uma realidade comum mesmo sendo proibida. Conforme a Pesquisa Nacional do Aborto (PNA), uma a cada cinco mulheres até 40 anos a realizam no Brasil. Em 2016, a PNA trouxe dados também referentes ao perfil de quem faz o procedimento. Com isso, foi possível observar que 88% declararam ter religião e que são cidadãs de diferentes grupos étnicos, sociais e níveis educacionais, a maioria com filhos. É mais frequente ainda para indígenas e negras residentes do Centro-Oeste, Norte e Nordeste com baixo acesso à escolaridade. Estima-se ainda, que, pelo menos, um aborto já foi feito no Brasil por 7,4 milhões de mulheres de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mulheres em manifestação a favor do aborto
Mulheres em manifestação a favor do aborto - Foto: El País

Segundo estudo feito pelo Guttmacher Institute, organização de pesquisa sobre direitos reprodutivos, há menos número de interrupções em locais onde a lei é mais flexível. Na França, em que é legalizado, o número caiu em 18% do total de grávidas. Fazendo um comparativo de uma década onde o aborto é ratificado, a taxa de interrupção caiu de 46 para 27 a cada mil mulheres. Uma publicação feita pela Folha de São Paulo também confirma que a descriminalização diminuiria drasticamente o número de interrupções além de tornar quase zero as mortes e sequelas em decorrência do aborto clandestino. Afinal, impor uma lei não vai fazer com que deixem de realizar tal prática e isso só vai colocá-las em risco.

A interrupção da gravidez deve ser tratada como uma questão de saúde pública. A mulher precisa de cuidados e auxílios, principalmente quando se refere a um fator que possui enorme impacto em sua vida. A criminalização traz inúmeros prejuízos. Começando pelo número de óbitos por abortamento. Como informado pelo próprio Ministério da Saúde, o aborto se encontra em 5º lugar de morte materna no Estado brasileiro. O Instituto Guttmacher também levantou dados indicando que 22 mil mulheres são mortas anualmente no mundo todo devido a métodos decorrentes da ilegalidade. 

Rafaela Carrare, em entrevista, alega ser perigoso realizar a interrupção clandestina e justifica que esse é um dos motivos por que considera necessária a legitimação. “Deve ser legalizado por ser uma obrigação do Estado garantir uma segurança maior às mulheres, assegurando a vida e a dignidade de todas. As que são pobres não têm dinheiro para ir a uma clínica, recorrem a procedimentos mais vulneráveis que são degradantes ao corpo e muitas acabam morrendo. Assim, tornaria possível o direito à saúde”, comenta. Pelo fato do aborto ser ilegal, mulheres precisam utilizar o sistema proibido e arriscado. Por conseguinte, 70 mil delas morrem por ocorrer complicações conforme dados das Nações Unidas.

Mulheres clamam pela legalização do aborto e fim do machismo
Mulheres clamam pela legalização do aborto e fim do machismo -  Foto: Nurphoto via Getty Images

Sob esse viés, pode-se observar que mulheres com baixa condição de renda, sem conhecimentos educacionais, pretas, pardas e indígenas são as que encaram as técnicas precárias. Dessa forma, submetem-se a elevados riscos de lesões, mutilações e óbito. Por outro lado, têm-se as mulheres ricas, de alta escolaridade e que vão procurar métodos mais seguros para que seja feito o aborto. Essa análise deixa visível o racismo institucional.  Inclusive, a Dra. Maria de Fátima Marinho comprova isso com os dados de que 559 mortes são de mulheres brancas e 1.079 de mulheres negras.

