Uma análise sobre a passagem do físico e teórico alemão pelo Brasil e o apagamento das mulheres na ciência
por
Natália Matvyenko Maciel Almeida
Joana Grigório
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16/11/2025 - 12h

Em 1925, Albert Einstein desembarcou na américa do sul, na cidade do Rio de Janeiro, para uma sequência de palestras e nesse vídeo exploramos uma parte dos relatos escritos em seu diário e a falta de registros de pessoas racializadas e também de mulheres nas conferências.

Referências utilizadas para esse vídeo: 

1. Tolmasquim, Alfredo Tiomno. Einstein, o Viajante da Relatividade na América do Sul (2003)
Este livro oferece um olhar detalhado sobre a visita de Albert Einstein à América do Sul, incluindo sua passagem pelo Brasil. O autor explora a recepção do cientista e seu impacto no cenário científico da época.

2. Haag, Carlos. "Tropical Relativity" (2004)
Artigo publicado na revista Pesquisa FAPESP, que aborda os diários de viagem de Einstein na América do Sul, com destaque para suas observações sobre o Brasil e suas interações com a ciência local.

3. Moreira, Ildeu de Castro. Entrevista: Visita de Einstein ao Rio de Janeiro promoveu valorização da ciência pura (2025)
Entrevista com Ildeu de Castro Moreira, que discute o impacto da visita de Einstein ao Rio de Janeiro, enfatizando a valorização da ciência fundamental e os desdobramentos para a pesquisa no Brasil.

4. Fundação Oswaldo Cruz. Museu tem atrações em homenagem aos 100 anos da visita de Einstein (2025)
A Fundação Oswaldo Cruz celebra o centenário da visita de Einstein ao Brasil com exposições e atividades que relembram a importância histórica dessa passagem do cientista.

5. Observatório Nacional. 100 Anos de Einstein no Brasil (2025)
O Observatório Nacional comemora o centenário da visita de Einstein ao Brasil com uma série de palestras e reflexões sobre o impacto de sua passagem no campo científico brasileiro.

6. Rosenkranz, Ze'ev (org.). The Travel Diaries of Albert Einstein (2018)
Esta coletânea organiza os diários de viagem de Einstein, incluindo suas observações sobre diferentes regiões do mundo, com destaque para seus comentários sobre a América do Sul, e apresenta uma análise crítica sobre seus pontos de vista racializados.

7. Artigos de divulgação histórica sobre os diários de Einstein e racismo
Diversas publicações, como matérias da History.com e do The Guardian, discutem as anotações de Einstein sobre suas viagens à Ásia e outros lugares, destacando seus comentários sobre raça e cultura.

Nota de Checagem de Fatos
As informações sobre a visita de Einstein ao Brasil e seu impacto no país, incluindo o papel de Carlos Chagas e a análise dos diários de viagem, foram baseadas em fontes como Fiocruz, Observatório Nacional, e pesquisas de Ildeu de Castro Moreira. As reflexões sobre os comentários racializados de Einstein seguem a análise crítica adotada por estudiosos como Tolmasquim, Haag e Rosenkranz.

Releitura transmídia da estadia do físico no Rio de Janeiro em 1925
por |
03/11/2025 - 12h

Em maio de 1925, Albert Einstein visitou o Rio de Janeiro por uma semana hospedando-se no Hotel Glória, quarto 400. Apesar da recepção calorosa como celebridade, sua passagem foi um desastre cômico. A comitiva que o cercava não tinha um único físico ou matemático - apenas médicos, advogados, políticos e militares da elite social brasileira. No Clube de Engenharia, falou para uma plateia lotada que não entendia alemão nem suas ideias, em uma sala barulhenta e sem acústica. Na Academia de Ciências, teve que ouvir três discursos vazios em francês mal falado, incluindo um sobre "a influência da Relatividade na Biologia". O ápice foi quando o jurista Pontes de Miranda tentou desafiá-lo em alemão com considerações sobre metafísica e direito. Einstein levou de presente um papagaio que repetia "Data venia, Herr Einstein", lembrando-o sempre, com humor, da "ciência" dos doutores brasileiros.

“Einstein: visualize o impossível” é um projeto dos estudantes do quarto semestre de jornalismo da PUC-SP, da disciplina de jornalismo transmídia. O projeto aborda, de diferentes maneiras, uma releitura da icônica visita do físico ao Brasil em 1925. Todos os relatos estão em um site especial. Além de produções visuais e sonoras, o especial propõe uma narrativa em quadrinhos que conecta ciência, história e imaginação, tendo como cenário o Observatório Nacional (espaço que recebeu Albert Einstein). 

A produção contou com a colaboração de Bruno Matos, vice-diretor da Escola Estadual Professor Walter Ribas de Andrade. Já o vídeo “Os impactos de Albert Einstein na educação brasileira explicado por doguinhos” apresenta as contribuições das teorias do cientista para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a partir da entrevista com o professor de física Dediel Oliveira.  

Em “Diário do Einstein”, o leitor encontra coletânea de depoimentos em formato de diário sobre a passagem de Albert Einstein pelo Rio de Janeiro no ano de 1925, comentando ao longo de cada dia, pontos turísticos e palestras presenciadas por ele. No podcast "A carta que revolucionou a corrida armamentista", discute carta assinada pelo físico Albert Einstein em agosto de 1939, que alertava o presidente dos EUA, Franklin D.Roosevelt, sobre o potencial da Alemanha nazista em desenvolver uma bomba atômica.

O vídeo vertical “Einstein no Brasil” narra o encontro do físico com Carlos Chagas, marcando um momento científico crucial. A produção destaca a troca intelectual entre os dois grandes nomes da época. Por fim, é possível compreender uma sutil crítica sobre a omissão de um encontro com cientistas mulheres consagradas, como Bertha Lutz. Em “Einstein: uma análise de sua trajetória política”, as cartas de Einstein e seus discursos que expressavam preocupação com a violência e os conflitos no Oriente Médio são revisitadas. Nas declarações, o físico defende uma convivência justa entre judeus e árabes, e o projeto analisa como suas palavras ecoam no contexto atual da guerra entre Israel e Palestina, mostrando que o tempo passa, mas as perguntas sobre humanidade e coexistência continuam urgentes. 

