Uma análise sobre a passagem do físico e teórico alemão pelo Brasil e o apagamento das mulheres na ciência
por
Natália Matvyenko Maciel Almeida
Joana Grigório
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16/11/2025 - 12h

Em 1925, Albert Einstein desembarcou na américa do sul, na cidade do Rio de Janeiro, para uma sequência de palestras e nesse vídeo exploramos uma parte dos relatos escritos em seu diário e a falta de registros de pessoas racializadas e também de mulheres nas conferências.

Referências utilizadas para esse vídeo: 

1. Tolmasquim, Alfredo Tiomno. Einstein, o Viajante da Relatividade na América do Sul (2003)
Este livro oferece um olhar detalhado sobre a visita de Albert Einstein à América do Sul, incluindo sua passagem pelo Brasil. O autor explora a recepção do cientista e seu impacto no cenário científico da época.

2. Haag, Carlos. "Tropical Relativity" (2004)
Artigo publicado na revista Pesquisa FAPESP, que aborda os diários de viagem de Einstein na América do Sul, com destaque para suas observações sobre o Brasil e suas interações com a ciência local.

3. Moreira, Ildeu de Castro. Entrevista: Visita de Einstein ao Rio de Janeiro promoveu valorização da ciência pura (2025)
Entrevista com Ildeu de Castro Moreira, que discute o impacto da visita de Einstein ao Rio de Janeiro, enfatizando a valorização da ciência fundamental e os desdobramentos para a pesquisa no Brasil.

4. Fundação Oswaldo Cruz. Museu tem atrações em homenagem aos 100 anos da visita de Einstein (2025)
A Fundação Oswaldo Cruz celebra o centenário da visita de Einstein ao Brasil com exposições e atividades que relembram a importância histórica dessa passagem do cientista.

5. Observatório Nacional. 100 Anos de Einstein no Brasil (2025)
O Observatório Nacional comemora o centenário da visita de Einstein ao Brasil com uma série de palestras e reflexões sobre o impacto de sua passagem no campo científico brasileiro.

6. Rosenkranz, Ze'ev (org.). The Travel Diaries of Albert Einstein (2018)
Esta coletânea organiza os diários de viagem de Einstein, incluindo suas observações sobre diferentes regiões do mundo, com destaque para seus comentários sobre a América do Sul, e apresenta uma análise crítica sobre seus pontos de vista racializados.

7. Artigos de divulgação histórica sobre os diários de Einstein e racismo
Diversas publicações, como matérias da History.com e do The Guardian, discutem as anotações de Einstein sobre suas viagens à Ásia e outros lugares, destacando seus comentários sobre raça e cultura.

Nota de Checagem de Fatos
As informações sobre a visita de Einstein ao Brasil e seu impacto no país, incluindo o papel de Carlos Chagas e a análise dos diários de viagem, foram baseadas em fontes como Fiocruz, Observatório Nacional, e pesquisas de Ildeu de Castro Moreira. As reflexões sobre os comentários racializados de Einstein seguem a análise crítica adotada por estudiosos como Tolmasquim, Haag e Rosenkranz.

Releitura transmídia da estadia do físico no Rio de Janeiro em 1925
por |
03/11/2025 - 12h

Em maio de 1925, Albert Einstein visitou o Rio de Janeiro por uma semana hospedando-se no Hotel Glória, quarto 400. Apesar da recepção calorosa como celebridade, sua passagem foi um desastre cômico. A comitiva que o cercava não tinha um único físico ou matemático - apenas médicos, advogados, políticos e militares da elite social brasileira. No Clube de Engenharia, falou para uma plateia lotada que não entendia alemão nem suas ideias, em uma sala barulhenta e sem acústica. Na Academia de Ciências, teve que ouvir três discursos vazios em francês mal falado, incluindo um sobre "a influência da Relatividade na Biologia". O ápice foi quando o jurista Pontes de Miranda tentou desafiá-lo em alemão com considerações sobre metafísica e direito. Einstein levou de presente um papagaio que repetia "Data venia, Herr Einstein", lembrando-o sempre, com humor, da "ciência" dos doutores brasileiros.

