Entenda como a privatização do transporte público influencia na sua segurança
por
Amanda Campos
Gabriela Blanco
Lorena Basilia
Manuela Schenk
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10/06/2025 - 12h

Após o trágico acidente na linha 5-lilás que matou um homem de 35 anos, o assunto segurança no transporte público vem sendo amplamente discutido, principalmente quando se fala das vias privadas. A reportagem a seguir fala sobre a falta de segurança na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Em entrevista à AGEMT, o especialista Igor Bonifácio responde algumas das perguntas mais recorrentes sobre o assunto. Assista. 

 

 

 

Casos de violência escolar evidenciam problemas estruturais que demandam políticas públicas urgentes
por
Eduarda Amaral
Emily de Matos
Luis Henrique Oliveira
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10/06/2025 - 12h

Em abril deste ano, uma aluna bolsista no Colégio Presbiteriano Mackenzie (CPM) foi encontrada desacordada no banheiro, após tentativa de suicídio e levada às pressas para o hospital Santa Casa de Misericórdia, no qual ficou internada durante três dias. Segundo a advogada da família, a jovem era alvo de bullying entre os colegas e comumente ouvia xingamentos como “cigarrinho queimado” e “preta lésbica”, além da frase “volta para a África”.

De acordo com a mãe da adolescente, o instituto de ensino já havia sido contactado duas vezes antes do episódio, sem que medidas concretas fossem tomadas. “Ela já vinha relatando casos de racismo dentro da escola desde maio de 2024. Ela chegava em casa chorando, dizia que não tinha amigos e era excluída. Quando a avó ia buscá-la, os outros alunos tiravam sarro dela, com xingamentos racistas”, relatou para o UOL

Em nota, o colégio informou que “está apurando cuidadosamente as circunstâncias do ocorrido, com seriedade e zelo, ouvindo todos os envolvidos no tempo e nas condições adequadas, inclusive a aluna, assim que estiver pronta para se manifestar no ambiente pedagógico”.

O caso infelizmente não é isolado e, hoje, o Brasil conta com mais de 280 mil registros de injúria racial, sendo 318 desses processos envolvendo crianças e adolescentes, conforme dados oficiais levantados pelo Escavador durante os anos de 2022 e 2025. Além disso, foram classificados 175 processos como “Bullying, Violência e Discriminação” no campo de Direito à Educação.

Colégio Mackenzie Higienópolis
Colégio Presbiteriano Mackenzie Higienópolis Foto: Reprodução/Folha deS.Paulo

O ensino privado tem como foco priorizar qualidade educacional, mas muitas instituições negligenciam a construção de relações inclusivas. Para Lanna Cristine, licencianda em linguagem pela Faculdade SESI-SP de Educação, em entrevista à AGEMT, a verdadeira qualidade educacional emerge de ambientes que acolhem todos os estudantes, independente de quem for. Ela observa que muitos estagiários sem formação específica em inclusão tentam integrar alunos ao espaço escolar, mas, na verdade, “é o espaço que precisa ser incluído para o estudante”, pontua Cristine, enfatizando a importância de estruturas institucionais receptivas. “Um espaço que promove acolhimento para o estudante vai promover, consequentemente, a aprendizagem”, conclui.

O problema não se limita apenas às instituições privadas, casos de discriminação são comumente vivenciados em escolas públicas. A última ocorrência que ganhou destaque na mídia situou-se em uma escola pública de Luziânia (GO), quando uma aluna em tratamento de câncer virou alvo de bullying na sala de aula por duas colegas. Os xingamentos – que iam desde o jeito de andar até o cabelo, que estava crescendo após a quimioterapia – afetaram o psicológico da jovem, que, segundo a irmã, “não está conseguindo dormir, não quer mais ir à escola, se sente triste, insegura e muito humilhada”, relatou em entrevista para o Metrópoles.

A Secretaria de Educação do Estado de Goiás (SEDUC-GO) informou em nota que o colégio não havia sido informado pela família da vítima sobre a situação e apenas tomou conhecimento a partir de um vídeo nas redes sociais. Ainda em nota, o órgão estadual disse que acionou o programa “Ouvir e Acolher” para investigar o ocorrido e prestar apoio psicológico para a vítima. 

Dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2019), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, revelam que 23,0% dos estudantes brasileiros se sentiram humilhados por colegas duas ou mais vezes durante os 30 dias anteriores à pesquisa. O levantamento ouviu 11,8 milhões de estudantes entre 13 a 17 anos, e mostrou a disparidade entre as escolas públicas com 50,7% de alunos e 14,5% nas instituições privadas. Características físicas motivam a maior parte das discriminações, aparência do corpo (16,5%), aparência do rosto (11,6%) e cor ou raça (4,6%). O cenário reforça a demanda por políticas efetivas de combate à violência escolar.

As denúncias de violência nas escolas brasileiras cresceram 50% em 2023, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O Disque 100 recebeu 9.530 denúncias sobre violência em instituições de ensino, superando os registros de 2022. Entre janeiro a setembro de 2023, mais de 50 mil violações de direitos humanos foram reportadas em cenários escolares, crianças e adolescentes representaram 74% dos casos envolvendo grupos vulneráveis em setembro.

Luciano Felipe da Silva, professor na EMEF Hipólito José da Costa, defende que não é apenas o ambiente educacional que precisa mudar e que, muitas vezes, os alunos já chegam com os valores deturpados, reproduzindo o que ouvem em casa. “Frequentemente recebemos responsáveis de estudantes que vem à escola registrar reclamações pelo fato de os professores trabalharem temas fundamentais, que estão no currículo, tais como escravidão e intolerância religiosa”, relatou. 

Para Lanna, é possível mudar a questão da cultura escolar a partir de uma gestão que se baseie em questões humanitárias e sociais dentro das instituições, junto de trabalhos pedagógicos que complementem e trabalhem com os alunos como superar a cultura da violência e da intolerância com o diferente. Ela explica que “toda violência que acontece na sala de aula precisa de uma prática inclusiva que parta não de situações, mas de uma missão humanitária. Além de estudantes, eles [alunos] são pessoas em formação, tanto a vítima quanto o agressor, e precisam ser educados para respeitar as diferenças não só no âmbito educacional, mas na sociedade em si”. 

O combate ao racismo e ao bullying no ambiente escolar exige ação constante e políticas públicas efetivas. Como destaca Luciano, “É um trabalho contínuo, a partir da realidade em que eles vivem. Um cidadão pode levar isso para o local em que está inserido e ser um agente de transformação no território.” Enquanto isso não se torna prioridade em todas as esferas educacionais, estudantes de todas as classes sociais seguem sendo vítimas de uma sociedade que ainda não aprendeu a educar sem excluir.