Finalmente, o livro "Os Sonhos de Einstein", de Alan Lightman, pela Cia das Letras, apresenta uma série de sonhos imaginários que o jovem Albert Einstein teria tido enquanto desenvolvia a Teoria da Relatividade, em 1905. Em cada um deles, o tempo funciona de um jeito diferente, às vezes para, volta ou corre mais rápido e essas variações servem para refletir sobre a vida, as lembranças e as escolhas humanas. "Neste mundo, a textura do tempo parece ser pegajosa. Porções de cidades aderem a algum momento na história e não se soltam. Do mesmo modo, algumas pessoas ficam presas em algum ponto de suas vidas e não se libertam".
 

O uso excessivo do celular está moldando comportamentos e lucros empresariais das Big Techs
por
Julia Cesar Rangel
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27/10/2025 - 12h

Por Julia Cesar

 

O som começa suave, quase hipnótico. A vinheta colorida anuncia: “Cocomelon!”. Em segundos, os olhos se fixam na tela, o corpo se acalma e o mundo ao redor desaparece. Por trás dessa inocente animação infantil, há uma equipe bilionária que lucra com cada clique, cada minuto de atenção e cada vídeo que não para de rodar.

Nos últimos anos, o uso excessivo do celular tem preocupado especialistas, pais e educadores. Plataformas e canais, especialmente os voltados para o público infantil, estão sendo desenhados para capturar e reter o olhar humano o máximo possível. No caso das crianças, os efeitos são ainda mais intensos, já que seus cérebros ainda não estão totalmente formados para compreender o que é viciante e prejudicial.

A mãe Bianca Rangel, por exemplo, percebeu esse impacto em casa. O pequeno Gael, de 3 anos, começou a reconhecer a música do Cocomelon apenas pelo primeiro segundo de som. Ele largava qualquer brinquedo para correr até o celular. No início, Bianca achava a cena fofa, mas com o tempo notou que o filho ficava irritado e chateado quando o aparelho era desligado.

Preocupada, ela tentou limitar o tempo de tela, mas enfrentou forte resistência. Foi então que decidiu buscar orientação profissional e entendeu que substituir o tempo de tela por atividades com “dopamina boa” não era apenas uma escolha, e sim uma necessidade.

De acordo com a psicóloga Mayara Contim, formada pela USP e atualmente atuando na escola St. Nicholas, esse tipo de comportamento é resultado de mecanismos psicológicos cuidadosamente estudados pelas plataformas. Ela explica que não se trata apenas do Cocomelon: hoje, vídeos são planejados para ativar o sistema de recompensa do cérebro. As músicas, as cores e o ritmo acelerado são pensados para liberar dopamina, o hormônio ligado ao prazer imediato. Isso cria um ciclo de dependência semelhante ao que ocorre com jogos e redes sociais entre adultos e adolescentes.

A psicóloga ressalta que o problema não está apenas nas crianças. Segundo ela, os adultos também são vítimas desse design, já que as redes sociais funcionam com a mesma lógica de manter o usuário rolando infinitamente. No entanto, o impacto é mais grave nas crianças, pois seus cérebros ainda estão em desenvolvimento.

Um estudo recente da Common Sense Media apontou que, em média, crianças de até cinco anos passam quase três horas por dia em frente a telas. O dado assusta, mas reflete uma realidade cotidiana: celulares se tornaram babás digitais, distrações práticas para pais cansados e ferramentas de lucro para empresas que vendem publicidade a cada visualização.

Bianca admite que o uso do celular facilitava sua rotina. Enquanto o filho assistia aos vídeos, ela conseguia trabalhar ou realizar tarefas domésticas. Com o tempo, porém, percebeu que estava trocando momentos de qualidade com o filho por alguns minutos de silêncio.

Para Mayara Contim, o primeiro passo é não culpar os pais, e sim compreender o contexto. Ela destaca que vivemos em um mundo hiperconectado e que o caminho está na consciência e nos limites. O ideal, segundo a psicóloga, é que os pais assistam junto com as crianças, conversem sobre o conteúdo e ofereçam outras formas de estímulo — como brincadeiras, leitura e contato com a natureza.

Enquanto isso, a indústria continua explorando cada segundo de atenção possível. Canais como Cocomelon acumulam bilhões de visualizações e lucros altíssimos com publicidade, licenciamento e produtos derivados. O looping digital virou negócio, e nós, espectadores, nos tornamos o produto.

Mayara resume a lógica de forma direta: a atenção é a nova moeda. E, no fim, essa frase ecoa como um alerta — quanto mais tempo passamos presos às telas, mais alguém, do outro lado, está lucrando com isso.

O Brasil é pioneiro na criação de um medicamento que regenere a medula óssea de pacientes
por
manuela schenk scussiato
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03/11/2025 - 12h

Por Manuela Schenk

 

Não fora uma sexta-feira qualquer para Júlia. A caminho do ponto de ônibus para voltar para sua casa após um dia de aula na faculdade um motorista embriagado atropelou-a e fugiu sem prestar socorro que mudou sua vida para sempre quando tinha apenas 19 anos. Júlia teve lesões nas vértebras T8, T9 e T10 que a deixaram paraplégica depois de cinco dias em coma quando recebeu a notícia de que jamais andaria novamente.

Hoje Júlia tem 22 anos e teve que reaprender a viver. Coisas que jamais imaginou ter dificuldades agora são grandes conquistas, como quando conseguiu tomar banho sozinha pela primeira vez ou quando pode se deitar na própria cama sem auxílio. Escadas se tornaram rampas, seu restaurante favorito virou delivery, já que não possui acessibilidade para que ela consiga entrar na cadeira de rodas. As festas que frequentava semanalmente agora são eventos anuais, pois a locomoção dentro de uma balada é quase impossível para alguém que não consegue usar as próprias pernas.

No início se adaptar parecia impossível, noites mal dormidas quando chorava no travesseiro até seus olhos cederem. Depois de receber alta do hospital ela foi encaminhada para terapia, consultas três vezes por semana que depois de dois anos se tornaram duas. A fisioterapia que antes era uma tortura aos poucos se tornou um momento divertido.

