Especialista alerta para riscos do uso acrítico de plataformas de IA na educação
por
Thomas Fernandez
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04/10/2025 - 12h

A inteligência artificial (IA) ganhou rapidamente espaço em diferentes setores da sociedade, e a educação não ficou de fora dessa tendência. Plataformas capazes de corrigir redações, recomendar atividades personalizadas e até mesmo substituir parte das tarefas do professor estão em alta.

A promessa, vendida por empresas de tecnologia e gestores entusiasmados, é de que a IA pode democratizar o ensino, personalizar a aprendizagem e aliviar a carga de trabalho docente. Não por acaso, de acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC), sete em cada dez estudantes do Ensino Médio já utilizam ferramentas de IA generativa em trabalhos escolares, mas apenas 32% afirmam ter recebido orientação na escola sobre como usar esses recursos de forma pedagógica. 

Há quem veja nesse movimento um risco de precarização do trabalho dos professores, transformando a inovação em mais uma engrenagem de uma lógica de cortes de custos e desvalorização profissional. Afinal, a inteligência artificial na educação é realmente uma aliada do professor ou pode acabar sendo um instrumento de substituição e perda de direitos? 

Em entrevista à AGEMT, Pedro Maia, cientista de dados e pesquisador em ética e tecnologia, alerta para o risco de que a IA seja utilizada como justificativa para reduzir a presença e a importância dos professores. Para ele, é preciso estar atento à lógica de mercado que move grande parte das inovações tecnológicas aplicadas à educação: “O risco é que as escolas passem a enxergar a inteligência artificial não como apoio, mas como substituição. Se uma plataforma consegue corrigir automaticamente atividades e sugerir trilhas de estudo, a tentação de reduzir o quadro docente e cortar custos é enorme”, explica. 

Segundo Maia, isso poderia levar a uma precarização ainda maior do trabalho docente, em um cenário no qual professores já enfrentam baixos salários, excesso de carga horária e falta de condições adequadas de trabalho. “A promessa de eficiência pode esconder a intenção de enxugar gastos. É a lógica neoliberal aplicada à educação: menos investimento em pessoas, mais aposta em soluções padronizadas”, acrescenta.

Pedro Maia, cientista de dados.
Pedro Maia, cientista de dados. Foto: Arquivo Pessoal.

 

Maia também chama atenção para o risco de aprofundar desigualdades: “Nesse cenário, a IA não democratiza, mas acentua a exclusão. O aluno da periferia continua com menos oportunidades que o de elite, ainda que ambos usem supostamente a mesma tecnologia”. Esse alerta encontra respaldo nos números. Em 2023, 69% dos estudantes já conheciam a IA; em 2024, esse índice subiu para 80%, segundo levantamento nacional feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES).

No entanto, nem todos têm acesso à mesma qualidade de ferramentas ou de acompanhamento pedagógico. Enquanto escolas privadas de ponta conseguem incorporar plataformas sofisticadas, parte da rede pública depende de versões limitadas, com pouco ou nenhum suporte docente.

Mesmo assim, o cenário não é apenas de resistência. Pesquisas feitas pela SEMESP (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), mostram que 74,8% dos professores acreditam que a IA pode ser aliada no processo de ensino, e 39,2% já utilizam a tecnologia regularmente em sala de aula. Esses dados revelam uma categoria dividida, mas que enxerga potencial na tecnologia quando aplicada como ferramenta de apoio, não como substituição. 

Além disso, iniciativas públicas começam a surgir. O governo federal, em parceria com a UNESCO e a Huawei, lançou o projeto “Open Schools” na Bahia e no Pará. Ambos locais foram escolhidos pela falta de infraestrutura educacional, conectividade e recursos tecnológicos. A iniciativa foca na formação de professores em competências digitais e uso de IA, além de investimentos em conectividade e infraestrutura. O objetivo é reduzir desigualdades e preparar a rede pública para essa transição.

A coexistência desses dois pontos de vista - o risco de precarização e a promessa de apoio pedagógico - evidencia o dilema atual: A IA pode ser tanto aliada quanto algoz, dependendo da forma como for implementada. Se o objetivo for cortar custos, há risco de enfraquecer a profissão docente. Mas se, por outro lado, houver investimento em formação, infraestrutura e regulação, ela pode abrir espaço para práticas pedagógicas mais ricas e inclusivas.

O que está em jogo, portanto, não é apenas a chegada de uma nova tecnologia, mas o modelo de educação que o país pretende construir. A questão central permanece: a inteligência artificial será um recurso a serviço de professores e alunos ou mais um instrumento de precarização do trabalho em nome da eficiência econômica?

Enquanto não há consenso, cresce a urgência em debater publicamente os rumos dessa transformação. O futuro da escola não depende apenas das máquinas, mas das escolhas políticas, sociais e econômicas que definirão como, para quem e com quais propósitos a tecnologia será utilizada.

“Professor, amante da literatura e do bom jazz” era como ele se descrevia nas redes sociais; amigos e alunos lamentam a partida
por
Maria Eduarda Camargo
Khauan Wood
Bianca Novais
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29/09/2025 - 12h

O professor doutor José Salvador Faro, de 78 anos, morreu na madrugada desta segunda-feira (29), no hospital Samaritano Higienópolis, em São Paulo capital. 

Morre, aos 78 anos, o professor José Salvador Faro
Morre, aos 78 anos, o professor José Salvador Faro.
Foto: @cursojornalismopucsp via Instagram.

O velório será realizado no Cemitério São Paulo, localizado na Rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, nesta segunda, a partir das 13h. Às 17h, o corpo seguirá para cremação em Jandira, município da região metropolitana de São Paulo.

Historiador pela Universidade de São Paulo (USP), Faro seguiu seus estudos no campo da comunicação no mestrado e doutorado, na Universidade Metodista de São Paulo (1992) e na USP (1996), respectivamente. Dedicou-se à produção acadêmica, com mais de cem artigos e quatro livros publicados, ao longo de mais de 30 anos de carreira.

Desde 2000, fazia parte do corpo docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde lecionou com paixão e entusiasmo nos cursos de comunicação da instituição.

Nas redes sociais, amigos, colegas de trabalho e alunos lamentaram a partida do professor.

Luisa Ayres, estudante de jornalismo da PUC-SP, lembra como eram as aulas: “Fui aluna, monitora e grande admiradora do Faro. Como era gratificante termos um professor que ainda prezava por sentarmos em círculo e conversarmos, discutirmos, ouvirmos e olharmos uns nos olhos do outro”.