O cantor porto-riquenho Bad Bunny conquistou sucesso no país por meio de trend no Tiktok
por
Mariane Beraldes
Thainá Brito
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10/06/2025 - 12h

Artistas latinos dominam as paradas mundialmente, mas no Brasil, a presença só cresce impulsionada por trends no TikTok. Bad Bunny e a capa de seu novo álbum "Debí Tirar Más Fotos" confirma isso. Sua música viralizou na plataforma com a produção de memes e vídeos curtos em Janeiro de 2025. "DTMF", uma de suas músicas que ficou famosa, finalmente fez o artista aparecer entre as mais ouvidas no Spotify Brasil, um cenário marcado pela forte presença do funk e sertanejo. 

Rafael Silva Noleto, antropólogo, cantor e compositor, além de professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, em entrevista à AGEMT, explica o porquê do Brasil, mesmo tão próximo geograficamente, não ter costume de ouvir música hispânica. Apesar dos sinais de mudanças no país, ainda há resistência por parte do público brasileiro em consumir músicas em espanhol.

Circo de rua no Ceará leva alegria e risadas em quatro rodas
por
Juliana Bertini de Paula
Maria Eduarda Cepeda
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09/06/2025 - 12h

Em 2019, Henrique Rosa e Amanda Santos, um casal de artistas no Ceará, voltavam depois de mais um expediente de espetáculos que faziam como palhaços no Parque Aquático de Aquiraz, quando uma ideia, misturada com um sonho, dá origem a um projeto: um circo itinerante em um fusca. Na entrevista, conhecemos mais sobre a história do projeto e seu trabalho pelas ruas do Ceará. 

 

Entenda como as redes sociais podem afetar o desenvolvimento psicológico dos jovens
por
Julia Naspolini
Liz Ortiz
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09/06/2025 - 12h

Recentemente, as redes sociais foram tomadas por uma “treta teen”. Por dois dias o grande assunto entre adultos e adolescentes foi uma briga envolvendo um grupo de meninas tiktokers. Liz Macedo, Antonella Braga, Júlia Pimentel e Duda Guerra, jovens na faixa de 15, 16 anos, que somam milhões de seguidores nas redes e tiveram um desentendimento envolvendo os namorados, levando a discussão para internet ao gravarem pronunciamentos de suas versões.

Pelo grande número de seguidores, a história viralizou, levando a rede a se dividir em lados na briga e fazendo com que as meninas recebessem muitos comentários de ódio. Toda essa polêmica fez muitos pais se preocuparem com essa superexposição digital que os jovens presenciam. É inegável que as redes sociais têm se expandido cada vez mais entre o público juvenil - tanto no consumo do conteúdo, quanto na produção dele. No mundo de hiperconexão é difícil impedir que as crianças tenham contato com a internet, mas é necessário que haja algum controle, ou no mínimo uma orientação parental do que os filhos estão consumindo ou produzindo.

Foto de Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Duda Guerra, Julia Pimentel, Liz Macedo e Antonella Braga
Foto:Reprodução Instagram

Crescer já é, por si só, um processo delicado. Agora, crescer lidando com uma plateia invisível que pode curtir, compartilhar e criticar suas ações, leva a vulnerabilidade da adolescência a um novo nível.  A internet é uma terra de ninguém, onde há muita desinformação e muitas pessoas escondidas no anonimato que não possuem filtro algum para xingamentos. 

Antes das redes sociais,  cada um era exposto a uma quantidade pequena de pessoas. Hoje, com a vida online tudo que é postado de forma pública, pode ser acessado e comentado por qualquer um. Durante a fase de desenvolvimento em que o cérebro busca constante aprovação, essa superexposição pode ser  extremamente prejudicial à saúde mental, podendo levar o adolescente a desenvolver transtornos como a ansiedade e a depressão.

Além das plataformas digitais reforçarem uma autoimagem baseada na aprovação externa, onde os jovens buscam validação através de curtidas e comentários, elas também fazem com que eles consumam as postagens de outras pessoas que podem gerar constantes comparações com padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade. 

A psicóloga Bruna Marchi Moraes, formada pela Faculdade São Francisco, em entrevista à AGEMT, comenta sobre a diferença entre o uso saudável da internet e de um uso prejudicial. Para Bruna, "o uso saudável é aquele que é intencional, equilibrado e supervisionado — contribui para aprendizado, lazer e socialização, sem substituir as experiências offline. Já o uso prejudicial envolve excesso de tempo de tela, isolamento, consumo passivo de conteúdo, dependência emocional das redes e prejuízo nas atividades do cotidiano como sono, escola e convívio familiar".

A autoestima não é o único aspecto abalado pela exposição em excesso às redes sociais, ela pode afetar também a forma que o adolescente se relaciona com os outros, gerar mudanças bruscas de humor, isolamento, queda no rendimento escolar, desinteresse em atividades que antes eram prazerosas e irritabilidade. Bruna ainda alerta que “estudos apontam correlações entre uso excessivo de telas desde cedo e sintomas de ansiedade, depressão e dificuldades de atenção. A hiperestimulação digital pode afetar o funcionamento do cérebro em desenvolvimento, especialmente em crianças com predisposições genéticas ou ambientais para esses transtornos.”

Para evitar que uma ferramenta valiosa como a internet se transforme em algo negativo, ela defende que o papel dos pais, é  de orientar, supervisionar e modelar o uso responsável da internet. Limites saudáveis envolvem horários pré-estabelecidos, escolha de conteúdos adequados, conversas abertas sobre os riscos e incentivo a atividades offline. Mais do que proibir, é importante ensinar o uso consciente e equilibrado.

Um recado de Bruna aos adolescentes, “Gostaria que soubessem que a internet pode ser uma ferramenta incrível, mas também pode influenciar seus pensamentos, emoções e autoestima de maneira sutil e profunda. Que não precisam se comparar com os outros o tempo todo, e que os momentos desconectados também são essenciais para se conhecer, descansar e crescer com mais equilíbrio”.

Organizado por 16 entidades, o evento aconteceu nesta terça-feira (27) na PUC-SP
por
Maria Ferreira dos Santos
Sônia Xavier
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28/09/2022 - 12h

Muitas vezes o exercício jornalístico envolve a investigação e a publicação daquilo que determinados grupos não querem que seja revelado, o resultado disso é a perseguição a esses profissionais.