Nos anos que se passaram Júlia conheceu mais pessoas na mesma situação que ela e de pouco a pouco sua nova vida se tornou mais tolerável, mas mesmo depois de quase 4 anos do acidente ela ainda tem dias ruins, sua autoestima nunca mais foi a mesma já que por muito tempo não conseguia se arrumar como antes. Júlia conta que o momento mais difícil da vida dela foi descobrir que seu caso não tinha cura. Sem possibilidade de tratamento ou cirurgia, uma menina que antes era ativa, amava se exercitar, sair com suas amigas, passear com sua cachorrinha, agora se vê forçada a reaprender a viver.   

É possível perceber as dificuldades que marcam a vida das pessoas que são afetadas pela paraplegia. Infelizmente muitos casos não são reversíveis, mas graças a estudos de um grupo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o mundo pode estar mais próximo de encontrar uma cura para uma deficiência que interrompe a vida de tantas pessoas.

A pesquisa, desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, representa um marco para a medicina brasileira. O medicamento experimental chamado Polilaminina foi criado a partir de uma proteína natural da placenta humana, capaz de estimular a regeneração das células nervosas. Em estudos com animais, especialmente cães que haviam perdido os movimentos, o tratamento apresentou resultados impressionantes: alguns conseguiram voltar a andar mesmo após anos de paralisia. Esse avanço chamou a atenção da comunidade científica internacional e fez com que o Ministério da Saúde e a Anvisa classificassem o estudo como de prioridade absoluta no País.

A equipe liderada por Tatiana Sampaio começou o estudo da eficiência polilaminina para promover a regeneração de fibras nervosas/axônios e reconectar áreas lesadas da medula espinhal começou em 2007, embasado em outro estudo da faculdade que iniciou em 1998. São quase três décadas de trabalho árduo que trouxeram a equipe ao sucesso que é exposto para o mundo hoje, com seis dos oito pacientes humanos recuperando, parcial ou completamente, os movimentos que lhes foram tomados. 

Além dos testes clínicos em andamento, o projeto da UFRJ tem recebido apoio de instituições públicas e privadas, como o Laboratório Cristália, que colabora na etapa de desenvolvimento farmacêutico e produção em larga escala da substância. O próximo passo dos pesquisadores é a realização de estudos em uma quantidade maior de voluntários, o que permitirá avaliar com mais precisão a segurança e a eficácia do medicamento. Caso os resultados se confirmem, o Brasil poderá ser o primeiro país a oferecer um tratamento realmente regenerativo para lesões medulares, uma conquista inédita na história da ciência.

Para Júlia e milhares de pessoas que convivem com a paraplegia, essa descoberta reacende uma esperança que parecia perdida. Mesmo que o caminho até a cura ainda seja longo, cada passo da pesquisa representa uma vitória contra a limitação imposta pela lesão medular. A história de Júlia mostra a força de quem se reinventa diante da adversidade. O que a ciência da UFRJ faz agora é provar que o impossível pode estar mais perto do que se imagina. Aquilo que antes era apenas sonho, agora começa a ganhar forma nas mãos de pesquisadores brasileiros dedicados a devolver o movimento e com ele a liberdade a tantas vidas interrompidas.

Especialista alerta para riscos do uso acrítico de plataformas de IA na educação
por
Thomas Fernandez
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04/10/2025 - 12h

A inteligência artificial (IA) ganhou rapidamente espaço em diferentes setores da sociedade, e a educação não ficou de fora dessa tendência. Plataformas capazes de corrigir redações, recomendar atividades personalizadas e até mesmo substituir parte das tarefas do professor estão em alta.

A promessa, vendida por empresas de tecnologia e gestores entusiasmados, é de que a IA pode democratizar o ensino, personalizar a aprendizagem e aliviar a carga de trabalho docente. Não por acaso, de acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC), sete em cada dez estudantes do Ensino Médio já utilizam ferramentas de IA generativa em trabalhos escolares, mas apenas 32% afirmam ter recebido orientação na escola sobre como usar esses recursos de forma pedagógica. 

Há quem veja nesse movimento um risco de precarização do trabalho dos professores, transformando a inovação em mais uma engrenagem de uma lógica de cortes de custos e desvalorização profissional. Afinal, a inteligência artificial na educação é realmente uma aliada do professor ou pode acabar sendo um instrumento de substituição e perda de direitos? 

Em entrevista à AGEMT, Pedro Maia, cientista de dados e pesquisador em ética e tecnologia, alerta para o risco de que a IA seja utilizada como justificativa para reduzir a presença e a importância dos professores. Para ele, é preciso estar atento à lógica de mercado que move grande parte das inovações tecnológicas aplicadas à educação: “O risco é que as escolas passem a enxergar a inteligência artificial não como apoio, mas como substituição. Se uma plataforma consegue corrigir automaticamente atividades e sugerir trilhas de estudo, a tentação de reduzir o quadro docente e cortar custos é enorme”, explica. 

Segundo Maia, isso poderia levar a uma precarização ainda maior do trabalho docente, em um cenário no qual professores já enfrentam baixos salários, excesso de carga horária e falta de condições adequadas de trabalho. “A promessa de eficiência pode esconder a intenção de enxugar gastos. É a lógica neoliberal aplicada à educação: menos investimento em pessoas, mais aposta em soluções padronizadas”, acrescenta.

Pedro Maia, cientista de dados.
Pedro Maia, cientista de dados. Foto: Arquivo Pessoal.

 

Maia também chama atenção para o risco de aprofundar desigualdades: “Nesse cenário, a IA não democratiza, mas acentua a exclusão. O aluno da periferia continua com menos oportunidades que o de elite, ainda que ambos usem supostamente a mesma tecnologia”. Esse alerta encontra respaldo nos números. Em 2023, 69% dos estudantes já conheciam a IA; em 2024, esse índice subiu para 80%, segundo levantamento nacional feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES).

No entanto, nem todos têm acesso à mesma qualidade de ferramentas ou de acompanhamento pedagógico. Enquanto escolas privadas de ponta conseguem incorporar plataformas sofisticadas, parte da rede pública depende de versões limitadas, com pouco ou nenhum suporte docente.

