Elifas Vicente Andreato, ícone da arte gráfica de capas de discos desde 1970, faleceu nesta terça-feira (29). O artista deixa um legado marcante na MPB, tendo trabalhado com Paulinho da Viola, Chico Buarque, Clara Nunes, Martinho da Villa, Elis Regina, entre outros. Andreato conta com um acervo de 362 capas de discos, diversas ilustrações para revistas e cartazes, além de publicar dois livros e participar da montagem de peças de teatro. Foi reconhecido, em 2011, ao receber o “Prémio Especial de Vladimir Herzog”, concedido a destaques na luta por valores éticos e democráticos.
A obra de Elifas é marcada por traços sensíveis e uso abundante de cores. Dentre seus maiores destaques, encontram-se as capas dos discos “Ópera do Malandro” e “Almanaque”, ambos de Chico Buarque, assim como “Nervos de Aço”, de Paulinho da Viola. Ainda produziu obras políticas, como quando escarnou em tela o assassinato do jornalista Vladimir Herzog no fim da ditadura.
Em 2018, aos 50 anos, Andreato publica o livro “A Maior Palavra do Mundo, uma Fábula Alfabética”, que levou 37 anos para chegar às mãos do público e conta com colaboração do ilustrador Fê. A obra é construída de forma alegórica envolvendo um mistério: o Silêncio decide sequestrar a Curiosidade. Esta fábula foi musicada por Tom Zé.
Com tristeza icônica, nos desligamos essa semana do ponto colorido de convergência entre várias pessoas, Elifas Andreato. O artista gráfico, presente em mais de 360 capas de discos de artistas nacionais, teve como foco na carreira dar traços à cultura popular brasileira, constituindo a ponte viva entre figuras como Criolo e Chico Buarque. Expressivo, Andreato é peça chave na frente artística de oposição do período militar e modelo na integração da imagem nacional, abraçando com uma corda só a beleza e as mazelas da nação ao lado de contemporâneos como Gilberto Gil e Paulinho da Viola.

Reprodução: PUC-SP
Nas primeiras semanas de março, o reencontro do corpo docente e alunos da PUC-SP foi ilustrado pelo caloroso abraço desse velho irmão de luta. O casamento da instituição com o artístico é, primeiramente, de gigante simbolismo da relação política na sociedade civil. A faculdade combateu à base de subversão ideológica os avanços militares, virando símbolo da oposição durante o período. Elifas fez o mesmo à base de canetas, lápis e papel. Assim como a universidade carrega orgulhosa essa herança, sua pós-vida não foge de igual importância.
A arte espalhada pelas vias principais representou o abraço metafórico do campus Monte Alegre, que mesmo privado do toque físico pelas restrições sanitárias, teve sua cultura de troca social revivida pelas vozes nos corredores e olhares deslumbrados com a nova fase da vida que começa à sua frente. As cores vivas e concretas do abraço compartilhado em contraste às paredes cinzas e amareladas dos corredores alude perfeitamente à vida no campus, a base da identidade tradicional da Pontifícia. Assim como no desenho, este é um lugar onde mentes se intercalam e a união se mostra presente à base da cultura brasileira. Assim como os traços da arte, a vida é fluida, feita de contato e palco para encontros, reencontros e, infelizmente, despedidas.
Sua última obra em vida, a cenografia da peça ‘Morte e vida severina’ dirigida pelo irmão Elias Andreato, também habita sob teto puquiano, no TUCA. O entrelaçamento de duas figuras tão emblemáticas na história do Brasil, da cultura e entre si não poderia ter fim mais apropriado e familiar.
Um dos maiores artistas plásticos do Brasil, Elifas Andreato morreu nesta terça-feira (29), aos 76 anos, resultante de um infarto. Elifas dedicou grande parte da sua carreira à luta contra o totalitarismo e a defesa pela democracia no Brasil.
Elifas começou sua carreira, durante a ditadura, como estagiário na revista Abril, passando a conviver com pensadores contrários ao regime militar. Com isso, produziu o livro negro da ditadura militar, que foi exposto aos militares quando um de seus companheiros foi preso, resultando em uma perseguição ao artista.
Após essa eventualidade, saiu da revista Abril e participou da fundação do jornal semanal “Opinião”. Nessa época vivenciou a repressão diretamente dentro da redação.