Ontem (27) o “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” destacou um grupo específico de perseguidores e perseguidos: os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) e mulheres jornalistas. 

 

Cartazes com os dados do recente relatório sobre a violência sofrida pelos jornalistas foram colados nas paredes do auditório onde a cerimônia foi realizada. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Cartazes com os dados do recente relatório sobre a violência sofrida pelos jornalistas foram colados nas paredes do auditório onde a cerimônia foi realizada. Foto: Maria Ferreira dos Santos

De acordo com a Fenaj ( Federação Nacional dos Jornalistas), uma das associações convocadoras do ato, o ano de 2021 registrou recorde de registros de ataques aos profissionais e aos veículos de comunicação. Cerca de 34,19% desses ataques foram promovidos pelo próprio presidente da República.

 

Dados de 2021 do Relatório de Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil. Levantamento pode ser lido através do link. Fonte: Fenaj
Dados de 2021 do Relatório de Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil. Levantamento pode ser lido através do link. Fonte: Fenaj

As jornalistas Patrícia Campos Mello e Bianca Santana, vítimas desse desrespeito do presidente Bolsonaro e seus apoiadores, estiveram presentes no encontro de maneira remota. Em sua fala, Patrícia relembrou a série de ataques que sofreu em 2018, após a publicação da série de reportagens sobre campanhas de desinformação.

Patrícia ainda relatou que as agressões iam de montagens de fotos a ataques diretos a sua integridade física. “Pessoas que ligavam pro meu celular dizendo que iam dar um murro na minha cara, mensagens dizendo que eu deveria sair do país se quisesse a segurança do meu filho [...] chegou um momento que eu não podia sair de casa porque eu tinha medo”, desabafou.

Em conjunto com a Fenaj, outras organizações convocaram a cerimônia, sendo essas: o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP),  Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Repórteres sem Fronteiras (RSF), Instituto Vladimir Herzog, Associação Profissão Jornalista (ApJor), Barão de Itararé, Intervozes, Centro Acadêmico Vladimir Herzog (Cásper Líbero), Centro Acadêmico Benevides Paixão (PUC-SP). Ademais, tiveram a participação de corporações da sociedade civil entre eles o Grupo Prerrogativas, CONDEPE(Conselho Estadual de direitos da Pessoa Humana), OAB e o Grupo Tortura Nunca Mais.

A jornalista Cláudia Tavares enquanto presidia a mesa no “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” nesta terça-feira (27) na PUC-SP. Foto: Maria Ferreira dos Santos
A jornalista Cláudia Tavares enquanto presidia a mesa no “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” nesta terça-feira (27) na PUC-SP. Foto: Maria Ferreira dos Santos

A mesa foi presidida por Cláudia Tavares, integrante da diretoria do SJSP, e foi composta por  Fábio Cypriano, diretor da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC (Faficla), Diogo de Holanda, coordenador do curso de jornalismo da universidade, Thiago Tanji, presidente do SJSP, Paulo Zocchi, vice-presidente da Fenaj (que representou também todas as demais entidades organizadoras do evento), Ana Amélia Camargos, representante do grupo prerrogativas, Natália Cristóvão, advogada da OAB, Ariel de Castro Alves, advogado representante do Grupo Tortura Nunca Mais e a vice-diretora do Centro Acadêmico Benevides Paixão (BENÊ), Maria Clara Alcântara. 

Na sua fala, Maria Clara apontou a importância da defesa da democracia para o jornalismo brasileiro. "É impossível fazer jornalismo num país que não exista a democracia, principalmente como mulheres, porque eles atacam a gente não somente pela profissão, mas duvidam do nosso caráter e nos atacam diariamente no âmbito pessoal e profissional”, afirmou a estudante.

Sob essa perspectiva, a organização do evento exibiu um vídeo com depoimentos de oito jornalistas mulheres, de diferentes veículos, sobre as violências que sofrerem devido ao seu gênero e sua carreira. A gravação contou com depoimentos de Carla Vilhena, Flávia Oliveira , Josi Gonçalves, Amanda  Audi, Paula Guimarães, Tatiana Dias, Tai Nalon e Juliana Dal Piva.

As mulheres viraram o principal foco dos ataques direcionados à imprensa, retrato que se ampara na misoginia da sociedade brasileira. A situação fica ainda mais tensa e intensa, como apontou Flávia Oliveira, d’O Globo, se a profissional for negra.

O depoimento de Bianca Santana foi o último a ser apresentado e logo depois a representante da Abraji, Cristina Zahar leu o documento preparado pelas entidades organizadoras que lembrou os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, enquanto realizavam seu trabalho na Amazônia em junho deste ano. 

Representantes das 16 entidades convocadoras do Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Representantes das 16 entidades convocadoras do Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia. Foto: Maria Ferreira dos Santos

 

O evento aconteceu no TUCA, teatro da universidade, na 5a.feira - 22/09, e contou com a participação de representantes da sociedade civil e da comunidade universitária.
por
Maria Ferreira dos Santos
Artur dos Santos
Danilo Zelic
Yasmin Solon
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23/09/2022 - 12h

De 1964 a 1985, o Brasil estava sob regime militar e, por isso, havia forte repressão a qualquer movimentação política. Com isso em mente, em 1977, estudantes se organizaram para driblar os militares para que conseguissem realizar o III Encontro Nacional dos Estudantes (ENE), organizado pela UNE (União Nacional dos Estudantes), marcado para o dia 22 de setembro. O plano de fazer com as tropas acreditassem que o evento estaria acontecendo na USP foi bem sucedido por um tempo, mas assim que descobriram a manobra a infantaria tratou de ir ao local verdadeiro.

Ao encontrar os universitários reunidos diante do TUCA (Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), os militares começaram a dispersar as pessoas com extrema violência, aos que participavam do Ato restou passarem por uma “triagem”, para identificar seus antecedentes e serem ou não conduzidos ao Departamento de Ordem e Política e Social (DOPS). O ambiente passou de um ato de resistência para um centro de tortura e violência a céu aberto. Como relembra o então aluno e agora  professor do curso de jornalismo na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Norval Baitello. “Entraram para quebrar mesmo”,afirmou em entrevista à AGEMT sobre as salas de aula e equipamentos destruídos pelos agentes.

Matéria do jornal O Estado de S. Paulo sobre a invasão à PUC-SP comandada pelo Coronel Erasmo Dias. Foto: Acervo Estadão.
Matéria do jornal O Estado de S. Paulo sobre a invasão à PUC-SP comandada pelo Coronel Erasmo Dias. Foto: Acervo Estadão.

