O pré-candidato ao governo do Estado Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, participou de uma roda viva realizada pelas entidades estudantis da universidade. Após a fala de estudantes e personalidades, que estiveram presentes e abriram as perguntas, o professor, que foi Ministro da educação durante os governos Lula e Dilma, respondeu a perguntas do corpo estudantil, responsável pela realização do evento.
“Eu gostaria de começar falando da força que vocês precisam saber que têm. Talvez alguns de vocês saibam, mas todos precisam saber a força que têm nessa conjuntura política que o Brasil está vivendo”, declarou Haddad. Logo depois, o ex-prefeito da capital paulista enfatizou que, desde 2018, dizia às pessoas que o abordavam após a vitória de Bolsonaro que não fugiria da responsabilidade democrática e luta por direitos.
“Nós vamos estar juntos aqui cercando fileiras pela Liberdade, pela democracia, pela soberania e por pior que seja o cenário, a gente sabia que o desastre ia ser enorme, porque ninguém coloca o Bolsonaro na presidência da República sem saber no que vai dar”. Para Haddad, Bolsonaro já se mostrava como é, “uma pessoa grotesca” e que “a cada dia dá péssimos exemplos para o país”, pontuou.
Ao longo da sua fala, o professor universitário chamou a atenção para a “confusão” que Bolsonaro está criando sobre das eleições: “por maior que seja confusão que ele queira criar, ele vai tentar criar confusão, ele já está tentando criar confusão. Isso vai acontecer, em parte, por causa do que aconteceu na universidade brasileira, não é por outra razão. Em parte, é pela mobilização nos campi universitários desse país.”
O ex-Ministro enfatizou que, enquanto a população brasileira era de cerca de 70 milhões de habitantes em 1964, hoje ela é três vezes maior, acima de 210 milhões. “Só que naquele ano nós éramos 200 mil universitários e hoje nós somos 40 vezes mais”. Esses números, para ele, trazem a dimensão do poder que essa parte da sociedade tem. E a maneira de derrotar Bolsonaro é nas urnas. “Vocês vão vencer e vocês são a geração que vai radicalizar a democracia no país.”
O evento foi realizado pela Associação de Pós-Graduandos (APG PUC/SP), o Centro Acadêmico Benevides Paixão (Jornalismo), o Coletivo Contestação e o Coletivo Reconvexo (Direito), a União Estadual dos Estudantes (UEE) e o DZ PT Perdizes, na Quadra do campus Monte Alegre na terça-feira (17). A Profa. Maria Amália, reitora da universidade, esteve presente e saudou o professor após as demais entidades:
“Essa universidade foi invadida em 1977, porque defendia naquele momento a ciência, a sociedade brasileira, o progresso da ciência, e permitiu que aqui acontecesse um encontro estudantil. A Ditadura invadiu a universidade, levou estudantes e professores presos. Levou material e a universidade resistiu. Ela tinha uma reitora mulher. Dona Nadir. Isto fortaleceu a universidade. Então, quando a gente diz a PUC tem uma história, a PUC tem uma história. De defesa do Brasil, de defesa da universidade como lugar de diálogo, de discussão, de desavença, mas principalmente de reflexão, de formação de produção de conhecimento”.
O evento ainda contou com a participação de algumas personalidades, estudantes, representantes de entidades estudantis e indígenas e políticos e pré-candidatos de partidos de centro-esquerda.
O Ministro e professor da Universidade de São Paulo concebeu uma entrevista exclusiva para a Agemt antes do início do evento, durante conversa com as entidades estudantis promotoras e a reitoria da universidade.
Ministro, o senhor tem relação próxima com a PUC-SP. O senhor deu um depoimento no Tribunal do Genocídio, que foi realizado no Tuca no ano passado, também deu uma aula magna sobre educação antes do início do 2º semestre de letivo de 2021 e é conselheiro da universidade. O que a PUC-SP representa para o senhor e para a educação do país?
Acho que não é nem na minha vida, mas na vida de São Paulo. A PUC-SP é uma das instituições mais respeitáveis da cidade, que tem muitas instituições, mas os quadros que a PUC forma e formou, para São Paulo e para o Brasil, todo mundo tem como referência. O corpo docente, o corpo discente, as entidades, todas elas, estudantis ou não, os vários reitores, a reitora atual – Profa. Maria Amália - que passaram por aqui. Quer dizer, tem um simbolismo que transcende as fronteiras do Estado. As PUCs em geral, mas a PUC-SP em particular. Então, como toda instituição que presta um serviço inestimável, ela merece o respeito de todo mundo e ela tem o respeito do mundo. E é bom que seja assim. Essas instituições que formam os quadros dirigentes do país, que querem transformar para melhor o Brasil, tenham o respeito e o selo da instituição que as formaram.