Mesmo assim, o cenário não é apenas de resistência. Pesquisas feitas pela SEMESP (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), mostram que 74,8% dos professores acreditam que a IA pode ser aliada no processo de ensino, e 39,2% já utilizam a tecnologia regularmente em sala de aula. Esses dados revelam uma categoria dividida, mas que enxerga potencial na tecnologia quando aplicada como ferramenta de apoio, não como substituição. 

Além disso, iniciativas públicas começam a surgir. O governo federal, em parceria com a UNESCO e a Huawei, lançou o projeto “Open Schools” na Bahia e no Pará. Ambos locais foram escolhidos pela falta de infraestrutura educacional, conectividade e recursos tecnológicos. A iniciativa foca na formação de professores em competências digitais e uso de IA, além de investimentos em conectividade e infraestrutura. O objetivo é reduzir desigualdades e preparar a rede pública para essa transição.

A coexistência desses dois pontos de vista - o risco de precarização e a promessa de apoio pedagógico - evidencia o dilema atual: A IA pode ser tanto aliada quanto algoz, dependendo da forma como for implementada. Se o objetivo for cortar custos, há risco de enfraquecer a profissão docente. Mas se, por outro lado, houver investimento em formação, infraestrutura e regulação, ela pode abrir espaço para práticas pedagógicas mais ricas e inclusivas.

O que está em jogo, portanto, não é apenas a chegada de uma nova tecnologia, mas o modelo de educação que o país pretende construir. A questão central permanece: a inteligência artificial será um recurso a serviço de professores e alunos ou mais um instrumento de precarização do trabalho em nome da eficiência econômica?

Enquanto não há consenso, cresce a urgência em debater publicamente os rumos dessa transformação. O futuro da escola não depende apenas das máquinas, mas das escolhas políticas, sociais e econômicas que definirão como, para quem e com quais propósitos a tecnologia será utilizada.

Os percalços de uma vida que virou do avesso
por
Giovanna Montanhan
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15/06/2023 - 12h

A trajetória do jornalista paulistano Mateus Camillo, formado pela USP, iniciou-se na Folha de S.Paulo como editor de Interação e Redes Sociais. Mais adiante, tornou-se repórter de tecnologia e turismo. Enquanto exercia tal função, comandava os perfis do veículo de Instagram, Facebook, Twitter e TikTok, além de gerenciar uma equipe com mais de dez pessoas.

 

 

Foto Reprodução: Muck Rack
Foto Reprodução: Muck Rack

 

Possui mais de uma década de experiência em redações de grande relevância no Brasil, como por exemplo, a Abril (onde ficou por dois anos e quatro meses), e era o responsável pela manutenção da página inicial do portal de notícias e pela criação de conteúdos especiais. Além dessas funções, colaborava com as mídias sociais da revista. E com O Estado de S. Paulo (durante quatro meses), exercia a função de trainee em diferentes editorias, de esporte a economia. Também, fez parte da produção e edição de um caderno especial sobre as Olimpíadas do Rio, que aconteceram em 2016.

 Desde 2013, trabalha no estilo freelance e integra a equipe de colunistas da Folha com seu blog semanal intitulado #Hashtag, sobre redes sociais e tecnologia. Foi membro integrante da comissão dos cem anos do jornal com a função de organizar uma série de reportagens, conteúdos especiais e eventos que marcaram o centenário. Segundo ainda Camillo, quando iniciou esse modelo de trabalho, aceitava todas as oportunidades que estavam ao seu alcance, de modo a ampliar o conjunto de experiências e aventurar-se em várias áreas até encontrar uma específica que o fizesse se destacar por completo. 

Durante bate-papo com os alunos de jornalismo do primeiro semestre da PUC-SP, foram compartilhadas algumas dicas de como se destacar na profissão, dentre elas a de começar a estagiar o mais breve possível, a fim de obter experiência prática desde o início e para aqueles que possuem condições financeiras, considerar a opção de morar fora do país, mesmo que seja por um curto período. Essa vivência internacional poderá ampliar a bagagem cultural e proporcionar um diferencial na carreira.

Mateus já foi palestrante, ministrou cursos e workshops nas principais faculdades do estado de São Paulo sobre o uso das redes com enfoque no âmbito jornalístico. Durante a pandemia de COVID-19, migrou para o trabalho remoto e se encantou pela flexibilidade oferecida. A partir desse ponto, decidiu se tornar nômade digital - isso significa que mora em airbnb de cidades diferentes e trabalha onde quer que esteja. Quando questionado, se não sente falta do seu sofá, responde, com humor, que nos apartamentos alugados consegue móveis confortáveis que o façam sentir-se como se estivesse em casa.

 Em janeiro de 2023, lançou seu newsletter completamente em inglês, intitulado No Direction Home (http://nodirectionhome.substrack.com) sobre nomadismo digital e modelos de trabalhos flexíveis. No mês de abril, juntou-se a Eliane Brum, Jonathan Watts, Verônica Goyzueta e Talita Bedinelli para contribuir como editor das redes para o SUMAUMA - site de jornalismo do centro do mundo, cuja sede fica em Altamira, no Pará.

Com uma rotina diária cansativa e estressante catadores de rua contribuem com cerca de 90% da reciclagem no Brasil
por
Laura Boechat
Maria Clara Alcântara
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15/06/2023 - 12h

Por Laura Boechat (texto) e Maria Clara Alcântara (audiovisual)

 

Em um sol tímido que começa a surgir perto das oito da manhã, a movimentação na avenida mais famosa da cidade de São Paulo, a "Paulista", já dá seus primeiros indícios de mais um dia corrido – como todos os outros na região. A longa rua, que ostenta bancos bilionários, museus famosos e lojas de roupas de três andares, faz circular pelas calçadas executivos engravatados, turistas curiosos, vendedores ambulantes e muitos outros tipos dentre os 1.500.000 transeuntes que por lá caminham diariamente. Mas não só esses. 

A Avenida Paulista é também o cenário do cotidiano de Joaquim. Aos 66 anos, ele é catador de materiais recicláveis. Morador da Zona Leste e cristão fiel, ele circula, como muitos outros, pela região da avenida de 9h00min às 21h00min, recolhendo o que encontra pelas calçadas, restaurantes e lixeiras. Com seu carrinho elétrico, Joaquim procura desde papelão a latinhas e revistas. "O papelão está meio defasado, tem épocas que sobe e desce, agora tá baixo. Mas nós estamos aí, na luta", comenta Joaquim, com a perseverança que ele diz ser entregue por Deus.