“Einstein: visualize o impossível” é um projeto dos estudantes do quarto semestre de jornalismo da PUC-SP, da disciplina de jornalismo transmídia. O projeto aborda, de diferentes maneiras, uma releitura da icônica visita do físico ao Brasil em 1925. Todos os relatos estão em um site especial. Além de produções visuais e sonoras, o especial propõe uma narrativa em quadrinhos que conecta ciência, história e imaginação, tendo como cenário o Observatório Nacional (espaço que recebeu Albert Einstein). 

A produção contou com a colaboração de Bruno Matos, vice-diretor da Escola Estadual Professor Walter Ribas de Andrade. Já o vídeo “Os impactos de Albert Einstein na educação brasileira explicado por doguinhos” apresenta as contribuições das teorias do cientista para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a partir da entrevista com o professor de física Dediel Oliveira.  

Em “Diário do Einstein”, o leitor encontra coletânea de depoimentos em formato de diário sobre a passagem de Albert Einstein pelo Rio de Janeiro no ano de 1925, comentando ao longo de cada dia, pontos turísticos e palestras presenciadas por ele. No podcast "A carta que revolucionou a corrida armamentista", discute carta assinada pelo físico Albert Einstein em agosto de 1939, que alertava o presidente dos EUA, Franklin D.Roosevelt, sobre o potencial da Alemanha nazista em desenvolver uma bomba atômica.

O vídeo vertical “Einstein no Brasil” narra o encontro do físico com Carlos Chagas, marcando um momento científico crucial. A produção destaca a troca intelectual entre os dois grandes nomes da época. Por fim, é possível compreender uma sutil crítica sobre a omissão de um encontro com cientistas mulheres consagradas, como Bertha Lutz. Em “Einstein: uma análise de sua trajetória política”, as cartas de Einstein e seus discursos que expressavam preocupação com a violência e os conflitos no Oriente Médio são revisitadas. Nas declarações, o físico defende uma convivência justa entre judeus e árabes, e o projeto analisa como suas palavras ecoam no contexto atual da guerra entre Israel e Palestina, mostrando que o tempo passa, mas as perguntas sobre humanidade e coexistência continuam urgentes. 

Finalmente, o livro "Os Sonhos de Einstein", de Alan Lightman, pela Cia das Letras, apresenta uma série de sonhos imaginários que o jovem Albert Einstein teria tido enquanto desenvolvia a Teoria da Relatividade, em 1905. Em cada um deles, o tempo funciona de um jeito diferente, às vezes para, volta ou corre mais rápido e essas variações servem para refletir sobre a vida, as lembranças e as escolhas humanas. "Neste mundo, a textura do tempo parece ser pegajosa. Porções de cidades aderem a algum momento na história e não se soltam. Do mesmo modo, algumas pessoas ficam presas em algum ponto de suas vidas e não se libertam".
 

O uso excessivo do celular está moldando comportamentos e lucros empresariais das Big Techs
por
Julia Cesar Rangel
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27/10/2025 - 12h

Por Julia Cesar

 

O som começa suave, quase hipnótico. A vinheta colorida anuncia: “Cocomelon!”. Em segundos, os olhos se fixam na tela, o corpo se acalma e o mundo ao redor desaparece. Por trás dessa inocente animação infantil, há uma equipe bilionária que lucra com cada clique, cada minuto de atenção e cada vídeo que não para de rodar.

Nos últimos anos, o uso excessivo do celular tem preocupado especialistas, pais e educadores. Plataformas e canais, especialmente os voltados para o público infantil, estão sendo desenhados para capturar e reter o olhar humano o máximo possível. No caso das crianças, os efeitos são ainda mais intensos, já que seus cérebros ainda não estão totalmente formados para compreender o que é viciante e prejudicial.

A mãe Bianca Rangel, por exemplo, percebeu esse impacto em casa. O pequeno Gael, de 3 anos, começou a reconhecer a música do Cocomelon apenas pelo primeiro segundo de som. Ele largava qualquer brinquedo para correr até o celular. No início, Bianca achava a cena fofa, mas com o tempo notou que o filho ficava irritado e chateado quando o aparelho era desligado.

Preocupada, ela tentou limitar o tempo de tela, mas enfrentou forte resistência. Foi então que decidiu buscar orientação profissional e entendeu que substituir o tempo de tela por atividades com “dopamina boa” não era apenas uma escolha, e sim uma necessidade.

