Entenda como a privatização do transporte público influencia na sua segurança
por
Amanda Campos
Gabriela Blanco
Lorena Basilia
Manuela Schenk
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10/06/2025 - 12h

Após o trágico acidente na linha 5-lilás que matou um homem de 35 anos, o assunto segurança no transporte público vem sendo amplamente discutido, principalmente quando se fala das vias privadas. A reportagem a seguir fala sobre a falta de segurança na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Em entrevista à AGEMT, o especialista Igor Bonifácio responde algumas das perguntas mais recorrentes sobre o assunto. Assista. 

 

 

 

Casos de violência escolar evidenciam problemas estruturais que demandam políticas públicas urgentes
por
Eduarda Amaral
Emily de Matos
Luis Henrique Oliveira
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10/06/2025 - 12h

Em abril deste ano, uma aluna bolsista no Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) foi encontrada desacordada no banheiro, após tentativa de suicídio e levada às pressas para o hospital Santa Casa de Misericórdia, no qual ficou internada durante três dias. Segundo a advogada da família, a jovem era alvo de bullying entre os colegas e comumente ouvia xingamentos como “cigarrinho queimado” e “preta lésbica”, além da frase “volta para a África”.

De acordo com a mãe da adolescente, o instituto de ensino já havia sido contactado duas vezes antes do episódio, sem que medidas concretas fossem tomadas. “Ela já vinha relatando casos de racismo dentro da escola desde maio de 2024. Ela chegava em casa chorando, dizia que não tinha amigos e era excluída. Quando a avó ia buscá-la, os outros alunos tiravam sarro dela, com xingamentos racistas”, relatou para o UOL

Em nota, o colégio informou que “está apurando cuidadosamente as circunstâncias do ocorrido, com seriedade e zelo, ouvindo todos os envolvidos no tempo e nas condições adequadas, inclusive a aluna, assim que estiver pronta para se manifestar no ambiente pedagógico”.

O caso infelizmente não é isolado e, hoje, o Brasil conta com mais de 280 mil registros de injúria racial, sendo 318 desses processos envolvendo crianças e adolescentes, conforme dados oficiais levantados pelo Escavador durante os anos de 2022 e 2025. Além disso, foram classificados 175 processos como “Bullying, Violência e Discriminação” no campo de Direito à Educação.

Colégio Mackenzie Higienópolis
Colégio Presbiteriano Mackenzie Higienópolis Foto: Reprodução/Folha deS.Paulo

O ensino privado tem como foco priorizar qualidade educacional, mas muitas instituições negligenciam a construção de relações inclusivas. Para Lanna Cristine, licencianda em linguagem pela Faculdade SESI-SP de Educação, em entrevista à AGEMT, a verdadeira qualidade educacional emerge de ambientes que acolhem todos os estudantes, independente de quem for. Ela observa que muitos estagiários sem formação específica em inclusão tentam integrar alunos ao espaço escolar, mas, na verdade, “é o espaço que precisa ser incluído para o estudante”, pontua Cristine, enfatizando a importância de estruturas institucionais receptivas. “Um espaço que promove acolhimento para o estudante vai promover, consequentemente, a aprendizagem”, conclui.

O problema não se limita apenas às instituições privadas, casos de discriminação são comumente vivenciados em escolas públicas. A última ocorrência que ganhou destaque na mídia situou-se em uma escola pública de Luziânia (GO), quando uma aluna em tratamento de câncer virou alvo de bullying na sala de aula por duas colegas. Os xingamentos – que iam desde o jeito de andar até o cabelo, que estava crescendo após a quimioterapia – afetaram o psicológico da jovem, que, segundo a irmã, “não está conseguindo dormir, não quer mais ir à escola, se sente triste, insegura e muito humilhada”, relatou em entrevista para o Metrópoles.

A Secretaria de Educação do Estado de Goiás (SEDUC-GO) informou em nota que o colégio não havia sido informado pela família da vítima sobre a situação e apenas tomou conhecimento a partir de um vídeo nas redes sociais. Ainda em nota, o órgão estadual disse que acionou o programa “Ouvir e Acolher” para investigar o ocorrido e prestar apoio psicológico para a vítima. 

Dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2019), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, revelam que 23,0% dos estudantes brasileiros se sentiram humilhados por colegas duas ou mais vezes durante os 30 dias anteriores à pesquisa. O levantamento ouviu 11,8 milhões de estudantes entre 13 a 17 anos, e mostrou a disparidade entre as escolas públicas com 50,7% de alunos e 14,5% nas instituições privadas. Características físicas motivam a maior parte das discriminações, aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e cor ou raça (4,6%). O cenário reforça a demanda por políticas efetivas de combate à violência escolar.