A história de Joaquim como catador de recicláveis começou cedo. Já aos 14 anos, ele separava latinhas para vender. "Naquele tempo, se você pedia dinheiro pros pais, eles não davam", diz bem-humorado enquanto protege os olhos do sol das 3 da tarde na Avenida Paulista, em frente ao Juizado Especial Federal. "Fui trabalhar de varredor de rua e não deu certo. Eu acho que já tô com sangue na veia de reciclagem", conta Joaquim em meio a risadas, marcado pelo tempo de seus 50 anos como catador.

Hoje, Joaquim não precisa mais separar latinhas pela falta de dinheiro dos pais, mas são elas que ainda mantêm sua casa: "O meu carrinho dá sustento para minha família. Eu e minha esposa compramos os meus remédios, porque com o tempo vêm as coisas. Eu tenho uma hérnia, varizes, tudo por conta do meu trabalho". 

Pai de família, hoje, ele trabalha com uma associação chamada Nova Glicério, na qual operam catadores e triadores, e que viabilizou a conquista do tão querido carrinho elétrico através da organização Pimp My Carroça. "Pra mim, foi uma benção. Esse carrinho tem buzina, tem luz noturna, seta, carregador de celular…. Pega até 400kgs. Pra mim é uma maravilha, eu não pego mais peso. Facilita muito", explica, exibindo a buzina posicionada no guidão do carrinho, além dos adesivos na traseira para sinalizá-lo nos túneis que compõem o cenário do seu dia a dia.

"Essa aí é a logo deles!", mostra Joaquim enquanto aponta para o adesivo colado em seu carrinho com o nome Pimp My Carroça. Segundo o site, a ONG se descreve como "um movimento que atua desde 2012 para tirar os catadores de materiais recicláveis da invisibilidade – e aumentar sua renda – por meio da arte, sensibilização, tecnologia e participação coletiva". Uma das ações para alcançar esse objetivo é o projeto Carroça do Futuro – que foi por onde Joaquim conquistou sua carroça elétrica. 

As carroças elétricas possuem velocidade máxima de 6 km/h, motores elétricos com funções de ré e itens de segurança como os descritos por Joaquim. O primeiro projeto de carroça elétrica surgiu em 2021. Atualmente, a meta é expandir o projeto através de um fundo coletivo com parceiros e aliados.

  

 

Se a carrocinha elétrica que suporta 400 quilos ajuda o trabalho de Joaquim, o mesmo não se aplica à maior parte dos catadores, que não têm a facilidade impulsionada pela tecnologia. Márcio, de 44 anos, também é catador. Morador de Bom Retiro, Márcio circula pela região de Perdizes todos os dias. Com um carrinho manual e bem menor que o de Joaquim, Márcio nos explica que, por não ter uma carroça maior, fica difícil juntar muito volume de material. "Eu vou juntando lá perto do terminal até umas nove da noite. Guardo por uns dez dias em casa. Quando tem uma quantidade maior, o pessoal do ferro-velho lá de Bom Retiro, onde eu moro, vem com o caminhãozinho buscar", conta, dando um gole de água que acabou de pedir em uma mecânica localizada na rua Bartira.

Mesmo com a dificuldade por conta do tamanho do carrinho, Márcio aponta que, para a região em que ele circula, é mais prático: "Ele é pequeno, mas é melhor para andar pela região aqui, que tem muito morro".

Diferente de Joaquim, que trabalha por doze horas, Márcio costuma chegar às 17h30min em Perdizes, deixando a região por volta das 21h00min. "É que é a hora que o pessoal está colocando o lixo dos prédios para fora, né. É o horário que a gente começa a trabalhar, e tem que ir antes do caminhão do lixo chegar. Daqui a pouco ele passa", explica Márcio.

Catou. E depois?

Da latinha de refrigerante até o papelão do vídeo-game novo, colhido por um trabalhador filiado à associação, como Joaquim, ou de maneira autônoma, como Márcio, o material coletado precisa de um destino final.

O primeiro passo é a triagem – como ocorre na associação Nova Glicério, onde participa Joaquim. Todo o material é separado em categorias e analisado para definir se está apto à reciclagem. É também na triagem que ocorre a pesagem, o enfardamento e a estocagem do material. Após a seleção, os materiais são vendidos para a indústria como matéria-prima para a confecção de novos artigos. "Tudo o que a gente cata vira outras coisas. Um pedaço de ferro pode ajudar na composição de uma geladeira, por exemplo", explica Joaquim.

Apesar de Joaquim e Márcio venderem os materiais para a reciclagem, esse, infelizmente, não é o único destino dos materiais descartados no Brasil. Chamados de Resíduos Sólidos Urbanos, grande parte dos RSU ainda são encaminhados para destinação inadequada em todas as regiões do País. Segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil de 2022, da Abrelpe, 39% dos resíduos coletados ainda vão parar em lixões e aterros controlados. Isso representa um total de 29,7 milhões de toneladas com destinação inadequada.

 

 

 

Segundo o doutor em saneamento Luis Hamilton Garbossa em seu livro "Gestão de resíduos: sólidos, líquidos e atmosféricos", o aterro sanitário é considerado atualmente – dentre as três opções tratadas – a melhor maneira de tratar os resíduos sólidos. Os lixões consistem em jogar todo o resíduo coletado em um local a céu aberto, o que acaba por atrair ratos e urubus, além de prejudicar o solo. Já os aterros controlados, apesar de menos tóxicos que a primeira opção, também não se mostram como a melhor opção, uma vez que não ocorre a impermeabilização do solo.

Diferente disso, o aterro sanitário segue uma série de condutas para que o descarte não seja prejudicial à saúde da população do entorno, nem dos envolvidos na cadeia do mercado do lixo. Essas regras envolvem tratamento de chorume, a coleta de biogás e a impermeabilização do solo. Dessa forma, a melhor maneira de descarte dos RSU são os aterros sanitários.