De acordo com a psicóloga Mayara Contim, formada pela USP e atualmente atuando na escola St. Nicholas, esse tipo de comportamento é resultado de mecanismos psicológicos cuidadosamente estudados pelas plataformas. Ela explica que não se trata apenas do Cocomelon: hoje, vídeos são planejados para ativar o sistema de recompensa do cérebro. As músicas, as cores e o ritmo acelerado são pensados para liberar dopamina, o hormônio ligado ao prazer imediato. Isso cria um ciclo de dependência semelhante ao que ocorre com jogos e redes sociais entre adultos e adolescentes.

A psicóloga ressalta que o problema não está apenas nas crianças. Segundo ela, os adultos também são vítimas desse design, já que as redes sociais funcionam com a mesma lógica de manter o usuário rolando infinitamente. No entanto, o impacto é mais grave nas crianças, pois seus cérebros ainda estão em desenvolvimento.

Um estudo recente da Common Sense Media apontou que, em média, crianças de até cinco anos passam quase três horas por dia em frente a telas. O dado assusta, mas reflete uma realidade cotidiana: celulares se tornaram babás digitais, distrações práticas para pais cansados e ferramentas de lucro para empresas que vendem publicidade a cada visualização.

Bianca admite que o uso do celular facilitava sua rotina. Enquanto o filho assistia aos vídeos, ela conseguia trabalhar ou realizar tarefas domésticas. Com o tempo, porém, percebeu que estava trocando momentos de qualidade com o filho por alguns minutos de silêncio.

Para Mayara Contim, o primeiro passo é não culpar os pais, e sim compreender o contexto. Ela destaca que vivemos em um mundo hiperconectado e que o caminho está na consciência e nos limites. O ideal, segundo a psicóloga, é que os pais assistam junto com as crianças, conversem sobre o conteúdo e ofereçam outras formas de estímulo — como brincadeiras, leitura e contato com a natureza.

Enquanto isso, a indústria continua explorando cada segundo de atenção possível. Canais como Cocomelon acumulam bilhões de visualizações e lucros altíssimos com publicidade, licenciamento e produtos derivados. O looping digital virou negócio, e nós, espectadores, nos tornamos o produto.

Mayara resume a lógica de forma direta: a atenção é a nova moeda. E, no fim, essa frase ecoa como um alerta — quanto mais tempo passamos presos às telas, mais alguém, do outro lado, está lucrando com isso.

O Brasil é pioneiro na criação de um medicamento que regenere a medula óssea de pacientes
por
manuela schenk scussiato
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03/11/2025 - 12h

Por Manuela Schenk

 

Não fora uma sexta-feira qualquer para Júlia. A caminho do ponto de ônibus para voltar para sua casa após um dia de aula na faculdade um motorista embriagado atropelou-a e fugiu sem prestar socorro que mudou sua vida para sempre quando tinha apenas 19 anos. Júlia teve lesões nas vértebras T8, T9 e T10 que a deixaram paraplégica depois de cinco dias em coma quando recebeu a notícia de que jamais andaria novamente.

Hoje Júlia tem 22 anos e teve que reaprender a viver. Coisas que jamais imaginou ter dificuldades agora são grandes conquistas, como quando conseguiu tomar banho sozinha pela primeira vez ou quando pode se deitar na própria cama sem auxílio. Escadas se tornaram rampas, seu restaurante favorito virou delivery, já que não possui acessibilidade para que ela consiga entrar na cadeira de rodas. As festas que frequentava semanalmente agora são eventos anuais, pois a locomoção dentro de uma balada é quase impossível para alguém que não consegue usar as próprias pernas.

No início se adaptar parecia impossível, noites mal dormidas quando chorava no travesseiro até seus olhos cederem. Depois de receber alta do hospital ela foi encaminhada para terapia, consultas três vezes por semana que depois de dois anos se tornaram duas. A fisioterapia que antes era uma tortura aos poucos se tornou um momento divertido.

Nos anos que se passaram Júlia conheceu mais pessoas na mesma situação que ela e de pouco a pouco sua nova vida se tornou mais tolerável, mas mesmo depois de quase 4 anos do acidente ela ainda tem dias ruins, sua autoestima nunca mais foi a mesma já que por muito tempo não conseguia se arrumar como antes. Júlia conta que o momento mais difícil da vida dela foi descobrir que seu caso não tinha cura. Sem possibilidade de tratamento ou cirurgia, uma menina que antes era ativa, amava se exercitar, sair com suas amigas, passear com sua cachorrinha, agora se vê forçada a reaprender a viver.   