Um dos seus episódios marcantes foi quando o artista resolveu desenhar o D. Paulo Evaristo Arns. O censor, que avaliou a obra, deu um tapa na cara de Elifas e o jogou em um camburão, aprisionando o artista por aproximadamente 3 horas, por conta da cor vermelha escolhida para a roupa do cardeal. Durante sua prisão, foi interrogado e sofreu com violência e humilhação.
Após ser solto, começou a ilustrar livros e se destacou com uma coleção da Ática chamada Nosso Tempo pela utilização de metáforas, com o intuito de despistar a censura. Mesmo diante da morte do seu companheiro Vladimir Herzog, com imenso medo, continuou a produzir suas obras.
Andreato lembrava da época da ditadura militar como uma fase muito difícil em sua vida e uma mancha na história do país. Entretanto, dizia que foi o período de maior fertilidade e criatividade de sua geração.
Elifas produzia artes como: capas de discos, quadros, cartazes e esculturas, procurando sempre estabelecer diante de suas obras a luta contra o autoritarismo vivenciado. Buscava, também, trazer intérpretes para suas obras e reforçar a importância da luta pela liberdade de expressão.
Elifas Andreato, artista plástico de renome, faleceu no dia de 29 de março de 2022 aos 76 anos por causas ainda desconhecidas.
Seu legado deixado fará grande falta para a cultura nacional, sendo Elifas um dos maiores artistas a dar uma cara para o MPB desde dos anos 70. Com mais de 700 ilustrações no seu portfólio, 362 artes foram dedicadas a capas de CDs e DVDs para artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Elis Regina e entre muitos outros.
Nascido em 1946 na Rolândia, interior do Paraná, Elifas Andreato teve uma criação muito simples. Em suas próprias palavras, o artista dizia que a cidade era um refúgio de judeus alemães, mas todos eram artistas e burgueses que acabaram encontrando tamanha dificuldade em se adaptar a vida com a enxada na mão. Porém o artista tomou um caminho diferente de seus familiares. Começou a vida profissional ainda muito jovem, quando se mudou para São Paulo, em 1960, para trabalhar na indústria. Ele tinha apenas 14 anos.
O ilustrador entrou em contato com uma realidade operária e conviveu com o proletariado. Inspirado na própria vivência, começou a fazer charges com conteúdo sindicalista em 1965, sendo completamente autodidata no ramo das artes visuais.

Sua história foi marcada principalmente por sua participação no ativismo contra a ditadura militar de 1964, sendo um dos fundadores da revista Placar, que fazia uma cobertura esportiva do Brasil durante o período das Diretas Já. Em entrevista para o Jornal Vermelho, o artista ressalta que se considerava um militante do futuro e das boas causas: “Sempre fui preocupado com as liberdades básicas de cada pessoa, com os direitos humanos, independente de siglas partidárias. Minha vocação é a militância, a esperança, a brasilidade. Nunca deixei de lado as estrelas, que são o emblema da esperança, sempre trabalhei para que o futuro seja mais generoso, principalmente com as crianças”.
Além de sua carreira nas artes visuais, Elifas também teve uma carreira no teatro e como dramaturgo. Algumas de suas principais obras são adaptações de Ricardo III do Shakespeare e Morte Sem Sepultura de Sartre.
“Minha arte se liga à história de minha vida, das vidas assemelhadas à minha, e serve para contar o que eu e pessoas semelhantes a mim entendemos que seja o mundo, a justiça e a liberdade”, destacou em fala ao Memorial Da Resistência de São Paulo.
Um dos principais capistas da MPB, Elifas Andreato nos deixou na manhã desta terça-feira (29), aos 76 anos. Com cores fortes e de traços únicos, as capas de Elifas expressavam a alma dos inúmeros discos, LP’s, CD’s e DVD 's. Existe despedida possível para artistas da grandeza de Andreato ?
Defensor da democracia e com obra marcada pela defesa dos direitos humanos, Andreato expande aquilo que entendemos como artista. Plural, histórico, belo, as obras de Elifas retrataram a vivacidade do Brasil em períodos que o dia era cinza, em que os anos eram chumbo.
O paranaense de Rolândia levava para as suas capas alma, uma alma multicolorida e musical. E Andreato fazia com uma sensibilidade que só alguém de alma grande conseguiria fazer, alguém que acreditava em um país daquela forma, um país multicolorido. Elifas criou a identidade visual das capas de discos do final do século XX, você talvez não saiba, mas já admirou a obra dele sem o conhecer.
O “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque, é um dos trabalhos mais conhecidos de Andreato. Hoje o Brasil acordou cantando uma faixa desse disco, “Pedaço de Mim”.
“Ó pedaço de mim
Ó metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco”
Como vamos nos despedir de Elifas e de sua obra ? Não existe despedida possível.
As ilustrações de Elifas ficam como acalento para um país arrasado por perdas recentes. Um país que tem perdido a cor. Um país pintado de ódio. A cultura brasileira não perde um símbolo, ganha uma missão.
A missão de fazer o Brasil vivo, belo e multicolorido, como Elifas Andreato fez em toda a sua vida.