A necessidade da função de catador

Para Joaquim, sem a função de catador, São Paulo se tornaria um caos. "É muito importante ter um lugar para descartar os recicláveis, que não são lixo. Eu lembro que em 1970 a turma não ligava para coleta de materiais recicláveis, mas aí começou os efeitos do aquecimento global e o povo começou a se preocupar né", diz ele.

E ele tem razão: segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2017, os catadores já eram responsáveis por quase 90% do lixo reciclado no Brasil. Mesmo com o número surpreendente, os catadores ainda enfrentam diariamente preconceitos, além de um processo de invisibilização e exclusão.

Márcio acredita que falta respeito por boa parte da população. "Você está andando com carrinho na rua ou carroça e o pessoal passa de carro e buzina, te xinga. Eles acham que você tá atrapalhando o trânsito", lamenta. "Mas isso é falta de entender a realidade. É que nem uma garrafa pet, tá aí na chuva e desce pro bueiro, causando um monte de problema. Se não fosse por nós, isso aconteceria ainda mais", explica ele.

Apesar do preconceito direcionado aos catadores e da má remuneração, a outra ponta da pirâmide parece se dar bem. Segundo dados do Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil, da Abrelpe, o mercado de limpeza urbana movimentou, em 2021, R$ 29,9 bilhões, 3,0% a mais do que o montante verificado em 2020. A região Sudeste apresentou variação acima da média nacional, com 3,2%.

Como suporte para dignificar a função dos catadores, Joaquim propõe que o assunto seja vociferado: "essa é uma forma de valorizar o trabalho do catador, mostrando pros outros a importância dele. Acabar com a visão de que o catador é um coitado – o catador é um profissional que gera empregos, gera reciclagem". 

Em comemoração à liberdade da imprensa, seis jornalistas foram homenageados na quarta edição do prêmio
por
Kawan Novais
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14/06/2023 - 12h

Na terça-feira (6), aconteceu a quarta edição do Troféu Audálio Dantas – Indignação, Coragem, Esperança, no auditório Prestes Maia, sediado na Câmara Municipal de São Paulo. Em conjunto com a curadoria da família Kunc Dantas e da Oboré Projeto Especiais, 97 associações contribuíram para a realização do prêmio incluindo a participação dos Centros Acadêmicos Benevides Paixão (PUC-SP), Lupe Cotrim (ECA-USP), Vladimir Herzog (Cásper Líbero) e de estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vladimir Herzog. Além de mais uma vez celebrar o dia do Jornalista e o dia Nacional de Liberdade de Imprensa, comemorados em 07 de abril e 07 de junho, respectivamente, o evento regido pelo vereador Eliseu Gabriel (PSB) e com o apoio dos jornalistas Sérgio Gomes, um dos fundadores da Oboré e Vanira Kunc, viúva de Audálio Dantas homenageou seis jornalistas nesta edição.

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Da esquerda para direita: Sérgio Gomes, Vanira Kunc, Ivo Herzog, Toni Pires, Cristina Zahar, José Eduardo, Eliseu Gabriel, Guto Camargo, Leda Beck, Isabela Koch, Tulio Gonzaga e Samir Salman. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Com o início às 19h, o vereador começou a cerimônia relembrando a carreira do jornalista Audálio Dantas, nome o qual a premiação carrega desde a data de seu falecimento (30 de maio de 2018) para preservar sua memória e o legado. Em seguida, representantes de algumas entidades participantes do evento promoveram uma reflexão sobre o atual cenário jornalístico no Brasil. “Nós suportamos tempos duros, mas resistimos e seguiremos resistindo na defesa de um direito que não é só dos jornalistas, e sim de toda a sociedade”, declarou Cristina Zahar, representante da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), somando em sua fala um dado levantado por sua própria entidade de que os números de ataques à imprensa quase quadruplicaram durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

"Audálio Dantas não teve tempo de ter medo”, afirmou José Eduardo, representante do Sindicato dos Jornalistas, ele reafirmou a importância da ética na profissão independente das condições de trabalho. “Infelizmente, estamos vivendo um tempo de profundo desrespeito ao diferente, provocado pelo fascismo que cresce nesse país”, refletiu Eduardo. Ademais, recém-formados e estudantes de jornalismo, uniram-se para a leitura de uma carta propondo o compromisso para a continuação do Troféu Audálio Dantas a fim de contemplarem jornalistas experientes na profissão em uma possível próxima edição.

Bruno Paes Manso, Gregório Duvivier, Juliana Dal Piva, Leonardo Sakamoto, Rene Silva e Valmir Salaro foram os seis jornalistas homenageados nesta edição, a qual buscou profissionais que produzem um "jornalismo ético e plural que a gente quer e que o país precisa", segundo Leda Beck, atual presidente da Associação Profissão Jornalista (APjor).

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Laerte Coutinho e Roger Matua, desenhista e escultor do Troféu Audálio Dantas, respectivamente. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Ao receber o troféu, Salaro, experiente repórter policial da Rede Globo e o primeiro a ser gratificado levantou uma reflexão sobre o erro jornalístico que qualquer profissional da área está sujeito a cometer ao exercício da profissão.

Sakamoto, um dos fundadores da Repórter Brasil, organização focada em investigações sobre direitos humanos, ressaltou a dificuldade dos comunicadores durante o governo bolsonarista. “Se a gente que é jornalista e moramos no Sul-Sudeste, em grandes cidades, sofremos muito nos últimos 4 anos de Jair Bolsonaro, tenho certeza de que jornalistas do interior do Brasil sofrem muito mais desde sempre", afirmou Sakamoto. Por fim, o jornalista avaliou que a crise democrática no país não possui 4 anos, e sim 523 anos.

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O jornalista Leonardo Sakamoto recebeu o troféu de Eliseu Gabriel, vereador de São Paulo pelo PSB. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

O terceiro prestigiado, Bruno Paes Manso, escritor do livro “República das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro” e repórter especializado na área de segurança pública, exaltou sua relação com os colegas homenageados e a importância de cada um para o funcionamento de um bom jornalismo no Brasil.

A jornalista Juliana Dal Piva, que fez trabalhos investigativos relacionados à família Bolsonaro, ao ser agraciada, fez uma crítica sobre o cenário feminino no jornalismo brasileiro diante do fato dela ser a única mulher homenageada nesta edição. “Não posso parar e não olhar para mim e saber quem eu sou. Sou uma mulher jornalista e para que eu pudesse ter feito o trabalho que fiz e recebesse essa homenagem linda hoje, muitas [mulheres] vieram antes de mim”, declarou Dal Piva.