As denúncias de violência nas escolas brasileiras cresceram 50% em 2023, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O Disque 100 recebeu 9.530 denúncias sobre violência em instituições de ensino, superando os registros de 2022. Entre janeiro a setembro de 2023, mais de 50 mil violações de direitos humanos foram reportadas em cenários escolares, crianças e adolescentes representaram 74% dos casos envolvendo grupos vulneráveis em setembro.

Luciano Felipe da Silva, professor na EMEF Hipólito José da Costa, defende que não é apenas o ambiente educacional que precisa mudar e que, muitas vezes, os alunos já chegam com os valores deturpados, reproduzindo o que ouvem em casa. “Frequentemente recebemos responsáveis de estudantes que vem à escola registrar reclamações pelo fato de os professores trabalharem temas fundamentais, que estão no currículo, tais como escravidão e intolerância religiosa”, relatou. 

Para Lanna, é possível mudar a questão da cultura escolar a partir de uma gestão que se baseie em questões humanitárias e sociais dentro das instituições, junto de trabalhos pedagógicos que complementem e trabalhem com os alunos como superar a cultura da violência e da intolerância com o diferente. Ela explica que “toda violência que acontece na sala de aula precisa de uma prática inclusiva que parta não de situações, mas de uma missão humanitária. Além de estudantes, eles [alunos] são pessoas em formação, tanto a vítima quanto o agressor, e precisam ser educados para respeitar as diferenças não só no âmbito educacional, mas na sociedade em si”. 

O combate ao racismo e ao bullying no ambiente escolar exige ação constante e políticas públicas efetivas. Como destaca Luciano, “É um trabalho contínuo, a partir da realidade em que eles vivem. Um cidadão pode levar isso para o local em que está inserido e ser um agente de transformação no território.” Enquanto isso não se torna prioridade em todas as esferas educacionais, estudantes de todas as classes sociais seguem sendo vítimas de uma sociedade que ainda não aprendeu a educar sem excluir.

O cantor porto-riquenho Bad Bunny conquistou sucesso no país por meio de trend no Tiktok
por
Mariane Beraldes
Thainá Brito
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10/06/2025 - 12h

Artistas latinos dominam as paradas mundialmente, mas no Brasil, a presença só cresce impulsionada por trends no TikTok. Bad Bunny e a capa de seu novo álbum "Debí Tirar Más Fotos" confirma isso. Sua música viralizou na plataforma com a produção de memes e vídeos curtos em Janeiro de 2025. "DTMF", uma de suas músicas que ficou famosa, finalmente fez o artista aparecer entre as mais ouvidas no Spotify Brasil, um cenário marcado pela forte presença do funk e sertanejo. 

Rafael Silva Noleto, antropólogo, cantor e compositor, além de professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, em entrevista à AGEMT, explica o porquê do Brasil, mesmo tão próximo geograficamente, não ter costume de ouvir música hispânica. Apesar dos sinais de mudanças no país, ainda há resistência por parte do público brasileiro em consumir músicas em espanhol.

Circo de rua no Ceará leva alegria e risadas em quatro rodas
por
Juliana Bertini de Paula
Maria Eduarda Cepeda
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09/06/2025 - 12h

Em 2019, Henrique Rosa e Amanda Santos, um casal de artistas no Ceará, voltavam depois de mais um expediente de espetáculos que faziam como palhaços no Parque Aquático de Aquiraz, quando uma ideia, misturada com um sonho, dá origem a um projeto: um circo itinerante em um fusca. Na entrevista, conhecemos mais sobre a história do projeto e seu trabalho pelas ruas do Ceará. 

 

Entenda como as redes sociais podem afetar o desenvolvimento psicológico dos jovens
por
Julia Naspolini
Liz Ortiz
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09/06/2025 - 12h

Recentemente, as redes sociais foram tomadas por uma “treta teen”. Por dois dias o grande assunto entre adultos e adolescentes foi uma briga envolvendo um grupo de meninas tiktokers. Liz Macedo, Antonella Braga, Júlia Pimentel e Duda Guerra, jovens na faixa de 15, 16 anos, que somam milhões de seguidores nas redes e tiveram um desentendimento envolvendo os namorados, levando a discussão para internet ao gravarem pronunciamentos de suas versões.

