Entenda como a privatização do transporte público influencia na sua segurança
por
Amanda Campos
Gabriela Blanco
Lorena Basilia
Manuela Schenk
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10/06/2025 - 12h

Após o trágico acidente na linha 5-lilás que matou um homem de 35 anos, o assunto segurança no transporte público vem sendo amplamente discutido, principalmente quando se fala das vias privadas. A reportagem a seguir fala sobre a falta de segurança na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Em entrevista à AGEMT, o especialista Igor Bonifácio responde algumas das perguntas mais recorrentes sobre o assunto. Assista. 

 

 

 

Casos de violência escolar evidenciam problemas estruturais que demandam políticas públicas urgentes
por
Eduarda Amaral
Emily de Matos
Luis Henrique Oliveira
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10/06/2025 - 12h

Em abril deste ano, uma aluna bolsista no Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) foi encontrada desacordada no banheiro, após tentativa de suicídio e levada às pressas para o hospital Santa Casa de Misericórdia, no qual ficou internada durante três dias. Segundo a advogada da família, a jovem era alvo de bullying entre os colegas e comumente ouvia xingamentos como “cigarrinho queimado” e “preta lésbica”, além da frase “volta para a África”.

De acordo com a mãe da adolescente, o instituto de ensino já havia sido contactado duas vezes antes do episódio, sem que medidas concretas fossem tomadas. “Ela já vinha relatando casos de racismo dentro da escola desde maio de 2024. Ela chegava em casa chorando, dizia que não tinha amigos e era excluída. Quando a avó ia buscá-la, os outros alunos tiravam sarro dela, com xingamentos racistas”, relatou para o UOL

Em nota, o colégio informou que “está apurando cuidadosamente as circunstâncias do ocorrido, com seriedade e zelo, ouvindo todos os envolvidos no tempo e nas condições adequadas, inclusive a aluna, assim que estiver pronta para se manifestar no ambiente pedagógico”.

O caso infelizmente não é isolado e, hoje, o Brasil conta com mais de 280 mil registros de injúria racial, sendo 318 desses processos envolvendo crianças e adolescentes, conforme dados oficiais levantados pelo Escavador durante os anos de 2022 e 2025. Além disso, foram classificados 175 processos como “Bullying, Violência e Discriminação” no campo de Direito à Educação.

Colégio Mackenzie Higienópolis
Colégio Presbiteriano Mackenzie Higienópolis Foto: Reprodução/Folha deS.Paulo

O ensino privado tem como foco priorizar qualidade educacional, mas muitas instituições negligenciam a construção de relações inclusivas. Para Lanna Cristine, licencianda em linguagem pela Faculdade SESI-SP de Educação, em entrevista à AGEMT, a verdadeira qualidade educacional emerge de ambientes que acolhem todos os estudantes, independente de quem for. Ela observa que muitos estagiários sem formação específica em inclusão tentam integrar alunos ao espaço escolar, mas, na verdade, “é o espaço que precisa ser incluído para o estudante”, pontua Cristine, enfatizando a importância de estruturas institucionais receptivas. “Um espaço que promove acolhimento para o estudante vai promover, consequentemente, a aprendizagem”, conclui.

O problema não se limita apenas às instituições privadas, casos de discriminação são comumente vivenciados em escolas públicas. A última ocorrência que ganhou destaque na mídia situou-se em uma escola pública de Luziânia (GO), quando uma aluna em tratamento de câncer virou alvo de bullying na sala de aula por duas colegas. Os xingamentos – que iam desde o jeito de andar até o cabelo, que estava crescendo após a quimioterapia – afetaram o psicológico da jovem, que, segundo a irmã, “não está conseguindo dormir, não quer mais ir à escola, se sente triste, insegura e muito humilhada”, relatou em entrevista para o Metrópoles.

A Secretaria de Educação do Estado de Goiás (SEDUC-GO) informou em nota que o colégio não havia sido informado pela família da vítima sobre a situação e apenas tomou conhecimento a partir de um vídeo nas redes sociais. Ainda em nota, o órgão estadual disse que acionou o programa “Ouvir e Acolher” para investigar o ocorrido e prestar apoio psicológico para a vítima. 

Dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2019), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, revelam que 23,0% dos estudantes brasileiros se sentiram humilhados por colegas duas ou mais vezes durante os 30 dias anteriores à pesquisa. O levantamento ouviu 11,8 milhões de estudantes entre 13 a 17 anos, e mostrou a disparidade entre as escolas públicas com 50,7% de alunos e 14,5% nas instituições privadas. Características físicas motivam a maior parte das discriminações, aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e cor ou raça (4,6%). O cenário reforça a demanda por políticas efetivas de combate à violência escolar.

As denúncias de violência nas escolas brasileiras cresceram 50% em 2023, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O Disque 100 recebeu 9.530 denúncias sobre violência em instituições de ensino, superando os registros de 2022. Entre janeiro a setembro de 2023, mais de 50 mil violações de direitos humanos foram reportadas em cenários escolares, crianças e adolescentes representaram 74% dos casos envolvendo grupos vulneráveis em setembro.

Luciano Felipe da Silva, professor na EMEF Hipólito José da Costa, defende que não é apenas o ambiente educacional que precisa mudar e que, muitas vezes, os alunos já chegam com os valores deturpados, reproduzindo o que ouvem em casa. “Frequentemente recebemos responsáveis de estudantes que vem à escola registrar reclamações pelo fato de os professores trabalharem temas fundamentais, que estão no currículo, tais como escravidão e intolerância religiosa”, relatou. 

Para Lanna, é possível mudar a questão da cultura escolar a partir de uma gestão que se baseie em questões humanitárias e sociais dentro das instituições, junto de trabalhos pedagógicos que complementem e trabalhem com os alunos como superar a cultura da violência e da intolerância com o diferente. Ela explica que “toda violência que acontece na sala de aula precisa de uma prática inclusiva que parta não de situações, mas de uma missão humanitária. Além de estudantes, eles [alunos] são pessoas em formação, tanto a vítima quanto o agressor, e precisam ser educados para respeitar as diferenças não só no âmbito educacional, mas na sociedade em si”. 

O combate ao racismo e ao bullying no ambiente escolar exige ação constante e políticas públicas efetivas. Como destaca Luciano, “É um trabalho contínuo, a partir da realidade em que eles vivem. Um cidadão pode levar isso para o local em que está inserido e ser um agente de transformação no território.” Enquanto isso não se torna prioridade em todas as esferas educacionais, estudantes de todas as classes sociais seguem sendo vítimas de uma sociedade que ainda não aprendeu a educar sem excluir.

O cantor porto-riquenho Bad Bunny conquistou sucesso no país por meio de trend no Tiktok
por
Mariane Beraldes
Thainá Brito
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10/06/2025 - 12h

Artistas latinos dominam as paradas mundialmente, mas no Brasil, a presença só cresce impulsionada por trends no TikTok. Bad Bunny e a capa de seu novo álbum "Debí Tirar Más Fotos" confirma isso. Sua música viralizou na plataforma com a produção de memes e vídeos curtos em Janeiro de 2025. "DTMF", uma de suas músicas que ficou famosa, finalmente fez o artista aparecer entre as mais ouvidas no Spotify Brasil, um cenário marcado pela forte presença do funk e sertanejo. 

Rafael Silva Noleto, antropólogo, cantor e compositor, além de professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, em entrevista à AGEMT, explica o porquê do Brasil, mesmo tão próximo geograficamente, não ter costume de ouvir música hispânica. Apesar dos sinais de mudanças no país, ainda há resistência por parte do público brasileiro em consumir músicas em espanhol.

Circo de rua no Ceará leva alegria e risadas em quatro rodas
por
Juliana Bertini de Paula
Maria Eduarda Cepeda
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09/06/2025 - 12h

Em 2019, Henrique Rosa e Amanda Santos, um casal de artistas no Ceará, voltavam depois de mais um expediente de espetáculos que faziam como palhaços no Parque Aquático de Aquiraz, quando uma ideia, misturada com um sonho, dá origem a um projeto: um circo itinerante em um fusca. Na entrevista, conhecemos mais sobre a história do projeto e seu trabalho pelas ruas do Ceará. 

 

Entenda como as redes sociais podem afetar o desenvolvimento psicológico dos jovens
por
Julia Naspolini
Liz Ortiz
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09/06/2025 - 12h

Recentemente, as redes sociais foram tomadas por uma “treta teen”. Por dois dias o grande assunto entre adultos e adolescentes foi uma briga envolvendo um grupo de meninas tiktokers. Liz Macedo, Antonella Braga, Júlia Pimentel e Duda Guerra, jovens na faixa de 15, 16 anos, que somam milhões de seguidores nas redes e tiveram um desentendimento envolvendo os namorados, levando a discussão para internet ao gravarem pronunciamentos de suas versões.