A memória marcante do docente é compartilhada entre as demais pessoas presentes durante essa violação. Com o objetivo de evocar essas lembranças, a PUC-SP em parceria com o Prerrô (Grupo Prerrogativas) e o Washington Brazil Office realizou o “PUC pela democracia” nesta quinta-feira (22), há exatos 45 anos do desrespeito militar.

Uma apresentação do Coral do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras) abriu o ato, mediado pelo jornalista Chico Pinheiro, enquanto a Bateria 22, do curso de direito, tocava em frente ao TUCA. Na presença de figuras importantes na luta pelo Estado Democrático de Direito, como ex-ministros, professores e estudantes da época da invasão, a PUC-SP declarou estar em “estado de vigilância permanente pela democracia”. 

Cristiane Fairbanks, presidenta da APG (Associação dos Alunos de Pós-Graduação da PUC-SP), e o jornalista Chico Pinheiro seguravam bandeira do Brasil em ato em prol da democracia. Foto: Laura Mafra Boechat.
Cristiane Fairbanks, presidenta da APG (Associação dos Alunos de Pós-Graduação da PUC-SP), e o jornalista Chico Pinheiro seguravam bandeira do Brasil em ato em prol da democracia. Foto: Laura Mafra Boechat.

A maioria das pessoas que discursaram na cerimônia frisou a questão das prisões e perseguições do Regime Cívico Militar e, consequentemente, sofridas pelos militantes da instituição. O público prestou homenagem aos estudantes assassinados durante o período e demonstrou repulsa e resistência ao governo Bolsonaro e suas ações antidemocráticas.“As mesmas forças que tentaram invadir a PUC naquela época são as que ameaçam uma ditadura hoje. E nós não vamos aceitar isso”, declarou o jornalista José Arbex. No saguão do Tuca, estavam expostas fotografias da invasão de 1977, do fotojornalista Hélio Campos Mello.

Na ocasião, o jornalista Juca Kfouri afirmou estar emocionado, não só  pelo ato ocorrido naquele mesmo lugar há 45 anos, mas também pelo apelo sentimental ao se lembrar da tia, Nadir Gouvêa Kfouri, então reitora da Pontifícia. Isso porque quando Erasmo Dias, o coronel responsável pelo batalhão invasor e, na época, Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, foi cumprimentar a professora, ela o deixou  “com a mão no ar”, pois não daria sua mão a assassinos. 

”A luta é permanente" declarou a atriz e aluna da PUC-SP em 1977, ano da invasão militar, Tuna Dwek, no evento “PUC pela Democracia”. Foto: Laura Mafra Boechat
”A luta é permanente" declarou a atriz e aluna da PUC-SP em 1977, ano da invasão militar, Tuna Dwek, no evento “PUC pela Democracia”. Foto: Laura Mafra Boechat

Outra notável personalidade da luta pelo fim da ditadura foi aclamada, a de Dom Paulo Evaristo Arns. “Quero dizer que, no dia da invasão, ela [Nadir Kfouri] foi a grande voz e esteve o tempo todo presente com dignidade excepcional. Deve ser modelo para todos nós”, afirmou a professora de direito Silvia Pimentel, também atuante durante o ocorrido em 1977. “A invasão foi, não apenas em função de movimentações nossas, mas relacionada à reitoria que a PUC tinha. Essa dupla [Dom Paulo e Nadir Kfouri] é o exemplo maior de toda uma vida”, completou.

Além de rememorar a invasão, outra temática do evento foi o cenário atual pelo qual a PUC-SP está passando. Há duas semanas, todo o corpo docente da universidade recebeu um salário com 10% a menos de seu valor integral. Unilateralmente, a Fundação São Paulo (FUNDASP), mantenedora da Pontifícia, computou 4,5 semanas mensais aos salários que eram calculados em cima de 5 semanas desde 1987 - tempo que o qualifica como Direito Adquirido dos professores.

A Associação dos Professores da PUC-SP classificou a medida de antidemocrática e contestou o corte. Em apoio, o Movimento Estudantil da PUC-SP realizou  no dia 15 deste mês um ato em solidariedade à causa dos professores com a união não só dos Centros Acadêmicos e Entidades Estudantis, mas dos três setores da Universidade: estudantes, professores e funcionários. Na ação foi questionada a conduta da FUNDASP, além de defendida a saída dessa da gestão da PUC, junto à saída do Gestor Padre Rodolpho Perazzolo de seu posto. 

Dentre os discursos do evento da manhã de 22 de setembro, uma carta redigida pelo Movimento Estudantil e lida por Camilo Mota, representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, apresentou indignação diante de tais condutas antidemocráticas da FUNDASP.  “A democracia não deve ser só dos portões pra fora”, afirma a carta. 

Representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, Camilo Mota, durante leitura da carta do Movimento Estudantil. Foto: Laura Mafra Boechat.
Representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, Camilo Mota, durante leitura da carta do Movimento Estudantil. Foto: Laura Mafra Boechat.

Próximo ao final do evento, a organização foi informada de que viaturas da Polícia Militar estavam em frente ao TUCA. Os policiais teriam sido acionados por uma transeunte que afirmou que um dos quatro meninos negros que estavam vendendo balas na região estaria portando uma faca. Estes meninos foram abordados, e, durante a revista, a advogada Jaqueline Pereira se disse responsável pelos menores.

Denúncia de menino com arma branca torna-se motivo de confusão no lado de fora do TUCA durante “PUC pela Democracia” nesta quinta-feira (22). Foto: Edson Reis.
Denúncia de menino com arma branca torna-se motivo de confusão no lado de fora do TUCA durante “PUC pela Democracia” nesta quinta-feira (22). Foto: Edson Reis.

Quando questionada de sua profissão, ela se recusou a entregar ao agente sua carteira da OAB, um dos policiais responsáveis pelo enquadro retirou o documento bruscamente das mãos de Pereira, que, por sua vez, o acusou de ser racista. Durante toda a deliberação e discussão sobre o ocorrido, diversos professores presentes se inteiraram do assunto. Durante o conflito, os meninos ainda não tinham sido liberados e estavam em linha, com as mãos atrás das costas. 

A polícia, não havendo encontrado a arma branca na posse de nenhum dos meninos, os liberou e, segundo fontes contaram à AGEMT, deu Voz de Prisão a Jaqueline Pereira, que, não querendo ir à delegacia de “camburão”, foi dentro de um carro de uma das testemunhas presentes durante a abordagem.