Pelo grande número de seguidores, a história viralizou, levando a rede a se dividir em lados na briga e fazendo com que as meninas recebessem muitos comentários de ódio. Toda essa polêmica fez muitos pais se preocuparem com essa superexposição digital que os jovens presenciam. É inegável que as redes sociais têm se expandido cada vez mais entre o público juvenil - tanto no consumo do conteúdo, quanto na produção dele. No mundo de hiperconexão é difícil impedir que as crianças tenham contato com a internet, mas é necessário que haja algum controle, ou no mínimo uma orientação parental do que os filhos estão consumindo ou produzindo.

Foto de Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Foto:Reprodução Instagram

Crescer já é, por si só, um processo delicado. Agora, crescer lidando com uma plateia invisível que pode curtir, compartilhar e criticar suas ações, leva a vulnerabilidade da adolescência a um novo nível.  A internet é uma terra de ninguém, onde há muita desinformação e muitas pessoas escondidas no anonimato que não possuem filtro algum para xingamentos. 

Antes das redes sociais,  cada um era exposto a uma quantidade pequena de pessoas. Hoje, com a vida online tudo que é postado de forma pública, pode ser acessado e comentado por qualquer um. Durante a fase de desenvolvimento em que o cérebro busca constante aprovação, essa superexposição pode ser  extremamente prejudicial à saúde mental, podendo levar o adolescente a desenvolver transtornos como a ansiedade e a depressão.

Além das plataformas digitais reforçarem uma autoimagem baseada na aprovação externa, onde os jovens buscam validação através de curtidas e comentários, elas também fazem com que eles consumam as postagens de outras pessoas que podem gerar constantes comparações com padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade. 

A psicóloga Bruna Marchi Moraes, formada pela Faculdade São Francisco, em entrevista à AGEMT, comenta sobre a diferença entre o uso saudável da internet e de um uso prejudicial. Para Bruna, "o uso saudável é aquele que é intencional, equilibrado e supervisionado — contribui para aprendizado, lazer e socialização, sem substituir as experiências offline. Já o uso prejudicial envolve excesso de tempo de tela, isolamento, consumo passivo de conteúdo, dependência emocional das redes e prejuízo nas atividades do cotidiano como sono, escola e convívio familiar".

A autoestima não é o único aspecto abalado pela exposição em excesso às redes sociais, ela pode afetar também a forma que o adolescente se relaciona com os outros, gerar mudanças bruscas de humor, isolamento, queda no rendimento escolar, desinteresse em atividades que antes eram prazerosas e irritabilidade. Bruna ainda alerta que “estudos apontam correlações entre uso excessivo de telas desde cedo e sintomas de ansiedade, depressão e dificuldades de atenção. A hiperestimulação digital pode afetar o funcionamento do cérebro em desenvolvimento, especialmente em crianças com predisposições genéticas ou ambientais para esses transtornos.”

Para evitar que uma ferramenta valiosa como a internet se transforme em algo negativo, ela defende que o papel dos pais, é  de orientar, supervisionar e modelar o uso responsável da internet. Limites saudáveis envolvem horários pré-estabelecidos, escolha de conteúdos adequados, conversas abertas sobre os riscos e incentivo a atividades offline. Mais do que proibir, é importante ensinar o uso consciente e equilibrado.

Um recado de Bruna aos adolescentes, “Gostaria que soubessem que a internet pode ser uma ferramenta incrível, mas também pode influenciar seus pensamentos, emoções e autoestima de maneira sutil e profunda. Que não precisam se comparar com os outros o tempo todo, e que os momentos desconectados também são essenciais para se conhecer, descansar e crescer com mais equilíbrio”.

Sarah Arsani e Sid Lima conversam sobre arte e trabalho coletivo em tempos cada vez mais individualistas
por
Natália Matvyenko
Jéssica Amanda Castro
Manuela Amaral Silva
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28/04/2025 - 12h

Três Cabeças é um grupo de teatro independente formado em 2022, no ABC Paulista. Fundada pelos atores Rodrigo Pinho, Sarah Arsani e Sid Lima, a companhia nasceu da união criativa de três artistas que pensam, criam e dividem o palco em parceria. Confira a entrevista em vídeo: 

Dicas e hábitos fitness divulgados por criadores de conteúdo orientam comportamentos e acendem o alerta sobre os limites entre referência e comparação
por
Thainá Brito
Mariane Beraldes
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22/04/2025 - 12h

No fim de março, o influenciador e coach fitness estadunidense Ashton Hall, de 29 anos, viralizou no TikTok ao compartilhar sua rotina matinal, que começa às 3h50 e vai até as 9h30. No vídeo, Hall adota comportamentos inusitados e os associa diretamente ao aumento da produtividade diária. “O pecado vive tarde da noite. Se você está lidando com uma mente fraca, más decisões ou falta de produtividade, durma cedo”, escreveu em seu post.