Luisa guarda com carinho pequenos detalhes da convivência diária com o professor Faro: “O sorriso, o jeitinho de estar lendo suas notícias e escrevendo para seu blog sempre nos momentos que antecediam as aulas. A preocupação às quartas à noite com o jogo do Corinthians que se desenrolava no mesmo horário”. 

Victoria Silva, também aluna de jornalismo, destaca como Faro lecionava com empolgação dentro e fora das salas de aula: “Nas reuniões da iniciação científica, ele sempre chegava com o seu entusiasmo e conversava outros mil assuntos que não se relacionavam com o tema, mas sempre pertinentes com a realidade. Isso mostra como em qualquer momento, mesmo que fora das salas de aula, José Salvador Faro ensinou.

Faro fazia tratamento contra o câncer desde 2022, mas se manteve na sala de aula até o primeiro semestre de 2025, quando precisou se afastar para cuidar da saúde. 

“Fica aqui nosso muito obrigado, Salvador! Sua história e suas aulas com certeza salvaram muitos de nós”, se despede Luisa.

“Vai deixar muita saudade! Sua trajetória vai continuar ensinando, suas aulas vão continuar nas mentes e sua risada nos corações”, garante Victoria.

José Salvador Faro deixa a esposa Rozana Faro, as filhas Paula e Patrícia e o enteado Pedro.

A AGEMT lamenta a partida do professor Faro, que com alegria, paixão e confiança em seus estudantes, colaborou para a formação de senso crítico e ética de centenas de jornalistas e comunicadores ao longo de sua docência.

 

Quando o padrão de beleza tem idade, o que resta é virar resistência
por
Laila Santos
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19/09/2025 - 12h

Não é segredo que envelhecer é visto como inimigo geral da nação pela maioria das pessoas, principalmente mulheres, que lidam com suas próprias inseguranças e com a pressão imposta pelos outros nesse processo. Com o passar do tempo e a intensificação da era digital, parece que essa fase da vida bate na porta cada vez mais cedo. Uma sociedade que atrela a jovialidade à beleza e acredita estar sempre atrasada não é uma combinação amigável para quem está envelhecendo.

O molde representado na mídia e nos meios digitais tem forte influência nessa negação da idade porque valoriza o oposto. Nesse sistema, o idoso é visto como insuficiente e desatualizado, o que é lido como desnecessário, e isso resulta na invisibilidade de suas causas e dores.

A estudante de Psicologia Rafaelly Ketellyn, de 20 anos, dividiu o que escutava sobre o envelhecimento na infância: “Eu escutava que envelhecer era sinônimo de limitação, doença e solidão. Parecia ser sempre algo pesado, quase como se fosse o fim da linha e poucas vezes era falado sobre o lado positivo, como o aprendizado acumulado e a experiência.”

Já Maria Marinalva, de 55 anos, disse que, quando criança, ouvia que quanto mais a pessoa envelhece, mais ela fica chata e ranzinza. Ela afirma que não quer se encaixar nesse rótulo.

Segundo o relatório da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) divulgado em junho deste ano, o Brasil é o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos não cirúrgicos. Entre as intervenções mais recorrentes estão: toxina botulínica, mais conhecida como Botox (45,7%), ácido hialurônico (22,9%) e procedimento de rejuvenescimento da pele com efeito lifting (7,9%). Todos esses métodos buscam, de alguma forma, retardadores de envelhecimento. O primeiro pode eliminar linhas de expressão; o segundo é usado para restaurar a elasticidade da pele, consequentemente, promete prevenir rugas; e o terceiro, por si só, já carrega a promessa de apagar os sinais da idade.

Atualmente, chegar à velhice se tornou ainda mais indesejado, por conta do padrão criado pelas redes sociais. A alta porcentagem de procedimentos estéticos é um reflexo disso. A juventude sempre foi um dos requisitos para mulheres na TV, como as “Paquitas”, assistentes de palco da apresentadora Xuxa, as dançarinas do Faustão ou até as Panicats. Hoje em dia, essa lógica migrou para a internet, cada vez mais presente na nossa rotina. Criadoras de conteúdo jovens têm mais patrocinadores e visibilidade.

Você é quem cria a sua fonte da juventude

Contra essa onda de pessoas que veem o envelhecimento como um pesadelo, há quem levante a bandeira de maturidade mais alto. Rafaelly lida naturalmente com esse processo da vida e pensa ser parte dela, embora entenda que não seja uma situação simples. Porém, sabe que é inevitável e tenta levar esse fato como uma oportunidade de amadurecimento e ganho de sabedoria. Para ela, o lado positivo do tempo é o de poder colher frutos que já plantou, uma chance de viver novas etapas e aprender a valorizar o presente.

O tempo como vilão está presente em diversas obras, como filmes, livros e mitos. O longa-metragem A Substância, estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, traz luz sobre o envelhecimento na indústria do entretenimento e critica a pressão para manter a juventude e a beleza, especialmente sobre as mulheres. No livro O Retrato de Dorian Gray, o personagem principal se sujeita a um pacto para nunca ficar velho e manter sua aparência jovem para sempre. Além disso, há também o mito da fonte da juventude, representada em vários trabalhos, por exemplo, Os Trapalhões e a Árvore da Juventude, que, por incrível que pareça, nunca envelhece.

Marinalva também tem um pensamento mais aliviado com a passagem de idade. Ela compartilhou que lida super bem com isso e não deixa a mente envelhecer com o corpo. Acredita que precisamos aprender a aceitar para não ver isso como um grande problema. Porque a idade mais avançada faz parte da vida e acontece com todos.

Muitas mulheres buscam se encaixar no padrão imposto pela sociedade e sofrem com isso, porque é um ideal impossível de sustentar para sempre. Enquanto houver vida, não há como fugir da passagem do tempo e o que resta é aprender a lidar com isso e, principalmente, não deixar de viver por causa disso. 

Especialistas em arbitragem comemoram a decisão e ressaltam a importância da qualificação, para além da tecnologia
por
Tamara Ferreira Santos
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29/09/2025 - 12h

Por Tamara Ferreira

 

No dia 10 de agosto de 2024, após o empate por 1 a 1 contra o Flamengo, pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro, Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, disparou contra a arbitragem brasileira, classificando o sistema como arcaico e dizendo não confiar no VAR, nos árbitros e nem nas televisões. O treinador declarou, inclusive, que só passaria a acreditar e confiar nas decisões dos lances quando a tecnologia fosse modificada. Na época, era o segundo jogo seguido da equipe contra o Rubro-Negro. No duelo anterior, realizado no dia 7, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, Flaco López chegou a marcar, mas o impedimento foi assinalado — decisão contestada por amantes do futebol e, principalmente, palmeirenses, que reclamaram da falta de critério na marcação das linhas.