É possível perceber as dificuldades que marcam a vida das pessoas que são afetadas pela paraplegia. Infelizmente muitos casos não são reversíveis, mas graças a estudos de um grupo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o mundo pode estar mais próximo de encontrar uma cura para uma deficiência que interrompe a vida de tantas pessoas.

A pesquisa, desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, representa um marco para a medicina brasileira. O medicamento experimental chamado Polilaminina foi criado a partir de uma proteína natural da placenta humana, capaz de estimular a regeneração das células nervosas. Em estudos com animais, especialmente cães que haviam perdido os movimentos, o tratamento apresentou resultados impressionantes: alguns conseguiram voltar a andar mesmo após anos de paralisia. Esse avanço chamou a atenção da comunidade científica internacional e fez com que o Ministério da Saúde e a Anvisa classificassem o estudo como de prioridade absoluta no País.

A equipe liderada por Tatiana Sampaio começou o estudo da eficiência polilaminina para promover a regeneração de fibras nervosas/axônios e reconectar áreas lesadas da medula espinhal começou em 2007, embasado em outro estudo da faculdade que iniciou em 1998. São quase três décadas de trabalho árduo que trouxeram a equipe ao sucesso que é exposto para o mundo hoje, com seis dos oito pacientes humanos recuperando, parcial ou completamente, os movimentos que lhes foram tomados. 

Além dos testes clínicos em andamento, o projeto da UFRJ tem recebido apoio de instituições públicas e privadas, como o Laboratório Cristália, que colabora na etapa de desenvolvimento farmacêutico e produção em larga escala da substância. O próximo passo dos pesquisadores é a realização de estudos em uma quantidade maior de voluntários, o que permitirá avaliar com mais precisão a segurança e a eficácia do medicamento. Caso os resultados se confirmem, o Brasil poderá ser o primeiro país a oferecer um tratamento realmente regenerativo para lesões medulares, uma conquista inédita na história da ciência.

Para Júlia e milhares de pessoas que convivem com a paraplegia, essa descoberta reacende uma esperança que parecia perdida. Mesmo que o caminho até a cura ainda seja longo, cada passo da pesquisa representa uma vitória contra a limitação imposta pela lesão medular. A história de Júlia mostra a força de quem se reinventa diante da adversidade. O que a ciência da UFRJ faz agora é provar que o impossível pode estar mais perto do que se imagina. Aquilo que antes era apenas sonho, agora começa a ganhar forma nas mãos de pesquisadores brasileiros dedicados a devolver o movimento e com ele a liberdade a tantas vidas interrompidas.

Especialista alerta para riscos do uso acrítico de plataformas de IA na educação
por
Thomas Fernandez
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04/10/2025 - 12h

A inteligência artificial (IA) ganhou rapidamente espaço em diferentes setores da sociedade, e a educação não ficou de fora dessa tendência. Plataformas capazes de corrigir redações, recomendar atividades personalizadas e até mesmo substituir parte das tarefas do professor estão em alta.

A promessa, vendida por empresas de tecnologia e gestores entusiasmados, é de que a IA pode democratizar o ensino, personalizar a aprendizagem e aliviar a carga de trabalho docente. Não por acaso, de acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC), sete em cada dez estudantes do Ensino Médio já utilizam ferramentas de IA generativa em trabalhos escolares, mas apenas 32% afirmam ter recebido orientação na escola sobre como usar esses recursos de forma pedagógica. 

Há quem veja nesse movimento um risco de precarização do trabalho dos professores, transformando a inovação em mais uma engrenagem de uma lógica de cortes de custos e desvalorização profissional. Afinal, a inteligência artificial na educação é realmente uma aliada do professor ou pode acabar sendo um instrumento de substituição e perda de direitos? 

Em entrevista à AGEMT, Pedro Maia, cientista de dados e pesquisador em ética e tecnologia, alerta para o risco de que a IA seja utilizada como justificativa para reduzir a presença e a importância dos professores. Para ele, é preciso estar atento à lógica de mercado que move grande parte das inovações tecnológicas aplicadas à educação: “O risco é que as escolas passem a enxergar a inteligência artificial não como apoio, mas como substituição. Se uma plataforma consegue corrigir automaticamente atividades e sugerir trilhas de estudo, a tentação de reduzir o quadro docente e cortar custos é enorme”, explica. 