Pelo grande número de seguidores, a história viralizou, levando a rede a se dividir em lados na briga e fazendo com que as meninas recebessem muitos comentários de ódio. Toda essa polêmica fez muitos pais se preocuparem com essa superexposição digital que os jovens presenciam. É inegável que as redes sociais têm se expandido cada vez mais entre o público juvenil - tanto no consumo do conteúdo, quanto na produção dele. No mundo de hiperconexão é difícil impedir que as crianças tenham contato com a internet, mas é necessário que haja algum controle, ou no mínimo uma orientação parental do que os filhos estão consumindo ou produzindo.

Foto de Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Foto:Reprodução Instagram

Crescer já é, por si só, um processo delicado. Agora, crescer lidando com uma plateia invisível que pode curtir, compartilhar e criticar suas ações, leva a vulnerabilidade da adolescência a um novo nível.  A internet é uma terra de ninguém, onde há muita desinformação e muitas pessoas escondidas no anonimato que não possuem filtro algum para xingamentos. 

Antes das redes sociais,  cada um era exposto a uma quantidade pequena de pessoas. Hoje, com a vida online tudo que é postado de forma pública, pode ser acessado e comentado por qualquer um. Durante a fase de desenvolvimento em que o cérebro busca constante aprovação, essa superexposição pode ser  extremamente prejudicial à saúde mental, podendo levar o adolescente a desenvolver transtornos como a ansiedade e a depressão.

Além das plataformas digitais reforçarem uma autoimagem baseada na aprovação externa, onde os jovens buscam validação através de curtidas e comentários, elas também fazem com que eles consumam as postagens de outras pessoas que podem gerar constantes comparações com padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade. 

A psicóloga Bruna Marchi Moraes, formada pela Faculdade São Francisco, em entrevista à AGEMT, comenta sobre a diferença entre o uso saudável da internet e de um uso prejudicial. Para Bruna, "o uso saudável é aquele que é intencional, equilibrado e supervisionado — contribui para aprendizado, lazer e socialização, sem substituir as experiências offline. Já o uso prejudicial envolve excesso de tempo de tela, isolamento, consumo passivo de conteúdo, dependência emocional das redes e prejuízo nas atividades do cotidiano como sono, escola e convívio familiar".

A autoestima não é o único aspecto abalado pela exposição em excesso às redes sociais, ela pode afetar também a forma que o adolescente se relaciona com os outros, gerar mudanças bruscas de humor, isolamento, queda no rendimento escolar, desinteresse em atividades que antes eram prazerosas e irritabilidade. Bruna ainda alerta que “estudos apontam correlações entre uso excessivo de telas desde cedo e sintomas de ansiedade, depressão e dificuldades de atenção. A hiperestimulação digital pode afetar o funcionamento do cérebro em desenvolvimento, especialmente em crianças com predisposições genéticas ou ambientais para esses transtornos.”

Para evitar que uma ferramenta valiosa como a internet se transforme em algo negativo, ela defende que o papel dos pais, é  de orientar, supervisionar e modelar o uso responsável da internet. Limites saudáveis envolvem horários pré-estabelecidos, escolha de conteúdos adequados, conversas abertas sobre os riscos e incentivo a atividades offline. Mais do que proibir, é importante ensinar o uso consciente e equilibrado.

Um recado de Bruna aos adolescentes, “Gostaria que soubessem que a internet pode ser uma ferramenta incrível, mas também pode influenciar seus pensamentos, emoções e autoestima de maneira sutil e profunda. Que não precisam se comparar com os outros o tempo todo, e que os momentos desconectados também são essenciais para se conhecer, descansar e crescer com mais equilíbrio”.

por
Evelyn Fagundes de Lima e Maria Luiza da Costa Marinho
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15/05/2020 - 12h

 

Lado A

Lecionar: Entre dois mundos

“Já tenho um costume no uso de ferramentas tecnológicas, o que poder facilitar o meu dia a dia nesse momento de interação à distância” Bruno Almeida, professor de história, filosofia e sociologia, do colégio Objetivo, também atua como diretor da rede de cursos técnicos Paulo Freire. Quando dito que há diferenças mesmo quando a tempestade é a mesma, é isso que querem dizer.