Parece distante, já que o lance ocorreu em 2024, mas o que não faltam são gols anulados por impedimentos milimétricos que, pela fama da arbitragem brasileira, geram dúvida se estavam irregulares ou não. Muitos desses lances, a olho nu, aparentam ser legais.

Recentemente, Samir Xaud, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deu diversas declarações afirmando a chegada do impedimento semiautomático ao Brasil em 2026 para a disputa do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil. Popularizado na Copa do Mundo do Catar, em 2022, a tecnologia também foi utilizada na Champions League e na Copa do Mundo de Clubes de 2025, além de ser protagonista nos dois jogos da final do Campeonato Paulista deste ano. O sistema usa de 12 câmeras especiais para recriar o lance em 3D e dar o veredito final do lance aos responsáveis pela arbitragem. O VAR que se conhece hoje custa mais de R$ 20 mil por partida, porém, estima-se que o novo sistema vai custar cerca de R$ 100 mil por jogo. Samir declarou no programa Seleção, do SporTV, que é um investimento alto, mas o trata como uma ferramenta importante e necessária para diminuir ainda mais os erros da arbitragem, reforçando sua ideia de transformar a arbitragem brasileira na melhor do mundo.

Sálvio Spínola, ex-árbitro e comentarista da Record, comemorou a utilização da nova tecnologia a partir do próximo ano. Assim como Abel, ele classificou o modelo atual como arcaico, por ser baseado em uma computação gráfica manual, na qual o árbitro de vídeo precisa traçar as linhas azul e vermelha sobre o ombro ou outra parte do corpo. Para Sálvio, o novo sistema é mais preciso, exige menos intervenção humana, garante decisões mais rápidas e confiáveis e, consequentemente, traz mais segurança ao público e aos profissionais envolvidos no jogo.

Paulo Vinícius Coelho, mais conhecido como PVC, jornalista e comentarista da Paramount+ e do UOL, vê o impedimento semiautomático como algo objetivo, já que a máquina será responsável por determinar a distância do atacante em relação ao último marcador, encerrando assim as discussões sobre impedimentos milimétricos e o trabalho manual de traçar linhas.

A 17ª rodada do Brasileirão deste ano também trouxe polêmicas, desta vez, em dois jogos diferentes, com lances muito parecidos, onde um o gol foi confirmado e no outro o impedimento foi assinalado. 

Em São Paulo x Fluminense, Ferreirinha marcou de cabeça após cruzamento de Marcos Antônio, ampliando para 2 a 0. Pouco depois, em Cruzeiro x Ceará, Marcos Victor fez o terceiro do Vozão, mas o gol foi anulado. O problema é que, nos dois lances, as linhas estavam praticamente sobrepostas e de acordo com a regra que a CBF tornou válida a partir de 2025, nos casos em que as linhas traçadas (a vermelha, do atacante, e a azul do defensor), ficassem uma em cima da outra, mesmo que o atacante esteja à frente, o impedimento seria desmarcado e o gol validado — o que não aconteceu no gol do Ceará. 

Renato Gaúcho, técnico do Flu, não poupou críticas à arbitragem, afirmando que toda rodada há uma polêmica com o VAR. Segundo ele, se a imagem mostrada no telão do Morumbis for a oficial, Ferreirinha estaria impedido e o gol deveria ter sido anulado. Irritado, disse ainda que erros como esse podem custar posições, rebaixar clubes e até definir o campeão.

Já Renata Ruel, ex-árbitra e comentarista da ESPN, destacou que a chegada do impedimento semiautomático ao Brasil é fundamental por sua precisão. Ela lembrou que o sistema atual pode errar até 30 centímetros por lance, margem significativa para jogadas milimétricas. Também ressaltou que as longas análises atrapalham a dinâmica do jogo e que as linhas atuais não passam credibilidade, já que não se sabe ao certo de onde são traçadas e qual é o frame da bola.

Samir Xaud, também declarou, desta vez ao BTB Sports que, a princípio, a entidade arcará com os custos da tecnologia, mas que futuramente o custo passará por um processo de transição para os clubes — o que preocupa, especialmente os de menor expressão, que já enfrentam dificuldades financeiras.

Sobre isso, Sálvio afirma que alguns estádios do Brasil não têm infraestrutura suficiente e não estão preparados para adotar a tecnologia, dependendo inclusive dos clubes que subirem para a Série A do Campeonato Brasileiro. Ele classifica a implementação em todas as fases da Copa do Brasil como algo praticamente inviável, acreditando que só deve ocorrer a partir das oitavas de final ou fases seguintes. O comentarista também ressaltou a necessidade de tempo hábil para preparar os estádios.

PVC destacou também que, além da tecnologia, a entidade precisa investir nos árbitros, oferecendo mais treinamento em diferentes tipos de lances, para que tenham autonomia e segurança — fatores que hoje ainda não são vistos com frequência. O jornalista lembrou que, durante Copas do Mundo, a arbitragem brasileira costuma se sair bem, mas no cenário nacional o desempenho cai. Para ele, não falta qualidade, mas sim confiança.

Uma fala que remete ao lance inusitado ocorrido no jogo de volta entre Corinthians e Athletico-PR, pelas quartas de final da Copa do Brasil, em 10 de setembro. Na ocasião, Diego, árbitro de vídeo, chamou Davi, árbitro principal, para revisar um pênalti marcado a favor do Athletico, afirmando: “Eu tenho o sentimento de que está fora (da área), está bom? Mas é sentimento.”

Momento do toque na mão de Matheuzinho que resultou em pênalti em Corinthians x Athletico-PR pela Copa do Brasil — Foto: Reprodução/CBF
Momento do toque na mão de Matheuzinho que resultou em pênalti em Corinthians x Athletico-PR pela Copa do Brasil — Foto: Reprodução/CBF

Davi, com personalidade, rebateu de imediato: “Nós não trabalhamos com sentimento, e sim com imagens.” Como o lance foi considerado inconclusivo, a decisão de campo foi mantida.

Além do semiautomático e da qualificação da arbitragem, torcedores e especialistas defendem a adoção de outras tecnologias, como o chip na bola. Isso evitaria dúvidas em jogadas como o gol de Yago Pikachu, do Fortaleza, contra o Sport, pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro. Naquele lance, a bola bateu na trave e quicou próxima à linha, mas sem clareza se entrou ou não. No próprio áudio divulgado pela CBF, os árbitros não chegaram a um consenso, e a decisão de campo foi mantida. Para a comentarista Renata, o uso do chip, junto do semiautomático, é essencial para garantir a precisão e a credibilidade das decisões.