Segundo Maia, isso poderia levar a uma precarização ainda maior do trabalho docente, em um cenário no qual professores já enfrentam baixos salários, excesso de carga horária e falta de condições adequadas de trabalho. “A promessa de eficiência pode esconder a intenção de enxugar gastos. É a lógica neoliberal aplicada à educação: menos investimento em pessoas, mais aposta em soluções padronizadas”, acrescenta.

Pedro Maia, cientista de dados.
Pedro Maia, cientista de dados. Foto: Arquivo Pessoal.

 

Maia também chama atenção para o risco de aprofundar desigualdades: “Nesse cenário, a IA não democratiza, mas acentua a exclusão. O aluno da periferia continua com menos oportunidades que o de elite, ainda que ambos usem supostamente a mesma tecnologia”. Esse alerta encontra respaldo nos números. Em 2023, 69% dos estudantes já conheciam a IA; em 2024, esse índice subiu para 80%, segundo levantamento nacional feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES).

No entanto, nem todos têm acesso à mesma qualidade de ferramentas ou de acompanhamento pedagógico. Enquanto escolas privadas de ponta conseguem incorporar plataformas sofisticadas, parte da rede pública depende de versões limitadas, com pouco ou nenhum suporte docente.

Mesmo assim, o cenário não é apenas de resistência. Pesquisas feitas pela SEMESP (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), mostram que 74,8% dos professores acreditam que a IA pode ser aliada no processo de ensino, e 39,2% já utilizam a tecnologia regularmente em sala de aula. Esses dados revelam uma categoria dividida, mas que enxerga potencial na tecnologia quando aplicada como ferramenta de apoio, não como substituição. 

Além disso, iniciativas públicas começam a surgir. O governo federal, em parceria com a UNESCO e a Huawei, lançou o projeto “Open Schools” na Bahia e no Pará. Ambos locais foram escolhidos pela falta de infraestrutura educacional, conectividade e recursos tecnológicos. A iniciativa foca na formação de professores em competências digitais e uso de IA, além de investimentos em conectividade e infraestrutura. O objetivo é reduzir desigualdades e preparar a rede pública para essa transição.

A coexistência desses dois pontos de vista - o risco de precarização e a promessa de apoio pedagógico - evidencia o dilema atual: A IA pode ser tanto aliada quanto algoz, dependendo da forma como for implementada. Se o objetivo for cortar custos, há risco de enfraquecer a profissão docente. Mas se, por outro lado, houver investimento em formação, infraestrutura e regulação, ela pode abrir espaço para práticas pedagógicas mais ricas e inclusivas.

O que está em jogo, portanto, não é apenas a chegada de uma nova tecnologia, mas o modelo de educação que o país pretende construir. A questão central permanece: a inteligência artificial será um recurso a serviço de professores e alunos ou mais um instrumento de precarização do trabalho em nome da eficiência econômica?

Enquanto não há consenso, cresce a urgência em debater publicamente os rumos dessa transformação. O futuro da escola não depende apenas das máquinas, mas das escolhas políticas, sociais e econômicas que definirão como, para quem e com quais propósitos a tecnologia será utilizada.

Flávia Lancha e Pedro Faria refletem sobre o impacto do aumento nos preços do café no Brasil
por
Ana Clara Souza
Juliana Salomão
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09/06/2025 - 12h

O café, uma das commodities mais consumidas e exportadas pelo Brasil, tem apresentado uma forte alta de preços nos últimos meses. Neste contexto, investigamos os principais motivos que levaram a um aumento de 80,2% no preço acumulado em 12 meses, conforme registrado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para entender melhor essa realidade e como a alta tem afetado a população brasileira; seja na compra do café em pó, grãos ou cápsulas; convidamos dois especialistas para o nosso podcast Na Ponta da Língua.

O economista Pedro Faria, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em entrevista à AGEMT, faz uma análise detalhada dos elementos que têm contribuído para a alta dos preços. Já a empresária Flávia Lancha compartilha sua percepção como produtora rural sobre como esse aumento tem impactado a produção de café. Crédito da foto: Juliana Salomão

Prepare seu cafezinho e confira todos os detalhes abaixo!

Como as ciências humanas podem esclarecer o mundo diante da crescente influência norte-americana no mercado e na sociedade
por
Júlio Antônio Poças Pinto
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27/05/2025 - 12h

Nesta última sexta-feira em entrevista para o portal Agente da PUC-SP o professor de Sociologia Antônio Fonseca de Deus respondeu perguntas e deu a sua opinião sobre a globalização e a sua relação com a cultura e a economia. Além de falar como o Brasil tem lidado com essa questão.