Policiais enquadram quatro jovens negros devido a denùncia de porte de faca. Nenhum deles estava armado e foram liberados depois. Foto: Edson Reis.
Policiais enquadram quatro jovens negros devido a denúncia de porte de faca. Nenhum deles estava armado e foram liberados depois. Foto: Edson Reis.

 

Apesar do destaque às eleições, o evento da Jeduca colocou em sua programação temas como Lei de Cotas, dificuldades educacionais na Floresta Amazônica, impactos da pandemia, entre outros.
por
Maria Ferreira dos Santos
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15/09/2022 - 12h

A Jeduca (Associação de Jornalista de Educação) realizou nos dias 12 e 13 neste mês o 6° Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, que teve como tema “Eleições e a cobertura de educação nos próximos anos”. Entretanto, o evento também abordou assuntos como Lei de Cotas, o escândalo dos pastores no MEC, educação na Amazônia, entre outros.

Após dois anos sendo realizado de maneira online, a edição deste ano optou pelo formato híbrido, isto é, era possível assistir de casa as palestras que aconteciam no Teatro Fecap, localizado no Bairro Liberdade, em São Paulo.

17 atrações, entre palestras e oficinas, foram divididas ao longo desses dois dias.

Da esquerda para direita: Nelson Marconi, Rossieli Soares, Reginaldo Lopes, Antônios Gois e Renata Cafardo. Foto: Maria Ferreira dos Santos.
Da esquerda para direita: Nelson Marconi, Rossieli Soares, Reginaldo Lopes, Antônios Gois e Renata Cafardo. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

A primeira delas teve como eixo a relação da educação na disputa presidencial. Para isso, os jornalistas da Jeduca, Antônio Gois e Renata Cafardo, convidaram representantes das quatro candidaturas melhores colocadas na pesquisa. Dessa forma, Lula (PT), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) foram representados pelo deputado Reginaldo Lopes (PT), o ex-ministro Rossieli Soares e o economista Nelson Marconi, respectivamente. A equipe de Jair Bolsonaro (PT) nem mesmo respondeu ao convite da Associação.

Paulo Saldaña, jornalista da Folha de S.Paulo,  Paula Ferreira, do jornal O Globo, Breno Pires, repórter da Revista Piauí e Tatiana Klix, diretora da plataforma Porvir e da Jeduca, respectivamente, da esquerda para a direita. Foto: Malu Araujo
Paulo Saldaña, jornalista da Folha de S.Paulo,  Paula Ferreira, do jornal O Globo, Breno Pires, repórter da Revista Piauí e Tatiana Klix, diretora da plataforma Porvir e da Jeduca, respectivamente, da esquerda para a direita. Foto: Malu Araujo

A segunda mesa, por sua vez, debruçou-se sobre o trabalho de grandes veículos de comunicação para a revelação do escândalo do MEC (Ministério da Educação), revelado no primeiro semestre deste ano e que culminou na demissão de Milton Ribeiro, ex-ministro da pasta. Nessa ocasião, os palestrantes convidados reforçaram a importância de investigações coletivas. Diante disso, o  jornalista Paulo Saldaña, da Folha de S. Paulo, afirmou: “O jornalismo resgata a sua missão mais nobre que é a de revelar aquilo que o poder quer esconder”.

Kátia Schweickardt, Raimundo Kambeba e Karina Yamamoto, respectivamente, da esquerda para direita, no 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Kátia Schweickardt, Raimundo Kambeba e Karina Yamamoto, respectivamente, da esquerda para direita, no 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação. Foto: Maria Ferreira dos Santos

Em seguida, os professores Raimundo Kambeba e Kátia Schweickardt conversaram com Karina Yamamoto, membro do Comitê da Jeduca, sobre os desafios de lecionar na Floresta Amazônica. Uma das questões levantadas pelos educadores foi a da padronização do ensino, eles defenderam que não há como uma pessoa de Manaus ter as mesmas necessidades  educacionais que alguém de São Paulo, é imprescindível refletir sobre as particularidades locais.

Ademais, os palestrantes evidenciaram a ausência de coberturas jornalísticas nesse território. Em entrevista à AGEMT, Kambeba afirmou que falar da educação amazônica num congresso desse porte é de grande importância, pois “vão começar a olhar a educação da Amazônia de uma forma mais respeitosa e mais organizada [...] um evento como esse faz com que haja uma visibilidade maior para o processo de educação que queremos”.

Da esquerda para direita estão Luiz Augusto Campos, Luanda de Moraes, Dyane Brito Reis e Pedro Borges durante a palestra “Dez anos de Lei de Cotas: aprendizados e desafios” no 6° Congresso Jeduca. Foto: Maria Ferreira dos Santos.
Da esquerda para direita estão Luiz Augusto Campos, Luanda de Moraes, Dyane Brito Reis e Pedro Borges durante a palestra “Dez anos de Lei de Cotas: aprendizados e desafios” no 6° Congresso Jeduca. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Além da diversidade regional, a conferência contou com a representatividade racial em diferentes momentos, como nas palestras “Do Quarto de Despejos às escolas”, “O que jornalistas de educação devem priorizar na cobertura de eleições?”, “Educação com escolas fechadas: experiências internacionais”, “Jornalismo, leveza e humor: a educação sob diferentes abordagens”. Uma em especial discutia os aprendizados e desafios dos dez anos de Lei de Cotas, nela estavam presentes o professor de sociologia  Luiz Augusto Campos, a doutora em educação Dyane Brito Reis, Luanda de Moraes, a primeira reitora negra da Uezo (Centro Universitário Estadual da Zona Oeste), no Rio de Janeiro, e o editor-chefe do portal Alma Preta, Pedro Borges.

Outro ponto interessante do seminário foi a participação de jornalistas de diferentes lugares, caso de Allan Arroyo Castro, Erick Juárez Pineda, Paula Casas Mogollón, Patience Atuhaire e Kalyn Belsha que são, respectivamente, da Costa Rica, México, Colômbia, Uganda e Estados Unidos.

 

O maior evento de jornalismo investigativo da América Latina teve formato misto e abrangente com foco em temas atuais.
por
Maria Ferreira dos Santos
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08/08/2022 - 12h

O Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo deste ano teve formato híbrido após dois anos remoto. O evento promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) desde 2005, começou nesta quarta(03) e acabou hoje(07). 

Os primeiros dias de conferência foram gratuitos e online, as palestras transmitidas ficarão disponíveis até o dia 07 de setembro. Enquanto a programação dos demais dias aconteceu no campus da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), localizado em Higienópolis, São Paulo, com entrada mediante compra de ingresso e sem qualquer transmissão virtual.