O Brasil tem enfrentado a pouco mais de dois meses, uma pandemia que atingiu uma escala global e, feito os professores se reinventarem a cada dia “mas de uma maneira geral nos primeiros momentos eu tive certo estranhamento. Justamente por não ter o contato visual com meus alunos” as famosas caras de interrogação não são visíveis por meio da tela do computador, o que os deixa apreensivos com a qualidade da aula. Assim como muitos professores, Bruno teve que optar pelas aulas online para não deixar seus alunos sem conteúdo.  Ainda que haja mazelas, foi a alternativa encontrada fazendo os alunos transferirem suas dúvidas da sala para o computador “normalmente o professor quando está ensinando, ele fica sempre atento ao olhar dos alunos, e dessa forma a gente percebe se estão aprendendo ou não. Essa dinâmica é um pouco prejudicada no ensino a distância.”

Quando se perde a interação, para Bruno, perde-se um pouco do ensino. Ensinar também faz parte da socialização, coisa que está sendo proibido durante o distanciamento social, mas acima de tudo, tem muito a ver com humanidade, e as máquinas não estão prontas para isso “parece que a gente desaprendeu a dar aula, ou, aquele conteúdo. Porque muitas vezes nós estamos acostumados em transmitir informação através da lousa, ou slides. No processo de ensino a distancia você tem que reinventar esse caminho todo para alcançar seu aluno”.

Assim como Bruno, a professora de história de um colégio privado, diz estar tendo dificuldades para lecionar, mesmo sabendo que seus alunos possuem os recursos necessários para assistir as aulas, o tempo deles está cada vez mais ocioso e é difícil controlar a distração “dar aula à distância para criança é um desafio, a educação no nosso país não está preparada para isso” o planejamento está sendo feito semanalmente, coisa que antes, era organizada por bimestres “é muito uma forma de tentativa e erro” complementando a fala da professora, Bruno diz “A profissão já demandava bom tempo, hoje,   – isso é impressão minha, e compartilhada pelos meus colegas – estamos trabalhando três vezes mais.” Como professor, ele não vê outra saída “vejo de uma maneira positiva a continuidade do ensino à distância durante a pandemia”.

Enem: Até nas dificuldades tem ‘privilégios’

O Colégio Objetivo está entre os que possuem melhor desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que por decisão do MEC continuará a acontecer este ano, nos dias 1 e 8 de novembro.  “O aluno que tem estrutura, o que tem acesso à banda larga acaba sendo favorecido por conta disso” foi levantada a discussão sobre a decisão do então ministro Abraham Weintraub, o vídeo de divulgação da prova fez uso de atores de classe média para expressar a importância de manter a prova, foi alvo de críticas por não atender a realidade da maioria dos brasileiros “não consigo concordar com nada que vem desse governo”.

O estudante Josué Guaita diz ser decepcionante ainda haver tantas diferenças sociais, e mesmo assim não darem a mínima para isso, quando entrado no mérito MEC e a mais nova propaganda. “Muito sem noção”, diz o garoto que está se preparando para o exame por intermédio de vídeo aulas e apostilas oferecidas pela plataforma Objetivo. “Eles falam como se todo mundo que vai fazer o ENEM tivesse recursos para se preparar”. O Exame Nacional do Ensino Médio é uma prova que abrange o território nacional, podendo usar a nota para universidades públicas e particulares. Bruno acompanha os dois mundos, dando aula em rede privada e sendo diretor na ETEC, ele percebe as diferenças nas dificuldades que os alunos estão tendo, e como à decisão de manter a prova pode prejudicar essa parcela da população “temos que ter a clareza de que nem todo aluno vai tem acesso a esse recurso”.

Fonte: Evelyn Fagundes
Fonte: Evelyn Fagundes

“Pensando na educação como ciência como alguém racional que trabalha na área da educação, e sabendo da realidade do aluno, quanto do privado, quanto do público. É uma atrocidade manter o ENEM” o professor de história e sociologia lembra-se da realidade do nosso país, e lamenta ter que discutir fatores que para ele, parecem óbvios. Josué acrescenta “a gente está no meio de uma pandemia, milhares de pessoas estão morrendo” já são mais de 13.993 mil mortes e 202.918 mil casos confirmados (15/05), de acordo com a secretária da saúde os números tendem a subir se o isolamento não for efetivado.