Ashton Hall em vídeo de rotina matinal   Instagram/Reprodução
Ashton Hall em vídeo de rotina matinal. Foto: Instagram/Reprodução/@ashtonhall

Nos últimos anos, conteúdos como esse têm se tornado frequentes em plataformas digitais e são amplamente propagados, sem considerar as diferentes realidades, condições de saúde e necessidades do público que os consome. Para a psicóloga clínica, Larissa Romano, em entrevista à AGEMT, esse tipo de postagem pode ser prejudicial para quem assiste “Eles estabelecem uma comparação de realidades e isso leva ao sofrimento emocional, principalmente porque são comparações desleais – as realidades são diferentes, e por si só não há equiparação, um lado sempre estará em desvantagem em relação a outro” analisou Larissa.

Entre vídeos de rotinas matinais que começam nas madrugadas, metas ambiciosas e compras de alto custo para exercer atividades físicas, influenciadores digitais exaltam seus desempenhos diários e reforçam a ideia de que “todos têm as mesmas 24 horas”. Com estratégias de engajamento, esse grupo conquista milhões de visualizações e modelam comportamentos de seguidores, principalmente jovens.

“Me sinto culpada por não conseguir aderir a hábitos como acordar às 5h da manhã para treinar. Tento lidar com essa sensação lembrando que as blogueiras que possuem essa rotina lidam com uma realidade totalmente diferente da minha", revelou a estudante de psicologia, Micaeli Macedo. Segundo o Panorama da Saúde Mental 2024, realizado pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, as redes sociais afetam negativamente 45% das pessoas.

A comparação com pessoas de alto padrão de vida e a tentativa de equilibrar estudos, trabalho, exercícios e lazer, tem levado muitas pessoas a uma rotina exaustiva, marcada pela sensação de insuficiência. A falta de tempo para atender a tantas exigências e as desigualdades sociais, impactam a saúde mental do público que idealiza esses hábitos, um ciclo que reforça padrões inalcançáveis e alimenta a frustração cotidiana.

“O consumo de qualquer tipo de conteúdo se torna prejudicial quando acarreta em sofrimento emocional e psíquico e quando se torna o foco principal de seus pensamentos e ações. O exagero nunca é bom, por isso é perigoso quando percebemos que estamos investindo muita energia em uma coisa só”, afirmou a psicóloga Larissa.

Ouça a reportagem.

Como cada um desses países produz humor da sua própria maneira. Entenda as diferenças
por
Liz Ortiz Fratucci
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16/04/2025 - 12h

Cada ser humano tem o seu próprio senso de humor, que é formado por uma série de fatores biológicos, culturais e sociológicos. Por conta disso, a maneira de consumir o gênero da comédia em cada país, se diferencia. O Estados Unidos é conhecido por ser a maior potência na indústria do entretenimento, como consequência, também é o lugar que mais produz e consome conteúdos humorísticos. Lá, a comédia é uma indústria altamente profissionalizada. Os comediantes podem iniciar suas carreiras em diversos clubes de stand-up, estudar em escolas especializadas e são valorizados em suas profissões. Em contraste, o Brasil não possui um grande suporte institucionalizado para a profissão. Até existem clubes de apresentação, mas o brasileiro não possui a cultura de frequentá-los. O que leva os comediantes a dependerem de plataformas como o Youtube, para ganhar visibilidade.

Nos EUA, existem uma diversidade de modelos com bom desempenho, como os late-night shows, que são um gênero de programa de entrevistas, apresentados por comediantes que passaram por outros formatos de comédia, antes de se estabelecerem o suficiente para terem uma uma mesa e um sofá com convidados, em um dos horários nobres a televisão americana. Lá também é extremamente popular o programa de esquete, “Saturday Night Live” (SNL), que impactou e influenciou a indústria mundial do humor. Em 2010, a MTV Brasil, uma rede de televisão dedicada ao público jovem, começou a transmitir um programa chamado “Comédia MTV”, esse tendo como maior inspiração o SNL. Porém, o programa acabou sendo cancelado dois anos depois.

Para um dos roteiristas do “Comédia MTV”, Yuri Moraes, em entrevista à AGEMT, a "razão dele não ter dado certo, foi a falta de incentivo aos participantes do projeto. “As emissoras, querendo ou não, não pagam o suficiente para ser a única coisa que o pessoal tá trabalhando. Então, eu acho que o tempo de dedicação das pessoas ao projeto é um fator”, diz Moraes.