Fato é que a implementação da tecnologia será fundamental para o futebol brasileiro, prometendo transformar o cenário da arbitragem. Porém, ainda será necessário analisar como a CBF conduzirá esse processo, já que os clubes vivem realidades distintas, especialmente no aspecto financeiro. O próprio presidente da entidade já admitiu que o sistema é caro e que haverá transferência de responsabilidade.

Apesar dos desafios, torcedores, atletas e especialistas concordam que a tecnologia é indispensável para reduzir polêmicas. O caminho até 2026, contudo, exigirá investimentos em infraestrutura, capacitação e planejamento. Afinal, como destacou PVC, o objetivo é acabar com discussões que em outros lugares já não existem.

Entenda como a privatização do transporte público influencia na sua segurança
por
Amanda Campos
Gabriela Blanco
Lorena Basilia
Manuela Schenk
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10/06/2025 - 12h

Após o trágico acidente na linha 5-lilás que matou um homem de 35 anos, o assunto segurança no transporte público vem sendo amplamente discutido, principalmente quando se fala das vias privadas. A reportagem a seguir fala sobre a falta de segurança na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Em entrevista à AGEMT, o especialista Igor Bonifácio responde algumas das perguntas mais recorrentes sobre o assunto. Assista. 

 

 

 

O IEM Rio Major 2022, mundial do FPS (First Person Shooting), enfrenta preconceito com torcidas brasileiras
por
Davi Garcia
Ian Valente
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10/11/2022 - 12h

No dia 31 de outubro, começou no Rio de Janeiro o campeonato mundial de Counter Strike: Global Offensive, reunindo as melhores equipes e jogadores do cenário de um dos jogos mais tradicionais do mundo. O torneio vem ao Brasil pela primeira vez em sua história, com 24 equipes participantes do mundo inteiro. Entre elas, as brasileiras Imperial, 00Nation e FURIA, além da sul-americana 9Z.

Também estreia no IEM Rio Major 2022 a presença de público nas duas primeiras fases do campeonato, inédito na história dos mundiais. Normalmente, esses jogos são realizados em hotéis ou arenas menores, enquanto no campeonato atual, serão divididos entre com ou sem público. A “Challengers  Stage” e “Legends Stage” ocorrem no Riocentro, com capacidade para 10.000 pessoas. Essas fases são formadas pelo Formato Suíço, em que o time que consegue três vitórias, ou três derrotas, será classificado, ou eliminado. Apenas as equipes com o mesmo recorde podem se enfrentar.

 

 O evento conta com lojas da organizadora e patrocinadora ESL, anteriormente conhecida como Electronic Sports League, que vende uniformes, acessórios e merchs das equipes com preços de R$150 a R$280 e um fácil acesso à comidas e banheiros no Riocentro.

 Para a próxima fase, onde ocorrerá o mata-mata, será jogado na Jeunesse Arena, com um público previsto de 20.000 torcedores. A premiação do campeonato é avaliada em 1 milhão de dólares, aproximadamente R$5.000.000;

 A narração e coordenação da torcida no evento conta com o streamer Alexandre Borba, mais conhecido como Gaules. O brasileiro é o mais seguido do mundo na plataforma Twitch, com mais de 15 milhões de seguidores e transmite os jogos em seu canal para uma média de 200 mil pessoas. Além de Gaules, a “Tribo”, grupo de outros streamers e influenciadores organizados por ele, participa da transmissão, seja com reportagens, entrevistas ou comentários.

Outro ponto a se destacar é o público brasileiro, mais conhecido como “La Tribonera”, apelido dado por Gaules, sendo elogiado por grande parte dos jogadores pelo barulho excessivo e paixão pelo jogo, como Oleksandr "s1mple" Kostyliev, ucraniano eleito o melhor do mundo em 2021, descrevendo a torcida brasileira em seu twitter como “A melhor do mundo, eu amo vocês”, além do russo Dzhami "Jame" Ali, que comparou com a plateia europeia “Sempre fui tratado na Europa como vilão, e diziam pra mim ‘Vá se foder’, enquanto aqui, gritam e comemoram meu nome, me sinto muito bem”, à Liminha, em live de Gaules.

Porém, a torcida brasileira também têm sido alvo de polêmicas e sanções da ESL. No Counter-Strike, há a opção de ver a silhueta do personagem para facilitar ao telespectador entender a partida, como um raio-x. Contudo, muitas vezes o público gritava aos jogadores, que não possuem acesso ao sistema, a posição e estratégia dos adversários, fazendo a organizadora retirar o xray e o mapa do jogo na transmissão do Gaules.

Explicação do Sistema Suíco. Foto: Reprodução / GOAL

Exemplo da visão do telespectador. Para o jogador, não há silhuetas. Foto: Reprodução / ESLCSGO

 

 Com isso, internautas do mundo inteiro criticaram massivamente a torcida brasileira: ”Vai ser tão bom quando todos os times brasileiros forem eliminados, então essa torcida nojenta irá acabar“ escreveu um torcedor no Twitter.

 Alexandre desabafou após as medidas: “Peço desculpas à maior transmissão de Counter-Strike do mundo por não estar podendo assistir com xray e mini-mapa. Pra nós, é sempre mais difícil”, e complementa com o lema que viria a ser utilizado pelos brasileiros durante o campeonato “Eles não vão entender nunca o que é ser brasileiro e traduz para eles essa p#rra”.

Gaules com “La Tribonera” ao fundo em jogo da FURIA. Foto: Divulgação / Gaules

 

 Foto destaque: Torcida brasileira no IEM Rio Major 2022. Foto: Reprodução / theMAKKU.

A rotina fora de ordem das assessoras de imprensa Mayara Oliveira e Lívia Almeida na agência MTC
por
Laura Paro
Sophia Pietá
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10/11/2022 - 12h

Escritório lotado, telefones tocando, televisão ligada, vozes intercalando-se e barulhos do teclado do computador são as primeiras características notadas ao chegar na Agência MTC assessoria de imprensa, localizada no bairro Vila Olímpia, em São Paulo. A empresa especializada em assessoria e relações públicas atende clientes do meio de entretenimento e das artes como cantores, atores e principalmente influenciadores digitais.

 O dia-a-dia dos funcionários baseia-se em cada demanda e necessidade do agenciado no momento. ''Cada dia preciso estar em um lugar diferente, seja na própria agência ou em alguma externa como uma sessão de fotos, a gravação de um programa de TV, o lançamento de alguma marca. Sempre acompanhando o artista, auxiliando a imprensa presente’’, explica a estagiária Lívia Almeida, que está a quase dois anos na empresa.

Como estudante do último ano de Relações Públicas na Fundação Cásper Líbero, Almeida diz que as áreas possíveis em sua profissão são diversas, mas foi na assessoria de imprensa que ela encontrou-se e descobriu um mundo dos bastidores dos influenciadores digitais que se encontrou. 