Na visão do professor Antônio a globalização é uma coisa criada pelos países da américa do norte, e é latente do modo econômico e cultural e gerou grandes avanços tecnológicos.

Quando questionado sobre a participação dos EUA na cultura da globalização ele afirma que os Estados unidos influencia as pessoas pelas mídias, com isso eles propagam a sua cultura pelo mundo divulgando as suas marcas e empresas pelo mundo.

Por fim para responder sobre a participação do Brasil o professor diz, que o nosso pais e emergente e por conta disso já da sinais que aderi ao neoliberalismo. Assista

 

Modelo brasileiro segue baseado na punição, apesar de avanços pontuais
por
Larissa Pereira José
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09/06/2025 - 12h

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal representa um marco jurídico. Em junho de 2024, por maioria de votos, o STF fixou o limite de até 40 gramas ou seis plantas fêmeas para o porte individual. A medida retira a pena criminal e define sanções administrativas, como advertência e prestação de serviços.

"A decisão, embora significativa, está longe de reestruturar a política de drogas no Brasil. O país segue adotando uma abordagem repressiva, mesmo diante de experiências internacionais que priorizam saúde pública e direitos humanos", critica o professor Paulo Pereira, do curso de Relações Internacionais da PUC-SP, em entrevista à AGEMT. 

“O Brasil ainda está muito apegado a uma política de drogas conservadora, desconectada das pesquisas científicas e das práticas mais modernas no mundo”, afirmou o especialista. Ele observa que, em países como os Estados Unidos — origem do proibicionismo —, já há iniciativas estaduais de regulação da cannabis e até de uso terapêutico de psicodélicos. No Brasil, o modelo continua ancorado na criminalização e no controle social.

“O que temos é uma política construída ao longo do século XX, com forte marca repressiva, criminalizadora, racista e classista”, diz Pereira. Ele lembra que essa estrutura penal recai, com frequência, sobre jovens negros e moradores de periferias, ainda que boa parte dos casos envolva pequenas quantidades de droga. O impacto da atual legislação é mensurável. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que, em 2023, 30% da população carcerária estava presa por delitos relacionados à Lei de Drogas. O número reforça as críticas ao encarceramento em massa e à seletividade penal.

Ao mesmo tempo em que o STF avançou com a descriminalização parcial da maconha, o Congresso Nacional tramitou em sentido oposto. A PEC 45/2023, aprovada no Senado em abril de 2024, pretende criminalizar o porte de qualquer droga, independentemente da quantidade. Caso seja aprovada na Câmara, especialistas temem que a proposta torne inócua a decisão do STF e intensifique o encarceramento.

Para o professor, uma política eficaz exige diagnóstico social e territorial. “A melhor forma de elaborar políticas públicas sobre drogas é entender os contextos específicos do uso, os tipos de substância, e as limitações socioeconômicas de cada grupo. A repressão generalizada só perpetua desigualdades”, afirma.

A comparação com outros países reforça esse argumento. Portugal, por exemplo, adotou um modelo de descriminalização em 2001, com foco na redução de danos e reinserção social. Já Canadá e Uruguai legalizaram o uso recreativo da cannabis, criando mecanismos de controle e arrecadação. As estratégias variam, mas têm em comum o afastamento do modelo puramente penal. No Brasil, o tema ainda enfrenta barreiras culturais.

Segundo pesquisa realizada pelo PoderData, em junho de 2024, 50% dos brasileiros apoiam a descriminalização da maconha, enquanto 45% se declaram contra. A divisão reflete o caráter conservador de parte da sociedade e a força de discursos que associam drogas à violência e à marginalidade. Para Pereira, mudar esse cenário exige enfrentamento político e social. “É um desafio de longo prazo. Nossa sociedade foi moldada por uma visão punitiva, e romper com ela depende de informação, escuta e compromisso com os direitos humanos. A transformação não será rápida, mas é necessária”, acrescenta. 

Enquanto, o Judiciário avança e o Legislativo recua, a política de drogas no Brasil segue marcada por contradições. No centro do debate está uma pergunta urgente: o país continuará punindo o consumo ou buscará soluções baseadas em cuidado, educação e justiça social?