Além da tentativa da MTV Brasil fazer um programa similar ao Saturday Night Live, Moraes acredita que nos EUA existe uma cultura de celebridades mais intensa, e aqui existe uma falta de humor autodepreciativo das pessoas públicas e a falta de vontade delas de serem associadas ao humor. “O programa foi transmitido pela RedeTV, e eles convidaram, mas quase nenhuma das celebridades da Globo, que seria o nosso equivalente a Hollywood, aceitaram o convite”. Então, o formato de esquetes foi aplicado mais uma vez pelos produtores da comédia brasileira, mas dessa vez com sucesso.

No início de 2012, os humoristas: Fábio Porchat, Ian SBF e Antônio Tabet, se reuniram para criar um canal no Youtube, abordando temáticas que eles não conseguiam fazer na televisão, no tempo em que eram roteiristas. Esse canal foi nomeado por eles de “Porta dos Fundos”, e veio para mostrar como o humor na internet poderia competir com a TV e ser altamente lucrativo.

Porta dos Fundos 2014  Foto: Divulgação/Thay Rabello
                                 Porta dos Fundos 2014
                            Foto: Divulgação/Thay Rabello

No entanto, enquanto o modelo de esquetes encontrou um caminho de sucesso na internet brasileira, outro formato de comédia americana, chamado de sitcom, nunca conseguiu se estabelecer com a mesma força no Brasil. “Existem programas, como : ‘Eu a Patroa e as Crianças’, ‘Um maluco no pedaço’, ‘Todo mundo odeia o Chris’, que funcionam muito bem no Brasil. Então, não sei se isso ainda não conseguiu ser produzido, porque é super difícil fazer um programa desses assim dar certo, e ainda conseguir refletir com o humor daqui. Mas tiveram alguns que conseguiram chegar perto, como o ‘Sai de Baixo’, que teve um impacto cultural bem forte, apesar de ter apenas um cenário e ser um pouco mais teatral", diz Moraes. 

Uma análise realizada pela Folha de S. Paulo constatou que a cada três filmes do ranking dos cem títulos brasileiros de maior audiência, transmitidos no cinema, dois são do gênero de comédia. Por conta dessa popularidade, a ocupação da comédia em salas de cinema pelo Brasil, aumentou. Entre as 45 mil telas que transmitiram filmes nacionais com maior bilheteria, 30 mil receberam obras de comédia presente em um dos seus gêneros. Um dos responsáveis pelo sucesso do humor nos cinemas, foi o ator Paulo Gustavo. Seu último filme antes de sua morte, foi a comédia com maior público e rentabilidade do país.

Embora os formatos que fazem sucesso em cada país não sejam os mesmos, uma coisa é certa: todos os países consomem a comédia. Enquanto os Estados Unidos consolidaram suas indústrias televisivas e cinematográficas, o Brasil encontrou na internet um caminho para dar mais espaço aos comediantes e explorar novas formas de fazer rir. No fim, o que diverte um público pode não funcionar para outro, mas a necessidade de rir continua universal – mesmo que cada país tenha a sua própria maneira de fazê-lo.

Entenda como a internet transformou a forma de comunicar e o consumo de informação no jornalismo
por
Beatriz Lima
Camila Bucoff
Giovanna Brito
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07/04/2025 - 12h

Desde o século 17, a mídia jornalística tem mantido a população informada através dos veículos tradicionais que todos já conhecem: o impresso, a televisão e o rádio. Por muito tempo, mesmo com mudanças significativas na comunicação, essa estrutura midiática se manteve dominante. Entretanto, com o avanço da tecnologia, novas formas de consumo de informação foram popularizadas. Hoje, a necessidade de se fazer presente na internet interfere na maneira de se produzir, criar conteúdo, disseminar informações e conversar com o público. Segundo JC Rodrigues, mestre em comportamento do consumidor e professor na ESPM, “a adaptação dos veículos de comunicação à era digital é uma resposta necessária às mudanças nos hábitos de consumo. O público conectado busca conteúdos que sejam acessíveis, dinâmicos e personalizados, consumindo-os em plataformas que fazem parte de sua rotina, o que exigiu dos veículos pré-digitais serem mais ágeis, criativos e estratégicos, utilizando as plataformas não apenas como canais de distribuição, mas como espaços de interação e engajamento, em uma abordagem mais humanizada da comunicação”, relembra Rodrigues. 