Além disso, a interrupção da gestação está totalmente relacionada com o viés feminista. “A criminalização do aborto é uma posição patriarcal que o governo toma, pois impõe uma maternidade à mulher retirando seu direito de escolha. Isso deve ser considerado feminicídio de Estado ao negar o direito das mulheres sobre si mesma”, ressalta Rafaela. O próprio Ministro do STF Luís Roberto Barroso declarou também a respeito dos direitos fundamentais. “A condenação é incompatível com os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, que não pode ser obrigada pelo Estado a manter uma gestação indesejada; a autonomia da mulher, que deve conservar o direito de fazer suas escolhas existenciais; a integridade física e psíquica da gestante, que é quem sofre, no seu corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez; e a igualdade, já que homens não engravidam e, portanto, a equiparação plena de gênero depende de se respeitar a vontade da mulher.”, afirmou.

O verde e o roxo se manterão presentes aqui na América Latina e no restante do mundo entre as mulheres, clamando pelo direito de decisão e de saúde para um aborto seguro, gratuito e legal. Importante lembrar também que a prática da interrupção envolve não somente a vida do feto, mas, principalmente, da mulher, já que ela pode sofrer graves consequências em manter uma gravidez indesejada.  

Impacto de aulas virtuais causaram no primeiro ano universitário é considerado anti-democrático
por
Maria Clara Lacerda Nunes
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23/06/2020 - 12h

Em meio a pandemia do coronavírus, alunos e alunas que estudaram o ano de 2019 inteiro para ingressar na faculdade tão desejada, contam suas expectativas quebradas com a quarentena e as aulas a distância. A aluna Mirta Fania, 18, que preferiu não ter o curso identificado, ficou o ano passado inteiro no cursinho para entrar na Universidade de São Paulo (USP). Ela diz que estava ansiosa para aproveitar o campus, ocupar e explorar o universo da faculdade, e ressalta ainda que o ensino a distância é antidemocrático. 

Local de estudos de Fania (acervo pessoal)
Local de estudos de Fania (acervo pessoal)

Fania relata: “Minhas expectativas diminuem muito e o que torna todo esse processo de aprender e colocar em prática, que seria presencialmente, fica muito mais difícil, a jornada fica mais complicada.” E não ficando só no âmbito pessoal, a caloura diz “O sistema de educação a distância é antidemocrático pela forma como ele é estabelecido e realizado já que é necessária uma internet de qualidade e um computador. Além disso, ele torna tudo homogêneo, o professor não vê o aluno e não vê as diferenças que compõem a sala em que a aula é dada.” 

Gabriella Maya, 19, também sofre com os impactos da quarentena. Conta que o ingresso na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no curso de Jornalismo, era seu maior sonho acadêmico “Eu estava super animada que tinha passado na PUC, sempre quis estar lá. Nunca tinha conhecido fisicamente e essa era minha maior expectativa: conhecer tudo, aproveitar os ambientes, os materiais que eles possuem e ver como são as coisas na prática.”

Além disso, a caloura diz que sente muita falta do contato físico com todo mundo. Ressalta que a internet é facilitadora, mas não substitui a presença de ninguém, especialmente dos novos amigos e amigas que ela faria. Por fim, diz que a educação a distância está cumprindo seu papel, mas que nada substitui as aulas presenciais, e ela não vê a hora de voltar.

Local de estudos de Hayashi (acervo pessoal)
Local de estudos de Hayashi (acervo pessoal)

O aluno Murilo Hayashi, 19, que ingressou na Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) no curso de Engenharia Mecânica relata “Eu esperava começar uma vida nova na faculdade, entrar numa fase diferente, conhecer pessoas diferentes, ter um ano de impacto mesmo. Minhas expectativas eram altas.” 

Hayashi, que até mudou de cidade para iniciar o ano acadêmico, diz que era para ser seu melhor ano universitário, mas tudo mudou. Também diz que as aulas a distância estão sendo diferentes do que ele esperava “No começo fiquei na dúvida de como seria, ainda mais por ser faculdade pública. Foi difícil me organizar, nunca tive aula a distância.” E assim como a aluna Fania, ele enfatiza que a educação a distância é injusta, já que muitos não tem acesso nenhum a internet.