Grande nome da luta antirracista, pensadora reforça sua aliança com vozes progressistas do Sul Global
por
Ana Julia Mira
Victória Miranda
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06/05/2025 - 12h

Uma das principais vozes do feminismo negro, Angela Yvonne Davis, fez parte do grupo revolucionário “Panteras Negras” e do Partido Comunista dos Estados Unidos. Além disso, foi amiga de Herbert Marcuse, um dos principais filósofos da Escola de Frankfurt. Marcuse foi seu orientador durante o tempo em que ela passou na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e a incentivou a explorar suas ideias revolucionárias de forma mais profunda. Ele foi uma grande influência sobre seu entendimento do socialismo, feminismo e teoria crítica. "A liberdade é uma luta constante. Não há fronteiras para a luta pela liberdade", diz trecho do livro "A liberdade é uma luta constante”, um de seus livros de grande repercussão.

Angela Davis tem uma forte ligação com a música, especialmente com o jazz. Ela costumava frequentar os clubes de jazz em Los Angeles e é fã de artistas como John Coltrane e Miles Davis, cujos trabalhos influenciaram sua visão artística do mundo. Além disso, Davis mantém uma profunda admiração pelo Brasil. Suas visitas ao país ao longo dos anos, revelam não apenas um interesse político, mas também um verdadeiro afeto pela cultura brasileira e pelos movimentos sociais locais. “Tive a oportunidade de conhecer Lélia Gonzalez, e minha percepção é que nós temos muito o que aprender com os movimentos do Brasil”, disse ela em sua passagem a São Paulo em 2019 durante sua participação em um ciclo de debates e palestras que aconteceu também no Rio de Janeiro.

Ela reconhece no Brasil um território fértil para o debate sobre raça, gênero e justiça social  “Há uma vibração, um pulso coletivo nos jovens, principalmente nas mulheres negras e jovens, que é muito grande”, diz Davis. Esse carinho pelo país latino-americano se estende desde 1997, quando esteve pela primeira vez em nosso solo, mais especificamente na Bahia, em evento que celebrava o legado da ativista negra Lélia Gonzalez. No geral, em todas as suas passagens pelo país, participou de conferências, encontros com lideranças de movimentos negros e feministas, além de fortalecer laços com intelectuais e artistas comprometidos com a transformação social.

Davis afirma ver no país uma esperança para a luta das mulheres negras e não enxerga a necessidade de buscarem nela uma referência para o feminismo negro, quando ela mesma aprende com figuras como Marielle Franco, Carolina de Jesus e Lélia. Também se posicionou incisivamente diante de questões políticas brasileiras. Durante o lançamento de sua autobiografia “A liberdade é uma luta constante”, pela editora Boitempo, em 2019, se mostrou atenta ao cenário nacional ao defender a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente da República. No mesmo evento, Davis pediu justiça por Marielle Franco, que havia sido vítima de assassinato no ano anterior. 

Angela retornou ao Brasil, em 2024, para participar da abertura da terceira edição do Festival LED falando sobre a educação como ferramenta para a libertação, momento em que exaltou outra figura brasileira: Paulo Freire, dizendo o considerar o maior educador do mundo. Durante o evento, também se posicionou contra a PL Antiaborto, que estava em discussão na época, e a retirada do livro “O menino marrom” de escolas municipais de Minas Gerais. Afirmou que esses movimentos fazem parte de um crescimento conservador que vem afligindo todo o mundo.

Pesquisa aponta redução de cerca de 7 milhões de leitores no Brasil nos últimos quatro anos
por
Ana Clara Souza
Juliana Salomão
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10/05/2025 - 12h

No dia 23 de abril, quando se celebra o Dia Mundial do Livro, a homenagem aos autores e obras contrasta com um cenário preocupante: o Brasil está lendo menos. Dados da 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, revelam uma redução de 6,7 milhões de leitores nos últimos quatro anos, reacendendo o debate sobre os desafios de manter a leitura como hábito em meio a transformações culturais e digitais. Em 2024, a pesquisa apontou que 53% da população, o que corresponde a 93,4 milhões de pessoas, é composta por não leitores. Isso significa que mais da metade dos brasileiros não leu um único livro, e nem mesmo parte dele, nos últimos três meses. 