Essa mudança também reflete a convergência entre diferentes mídias, o que cria uma necessidade de se pensar em conteúdos adequados para circular em múltiplos formatos e dispositivos. Por exemplo, o trabalho bruto é postado em alguma rede, sofre cortes, edições e depois é distribuído de outras maneiras em outras plataformas, ampliando não só o alcance do veículo mas otimizando a distribuição da notícia. A ascensão do youtube em 2006 - primeira plataforma a disponibilizar a publicação de vídeos longos - gerou dúvidas sobre até onde a televisão resistiria a essa nova forma de consumo de entretenimento e informação.

Na verdade, o que aconteceu foi a adaptação a esse novo formato. Canais e programas clássicos da televisão notaram a necessidade de se fazerem presentes nas redes sociais, o que ocasionou a criação de perfis para publicar as programações televisivas na internet.

youtube foi eleito a melhor invenção do ano em 2006.
Youtube foi eleito a melhor invenção do ano em 2006. Foto - Capa Time Magazine

Um dos primeiros programas a se adaptar a esse novo formato no Brasil foi o “The Noite com Danilo Gentili”, atração noturna do SBT. O canal no youtube foi criado em 22 de janeiro de 2014, e desde então soma mais de 15 mil episódios - que estreiam primeiro na rede aberta e depois são publicados na plataforma - 5 bilhões de visualizações e 13 milhões de inscritos.

Danilo Gentili e a plateia do The Noite
Danilo Gentili e a plateia do The Noite (Imagem: Gabriel Cardoso/SBT)

Quase 10 anos depois, canais já são criados com base nessa estrutura, sem a necessidade de ter uma grande emissora por trás da produção dos conteúdos. Esse foi o caso da “Cazé TV”, perfil no youtube especializado em transmissões esportivas como a Copa do Mundo, Olimpíadas e EuroCopa. Em entrevista ao Rio2C, Casimiro Miguel, dono da Cazé, comenta sobre esse formato: “É muita responsabilidade e jogar isso de graça pro público é muito maneiro. Nossa maior preocupação é tentar trazer todos esses conteúdos de forma gratuita pra galera, por que eu acho que tornar esses esportes acessíveis para todos é muito especial.

Transmissão da Cazé Tv durante as olimpíadas de 2024.
Transmissão da Cazé Tv durante as olimpíadas de 2024. (Imagem: Divulgação/CazéTV)

Para Rodrigues, um grande desafio para a reformulação dos veículos tradicionais são os hábitos de consumo de informação digital, marcados pelo imediatismo e pela fragmentação. “Considerando que o público não está mais limitado a horários fixos ou formatos rígidos; ele busca conteúdos sob demanda, acessíveis em qualquer lugar e a qualquer momento. A capacidade de atender a estas expectativas acaba por determinar quais veículos receberão atenção das pessoas e, consequentemente, sua relevância na sociedade. Por outro lado, há o desafio entre velocidade e veracidade (ou acuidade), principalmente quando falamos de hard news", diz. 

Muitos veículos enfrentam o desafio de manter sua credibilidade em um ambiente saturado de desinformação e fontes não confiáveis. “A televisão, o rádio e o editorial precisam encontrar formas de se conectar com um público que valoriza a flexibilidade e a personalização, sem perder sua essência. A confiabilidade é o ativo que tais veículos podem (e devem) explorar, mesmo nesta transição para formatos de comunicação mais contemporâneos”, completa Rodrigues.

“A credibilidade e a verificação dos fatos são diferenciais que devem ser reforçados, enquanto as redes sociais podem ser usadas como aliadas para distribuir conteúdos e atrair novos públicos. A combinação de agilidade e qualidade é essencial para equilibrar a disputa pela atenção do público com a manutenção da essência jornalística”, afirma Rodrigues. 

Uma estratégia adotada pelo G1 para contornar alguns obstáculos da internet citados por JC foi a criação do quadro “Fato ou Fake”, em que são esclarecidas notícias falsas através de vídeos curtos. Com esse formato o veículo atrai o público engajado nas redes sociais e desmente as principais fake news, sem perder a identidade e priorizando a informação entre os leitores.

Checagens de fato realizadas pelo G1.
Checagens de fato realizadas pelo G1. (Imagem: Fernanda Garrafiel/G1).

 

Além disso, o consumo e a produção de conteúdo nas redes também enfrentam a fragmentação da audiência, a concorrência com plataformas digitais e serviços on-demand (disponibilizados e consumidos de acordo com a necessidade do usuário), a queda na receita publicitária tradicional e a necessidade de se adaptar a novos modelos de monetização. 