Segundo Cristina Zahar, diretora-executiva da Abraji, o fato de parte do evento ter sido feito via web e gratuitamente não afetou a qualidade do conteúdo, tampouco recebeu menos dedicação da diretoria. Na abertura do Congresso, a presidente da Associação, Natalia Mazotte, afirmou que vê nesse modelo uma “oportunidade imensa de incluir mais jornalistas e estudantes de todo Brasil”. Mazotte acrescentou que o seminário teria 100 atividades e mais de 250 palestrantes e mediadores.

 

Cristina Zahar,  diretora-executiva da Abraji, em conversa com o estudante Camilo Mota, participante do Projeto Repórter do Futuro, da Oboré. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Cristina Zahar,  diretora-executiva da Abraji, em conversa com o repórter Camilo Mota. Foto: Maria Ferreira dos Santos

 

O estudante de jornalismo da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Jonathan Monteiro fez questão de participar do congresso e por isso veio do Rio Janeiro à São Paulo numa viagem de ônibus que durou seis horas. Quando questionado se a viagem valeu a pena, Jonathan hesitou ao dizer que sim, pois em determinada palestra na sexta-feira, alegou ser o único preto presente. “Agora no segundo dia [sábado, 06], a gente já vê mais pessoas pretas e pardas”, completou o universitário. As pautas da comunidade preta, inclusive, foram temas de painéis do evento.

As mesas proporcionadas dialogavam diretamente com as necessidades e os acontecimentos atuais. Com foco no panorama eleitoral, a violência contra jornalistas, a cobertura climática, ameaças à democracia, o cenário político de países da América Latina, a Guerra na Ucrânia, combate à desinformação e checagem de fatos.

Também aconteceram atividades que debatiam sobre o modo midiático de retratar pessoas de grupos sub-representados, como indígenas, pretos, mulheres e a comunidade LGBTQIAP+. Câe Vasconcellos, jornalista e autor do livro “Transresistência: pessoas trans no mercado de trabalho”, esteve presente no painel “A cobertura da pauta trans no Brasil” e comentou do seu desejo de ver mais histórias positivas de pessoas trans sendo compartilhadas e ganhando espaço no jornalismo.

Ademais, ao longo desses cinco dias foi lembrada a trajetória de Tim Lopes, repórter assassinado enquanto fazia uma reportagem sobre o abuso de poder no tráfico de drogas no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. A criação da Abraji foi justamente uma resposta ao que aconteceu com Tim, por isso, a celebração dos vinte anos da instituição o homenageou, além de convidar sua família e colegas de profissão para compor os debates sobre os temas de seus trabalhos.

 

Jornalista Marcelo Moreira durante a palestra “20 anos da morte de Tim Lopes: o que mudou na cobertura das periferias?“ neste sábado (06) no 17° Congresso ABRAJI. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Jornalista Marcelo Moreira durante a palestra “20 anos da morte de Tim Lopes: o que mudou na cobertura das periferias?“ neste sábado (06) no 17° Congresso Abraji. Foto: Maria Ferreira dos Santos

Em entrevista exclusiva, Fernando Molica, um dos fundadores da Abraji, declarou que estava achando o evento fantástico. ”A gente nunca imaginou que a ABRAJI teria essa dimensão”, Molica ainda brincou dizendo que “dá até vontade sair daqui e ser jornalista”. 

Infelizmente, Tim Lopes não é o único repórter a ser assassinado por conta da profissão, muito pelo contrário, vários convidados afirmaram que recebem ou já receberam ameaças, provando que esse cenário de retaliação à imprensa está longe de mudar. A última atração do sábado (06) foi “Dom Phillips e Bruno Pereira: como chegamos até aqui"; em seu início, houve a apresentação de diversos nomes de jornalistas que faleceram nos últimos doze meses, sendo que muitos têm como causa da morte a mesma que Dom, Bruno e Tim: o desejo de mostrar aquilo que querem esconder.

Por ter uma magnitude internacional, diversos convidados eram de outros países como é o caso de Mattia Fossati, jornalista italiano e autor do livro “Narcos Carioca:  Una Storia di Mafie e Favelas”. Fossati se sentiu honrado pelo convite e confessou que até ficou nervoso para sua palestra, entretanto reforçou a importância da ocasião.  “Porque estamos passando por um ataque muito forte contra a liberdade de imprensa, é fundamental estar aqui”, explicou.

Fossati participou de uma mesa presencial, bem como o salvadorenho Carlos Dada, fundador e diretor do site de notícias El Faro, Jennifer Ortiz, fundadora do Nicaragua Investiga, Ben Welsh, editor do Departamento de Dados e Gráficos do Los Angeles Times e Haley Willis, jornalista do New York Times.

 

Ben Welsh, editor do Departamento de Dados e Gráficos do Los Angeles Times, e Natalia Mazotte, presidente da Abraji neste sábado (06) durante palestra. Foto: Maria Ferreira dos Santos.
Ben Welsh, editor do Departamento de Dados e Gráficos do Los Angeles Times, e Natalia Mazotte, presidente da Abraji neste sábado (06) durante palestra. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Já a versão online contou com a participação dos noruegueses Natalie Remøe Hansen, Erlend Ofte Arntsen, Kristoffer Kumar, autores da reportagem que deu origem ao documentário O Golpista do Tinder (Netflix); a peruana Paola Ugaz e as mexicanas Maria Teresa Montaño Delgado e Gabriela Martinez participaram da mesa “Ameaças a mulheres jornalistas na América Latina”;  o francês Laurent Richard, diretor do Projeto Pegasus, da Forbidden Stories, que revelou a espionagem de ativistas e jornalistas por governos; as ucranianas Katerina Sergatskova e Sevgil Musayeva, que estão cobrindo a guerra. E Julia Angwin, estadunidense fundadora da The Markup, criada para investigar o uso dos algoritmos na sociedade; o engenheiro Christopher Bouzy, do Bot Sentinel, focado no combate à desinformação.

”Imprensa livre é livre de ataques” é a frase que passa antes de começar as transmissões online do 17° Congresso de Jornalismo Investigativo”. Foto: Maria Ferreira dos Santos.
”Imprensa livre é livre de ataques” é a frase que passa antes de começar as transmissões online do 17° Congresso de Jornalismo Investigativo”. Foto: Maria Ferreira dos Santos.