Suporte

“Nós já estávamos nos preparando para lançar uma plataforma online em 2020, então o projeto veio a calhar” as plataformas digitais servem para auxiliar os estudantes, são como mediadores entre professor e aluno. Desde sempre, as universidades tem contato com a via digital, assim como as escolas.

Sandra Regina da Costa trabalha como consultora em uma grande editora educacional do Brasil, localizada próximo a Avenida Paulista, SP. A editora cuida para que a escolas consigam chegar nos alunos “educação para todos” é o lema da empresa. “Conseguimos ver o desespero na voz das coordenadoras e diretoras. São escolas de grande e pequeno porte, desde bem localizadas até no interior de uma cidadezinha” todos os colégios são particulares, e basta serem parceiros para terem essa assessoria.

 

Lado B

Manifestações do dilema

No dia 16 de março de 2020, totalizavam-se 200 casos confirmados pela Covid-19 no Brasil, sendo 152 destes apenas no Estado de São Paulo. Neste mesmo dia, o governador do Estado, João Doria, em consonância com o Ministério da Saúde, decidiu por suspender as aulas da rede estadual e municipal de maneira gradativa e, além disso, sugeriu que as Universidades públicas e privadas iniciassem, similarmente, esta paralisação com o objetivo de evitar aglomerações.Fiquei com medo de perder o semestre” conta Gabriela Hernandes Barbosa, 19 anos, aluna do curso de Pedagogia na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Mas, estamos falando de pessoas, seres humanos. Nós podemos recuperar o semestre, as pessoas não”. A interrupção das aulas presenciais motivou muitas universidades a aderirem ao modal online. Universidades como PUC (Pontifícia Universidade Católica) e USP (Universidade de São Paulo) estão prosseguindo com o ensino à distância. No entanto, esta adesão está provocando diversas dificuldades para os estudantes de baixa renda que não possuem dispositivos como computador, notebook, smartphone ou até mesmo acesso à rede de internet banda larga. “Grande parte dos meus colegas de classe utiliza os computadores da própria faculdade por não ter acesso à internet em casa. Seria muito excludente se a Unifesp optasse por dar continuidade ao semestre”, esclarece a estudante de pedagogia. “Não tenho computador em casa. Não podem exigir que o aluno tenha computador em casa, é um absurdo. Ainda mais em um momento como esse em que pessoas estão precisando do auxílio do governo para comer, para comprar alimento"

 A estudante de pedagogia, residente da cidade de Guarulhos, mora com sua mãe Kely Cristina e com sua irmã Kauany Hernandes, de 10 anos. Kauany é aluna de escola pública e está no 5° ano do Ensino Fundamental. Desde o dia 27 de abril, quando as aulas estaduais reiniciaram, mas de maneira online, a menina vem apresentado à família dificuldades em lidar com a nova rotina. “A quantidade de conteúdo é impossível de acompanhar. Querem que a criança acompanhe a televisão, o aplicativo e o conteúdo que é passado pelo grupo no whatsapp ao mesmo tempo”, reclama Kely. O excesso de atividades escolares tem tomado não só a rotina da estudante, mas também de sua mãe e irmã. Numerosos são os dias em que a família termina os trabalhos e as atividades depois das nove ou dez horas da noite. A mãe das garotas trabalha como costureira e diz que apesar da pandemia está trabalhando com demanda normal. No entanto, ela revela que às vezes precisa interromper seu trabalho para ajudar a menina. “Hoje a professora passou vários exercícios no grupo do whatsapp e logo em seguida a aula da televisão começou. Tivemos que copiar as lições para que a Kauany pudesse assistir à aula. Tem sido complicado, mas estamos uma ajudando a outra”, completa Gabriela.

Além dessa defasagem provocada pela desorganização do ensino à distância, os alunos não estão recebendo aulas das disciplinas de Educação Física e Artística.Eu acho triste que a educação artística esteja sendo deixada de lado. A educação física é mesma situação. Mas, nesse caso, as crianças acabam ficando sedentárias, pois estão das 13h às 17h sentadas e assistindo televisão sem praticar nenhum tipo de exercício físico”. Outra situação preocupante apresentada pela família foi a falta de participação dos demais alunos da turma de Kauany no grupo do whatsapp, aplicativo pelo qual a professora da classe envia os conteúdos diários e tira dúvidas.No grupo são 33 alunos, mas apenas 8 são os que participam assiduamente das tarefas propostas. Sem falar daqueles que nem estão no grupo. Às vezes as crianças não tem celular ou o uso do celular dos pais é restrito. Ou, então, nem os pais sabem como encarar essa nova metodologia de ensino”