“São fatores multifacetados. Não é um único problema. Acho que a queda na leitura do povo brasileiro reforça questões estruturais como, por exemplo, a desigualdade social", diz Bruna Martiolli, mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade do Minho, em entrevista à AGEMT. Ela reforça que questões estruturais, como a desigualdade social, impactam diretamente o acesso à leitura.

Segundo a pesquisa, um dos principais pontos é a disparidade entre as classes sociais. Enquanto 3 milhões de pessoas da classe A são consideradas leitoras (62% desse grupo), nas classes D e E, apesar de o número absoluto ser maior — 19 milhões —, o índice proporcional cai para apenas 35%.

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Foto: Reprodução/Retratos da Leitura no Brasil 


Em Portugal, por exemplo, o público tem consumido cada vez mais livros, registrando um aumento de 9% nas vendas de 2024 em relação ao ano anterior, segundo a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). Em entrevista à revista Executive Digest, o presidente da APEL afirmou que este fenômeno é fruto de um esforço coletivo que envolve pais, educadores, autores, organismos públicos e, inclusive, a influência de criadores de conteúdo. Enquanto os portugueses estão tirando proveito das mídias digitais, o Brasil enfrenta barreiras que vão muito além das distrações das telas. Para a professora Bruna, essa contradição revela que o problema na queda da leitura dos brasileiros não se resume a fatores como globalização ou ao uso cada vez maior das redes sociais.

“A gente lida com um país que vive no auge da desigualdade social. A falta de acesso a livros é um problema, e a falta de interesse em ler é outro”, diz ela, que reforça a falta de espaços de incentivo à leitura, como bibliotecas públicas e comunitárias no Brasil, até os altos índices de analfabetismo que persistem e excluem milhões. 

Interesse pela Leitura

Mesmo em um mundo dominado pelo digital, Bruna Martiolli diz não ter “a menor dúvida de que a literatura não corre perigo algum”, pois "por mais globalizados e conectados que estejamos, os seres humanos não conseguem abrir mão daquilo que faz parte da sua essência — a busca pelo sentido, beleza e reflexão da vida. Cedo ou tarde, a literatura encontra o seu lugar", garante. Ainda que o interesse imediato pareça diminuir entre os mais jovens, o fascínio pela leitura, que se mantém desde o surgimento do livro, nunca desapareceu; o encanto apenas se manifesta em momentos diferentes para cada leitor.

Como é o caso da influenciadora digital e apresentadora Giovanna Souza, conhecida como Gih Souza nas redes sociais. “Na minha escola, existia aquele estereótipo do ‘nerd’ que fica lendo. E eu pensava: ‘Não vou ler, não vou ser a nerd que fica lendo’. Deixei esse meu lado pra lá e, na pandemia, comprei um Kindle [aparelho para leitura digital]. Eu falei: ‘Vou voltar a ler’, e comecei a ler muito”, orgulha-se.

O Kindle, dispositivo que permite o acesso e a leitura de diversas obras, é um exemplo da popularidade do mercado de livros digitais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen BookData, em parceria com a Câmara Brasileira do Livro, 30% dos leitores brasileiros compraram livros tanto em formato físico quanto digital no ano de 2024, enquanto 14% optaram exclusivamente pelo formato digital.

Nesse cenário de transformação nos hábitos de leitura, os criadores de conteúdo digital têm desempenhado um papel na aproximação dos jovens da leitura, adaptando ou “mastigando” as obras para os usuários e seus seguidores, por meio de storytellings que funcionam nas redes sociais e no universo dos algoritmos e vídeos curtos. “Acho que elas [as adaptações] incentivam, sim. Tanto que meus maiores vídeos são quando eu faço resumo dos livros. Às vezes as pessoas gostam de ler para realmente comentar sobre. Gera curiosidade para leitura”, disse Giovanna.

O TikTok, aplicativo chinês famoso pelos vídeos curtos e por ditar as novas tendências na internet, tem se tornado cada vez mais popular entre os jovens. Dentro da rede social, surgiu o movimento “BookTok”, impulsionado por influenciadores digitais, em vídeos são publicados para compartilhar o que o criador está lendo, recomendações e discussões de livros, além de edições e montagens com cenários e roteiros diversos que, das formas mais criativas, incentivam a leitura. 

 

@_gihsouzaf A pergunta de milhões pós #culpatuya é : qual a data de culpa nossa? #culpables #culpamia #nicolewallace #gabrielguevara #culpamiaedit ♬ som original - Gih