Tanto nos chats das transmissões quanto nos espaços da FAAP, foi possível observar a forte presença de estudantes de jornalismo. Isso é fundamental, segundo o Coordenador do Núcleo Investigativo da CNN Brasil, José Brito, pois o congresso proporciona o conhecimento da existência de “técnicas e ferramentas que podem ser implantadas no dia a dia [do jornalismo investigativo]  vai ajudar” a formar esses futuros profissionais.

Com exclusividade aos repórteres Camilo Mota e Maria Ferreira dos Santos, a jornalista do UOL Juliana Dal Piva aconselhou aos profissionais em pré-serviço para não terem pressa de trabalhar. “Aproveitem muito esse momento para estudar porque vai chegar a hora montar a mão na massa”, esclareceu Dal Piva.

O conselho de Juliana aos estudantes de jornalismo junta-se com as dicas dadas pela Adriana Farias em sua conta no instagram @jornalismoinvestigativo9. Ambas as profissionais estavam como palestrantes na conferência, Farias disse que foi uma honra ter recebido o convite para participar, pois para ela esse é o congresso mais importante da área e, consequentemente, o mais esperado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acabou neste domingo (10/07) a 26° Bienal Internacional do Livro de São Paulo, localizado no Expo Center Norte o evento teve início sábado (02) após quatro anos sem acontecer.
por
Maria Ferreira dos Santos
Sônia Xavier
Malu Araújo
|
10/07/2022 - 12h

Depois de uma lacuna de quatro anos devido a pandemia de Covid-19, a Bienal do Livro finalmente ganhou uma nova edição. A feira literária que aconteceu entre os dias 02 e 10 de julho tinha como previsão receber 500 mil visitantes nos 65 mil m² de ocupação do Expo Center Norte.

Além de ter contado com 185 expositores, o evento também teve uma programação cultural de cerca de 1300 horas, distribuídas por mais de 800 atrações. E o que mais os leitores queriam eram os encontros diretos com os autores para conseguir o sonhado autógrafo. A organização preferiu distribuir senhas através de seu site que se esgotaram rapidamente. Mesmo assim, formaram-se imensas filas nas mesas dos escritores, com direito a aglomeração de pessoas tanto dentro quanto fora da Bienal.

O evento dividiu as atrações em oito espaços, trazendo programações multiculturais entrelaçadas com a literatura. A Arena Cultural, por exemplo, foi pensada para gerar contato do visitante com autores nacionais e internacionais. Entre os convidados estavam nomes como Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, a jornalista Miriam Leitão, a empresária Nathalia Arcuri e o escritor Maurício de Souza.

O escritor Maurício de Souza na Arena Cultural da Bienal do Livro no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos
O escritor Maurício de Souza na Arena Cultural da Bienal do Livro no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos

Já o Cozinhando com Palavras apresentou o universo gastronômico com chefs, jornalistas e autores ligados ao ramo. O local permitiu aos visitantes interações por meio de palestras,  mesas de autógrafos e, ainda, degustações de pratos preparados durante os bate-papos. 

O Espaço Infantil, por sua vez, contou com programação para toda a família, com narrações de histórias, oficinas temáticas e atividades de curta duração. O ambiente foi marcado por debates relacionados à inclusão com foco no público infantil, como na mesa "Apresentação de Personagens Inclusivos - Dorinha e Luca'', personagens com deficiência criados por Maurício de Souza, e a “Roda de Leitura em Braille”. 

 

Com curadoria da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sesc São Paulo, o Salão de Ideias foi planejado para promover discussões sobre questões de grande relevância social e cultural. Feminismo, política, empreendedorismo e literatura periférica foram alguns dos assuntos abordados nas palestras.

Entrada do Salão de Ideias na Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Entrada do Salão de Ideias na Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos

O Sesc contou com três espaços distintos no evento,além da curadoria do Salão de Ideias, dispôs do Auditório das Edições Sesc no qual apresentou discussões sobre temas como os 

100 anos da Arte Moderna, racismo, games e sexualidade, e contou com nomes como Rita Von Hunty, Edney Silvestre e Eliete Negreiros. Já os Bibliosescs - Praça da História e Praça da Palavra-  foram palcos para atividades como saraus, contação de histórias e apresentações musicais. 

 Encenação da peça infantil “A Bruxinha” no Bibliosesc - Praça da História. Foto: Malu Araújo
Encenação da peça infantil “A Bruxinha” no Bibliosesc - Praça da História. Foto: Malu Araújo

Cordel e Repente trouxe conteúdos relacionados ao universo da produção de cordéis e da xilogravura. O espaço teve intenso cronograma de apresentações musicais, declamação de cordéis, shows e outras atividades relativas ao tema.

Fachada do espaço Cordel e Repente na Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Fachada do espaço Cordel e Repente na Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos

O Papo de Mercado, com curadoria a cargo de Leonardo Neto, foi palco para bate-papos referentes ao âmbito editorial entrelaçados com tecnologia, sustentabilidade e adaptações do universo literário para o audiovisual. Mayra Lucas, Juliano Griebeler e Bruna Vieira foram personalidades que passaram pelo espaço.

Papo de Mercado durante a palestra “Direitos de Autor em Tempos de Blockchain, Inteligência Artificial, NFT e Metaverso”, na mesa estão Gustavo Martins de Almeida, Fernanda Gomes Garcia, Jens Klingelhöfer e Fredy Forero, da esquerda para a direita. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Papo de Mercado durante a palestra “Direitos de Autor em Tempos de Blockchain, Inteligência Artificial, NFT e Metaverso”, na mesa estão Gustavo Martins de Almeida, Fernanda Gomes Garcia, Jens Klingelhöfer e Fredy Forero, da esquerda para a direita. Foto: Maria Ferreira dos Santos

O Pavilhão do convidado de honra deste ano, Portugal, foi cenário para interseções entre a cultura portuguesa e brasileira. Houve conversas sobre as particularidades de ambas as literaturas, espaço para bate-papos entre editores brasileiros e portugueses e diálogos sobre os 200 anos de Independência. 

Troca de presentes, realizada no Pavilhão de Portugal, entre o escritor timorense Luís Cardoso e o brasileiro Cristino Wapichana. Foto: Sônia Xavier
Troca de presentes, realizada no Pavilhão de Portugal, entre o escritor timorense Luís Cardoso e o brasileiro Cristino Wapichana. Foto: Sônia Xavier

Apesar de tanta programação, há aqueles que vão, principalmente, para comprar livros como a coordenadora escolar Cláudia Rodrigues Figueredo, a antiga professora de literatura frequenta a Bienal há mais de dez anos e esse ano veio acompanhada da filha Giovanna (19) como maneira de incentivar a leitura desta. “Para mim é realmente emocionante estar de volta à Bienal”, declarou a docente referindo-se ao período de quatro anos sem o evento.

