Na busca por dar voz e visibilidade às comunidades periféricas, assentamentos, ocupações, quilombolas e populações ribeirinhas, o Museu das Favelas surge para redefinir o papel tradicional dos museus na sociedade. Em um esforço de construção coletiva, este espaço propõe uma série de iniciativas voltadas para a aproximação, diálogo e reflexão com diversos artistas. Localizado no Palácio dos Campos Elíseos, que serviu como sede do governo estadual entre 1935 e 1965. O Museu das Favelas está agora em um espaço historicamente simbólico e associado à elite política e cafeeira. O objetivo desta ocupação é aproximar a cultura do povo e criar novos espaços de inclusão, abrindo portas para um novo momento da arte brasileira.
Internamente, a obra de Lidia Lisboa toma conta do ambiente. O processo de criação das esculturas envolveu mulheres locais, unindo o trabalho têxtil ao artístico em uma fusão de habilidades e histórias. A arte de Lidia abrange escultura, gravura, pintura, costura e crochê. Seus trabalhos de grandes dimensões provocam reflexões sobre a sensibilidade humana e a resistência física. Para conferir a exposição, acesso o link.
Famoso por suas icônicas luminárias japonesas e por abrigar a maior comunidade asiática do Brasil, o bairro da Liberdade, em São Paulo, atrai cerca de 20 mil visitantes todos os fins de semana, conforme dados da APECC (Associação Paulista dos Empreendedores do Circuito das Compras). Muitos, cativados pela culinária, produtos e atmosfera oriental que permeia as ruas, desconhecem a origem negra do bairro e pouco têm acesso a essa história quando caminham sob a região próxima ao centro da cidade. A conexão com a cultura asiática foi ainda mais fortalecida com a mudança do nome da estação de metrô que serve a região para “Japão-Liberdade”, uma iniciativa sancionada pelo então prefeito Bruno Covas (PSDB) em 2018.
“Você trocar o nome de ‘Liberdade’ para ‘Japão-Liberdade’ faz duas coisas, primeiro, mata uma parte da história importantíssima do país, e segundo, gera um conflito e um desconforto desnecessário entre dois povos que ajudaram tanto no crescimento do Brasil”, explica o empreendedor social Thiago Braziel, em entrevista a CartaCapital. “Dentro do bairro Liberdade não são só Japoneses que vivem, são pessoas da China, Coréia, Taiwan, que estão ali ajudando a construir o Brasil”, completa. A estética do bairro tal qual conhecemos hoje começou a se moldar em 1970, quando foram instaladas as primeiras famosas lanternas orientais, porém, séculos antes disso, o bairro era visto como periferia. Conhecido como “bairro da pólvora”, nome que fazia alusão a Casa da Pólvora, fundada em 1754. Na época, a população do bairro era majoritariamente indígena e de origem africana, com dois locais que chamavam atenção: o Pelourinho, atual 7 de Setembro, e o Largo da Forca, atual Praça da Sé, onde escravizados que tentassem fugir ou cometessem, à época, outros crimes dignos de pena de morte, eram açoitados no primeiro local e castigados ao segundo, até serem enforcados publicamente.
A teoria mais aceita para a origem do nome ‘Liberdade’ se deu em 1871 durante o Brasil colônia, na execução dos militares negros sentenciados por liderarem uma revolta que reivindicava acertos nos atrasos remuneratórios e exigia igualdade salarial entre soldados brasileiros e portugueses. Os líderes Joaquim Cotindiba e Francisco José das Chagas, conhecido como Chaguinhas, foram enviados de Santos, onde atuavam, até São Paulo, para serem enforcados publicamente no Largo da Forca. A prática de enforcamento público, comum à época, servia para dar exemplo e amedrontar possíveis revoltosos. A primeira execução a ser realizada foi a de Joaquim, que foi morto, porém na vez de Chaguinhas, a corda que o enforcaria arrebentou em duas tentativas. Os espectadores então começaram a gritar “Liberdade!”, clamando pela absolvição do condenado, porém, ele foi levado a uma terceira tentativa de enforcamento. Dessa vez com uma corda de couro, Chaguinhas foi enforcado, porém não morreu imediatamente, ele ainda apresentava sinais vitais mesmo pendurado pelo pescoço, até ser morto a pauladas.
“Atrás da porta que era a da cela de Chaguinhas as pessoas colocam pedidos, batem três vezes e acendem a vela no velário, um ritual feito há 201 anos. Francisco José das Chagas então é um herói de uma revolta nativista, ele é um mártir e um santo popular.”, afirma Wesley de Souza Vieira, pesquisador da USP, em entrevista ao Brasil de Fato.
“Quando estava carequinha e ganhei uma peruca, vi o quanto essa peruca me ajudou a enfrentar o tratamento, os olhares de pena e também o espelho”, diz Débora Pieretti, fundadora do projeto à AGEMT. Sua ideia foi criar eventos para corte de cabelo solidário, nos quais as mechas doadas são usadas para a confecção de perucas que são doadas para mulheres - que assim como ela - perderam seus cabelos para tratamentos contra o câncer ou queda de cabelo (alopecia).