A estagiária entra em seu trabalho às treze horas da tarde e encerra o expediente às dezenove horas. Quando ela precisa fazer alguma pauta externa, passa o dia fora acompanhando aquela diária, porém quando o trabalho é interno ela alterna entre o home office e a presença no próprio escritório da agência. 

‘’Acredito que quando lidamos com a assessoria de imprensa de artistas, estamos trabalhando com sonhos, é a construção de uma carreira e a inserção dessas pessoas nos meios de comunicação. Tem que ter uma atenção minuciosa aos detalhes e ser proativo para trazer os melhores resultados possíveis’’, pontua Almeida.

Mayara Oliveira, coordenadora da assessoria de quatro artistas da Agência MTC, inicia seu expediente às dez da manhã. Ao longo do dia, monitora todos os grupos com os artistas que cuida como assessora, para saber se tem alguma novidade de agenda, alguma crise acontecendo ou alguma atividade externa para ir. Normalmente, seu dia é cheio de reuniões para alinhar demandas para algumas entrevistas e futuros projetos e eventos que irão acontecer. 

Ao mesmo tempo, Oliveira também precisa ficar o dia todo em contato com jornalistas de diversos veículos para conseguir incluir seus clientes em pautas de veículos importantes. A assessora é atarefada de alinhar coletivas de imprensa, os veículos que vão contatar, quais assuntos vão debater e checar com os artistas a disponibilidade para atender a imprensa. Ao final do dia, ainda tem que reunir tudo aquilo que fez e anotar, para no dia seguinte dar continuidade e continuar as estratégias de comunicação.

Como assessora de imprensa da Agência MTC, Mayara Oliveira conta que a rotina de alguém que trabalha na área é muito diversa e requisita muita disposição: ela precisa lidar com o gerenciamento de crises, pois não tem hora para sair e nem entrar; precisa se dedicar 24 horas para amenizar a situação e sair dela o mais rápido e da melhor forma possível; é necessário estar disposta a acompanhar os artistas em alguns eventos a qualquer hora do dia. 

Por outro lado, a assessora diz que esse ramo do jornalismo abriu novas portas em sua vida: “Obtive a oportunidade de conhecer vários artistas que admiro e sou fã, indo em shows, programas e eventos com eles, lado a lado. É um universo muito diverso, que te leva para diversas áreas, e quando se trabalha com artistas é uma explosão de cultura e conhecimento do universo das celebridades que me faz muito feliz”. 

Diante de uma rotina movimentada e exaustiva com muitas interações no mundo jornalístico, o ramo da assessoria de imprensa continua sendo necessário e altamente requisitado. Porém, Mayara e Lívia, mesmo tendo encontrado prestígio na profissão em uma área que não é bem valorizada no meio da comunicação, persistem ao enfrentar os desafios presentes em suas rotinas. 

 

Organizado pela Atlética de Comunicação e Artes, o evento aconteceu entre os dias 17 e 21, com pautas sobre sexualidade, preconceito e representatividade.
por
Sônia Xavier
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24/10/2022 - 12h
  Nathan Mouro, William de Lucca, João Abel, Tayna Fiori e Gabriel Paes (da esquerda pra direita)
Nathan Mouro, William de Lucca, João Abel, Tayna Fiori e Gabriel Paes (da esquerda pra direita), durante a mesa “Bola fora: A LGBTQIAPN+fobia no Futebol Brasileiro”. Foto: Sônia Xavier  
 

Na segunda-feira, 17,  a primeira mesa da Semana da Diversidade foi composta por William de Lucca, apresentador do podcast “ Nos armários dos vestiários” e um dos fundadores do coletivo LGBTQIA+ “Palmeiras Livre”; Nathan Mouro, representante do coletivo “Porco Íris”; Tayna Fiori,  jornalista e produtora de futebol feminino na TNT Sports Brasil; e Gabriel Paes, administrador da página “Quebrando o Tabu”. O mediador da mesa foi o jornalista e também representante das causas LGBTQIA+ no futebol brasileiro, João Abel. 

De Lucca mencionou os ataques que sofreu em suas redes sociais, em 2018, após criticar o canto homofóbico da torcida palmeirense em jogo contra o São Paulo, e relata muitas ameaças online, inclusive, de morte. Mas o apresentador reiterou que, apesar da violência enfrentada pelas pessoas LGBTQIA+, não deixará a militância: “Eu sou um homem homossexual, jornalista e vou ocupar o espaço que acho que tenho que ocupar, e as arquibancadas são um espaço de todo mundo".

William de Lucca
“O futebol é um esporte democrático, ou pelo menos deveria ser”, declara De Lucca, Foto: Sônia Xavier

 

Nathan, ativista da causa, diz que o "Porco Íris" foi fundado em 2019, com o objetivo de criar um lugar que não existia para a comunidade LGBTQIA+ dentro dos estádios, e afirma que este é “um espaço que ainda precisa ser ocupado". O coletivo já levou a bandeira de representatividade em dois jogos do Palmeiras antes da pandemia, mas, desde a volta aos estádios, ainda não puderam fazê-lo novamente. 

O "Palmeiras Livre" também já foi pro estádio com as bandeiras arco-íris, porém somente em jogos femininos. O motivo disso, consensual entre os palestrantes, é de que a discussão sobre a LGBTfobia é muito maior na liga feminina.  

“O futebol feminino é um cenário que engloba e aceita muito mais”, diz Tayna.

Tayna Fiori
“O futebol traz o que o mundo oferece pra gente”, afirma Tayna sobre 
a homofobia no esporte.

 

 

“Eu acho que a gente precisa dar tempo pra gente sofrer”

Bruno Branquinho, Luana Alves e Júlia Zuin (da esquerda pra direita)
Bruno Branquinho, Luana Alves e Júlia Zuin (da esquerda pra direita), na mesa de “Psicofobia, romantização e banalização dos transtornos mentais''. Foto: Sônia Xavier

 

 

Na terça-feira, 18, o debate foi sobre a “ Psicofobia, banalização e romantização de transtornos mentais” e contou com a presença de Luana Alves, trabalhadora da saúde e vereadora em São Paulo; e Bruno Branquinho, psiquiatra com foco na saúde mental da comunidade LGBTQIA+.

Luana mencionou que a aceitação e o interesse em discutir transtornos mentais é resultado de uma luta mais antiga, a antimanicomial. Para ela, “prender” um indivíduo no manicômio é um dos passos da violência e da discrminação, mas que “negar direitos, desumanizar, desconsiderar aquela pessoa enquanto uma pessoa que tem opiniões” fazem parte, também, da lógica de exclusão, e são formas de deslegitimar a identidade do indivíduo. 