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A jornalista Juliana Dal Piva recebeu o troféu de Vanira Kunc, jornalista e viúva de Audálio Dantas. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

O humorista, escritor e apresentador do “Greg News”, programa de jornalismo satírico disponível na plataforma de streaming HBO Max, Gregório Duvivier não pôde comparecer ao evento. Entretanto, Denis Russo, um dos editores-chefes do programa, compareceu à premiação representando o humorista. Russo destacou o caráter não jornalístico do Greg News, mas demonstrou a importância do viés humorístico em torno de uma narração factual produzida pela equipe de Duvivier.

Por fim, o último jornalista a receber o troféu Audálio Dantas foi Rene Silva, criador do jornal “Voz das Comunidades”, originário no Morro do Alemão, comunidade do Rio de Janeiro. Silva recebeu o prêmio através da reunião entre os integrantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vladimir Herzog no palco. “Nossos estudantes vieram aqui porque sabiam da possibilidade de conhecer o futuro. Homenagear o jornalista Rene Silva nesta noite, é conhecer o futuro de um jovem da periferia do Rio de Janeiro com características de vida escolar muito parecidas com a dos estudantes de nossa escola”, declarou Keila Girotto, diretora da escola. 

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O jornalista Rene Silva, fundador da "Voz das Comunidades", jornal comunitário das periferias do Rio de Janeiro. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

“O que a gente não quer mais, é ver a favela sendo retratada a partir de um olhar de violência, tráfico de drogas e mortes. Queremos que a favela seja mostrada como um lugar de esperança e coragem”, refletiu o jornalista, acrescentando a ideia de democratização da informação diante da pouca comunicação existente nas comunidades brasileiras por meio do jornalismo comunitário enquanto um trabalho de resistência.

A solenidade foi transmitida pela Câmara Municipal de São Paulo e pode ser assistida através do link.

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Jornalistas homenageados e organizadores do evento. Da esquerda para direita: Leonardo Sakamoto, Sérgio Gomes, Denis Russo (representando Gregório Duvivier), Juliana Dal Piva, Vanira Kunc, Eliseu Gabriel, Rene Silva, Bruno Paes Manso e Valmir Salaro. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

 

“Diferente do diretor, profissional da voz fica sabendo o que vai dublar apenas na hora”, diz Cassius Romero
por
Guilherme Timpanaro Gastaldi
Felipe Oliveira
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10/11/2022 - 12h

"99% das vezes que somos chamados, não fazemos ideia do que vamos dublar", diz Cassius Romero, (56), dublador, ator e cartunista brasileiro que fala sobre os bastidores e como funciona um estúdio de dublagem. O contato foi feito via WhatsApp, e mesmo saindo de São Paulo, na volta para casa no interior, dentro de um ônibus de viagem, o artista ainda disponibilizou um tempo para a entrevista.

Cassius é um dos grandes nomes entre os dubladores brasileiros, com 30 anos de carreira, é ele quem fornece a voz para diversos personagens no universo cinematográfico, como os de John Rambo e Exterminador. Mas ganhou maior destaque com o vilão Negan, da série de terror americana "The Walking Dead".

O ator descreve como funciona o processo de chamada de um dublador: "O coordenador artístico ou diretor em dublagem indica um talento. Daí a empresa manda mensagem para o dublador no WhatsApp para escalá-lo, a produção é quem faz esse trâmite. Após o artista dar o ok que aceitou a escala em determinado horário, seu nome é incluído numa famosa 'pedra' ou 'tabela' com outros tantos dubladores, e preenchem o dia do estúdio em si".

Para trabalhar profissionalmente e exercer a função de dublador, é necessário dar entrada ao DRT, documento a partir do qual a pessoa está capacitada e tem autorização legal para trabalhar como ator/atriz profissional, essencial e obrigatório para exercer a função. Além das obrigatoriedades, Cassius cita como essencial para um bom profissional "ter uma boa comunicabilidade, boa desenvoltura de fala, entendimento de texto, boa leitura, conhecimento da gramática portuguesa, ter noções em outros idiomas e ter ciência de cultura".

Contudo, uma das habilidades imprescindíveis e que não é ensinada em nenhum curso de dublagem é a de adaptação. O dublador necessita pegar com rapidez o entendimento da ideia que lhe foi passada em minutos e dublar, pois de acordo com Romero: "Somente quando o dublador adentra o estúdio que o diretor conta a história do personagem que ele fará ali naquele instante. Já o diretor, deve e precisa saber com antecedência do projeto para dirigir e indicar o caminho para o dublador. Chamamos isso de 'ter o filme na mão'".

Além de sua vida cotidiana, Cassius também fala como foi trabalhar na pandemia: "No começo, alguns links foram disponíveis para gravação, logo, o diretor dirigia da casa dele, o técnico operava de casa e o dublador dublava na casa dele". Além disso, as dificuldades eram diversas. Muitos dubladores criaram em casa verdadeiras cabanas com lençóis e edredons para diminuir o som externo.

O investimento foi necessário por parte dos atores, com equipamentos como computadores, microfones, fones, tablets e mesinhas de som. Em muitos casos, houve um atraso nas produções de dublagem devido aos problemas com a internet que retardam o processo - Netflix e outras plataformas, avisaram o público que as dublagens de diversas séries demorariam para ser entregues. Com o tempo, os técnicos em dublagem começaram a ajudar os atores para poderem gravar de casa, os auxiliando com cabines de áudio, acústica seca e equipamentos em geral.

Além das dificuldades na pandemia, no presencial, Cassius relata que o deslocamento de um estúdio para outro sempre foi um problema em sua rotina, muitas vezes inclusive, tendo que atravessar a cidade para chegar ao local. "O diretor em dublagem geralmente fica em estúdio fixo, mas os dubladores, de um modo geral, circulam em quase todos os estúdios. Quando eu comecei na dublagem havia seis estúdios em São Paulo e quatro no Rio de Janeiro. Atualmente temos aproximadamente 30 em São Paulo e mais 16 no Rio", comentou.