Quando perguntado sobre a relação dos alunos que não tem acesso aos dispositivos que lhes permitam o acompanhamento das aulas, o Secretário da Educação do Estado, Rossieli Soares afirmou: “Nenhum estudante será prejudicado ou ficará para trás”. Apesar de demonstrar empatia com alunos de baixa renda, é provável que não foi levado em consideração toda a problemática envolvida em aprovar um aluno para o próximo ano letivo sendo que este não demonstrou aprendizado sobre o conteúdo proposto.

A face dos bastidores

 Para quem está na linha de frente da educação a situação atual também não é nada fácil. Professores, mediadores, diretores e demais colaboradores da comunidade de ensino enfrentam complicações não só no campo técnico, mas também, no campo social: diariamente esses funcionários recebem relatos de pais que contam da impossibilidade do filho assistir às aulas. “Os pais de um aluno que estuda no segundo ano do Ensino Médio relataram que o filho não pode assistir, pois trabalha no horário em que as aulas são transmitidas na televisão” conta a mediadora de uma escola estadual Irani C. Correia. “Outro casal falou que são evangélicos e não tem televisão nem internet.” As aulas da rede estadual podem ser acompanhadas pela televisão no canal TV Educação 2.3 ou 2.2 e também pelo aplicativo CMSP (Centro de Mídias do Estado de São Paulo), mas cada série possui um horário específico para as aulas. Para as famílias mais carentes que sofrem com a falta da merenda escolar que era servida pela instituição aos alunos, o Governo disponibilizou um benefício. No entanto, para ter acesso a este auxílio o aluno precisa possuir inscrição do CadÚnico (Cadastro Único).

Dessa maneira, muitas famílias deixam de receber por não possuírem este registro burocrático. “Eu defendo a educação, mas, sinceramente esse modelo não é o mais desejado. Acho que muitos desses alunos irão sumir da escola quando retornarmos. Muitos adoram estudar e estão fazendo e dando seu melhor, já outros que apesar de disponibilizarem de recursos não estão fazendo nada, pois sabem que não serão prejudicados. Os professores estão usando o diário digital para ter a noção dos alunos que entraram no aplicativo através de seu RA (Registro do Aluno), mas ainda não sabemos”, confessa Irani. “Mas, apesar de tudo nós estamos unindo esforços. Muitos professores estão montando grupos nas redes sociais, principalmente com os terceiros anos, revisando atividades de matemática e português, respectivamente. Nossa escola também disponibilizou um e-mail para possíveis dúvidas dos alunos”.

Prejuízo desigual

Fonte: Evelyn Fagundes
Fonte: Evelyn Fagundes

Apesar da rotina desordenada e confusa dos alunos com a suspensão das aulas presenciais, a data de aplicação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) será mantida. Como justificativa, o Ministro da Educação Abraham Weintraub diz “Eu sei que o corona vírus atrapalha um pouco. Mas, atrapalha todo mundo. Como é uma competição, tá justo”. No entanto, a justiça afirmada por Weintraub não conduz com a realidade. Se as salas de aula das escolas particulares já são desiguais às salas das escolas públicas, a diferença é ainda maior nas salas das casas desses alunos. Ou seja, o aproveitamento e qualidade do ensino, consequentemente, serão distintos, logo, não há justiça. Pesquisas recentes realizadas pelo jornal NEXO apontam que apenas menos de 70% dos alunos de escolas estaduais possuem acesso aos computadores.

Além disso, esse estudo mostrou que entre os alunos que possuem acesso aos dispositivos, 35% compartilham com três ou mais pessoas. Ainda por cima, muitos jovens dividem o tempo de estudo com outros encargos: trabalho, cuidar de um irmão e também auxiliar nas tarefas domésticas. É o caso da estudante Vitória Manoela de Santana Almeida, 17, que conta que pelo excesso de tarefas externas ao estudo acaba por se desconcentrar. “É muito difícil estudar sozinha e manter o foco sem as aulas presenciais. Às vezes paro os estudos para cumprir uma tarefa que minha mãe pede e acabo me desconcentrando”. Aluna do terceiro ano do Ensino Médio em uma escola pública, Vitória iniciou os estudos no Cursinho Comunitário Cora Coralina, localizado no Bom Clima, bairro em Guarulhos. Assim como as demais instituições de ensino, o Cursinho também suspendeu as aulas, o que preocupa a estudante, uma vez em que não há indícios de uma possível alteração na data da prova. “Fico meio desesperada, começo a chorar por não estar evoluindo como os outros. O Governo precisa suspender o Enem”, protesta Vitória.