Branquinho acredita que o conhecimento atual sobre os transtornos psíquicos têm ajudado a quebrar as barreiras do preconceito em relação à psiquiatria, mas que, por outro lado, há uma  “patologização” excessiva de situações que não são transtornos.

Bruno Branquinho
“ O que eu vejo que acalma as pessoas no sentido de se cuidar é saber que não são as únicas. Nós precisamos falar, mas falar em primeira pessoa”, afirma Bruno. Foto: Sônia Xavier

“A gente precisa dar tempo pra gente sofrer, dar tempo pras nossas emoções, na verdade. Talvez não seja patológico, talvez seja o tempo que você precise”, orienta.

 

 

“ Ninguém dá valor à carne indígena, dão valor à terra indígena”

 

O tema discutido no terceiro encontro, 19, destacou a representatividade indígena, principalmente, na educação. Daniela Reis, coordenadora do programa social "Pindorama" - criado em 2001 pela PUC-SP para oferecer bolsas de estudo para alunos indígenas -, diz que, além das dificuldades financeiras para permanência dos alunos indígenas nas universidades, têm questões relacionadas à manutenção das culturas e ao reconhecimento étnico, que também precisam ser enfrentadas. 

Daniela Reis, Lúcia Helena Rangel e Álvaro Gonzaga (da esquerda para direita)
Daniela Reis, Lúcia Helena Rangel e Álvaro Gonzaga (da esquerda para direita), na mesa: “Não existem índios no Brasil: Resistem indígenas!"  Foto: Sônia Xavier


Álvaro Gonzaga, indígena e professor de Direito na PUC-SP , relata que o preconceito em relação à formação de indígenas está relacionado à ideia de primitividade e que, por outro lado, a universidade significa universalidade. 

Álvaro menciona que todo o processo de incorporação do indígena nas cidades foi feito de forma a subalternizar esses corpos, colocando-os em uma posição sempre abaixo dos outros. “Ninguém dá valor à carne indígena, dão valor à terra indígena”, declara.

Lúcia Helena Rangel
“O termo 'índio' veio do equívoco de Cristóvão Colombo de que tinha chegado às Índias. Indígena quer dizer nativo ou originário daquele lugar”, esclarece a, antropóloga Lúcia Helena. Foto: Sônia Xavier

 “É necessário que a nossa geração entenda que houve um grupo que lutou pela constituição, mas que existe um outro que precisa lutar pela implementação dela”, finaliza Gonzaga.

“ Se Deus é por nóis quem será contra nóis?”

Thiagson, Lorrany e Júlia Zuin (da esquerda pra direita)
Thiagson, Lorrany e Júlia Zuin (da esquerda pra direita) durante a mesa: “‘Se Deus é por nóis quem será contra nóis?’: A elitização da cultura”.Foto: Sônia Xavier

 

Na quinta-feira, 20, o tema abordado foi a elitização da cultura, principalmente o funk. Para Thiagson, professor de música clássica e doutorando em Funk, todas as produções pretas e periféricas sempre trabalharam em um espaço de precariedade, e isso resultou no processo de desmerecimento de tudo aquilo que é popular. 

Além dessa precarização, Lorrany, DJ desde 2013, também cita o “embranquecimento” das letras como uma forma de tornar essas produções um pouco mais elitizadas. “Eu não toco as mesmas músicas em festas de branco que eu toco na quebrada porque a galera branca se ofende”, compartilha.

Thiagson
“A gente associa a música a grupos sociais, então, na verdade, as pessoas não odeiam o funk pelos valores elitistas, elas odeiam os funkeiros”, defende Thiagson. Foto: Sônia Xavier

 

 

Thiagson acrescentou que esse processo de embranquecimento parte, muitas vezes, de um cancelamento do funk por setores progressistas da sociedade, principalmente, pelo feminismo, mas um feminismo branco. “Eu não sei se essa coisa de objetificação do corpo assusta uma mina de quebrada, porque o corpo na favela já é objetificado, não só em relação ao sexo, mas também em relação ao trabalho”.

O professor ainda menciona que a música vai muito além de uma experiência auditiva, já que ela também carrega um estigma social. 

 “Levantar uma bandeira é ser atacado dia sim, dia também”

Alexandre Makhlouf, Marina Daquanno Testi, Jacqueline Rocha e Jonas Maria (da esquerda para a direita)
Alexandre Makhlouf, Marina Daquanno Testi, Jacqueline Rocha e Jonas Maria (da esquerda para a direita), na mesa “Bandeiras sobre sexualidade e gênero: abraçam ou aprisionam?”. Foto: Sônia Xavier

A última mesa do evento aconteceu na sexta-feira, 21, formada por Jonas Maria, palestrante sobre diversidade e gênero; Jacqueline Rocha, ativista em causas de inclusão, como a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+); Marina Daquanno Testi, estudante de jornalismo e pessoa não-binárie; e Alexandre Makhlouf, jornalista e produtor de conteúdo de pautas identitárias.  

Na discussão sobre o ativismo LGBTQIA +, Alexandre Makhlouf, mediador da mesa, falou sobre a hostilidade que os indivíduos da comunidade sofrem. “Levantar uma bandeira é ser atacado dia sim, dia também”. Ele ainda relatou que, muitas vezes, só não sente medo de sofrer algum tipo de violência na rua com seu companheiro por conta da “passabilidade heteronormativa” com que são identificados. “Somos dois homens que, se você não abrir a boca e fizer a gente rir, você não sabe se a gente é gay ou não”. 

Sobre os ataques que as pessoas LGBTQIA+ sofrem, Jonas conta que foi alvo antes mesmo de compreender sua sexualidade. "Na escola, eu era chamado de sapatão, mas não sabia o que era isso, então chegou antes de mim".

A respeito da provável representatividade que as bandeiras provocam na sociedade, Maria acredita que apesar das discussões sobre identidade não aderirem totalmente ou restringirem-se às bandeiras, percebe que elas possuem uma funcionalidade social. “A gente usa as bandeiras porque elas nos servem socialmente para nos conectar com outras pessoas, mas não se reduz a isso”.

 

Organizado por 16 entidades, o evento aconteceu nesta terça-feira (27) na PUC-SP
por
Maria Ferreira dos Santos
Sônia Xavier
|
28/09/2022 - 12h

Muitas vezes o exercício jornalístico envolve a investigação e a publicação daquilo que determinados grupos não querem que seja revelado, o resultado disso é a perseguição a esses profissionais.

Ontem (27) o “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” destacou um grupo específico de perseguidores e perseguidos: os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) e mulheres jornalistas. 