A estudante de jornalismo na ESPM, Laura Loch, comenta sobre a produção de textos jornalísticos em um ambiente digital: “Desde que comecei a escrever para o Portal de Jornalismo da ESPM me adaptei muito bem à produção exclusivamente online, porém, acredito que o ambiente saturado de informações e a necessidade de manter o engajamento do público possam ser uma dificuldade geral do webjornal”. 

Em relação às adversidades econômicas desse cenário, Rodrigues apresenta soluções viáveis  para garantir a sustentabilidade financeira do jornalismo digital. “O modelo de assinatura digital é uma alternativa prática, mas apresenta desafios consideráveis. Ele pode limitar o acesso à informação, especialmente em contextos de desigualdade digital, onde nem todos têm condições de pagar por conteúdos de qualidade”. Para ele, uma abordagem híbrida, que combina conteúdos gratuitos e premium, seria ideal para equilibrar sustentabilidade e acesso, garantindo que o jornalismo continue a cumprir seu papel social. 

Novas mudanças e o futuro da profissão

A reinvenção digital é inevitável e os veículos precisarão equilibrar a preservação de sua essência com a adaptação às novas demandas e tecnologias. O professor afirma que “não existe mais jornalismo tradicional e digital, existe jornalismo. O que se adapta a uma realidade social (advinda da tecnologia) e os que ficam para trás”.

Segundo levantamento do Google em parceria com a Ipsos, o Brasil está acima da média mundial no uso de inteligência artificial (IA) gerativa - 54% dos brasileiros  declararam ter utilizado ferramentas desse tipo em 2024, enquanto a média global foi de 48%. Assim, a inteligência artificial, cada vez mais aperfeiçoada e consumida, pode alterar o quadro atual do jornalismo online e ocupar um espaço significativo nas produções futuras.

Ia escrevendo notícias, tomando o lugar de profissionais.
(Imagem: Reprodução/O'Pharol)

Rodrigues comenta que “a inteligência artificial pode transformar o jornalismo ao automatizar tarefas como redação de textos simples, análise de dados e personalização de conteúdos. Isso permite que os jornalistas se concentrem em reportagens mais complexas e investigativas. No entanto, a IA também levanta questões éticas, como o viés algorítmico e a transparência. O uso responsável da tecnologia será essencial para garantir que ela complemente, e não substitua, o trabalho humano”.

Após “Ainda Estou Aqui” fazer história no Oscar 2025, o novo filme de Fernanda Montenegro conquista uma legião de fãs
por
Anna Cândida Xavier
Juliana Bertini De Paula
Maria Eduarda Cepeda
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31/03/2025 - 12h

O filme “Vitória”, protagonizado pela atriz Fernanda Montenegro, levou uma legião de fãs às salas de cinema. Após o Oscar de 2025 ter dado um novo fôlego para a indústria nacional, despertando o interesse do público, o longa arrecadou 4,7 milhões sendo o filme nacional com a maior estreia em  2025. “Vitória”, estrelado por Fernanda Montenegro e Alan Rocha, apresenta a  história de Nina, uma senhora solitária que vive em um bairro do Rio de Janeiro que está sendo tomado pela violência do tráfico e conflitos com a polícia. Após suas denúncias não serem ouvidas, ela decide filmar as atividades suspeitas pela janela do seu apartamento, atraindo a atenção de um jornalista, que decide apoiá-la em sua missão. 

O filme dirigido por Andrucha Waddington e Breno Silveira com o roteiro de Paula Fiuza, é inspirado na história real de Joana da Paz, registrada pelo jornalista Fábio Gusmão em seu livro “Dona Vitória da Paz”, publicado em 2005. As gravações corajosas de Joana deram início a uma operação na Ladeira dos Tabajara, em Copacabana, desmascarando uma quadrilha de traficantes e policiais corruptos. Logo depois, para sua segurança, Joana da Paz muda de nome e cidade e vive 17 anos no programa de proteção de testemunhas. 

Joana teve uma vida difícil desde muito cedo, forçada a sair de casa após sofrer inúmeras violências na casa onde trabalhava como doméstica e perder seu filho com apenas 2 anos de idade, ela trilhou seu caminho até se restabelecer e comprar um apartamento na Ladeira dos Tabajaras em Copacabana, em Rio de Janeiro. Formada pela Policlínica Geral do Rio de Janeiro, foi massoterapeuta durante a época em que viveu em Copacabana. Após a crescente criminalidade no bairro onde vivia, insatisfeita com a negligência da polícia, decidiu comprar uma câmera de vídeo para denunciar através de sua janela a realidade violenta da favela à sua frente. 