No ramo da dublagem, Edeli Cremonese é a empresária e fundadora da empresa Lexx Filmes e Produções. A companhia é especializada em Dublagem e Legendagem para a indústria cinematográfica, televisão mundial, plataformas de videogames e outros meio audiovisuais. Estabelecida desde 2010 em São Paulo.

Edeli disseca o procedimento que percorre um filme até o estúdio de gravação. "Antes que um script entre em produção, ele percorre um longo caminho dentro da empresa, desde o atendimento ao cliente, orçamento, aprovação de valores e prazo de entrega e recebimento. Tudo concordado, inicia-se a produção da peça", conta a empresária.

Logo após, segundo ela: "chegam vídeos e script originais em sua língua oficial, ambos são enviados para a tradução; já com as falas traduzidas, passa para o 'marcador de anéis, essa pessoa é responsável, por fazer uma marcação no script de 20 e 20 segundos, numerando-os de 01 no início da primeira fala até o último número no final da última fala, existe um cronômetro na tela para que isso seja feito", assim o dublador saberá a hora exata em que sua fala aparecerá, e os anéis ajudam também a contabilizar quantas horas de escala é preciso para cada ator, que vai determinar quanto será pago. Cada grupo de 20 anéis representa uma hora de dublagem (o dublador recebe por hora).

Outro ponto importante citador por Cassius é o tal do "boneco", que é determinado por dublar inúmeras vezes o mesmo ator ou atriz. "Por exemplo, quando pensamos no personagem Nick Fury dos Vingadores, logo lembramos da voz do dublador. Assim é com o Homem de Ferro. Isso é Boneco".

Cassius passa por situações de apego em relação a um personagem, o que pode colaborar com a sua performance: "Eu mesmo me conectei ao Negan; só não podemos agir como tal, mas ter um apego no bom sentido, ajuda muito também na integração e interpretação com o personagem".

O IEM Rio Major 2022, mundial do FPS (First Person Shooting), enfrenta preconceito com torcidas brasileiras
por
Davi Garcia
Ian Valente
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10/11/2022 - 12h

No dia 31 de outubro, começou no Rio de Janeiro o campeonato mundial de Counter Strike: Global Offensive, reunindo as melhores equipes e jogadores do cenário de um dos jogos mais tradicionais do mundo. O torneio vem ao Brasil pela primeira vez em sua história, com 24 equipes participantes do mundo inteiro. Entre elas, as brasileiras Imperial, 00Nation e FURIA, além da sul-americana 9Z.

Também estreia no IEM Rio Major 2022 a presença de público nas duas primeiras fases do campeonato, inédito na história dos mundiais. Normalmente, esses jogos são realizados em hotéis ou arenas menores, enquanto no campeonato atual, serão divididos entre com ou sem público. A “Challengers  Stage” e “Legends Stage” ocorrem no Riocentro, com capacidade para 10.000 pessoas. Essas fases são formadas pelo Formato Suíço, em que o time que consegue três vitórias, ou três derrotas, será classificado, ou eliminado. Apenas as equipes com o mesmo recorde podem se enfrentar.

 

 O evento conta com lojas da organizadora e patrocinadora ESL, anteriormente conhecida como Electronic Sports League, que vende uniformes, acessórios e merchs das equipes com preços de R$150 a R$280 e um fácil acesso à comidas e banheiros no Riocentro.

 Para a próxima fase, onde ocorrerá o mata-mata, será jogado na Jeunesse Arena, com um público previsto de 20.000 torcedores. A premiação do campeonato é avaliada em 1 milhão de dólares, aproximadamente R$5.000.000;

 A narração e coordenação da torcida no evento conta com o streamer Alexandre Borba, mais conhecido como Gaules. O brasileiro é o mais seguido do mundo na plataforma Twitch, com mais de 15 milhões de seguidores e transmite os jogos em seu canal para uma média de 200 mil pessoas. Além de Gaules, a “Tribo”, grupo de outros streamers e influenciadores organizados por ele, participa da transmissão, seja com reportagens, entrevistas ou comentários.

Outro ponto a se destacar é o público brasileiro, mais conhecido como “La Tribonera”, apelido dado por Gaules, sendo elogiado por grande parte dos jogadores pelo barulho excessivo e paixão pelo jogo, como Oleksandr "s1mple" Kostyliev, ucraniano eleito o melhor do mundo em 2021, descrevendo a torcida brasileira em seu twitter como “A melhor do mundo, eu amo vocês”, além do russo Dzhami "Jame" Ali, que comparou com a plateia europeia “Sempre fui tratado na Europa como vilão, e diziam pra mim ‘Vá se foder’, enquanto aqui, gritam e comemoram meu nome, me sinto muito bem”, à Liminha, em live de Gaules.

Porém, a torcida brasileira também têm sido alvo de polêmicas e sanções da ESL. No Counter-Strike, há a opção de ver a silhueta do personagem para facilitar ao telespectador entender a partida, como um raio-x. Contudo, muitas vezes o público gritava aos jogadores, que não possuem acesso ao sistema, a posição e estratégia dos adversários, fazendo a organizadora retirar o xray e o mapa do jogo na transmissão do Gaules.

Explicação do Sistema Suíco. Foto: Reprodução / GOAL

Exemplo da visão do telespectador. Para o jogador, não há silhuetas. Foto: Reprodução / ESLCSGO

 

 Com isso, internautas do mundo inteiro criticaram massivamente a torcida brasileira: ”Vai ser tão bom quando todos os times brasileiros forem eliminados, então essa torcida nojenta irá acabar“ escreveu um torcedor no Twitter.

 Alexandre desabafou após as medidas: “Peço desculpas à maior transmissão de Counter-Strike do mundo por não estar podendo assistir com xray e mini-mapa. Pra nós, é sempre mais difícil”, e complementa com o lema que viria a ser utilizado pelos brasileiros durante o campeonato “Eles não vão entender nunca o que é ser brasileiro e traduz para eles essa p#rra”.

Gaules com “La Tribonera” ao fundo em jogo da FURIA. Foto: Divulgação / Gaules

 

 Foto destaque: Torcida brasileira no IEM Rio Major 2022. Foto: Reprodução / theMAKKU.