 

Cartazes com os dados do recente relatório sobre a violência sofrida pelos jornalistas foram colados nas paredes do auditório onde a cerimônia foi realizada. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Cartazes com os dados do recente relatório sobre a violência sofrida pelos jornalistas foram colados nas paredes do auditório onde a cerimônia foi realizada. Foto: Maria Ferreira dos Santos

De acordo com a Fenaj ( Federação Nacional dos Jornalistas), uma das associações convocadoras do ato, o ano de 2021 registrou recorde de registros de ataques aos profissionais e aos veículos de comunicação. Cerca de 34,19% desses ataques foram promovidos pelo próprio presidente da República.

 

Dados de 2021 do Relatório de Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil. Levantamento pode ser lido através do link. Fonte: Fenaj
Dados de 2021 do Relatório de Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil. Levantamento pode ser lido através do link. Fonte: Fenaj

As jornalistas Patrícia Campos Mello e Bianca Santana, vítimas desse desrespeito do presidente Bolsonaro e seus apoiadores, estiveram presentes no encontro de maneira remota. Em sua fala, Patrícia relembrou a série de ataques que sofreu em 2018, após a publicação da série de reportagens sobre campanhas de desinformação.

Patrícia ainda relatou que as agressões iam de montagens de fotos a ataques diretos a sua integridade física. “Pessoas que ligavam pro meu celular dizendo que iam dar um murro na minha cara, mensagens dizendo que eu deveria sair do país se quisesse a segurança do meu filho [...] chegou um momento que eu não podia sair de casa porque eu tinha medo”, desabafou.

Em conjunto com a Fenaj, outras organizações convocaram a cerimônia, sendo essas: o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP),  Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Repórteres sem Fronteiras (RSF), Instituto Vladimir Herzog, Associação Profissão Jornalista (ApJor), Barão de Itararé, Intervozes, Centro Acadêmico Vladimir Herzog (Cásper Líbero), Centro Acadêmico Benevides Paixão (PUC-SP). Ademais, tiveram a participação de corporações da sociedade civil entre eles o Grupo Prerrogativas, CONDEPE(Conselho Estadual de direitos da Pessoa Humana), OAB e o Grupo Tortura Nunca Mais.

A jornalista Cláudia Tavares enquanto presidia a mesa no “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” nesta terça-feira (27) na PUC-SP. Foto: Maria Ferreira dos Santos
A jornalista Cláudia Tavares enquanto presidia a mesa no “Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia” nesta terça-feira (27) na PUC-SP. Foto: Maria Ferreira dos Santos

A mesa foi presidida por Cláudia Tavares, integrante da diretoria do SJSP, e foi composta por  Fábio Cypriano, diretor da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC (Faficla), Diogo de Holanda, coordenador do curso de jornalismo da universidade, Thiago Tanji, presidente do SJSP, Paulo Zocchi, vice-presidente da Fenaj (que representou também todas as demais entidades organizadoras do evento), Ana Amélia Camargos, representante do grupo prerrogativas, Natália Cristóvão, advogada da OAB, Ariel de Castro Alves, advogado representante do Grupo Tortura Nunca Mais e a vice-diretora do Centro Acadêmico Benevides Paixão (BENÊ), Maria Clara Alcântara. 

Na sua fala, Maria Clara apontou a importância da defesa da democracia para o jornalismo brasileiro. "É impossível fazer jornalismo num país que não exista a democracia, principalmente como mulheres, porque eles atacam a gente não somente pela profissão, mas duvidam do nosso caráter e nos atacam diariamente no âmbito pessoal e profissional”, afirmou a estudante.

Sob essa perspectiva, a organização do evento exibiu um vídeo com depoimentos de oito jornalistas mulheres, de diferentes veículos, sobre as violências que sofrerem devido ao seu gênero e sua carreira. A gravação contou com depoimentos de Carla Vilhena, Flávia Oliveira , Josi Gonçalves, Amanda  Audi, Paula Guimarães, Tatiana Dias, Tai Nalon e Juliana Dal Piva.

As mulheres viraram o principal foco dos ataques direcionados à imprensa, retrato que se ampara na misoginia da sociedade brasileira. A situação fica ainda mais tensa e intensa, como apontou Flávia Oliveira, d’O Globo, se a profissional for negra.

O depoimento de Bianca Santana foi o último a ser apresentado e logo depois a representante da Abraji, Cristina Zahar leu o documento preparado pelas entidades organizadoras que lembrou os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, enquanto realizavam seu trabalho na Amazônia em junho deste ano. 

Representantes das 16 entidades convocadoras do Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia. Foto: Maria Ferreira dos Santos
Representantes das 16 entidades convocadoras do Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia. Foto: Maria Ferreira dos Santos

 

O evento aconteceu no TUCA, teatro da universidade, na 5a.feira - 22/09, e contou com a participação de representantes da sociedade civil e da comunidade universitária.
por
Maria Ferreira dos Santos
Artur dos Santos
Danilo Zelic
Yasmin Solon
|
23/09/2022 - 12h

De 1964 a 1985, o Brasil estava sob regime militar e, por isso, havia forte repressão a qualquer movimentação política. Com isso em mente, em 1977, estudantes se organizaram para driblar os militares para que conseguissem realizar o III Encontro Nacional dos Estudantes (ENE), organizado pela UNE (União Nacional dos Estudantes), marcado para o dia 22 de setembro. O plano de fazer com as tropas acreditassem que o evento estaria acontecendo na USP foi bem sucedido por um tempo, mas assim que descobriram a manobra a infantaria tratou de ir ao local verdadeiro.

Ao encontrar os universitários reunidos diante do TUCA (Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), os militares começaram a dispersar as pessoas com extrema violência, aos que participavam do Ato restou passarem por uma “triagem”, para identificar seus antecedentes e serem ou não conduzidos ao Departamento de Ordem e Política e Social (DOPS). O ambiente passou de um ato de resistência para um centro de tortura e violência a céu aberto. Como relembra o então aluno e agora  professor do curso de jornalismo na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Norval Baitello. “Entraram para quebrar mesmo”,afirmou em entrevista à AGEMT sobre as salas de aula e equipamentos destruídos pelos agentes.

Matéria do jornal O Estado de S. Paulo sobre a invasão à PUC-SP comandada pelo Coronel Erasmo Dias. Foto: Acervo Estadão.
Matéria do jornal O Estado de S. Paulo sobre a invasão à PUC-SP comandada pelo Coronel Erasmo Dias. Foto: Acervo Estadão.