 

Joana Zeferino da Paz em 2006, com sua câmera. Foto: Fábio Gusmão / Agência O Globo
Joana Zeferino da Paz em 2006, com sua câmera. Foto: Fábio Gusmão / Agência O Globo

Em entrevista à AGEMT, a atriz Lívia Gottardi Giorgi, 23 anos, comenta sobre como a violência e o tráfico são retratados em obras brasileiras. “Obviamente seria mais interessante se a gente tivesse esse retrato da perspectiva das pessoas da própria comunidade. A favela é generalizada, todos os personagens que são moradores daquela comunidade no filme, de alguma forma, estão ligados ao tráfico”, diz ela. 

Giorgi aponta que um retrato mais coerente das comunidades só será possível com a inclusão dessas pessoas no mundo cinematográfico e valorização dos artistas periféricos. A atriz paulista é formada em Artes Cênicas na UNESP e, atualmente, é bolsista pelo mestrado em Pedagogia das Artes Cênicas na ECA-USP. Já trabalhou com teatro, streaming e cinema.

Para ela, existe uma falta de liberdade criativa na área. Apesar das produções movimentarem muito investimento, eles dependem de validação de certos júris de grandes festivais para alcançar diferentes públicos, e para agradar tais jurados, existe uma limitação criativa. “É um protesto, mas no caso do cinema, a gente ainda tem alguns impasses, infelizmente", ressalta Giorgi. 

Na época das denúncias, Joana da Paz tinha 80 anos, declarou, após ser vencedora do 14° Prêmio PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) de Cidadania, que não era uma heroína, somente “agiu como qualquer ser humano”. Em entrevista à CNN, Fernanda Montenegro compartilha: “O que me motivou foi a busca dessa personagem por uma justiça social, humana. É uma história verdadeira. Uma personagem não acomodada”. 

A eterna dama do teatro brasileiro, atualmente com 95 anos, acrescenta na mesma entrevista: “Na velhice, a solidão é inarredável. A vida vai levando você à solidão. Com a idade você vai ouvindo menos, vendo menos, se levanta com menos agilidade e as juntas começam a secar. Isso tudo é uma solidão também. Mas o filme não trata Vitória como uma sofrida, demagógica e melodramática. Pelo contrário, é uma mulher afetuosa e destemida”. Com a produção do longa “Ainda Estou Aqui”  e sua vitória na categoria de “Melhor Filme Internacional”, no Oscar 2025, o cinema nacional entra em uma nova fase, a retomada do público aos cinemas e o interesse pela indústria cinematográfica brasileira. 

 

 

Walter Salles, diretor de “Ainda estou aqui”, discursando após receber o Oscar de Melhor Filme Internacional. Foto: Reprodução/Oscar 2025
Walter Salles, diretor de “Ainda estou aqui”, discursando após receber o Oscar de Melhor Filme Internacional. Foto: Reprodução/Oscar 2025

O sucesso de bilheteria de filmes nacionais refletem esse interesse, “Auto da Compadecida 2” teve 4 milhões de espectadores nos cinemas e somou mais de R$78,9 milhões. O filme “Onda Nova”, proibido na ditadura militar, teve seu relançamento nos cinemas brasileiros após 42 anos de censura, graças ao resgate do costume de ir às  salas de cinema. Lívia Giorgi, apesar de acreditar num maior incentivo após o Oscar 2025,  relembra da “Cota de Tela” – projeto de lei assinado no ano passado em que as empresas cinematográficas devem exibir obrigatoriamente um número mínimo de sessões de filmes nacionais – e a importância de ter pelo menos um filme brasileiro nos cinemas.

“As vezes aquela pessoa que está passando num shopping num domingo à tarde, ela vai pegar o filme que tiver melhor na programação dela, vai esbarrar num filme nacional. Então, isso é fundamental para quebrar uma lógica hegemônica de que filme nacional é “trash”, é besteirol, e quebrar todos esses mitos que não dizem respeito às produções que a gente tem aqui de verdade” comenta a atriz. O Brasil conta com órgãos federais de incentivo à cultura, como o próprio Ministério da Cultura e a Funarte (Fundação Nacional de Artes). Além disso, existem leis de fomento à cultura, como a Lei Rouanet, a Lei Paulo Gustavo e a Lei Aldir Blanc, fundamentais para a sobrevivência da produção de arte nacional.