Em 2017, no dia 8 de março nascia a ONG Instituto Amor em Mechas. Um mês depois, no Dia Mundial da Saúde, foram entregues as primeiras perucas. Distribuídas em salões de belezas, urnas do projeto reúnem doações de mechas de cabelo cortadas que provavelmente seriam descartadas. Desde então, a meta mensal da entidade é arrecadar 1 quilo de mechas por urna, nas mais de 400 espalhadas pelo país.
“Na verdade, a gente doa mais que uma peruca, nós doamos o kit do amor que além da peruca tem lenço, álcool em gel, colar de pérola, brinco, maquiagem, máscara, livro de autoajuda, tudo isso dentro de uma bolsa, tudo de forma gratuita” conta Débora. Com uma média mensal de 110 kits, o projeto já doou mais de 6100 kits do amor.
Motivação
Durante seu tratamento quimioterápico, em 2016, Débora participou de um evento para pacientes oncológicas, no qual enquanto o cabeleireiro cortava a franja da peruca que acabara de ganhar, pensou: "Quando eu estiver melhor quero que outras mulheres tenham a oportunidade de sentir o que eu estava sentindo e de terem acesso a uma peruca gratuitamente”, afirma.
Um ano depois, ela começou o projeto na sala de casa. Não muito depois, viu a necessidade de expandir, ter uma sala comercial e um estatuto formal com a parte jurídica. Apresentou sua ideia para empresas e assim fechou ações do Amor em Mechas principalmente durante o Outubro Rosa, mês de conscientização e alerta sobre o câncer de mama.
“Estar triste e deprimida interfere no sistema imunológico, por isso procuramos levar alegria em nossas ações, elevando a autoestima da mulher em tratamento, para se sentir bela e feminina” explica ela. Além de seus marcos próprios, o projeto conta também com parcerias com empresas como Magazine Luiza e Max Love para a promoção de mais eventos. “A gente acredita que se cada um faz um pouquinho podemos chegar lá, por isso a hashtag do projeto é #juntos_podemos_mais.”
Trote Solidário
Há 3 anos a PUC-SP recebe o Instituto durante a semana de Recepção Solidária dos novos alunos. Promovido pela Pastoral Universitária e pela Pró-reitora de Cultura e Relações Comunitárias, o evento aconteceu no dia 5 de março no hall em frente à biblioteca da universidade. “Para nós é super importante essa arrecadação tanto da mecha como também do nosso bazar. As pessoas que aqui participam do bazar estão também participando do trote solidário.”
Além de participações em eventos, aquele que deseja colaborar pode ir até um dos pontos de coleta ou enviar pelo correio para o Instituto, sediado na Barra Funda. Durante o ano todo são bem-vindas doações financeiras, lenços ou bijuterias e principalmente mechas de cabelo de no mínimo de 15cm.
“Eu sabia que ia ter, mas não tinha certeza se viria. Aí quando vi o pessoal aqui, me animei. Foi um pensamento de só ir, sabe? Cabelo cresce!” contou Letícia Patrocínio, uma das estudantes que mais doou cabelo no evento da Amor em Mechas na PUC.
Para mais informações de como doar, acesse. Abaixo mais fotos do evento na PUC-SP.
A coleção MASP RENNER reúne, pela primeira vez, as peças criadas por artistas e estilistas contemporâneos brasileiros especialmente para o acervo do MASP. O projeto durou três temporadas, entre 2017 e 2022, e envolveu 26 duplas de artistas e designers de moda, resultando em 78 trabalhos que compõem a exposição.
“A coleção foi pensada para exclusivamente para o museu, não sendo comercializada", afirma Leandro Muniz, curador-assistente da exposição. Ele explica, ainda, que existem diversos pontos de encontro entre moda e arte, como a técnica e o conceito por trás das obras. A exposição tem o objetivo de destacar estes pontos de encontro, aproximando a moda e arte aos olhos do público.
A relação do MASP com a moda, no entanto, nasceu de um projeto anterior, que serviu de inspiração para a parceria do museu com seu patrocinador: a Renner. A coleção MASP Rhodia produziu 79 looks na década de 1960, que foram doados ao museu em 1972. O objetivo da coleção era continuar divulgando as ideias da indústria química Rhodia, que realizava desfiles no país para promover seus tecidos sintéticos e encomendava as peças aos seus criados, refletindo as tendências da arte e da moda.
Já na vez da coleção MASP RENNER, foram artistas e estilistas que atuam no cenário atual para colaborarem com a produção. Tendo em mente uma variedade de temas que abrangem questões de gênero, sexualidade, religiosidade, sustentabilidade e a pandemia da Covid-19.