A memória marcante do docente é compartilhada entre as demais pessoas presentes durante essa violação. Com o objetivo de evocar essas lembranças, a PUC-SP em parceria com o Prerrô (Grupo Prerrogativas) e o Washington Brazil Office realizou o “PUC pela democracia” nesta quinta-feira (22), há exatos 45 anos do desrespeito militar.

Uma apresentação do Coral do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras) abriu o ato, mediado pelo jornalista Chico Pinheiro, enquanto a Bateria 22, do curso de direito, tocava em frente ao TUCA. Na presença de figuras importantes na luta pelo Estado Democrático de Direito, como ex-ministros, professores e estudantes da época da invasão, a PUC-SP declarou estar em “estado de vigilância permanente pela democracia”. 

Cristiane Fairbanks, presidenta da APG (Associação dos Alunos de Pós-Graduação da PUC-SP), e o jornalista Chico Pinheiro seguravam bandeira do Brasil em ato em prol da democracia. Foto: Laura Mafra Boechat.
Cristiane Fairbanks, presidenta da APG (Associação dos Alunos de Pós-Graduação da PUC-SP), e o jornalista Chico Pinheiro seguravam bandeira do Brasil em ato em prol da democracia. Foto: Laura Mafra Boechat.

A maioria das pessoas que discursaram na cerimônia frisou a questão das prisões e perseguições do Regime Cívico Militar e, consequentemente, sofridas pelos militantes da instituição. O público prestou homenagem aos estudantes assassinados durante o período e demonstrou repulsa e resistência ao governo Bolsonaro e suas ações antidemocráticas.“As mesmas forças que tentaram invadir a PUC naquela época são as que ameaçam uma ditadura hoje. E nós não vamos aceitar isso”, declarou o jornalista José Arbex. No saguão do Tuca, estavam expostas fotografias da invasão de 1977, do fotojornalista Hélio Campos Mello.

Na ocasião, o jornalista Juca Kfouri afirmou estar emocionado, não só  pelo ato ocorrido naquele mesmo lugar há 45 anos, mas também pelo apelo sentimental ao se lembrar da tia, Nadir Gouvêa Kfouri, então reitora da Pontifícia. Isso porque quando Erasmo Dias, o coronel responsável pelo batalhão invasor e, na época, Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, foi cumprimentar a professora, ela o deixou  “com a mão no ar”, pois não daria sua mão a assassinos. 

”A luta é permanente" declarou a atriz e aluna da PUC-SP em 1977, ano da invasão militar, Tuna Dwek, no evento “PUC pela Democracia”. Foto: Laura Mafra Boechat
”A luta é permanente" declarou a atriz e aluna da PUC-SP em 1977, ano da invasão militar, Tuna Dwek, no evento “PUC pela Democracia”. Foto: Laura Mafra Boechat

Outra notável personalidade da luta pelo fim da ditadura foi aclamada, a de Dom Paulo Evaristo Arns. “Quero dizer que, no dia da invasão, ela [Nadir Kfouri] foi a grande voz e esteve o tempo todo presente com dignidade excepcional. Deve ser modelo para todos nós”, afirmou a professora de direito Silvia Pimentel, também atuante durante o ocorrido em 1977. “A invasão foi, não apenas em função de movimentações nossas, mas relacionada à reitoria que a PUC tinha. Essa dupla [Dom Paulo e Nadir Kfouri] é o exemplo maior de toda uma vida”, completou.

Além de rememorar a invasão, outra temática do evento foi o cenário atual pelo qual a PUC-SP está passando. Há duas semanas, todo o corpo docente da universidade recebeu um salário com 10% a menos de seu valor integral. Unilateralmente, a Fundação São Paulo (FUNDASP), mantenedora da Pontifícia, computou 4,5 semanas mensais aos salários que eram calculados em cima de 5 semanas desde 1987 - tempo que o qualifica como Direito Adquirido dos professores.

A Associação dos Professores da PUC-SP classificou a medida de antidemocrática e contestou o corte. Em apoio, o Movimento Estudantil da PUC-SP realizou  no dia 15 deste mês um ato em solidariedade à causa dos professores com a união não só dos Centros Acadêmicos e Entidades Estudantis, mas dos três setores da Universidade: estudantes, professores e funcionários. Na ação foi questionada a conduta da FUNDASP, além de defendida a saída dessa da gestão da PUC, junto à saída do Gestor Padre Rodolpho Perazzolo de seu posto. 

Dentre os discursos do evento da manhã de 22 de setembro, uma carta redigida pelo Movimento Estudantil e lida por Camilo Mota, representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, apresentou indignação diante de tais condutas antidemocráticas da FUNDASP.  “A democracia não deve ser só dos portões pra fora”, afirma a carta. 

Representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, Camilo Mota, durante leitura da carta do Movimento Estudantil. Foto: Laura Mafra Boechat.
Representante do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão, Camilo Mota, durante leitura da carta do Movimento Estudantil. Foto: Laura Mafra Boechat.

Próximo ao final do evento, a organização foi informada de que viaturas da Polícia Militar estavam em frente ao TUCA. Os policiais teriam sido acionados por uma transeunte que afirmou que um dos quatro meninos negros que estavam vendendo balas na região estaria portando uma faca. Estes meninos foram abordados, e, durante a revista, a advogada Jaqueline Pereira se disse responsável pelos menores.

Denúncia de menino com arma branca torna-se motivo de confusão no lado de fora do TUCA durante “PUC pela Democracia” nesta quinta-feira (22). Foto: Edson Reis.
Denúncia de menino com arma branca torna-se motivo de confusão no lado de fora do TUCA durante “PUC pela Democracia” nesta quinta-feira (22). Foto: Edson Reis.

Quando questionada de sua profissão, ela se recusou a entregar ao agente sua carteira da OAB, um dos policiais responsáveis pelo enquadro retirou o documento bruscamente das mãos de Pereira, que, por sua vez, o acusou de ser racista. Durante toda a deliberação e discussão sobre o ocorrido, diversos professores presentes se inteiraram do assunto. Durante o conflito, os meninos ainda não tinham sido liberados e estavam em linha, com as mãos atrás das costas. 

A polícia, não havendo encontrado a arma branca na posse de nenhum dos meninos, os liberou e, segundo fontes contaram à AGEMT, deu Voz de Prisão a Jaqueline Pereira, que, não querendo ir à delegacia de “camburão”, foi dentro de um carro de uma das testemunhas presentes durante a abordagem.

Policiais enquadram quatro jovens negros devido a denùncia de porte de faca. Nenhum deles estava armado e foram liberados depois. Foto: Edson Reis.
Policiais enquadram quatro jovens negros devido a denúncia de porte de faca. Nenhum deles estava armado e foram liberados depois. Foto: Edson Reis.