Pedro Galavote, 18, também calouro da PUC-SP em Jornalismo, conta um pouco de sua decepção “O problema é que veio a pandemia e fomos forçados as aulas virtuais né? Essas aulas exigem muito mais do aluno do que presencialmente, já que o ambiente de estudo pode não ajudar em diversos momentos.” O estudante passou o ano de 2019 focado em passar na universidade.

Local de estudos de Galavote (acervo pessoal)
Local de estudos de Galavote (acervo pessoal) 

        Galavote conta “Acho que o que eu mais sinto falta do presencial é o ambiente da faculdade, o prédio, o contato com centenas de pessoas todo dia, mas isso deve ser algo que todo mundo tá sentindo devido as condições né?” Muitos amigos da família e próprios familiares estudaram na PUC e só tinham elogios para a universidade, o que só aumentou a ansiedade de estar lá.

 

O desafio de atender mulheres vítimas de violência ou em situação de vulnerabilidade cresce junto com o número de casos com a pandemia
por
Rafaela Correa de Freitas
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23/06/2020 - 12h

Foi aprovado pelo Senado, na quarta-feira dia 03 de junho, a emenda que dobra a pena dos crimes previstos na Lei Maria da Penha cometidos durante a pandemia, contudo, os casos também estão dobrando. Joseane Bernardes (Jô, como prefere ser chamada), coordenadora da casa Leste da ONG Bem Querer Mulher em São Paulo, diz que os telefonemas por ajuda durante a madrugada passaram de 4 para 12 depois do início da pandemia.

Heloisa Melillo e Jô, coordenadora geral do programa e coordenadora da Casa Leste, atualmente estão passando por um desafio para prestar ajuda às mulheres assistidas pela ONG Bem Querer Mulher. “Você atender mulher, qualquer lugar atende, mas você acolher a mulher humanamente é o diferencial.” Jô frisa que o atendimento humanizado é muito importante e que ele ajuda a mulher a denunciar e reconstruir sua vida, mas que é muito difícil fazer isso remotamente, portanto, mesmo com a quarentena, seu trabalho exige atendimento presencial e novas estratégias.

 

Site Bem Querer Mulher
Imagem retirada do site https://www.bemquerermulher.org.br

Durante as ligações, elas precisam saber um horário e um local que não gere suspeitas, “o isolamento tira a autonomia da mulher”, explica ela ao falar dos desafios de se atender uma vítima constantemente vigiada e presa com seu agressor. Em um caso recente, Joseane, com o apoio da gerente de uma UBS próxima, conseguiu encaminhamentos para o posto afim de atender a vítima, que já passava por acompanhamentos de remissão de um câncer em outra unidade, e foi assim que ela foi auxiliada no caminho para uma denúncia.

O Brasil registra, a cada 4 minutos, pelo menos um caso de agressão contra mulheres cometida por homens. Ainda assim, muitos outros não são registrados e chegam a serem apagados. Os 5 tipos de violência contra mulher - física, sexual, psicológica, moral e patrimonial - não acontecem somente dentro de casa. Cleone Santos, fundadora da ONG Mulheres da Luz, coletivo que busca promover a cidadania e garantia dos direitos humanos para mulheres em situação de prostituição, reforça isso; “Se fala de violência doméstica, mas não se fala da violência que outras mulheres sofrem, dessas que estão em situação de prostituição, e que sempre existiu.”

Site Mulheres da Luz
Imagem retirada do site https://www.mulheresdaluz.com.br

Localizada dentro do Parque da Luz, em São Paulo, a ONG fornece acolhimento, redes de conversa, terapia, apoio jurídico e outras formas de assistir as mulheres que a procuram. “Na época em que foi criada, tínhamos apenas a nossa solidariedade para oferecer à elas, então, a partir de pedidos, começamos a ter rodas de conversa sobre regulamentação, mas percebemos que só isso não satisfazia”, a partir daí, nasceram pautas sobre a criação de políticas públicas para essas mulheres.