Quatro modos de operar são destacados no trabalho dos designers: aqueles que traduzem a sua marca pessoal nas peças, os que brincam com modelagens e a estrutura das roupas, outros que usam a moda como um meio de expressão política e social, e os que desafiam o conceito e os limites da moda. Todas estas ideias apresentam o mesmo ponto de encontro e o mesmo incentivador: o MASP.
Segundo Leandro Muniz, “Alguns estilistas optaram por representar resistência e focaram no quesito social. Enquanto outros representaram o corpo, a técnica e a escultura das peças”. Para o curador-assistente, três palavras resumem a exposição: Memória, narrativa e corpo.
Para acompanhar a cobertura da exposição, acesse o link do vídeo
Em 2024 completamos 60 anos do início da Ditadura Militar Brasileira. Durante os 21 anos que permaneceu no poder, o governo praticou abusos de poder e crimes contra sua própria população. Porém a violência não foi apenas estatal, visto que existiram empresas que colaboraram com o regime ditatorial. Uma delas é a atual segunda maior montadora de carros no mundo, a Volkswagen.
Durante os anos de repressão a empresa trabalhou em conjunto com os órgãos de segurança pública, mantendo um controle ideológico dos seus funcionários e denunciando aqueles que apresentam qualquer atividade considerada “subversiva”. Um exemplo foi a demissão do eletricista José Miguel, despedido por distribuir um jornal entre os trabalhadores, além disso suas informações pessoais foram entregues à polícia. Não só informações eram entregues como os empregados também, sendo permitido prisões ilegais dentro das fábricas. Henrich Plagge foi um deles. Preso dentro do local onde trabalhava, Plagge foi levado ao DOPS e ficou encarcerado por cerca de três meses, submetido a torturas. O verdadeiro paradeiro dele foi ocultado, no dia da prisão, um gerente da fábrica foi a casa de Henrich e contou para sua esposa, Neide, que ele havia viajado a trabalho.
Os operários que tinham contato com sindicatos eram classificados como “indesejáveis” e colocados nas chamadas “Listas Negras”, documentos com nome e endereço dos observados. As pessoas presentes nessa lista eram proibidas de serem empregadas em outras empresas e principalmente cargos de gerência e chefia. Outras companhias também contribuíram com essa lista, porém foi a Volkswagen quem mais registrou funcionários, 73.
Em 2015, dez centrais sindicais e outras entidades civis entraram com uma representação no Ministério Público contra a Volkswagen, com base em levantamentos feitos pela Comissão Nacional da Verdade, onde foi apontada coparticipação da empresa alemã em repressões realizadas durante o regime militar. O MP iniciou negociações para a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta com a montadora em 2018, procurando um acordo para recompor danos causados às vítimas da repressão. Em 2020, mesmo com contradições, ambas as partes chegaram a um acordo com a empresa tendo que pagar R$36 milhões para ex-trabalhadores de suas fábricas que foram perseguidos durante o período. Isso livrou a Volkswagen de possíveis processos judiciais.
O Ministério Público Federal (MPF) em 31 de março de 2021, divulgou o relatório final sobre a investigação da participação da Volkswagen na ditadura militar no Brasil (1964-1985), apontando que a montadora alemã se aliou de maneira autônoma ao regime e participou de diversos atos de repressão política. O relatório do MPF aponta que, apesar de não existirem provas que ligam a empresa alemã ao começo do Golpe, ela esteve presente no apoio a sua manutenção e obteve benefícios financeiros e de privação de direitos. Friedrich Schultz-Wenk, presidente da Volks em 1964, era ex-filiado ao partido nazista e demonstrava apoio aos militares em ações contra membros e apoiadores de partidos de esquerda.
Segundo o relatório, a Volkswagen por meio do seu Departamento de Segurança Industrial, delatava os seus trabalhadores aos órgãos de repressão do regime e prisões foram efetuadas dentro das fábricas. Lúcio Bellentani, ex-funcionário da Volks, declarou à Comissão da Verdade de São Paulo: “na hora em que cheguei à sala de segurança da Volkswagen, já começou a tortura, já comecei a apanhar ali, comecei a levar tapa, soco”
Bellentani também disse em entrevista ao Brasil de Fato que ainda sofre com as consequências psicológicas. "Eu passei a ser uma testemunha viva do ocorrido dentro da fábrica. Eu fui preso lá, comecei a ser torturado lá. Foram 48 dias de pancadaria e tortura, não tinha dia nem hora. O problema é a sequela psicológica. Quem paga o pato é a minha esposa. Principalmente nesse período que estou dando bastante depoimento, tem noite que eu sonho que estou brigando".
A Volkswagen também esteve presente em mobilizações para enfrentar as greves dos metalúrgicos que ocorreram entre 1979 e 1980 demonstrando, segundo o relatório, que ela "agiu para criminalizar as lideranças sindicais, colaborando com a polícia política para reprimir o movimento".