Os alunos que assistem às aulas pelo aplicativo, como é o caso da aluna, dispõem de um chat para depositar suas dúvidas sobre o conteúdo. Porém, vários estudantes dizem ser um método ineficaz, pois devido à existência de milhares de pessoas conectadas cria-se uma grande bagunça: muitos dos comentários não são questionamentos e as reais dúvidas não são lidas pelo professor que ministra a aula. Portanto, após o fim da aula muitos alunos permanecem confusos e cheios de incertezas sobre a matéria.

Visão Pedagógica

Em entrevista ao site UOL, Lucia Delagnello, diretora-presidente do CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira) disse que a maioria das secretarias estaduais de ensino do país não tem plataforma nem metodologia estabelecida para oferecer aulas remotas. A situação descrita por Delagnello é comprovada pela pedagoga Renata Bonifácio: “acredito que este método virtual não tenha eficácia, tanto no setor infantil, que é o setor que faço parte, tanto quanto no ensino fundamental e médio. É um processo que causa angústia não só no aluno, mas também nos professores e na equipe de gestão”, afirma Renata.

A pedagoga levanta a questão da desigualdade social como o maior impacto desse cenário de educação à distância, para ela a possibilidade da continuidade do ensino em casa depende da estrutura em que a família do aluno está inserida. “Os estudantes das escolas particulares têm o hábito de trabalhar em plataformas de sistema online, cada um tem o seu notebook em casa com rede de internet. É um contexto diferente dos alunos da educação pública, esses têm dois, três irmãos e apenas um computador em casa, ou quando tem. É complicado. Eu acredito que a desigualdade vai disparar se aprovações forem concedidas a alunos que não puderam aproveitar o ano letivo. Deve ser repensada a necessidade do prosseguimento dos 200 dias letivos”.

Muitos especialistas do campo educacional, tais como o educador Mozart Neves Ramos, afirmam que as escolas da rede pública apresentam modelos arcaicos, especificamente, modelos do século XIX, segundo a tese do escritor. Essa ideia se verifica na fala de Renata: “Infelizmente, nós não estamos preparados para a educação à distância, somos ainda acostumados com giz, lousa e professor falando, é isso que tem funcionado efetivamente na sala de aula”.

 

 

Fontes: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2020/04/05/como-a-pandemia-de-coronavirus-impacta-o-ensino-no-brasil.htm

 

por
Larissa Teixeira e Maria Clara Vieira
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28/02/2020 - 12h

Este podcast é sobre Deus. Mas não simplesmente aquela ideia de um ser onipresente, onipotente e onisciente vindo das três principais religiões monoteístas - o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Esta reportagem mostra quem ou o que é essa ideia nas suas mais variadas formas na vida dos paulistanos.

Você já se perguntou onde está Deus na cidade de São Paulo?

Apresentação: Maria Clara Vieira
Edição: Larissa Teixeira
Produção da reportagem: Larissa Teixeira e Maria Clara Vieira

Entrevistados:
Eulálio Figueira
Gabriel Siddartha
Guilherme Vona
Hernan Vilar
João Belmonte (Tody One)
Rafael Rodrigues
Tuanny Sufiatti

por
Yara Guerra, Humberto Tozze, Gabriel Damião e Vinicius Leite
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28/02/2020 - 12h

por
Fernanda Cui, João Pedro Calachi, Leonardo Castro, Luca Machado e Pedro Kipper
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28/02/2020 - 12h

O machismo do dia a dia é refletido nas diversas camadas da vida em sociedade - e a internet não estaria fora disso. Este podcast busca mostrar em quais situações ela ocorre, como uma vítima pode recorrer judicialmente e como isso se reflete psicologicamente na vida das envolvidas. Conheça também os projetos que ajudam mulheres a se prevenirem e lidarem com esse tipo de situação. 

por
Gabriel Solti Zorzetto, Bruno Verneque, Matheus Lopes Quirino e Vinicius Vieira
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28/02/2020 - 12h