Com a pandemia, Cleone precisa trabalhar de casa, mas a ONG não para. Houve dois casos de suspeita no espaço, mas foram descartados como não sendo Covid-19. Todas estão buscando se proteger na medida do possível, “a maioria delas, as mais velhas, que estão em extrema vulnerabilidade, estão se mantendo em casa”, sendo protegidas pela ONG com doações que envolvem cestas básicas, materiais de higiene, limpeza e máscaras. As que permanecem no parque, fazem o possível para se protegerem e dinamizar para que os parceiros façam o mesmo.

Algumas estão conseguindo gerar renda de forma diferente com a quarentena, os cursos ministrados pela ONG as ajudaram, e agora, vendem sabão em pedra, máscaras e produtos de higiene, que são divulgados pelo coletivo.

As ONGs Bem Querer Mulher e Mulheres da Luz aceitam doações e voluntários, para saber como ajudar, basta acessar: https://www.mulheresdaluz.com.br/ e http://www.bemquerermulher.org.br/site/

Familiares contam sobre casos do vírus na família.
por
Pedro Alcantara Da Silva Neto
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23/06/2020 - 12h

Pessoas que tratavam o vírus da Covid-19 como uma “gripezinha” são infectadas.

Lucas Lima Tozetti de 18 anos teve o tio e os primos infectados. A família de Lucas, para comemorar aniversários durante a pandemia, realizava chamadas de vídeo com todos os membros presentes. Em um desses aniversários Tozetti percebeu que havia uma certa aglomeração na casa de seu tio, com mais ou menos cinco pessoas.                                                                                                                           

“Eles desde o começo eram a favor da reabertura do comércio, não estavam respeitando a quarentena e estavam tratando aquilo como uma gripezinha.”

“Depois da cena do aniversário se passaram quatro dias e minha mãe me avisou que meu tio e meus dois primos tinham contraído o vírus. Isso de certa forma não me impactou, porque era algo que eu já imaginava.”                                                                                                                                   

Os familiares já estão melhores. Depois do susto passaram a respeitar o isolamento, e tentam conscientizar outras pessoas, pois elas podem não ter a mesma sorte que eles.

Gabriella Leticia Baraldi de 18 anos, teve uma pessoa muito próxima infectada. Baraldi sofreu um grande baque quando descobriu que um dos melhores amigos do seu pai tinha contraído o vírus.                                                                                                       

“Quando a gente descobriu, eu fiquei meio em choque! Primeiro porque ele é diabético, então ele é do grupo de risco. Segundo ele é como se fosse da família sabe? a gente via ele pelo menos uma vez por mês, nas festas ou nos eventos familiares.”                                                                                   

O amigo da família estava internado, porém teve melhoras significativas e voltou pra casa.

Beatriz Giovanna Kalenik de 19 anos, conta sobre sua tia de 54 anos que foi infectada respeitando a quarentena.                                                                                                            

“Eu fico triste, porque é uma das poucas pessoas que eu falo da família. Eu de verdade não entendo como isso aconteceu, ela só ia no mercado, protegida e morrendo de medo. O que me deixa mais apreensiva é que ela se cuidou e contraiu o vírus, isso só prova que ninguém está seguro.”

A tia de Kalenik segue em casa isolada, e quando precisa de algo a família faz.

Derek Cordeiro da Silva também de 18 anos ficou perplexo ao saber que todas as pessoas que moravam com seu melhor amigo foram infectadas pelo Covid-19 menos ele.                                                                                                                                                       

“Cara, eu fico muito triste por ele, porque imagina como deve ser f..., imagina todos seus familiares infectados? O pior de tudo isso, é que ele foi o único da família a não respeitar o isolamento. Quando ele recebeu essa notícia, ele estava passando uns dias na casa do primo. Em questão de uma semana vieram as bombas. Primeiro o avô, depois a mãe, em seguida o pai e por fim a irmã.” Ele relata que sempre está falando com o amigo.

“Olha, eu sempre falo com ele, tento consolar e dar um apoio, estou quase sendo um psicólogo”. O amigo de Derek continua na casa do primo, já a família segue em isolamento sem um sinal de melhora.