Há também aqueles que vão com o intuito de vender suas próprias obras, como a escritora Déa Henrique. A autora do livro infantil “Um Inesperado Kamba” explicou que seu livro surgiu de uma necessidade pessoal ao observar que seus filhos não conheciam histórias africanas. “Eu percebi a importância disso [literatura africana] para as crianças, principalmente para aquelas que têm afrodescendência. Porque elas não têm contato, então trazer esse universo da África para elas aqui no Brasil. Para mim e  para as minhas crianças foi importante, então acredito que para outras também seja”, disse Déa.

A escritora Déa Henrique com seu livro “Um Inesperado Kamba” na Bienal do Livro no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos.
A escritora Déa Henrique com seu livro “Um Inesperado Kamba” na Bienal do Livro no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos.

A visão de Déa Henrique sobre a literatura como necessidade é compartilhada também por Vanda Franco Pedrosa. Para ela, é possível “enxergar nos livros o resultado do aprendizado humano, os livros nos mostram isso.  Você abre um livro e se enxerga, enxerga o outro e o mundo em que ele está vivendo”. Ambas estavam emocionadas com a ocasião, Déa comentou que sua mãe mesmo de cadeira de rodas estava presente só para prestigiá-la, já Vanda acredita que “da onde eu venho uma professora chegar à Bienal é um evento, é um fato histórico”.

Vanda Franco Pedrosa autografando seu livro “A Tecelã do Seu Destino”. Foto: Malu Araújo
Vanda Franco Pedrosa autografando seu livro “A Tecelã do Seu Destino”. Foto: Malu Araújo

Juntam-se a esse time de escritoras da Bienal,  Isabella Falce e Letícia Bartulihe. Falce, autora de “Intoxicada Por Um Relacionamento Abusivo”, livro com teor autobiográfico, disse que viu na escrita um processo terapêutico mesmo que “complicado” devido ao assunto retratado. Hoje, Isabella se diz muito orgulhosa por ter uma publicação sua. “Porque eu tenho ajudado tanta gente, tantas mulheres me procuram querendo saber se há vida após relacionamento abusivo[...] a gente precisa tirar uma força para entender a grandiosidade de uma mulher”. Já Bartulihe desenvolveu a escrita como hobby, com quinze anos ela divulgou digitalmente seu primeiro livro “sem pretensão nenhuma”, mas ao ver o número de leituras alcançadas resolveu levar seu trabalho ao papel impresso.

Escritora Isabella Falce na Bienal do Livro. Foto: Malu Araújo
Escritora Isabella Falce na  26º Bienal do Livro. Foto: Malu Araújo
Letícia Bartulihe com seus livros na Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Letícia Bartulihe com seus livros na 26º Bienal do Livro. Foto: Maria Ferreira dos Santos

Não deixando de fora o contexto político desse ano e sua importância para a história brasileira, a Bienal proporcionou um universo multicultural, convidando grandes intelectuais para debater diversos temas.

Como exemplificação para tal, há o momento em que a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz discorreu sobre o imaginário europeu na construção da história do país,  durante a mesa “Falamos de Quem Quando Falamos do Outro?”. Ao tocar nesse passado, Lilia ressaltou a necessidade de se fazer vigilância cidadã perante aos ataques à democracia feito no âmbito político, destacando ser imprescindível fazer desse ano um ano de oportunidade e mudança para o Brasil.

Da esquerda para direita vê-se Valter Hugo Mãe, Lilia Schwarcz, Cristino Wapichana e Isabel Lucas no Pavilhão de Portugal no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos.
Da esquerda para direita vê-se Valter Hugo Mãe, Lilia Schwarcz, Cristino Wapichana e Isabel Lucas no Pavilhão de Portugal no sábado (02). Foto: Maria Ferreira dos Santos.

 Em outra mesa sobre “Educação Política”, a advogada Gabriela Prioli defendeu a importância de fazer uma discussão política que considere a diversidade e que crie um diálogo inclusivo na sociedade. Gabriela salientou também a importância do público na construção do diálogo, reafirmando que a discussão é formada principalmente pelas pessoas que estão engajadas e que a partir disso “vão votar de maneira diferente [...] vão tornar a política diferente para que ela seja mais diversa e consequentemente melhor.”

Gabriela Prioli e Juliana Souza no debate “Educação Política” no Salão de Ideias no domingo (03). Foto: Maria Ferreira dos Santos
Gabriela Prioli e Juliana Souza no debate “Educação Política” no Salão de Ideias no domingo (03). Foto: Maria Ferreira dos Santos

 Em consonância com essas falas, a jornalista Miriam Leitão, que foi ameaçada durante o governo Bolsonaro, enfatizou na mesa “Ser Jornalista No Brasil” como o poder público tem utilizado da desinformação nas redes para construir suas narrativas. A profissional de imprensa nomeou a estratégia como a “mentira que é divulgada como método”, tendo assim uma finalidade. Em seguida, Miriam acentuou a importância de se “olhar os pequenos detalhes nos grandes acontecimentos”, referindo-se às ameaças à democracia colocadas na esfera pública por meio das falas do presidente, sendo contundente ao dizer que “o maior risco é não se perceber o tamanho do risco”.

 Além disso, o evento também trouxe pontos acerca do isolamento causado pela pandemia de covid-19. Na mesa " A Morte Faz Parte da Vida", a doutora Ana Cláudia Quintana, em conjunto com mais dois autores Ana Michelle e Renato Noguera discutiram sobre a importância dos cuidados paliativos, o preparo para morte e a forma de se enxergar o luto em diferentes culturas. 

Da esquerda para direita vê-se Renato Noguera, Ana Cláudia Quintana Arantes, Ana Michelle Soares e Rafaela Camargo. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Da esquerda para direita vê-se Renato Noguera, Ana Cláudia Quintana Arantes, Ana Michelle Soares e Rafaela Camargo. Foto: Maria Ferreira dos Santos

 Além de autora, Ana Michelle também é paciente em tratamento, ela luta contra o câncer há mais de 10 anos, durante a mesa ela disse que viu as pessoas perderem o controle por causa do isolamento, uma sensação que já lhe era familiar antes da pandemia. Michele disse esperar que a pandemia tenha sido um despertar para as pessoas entenderem que o único tempo é o agora.

A próxima Bienal do Livro em São Paulo está prevista para 2024, a feira mais aguardada pelos leitores, recria o Brasil cultural que tanto almejamos ter.