O senhor também já deu algumas pistas sobre a mobilização dos estudantes. Esse evento foi exclusivamente organizado pelos movimentos estudantis, majoritariamente, de diversos cursos e níveis. Como o senhor analisa atuação do movimento estudantil no âmbito acadêmico e no atual cenário brasileiro?
Eu venho dizendo que a população Universitária Brasileira triplicou de tamanho. Só para você ter uma ideia, no golpe de 1964, uma população de cerca de 70 milhões de brasileiros só tinha 200 mil universitários. A população brasileira desde então triplicou enquanto a população universitária se multiplicou por 40. Ou seja, vocês têm que ter a exata medida do que vocês representam no país hoje. O peso específico da população universitária é muito grande e eu acho que é assentar na ordem do dia que essa massa crítica nova e diversa e representativa da nacionalidade tome consciência da sua força, porque eu tenho certeza do que eu estou falando. O Brasil depende como nunca, hoje, desse exército de inteligência, de energia, que é fruto de muita luta social e de governos progressistas que abriram a porta das universidades para o filho do trabalhador, para a população negra. É uma realidade inteiramente nova e nós temos que usar essa força para o bem do país
Sobre o jornalismo, vimos na cobertura das eleições de 2018 que parte da grande imprensa evitou chamar o então candidato Bolsonaro por aquilo que ele já representava, evitando inclusive denominá-lo como um candidato de extrema direita. O senhor acredita que essa relação vai ocorrer novamente e como o jornalismo deveria a partir de agora se portar a partir do que estamos vivendo?
Eu não confio muito na grande imprensa até para não me decepcionar. Quem sabe eles, que cobraram tanto autocrítica, façam a deles e se comporte de uma maneira diferente em 2022. Porque, assim, é quase um acinte uma pessoa que passou a vida inteira dentro de uma biblioteca ou trabalhando em empresas familiares ou dedicada ao serviço público ser comparado com um psicopata. Foi isso que eles fizeram em 2018. Quiseram nivelar tudo por baixo e deu no que deu. 665 mil mortes – pela covid-19 -, a educação destruída, cultura destruída, o meio ambiente destruído, a Ciência e Tecnologia destruída. E aí? Isso não tem responsável? Quem normalizou o bolsonarismo, quem naturalizou as ações do Bolsonaro? Isso não seria possível sem a atuação da grande imprensa. E a imprensa alternativa ainda tem um alcance muito limitado para mobilizar um país. Oxalá venha ter o tamanho necessário para se contrapor à maior fake News, que foi da própria imprensa, não foi do Bolsonaro. A maior fake News foi vender para o país que o Bolsonaro é uma pessoa normal. Quando nós sabíamos que se tratava de uma pessoa totalmente desequilibrada e perigosa.
Para finalizar, como o senhor vê inclusive no âmbito da própria esquerda, o papel da comunicação?
A comunicação é um campo em aberto. Você faz mal ou bom uso da comunicação. Inclusive o que nos separa ou o que nos une é a comunicação. É por meio da comunicação que você cria fantasmas, você cria assombração, você estigmatiza pessoas, cultiva intolerância e pela mesma comunicação você faz o oposto disso. Você convida a reflexão, convida o juízo crítico. A humanidade é isso, a disputa permanente de valores, de símbolos e princípios que norteiam a vida em comunidade. O que nós precisamos fazer é escapar desse projeto protofascista que está instalado no Brasil, porque isso aí impede inclusive que o outro lado seja um jogador desse tabuleiro. O objetivo do Bolsonaro é aniquilar os seus adversários tidos por ele como inimigos. Isso faz muita diferença, você tratar o diferente como inimigo e não como um interlocutor legítimo. Esse é o paradoxo que nós estamos vivendo hoje.
Obrigado, professor.
Breno Silveira estava no interior de Pernambuco gravando “Dona Vitória”, filme que conta com Fernanda Montenegro no papel-título, quando sofreu um ataque cardíaco fulminante neste sábado (14) . A morte foi anunciada pela Conspiração Filmes através das redes sociais. “Vamos chorar pelo nosso amigo e diretor genial, que nos deixa filmes, séries e documentários incríveis. Nos seus projetos, Breno Silveira sempre imprimiu sua busca incansável pela excelência e soube como poucos usar a força do seu olhar para retratar o Brasil”, escreveu a empresa na qual Silveira era sócio.
Breno tem em seu currículo grandes sucessos do cinema brasileiro, como diretor de fotografia trabalhou na produção “Eu Tu Eles (2000)”, de Andrucha Waddington, que foi selecionada para participar da mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes. Essa obra tem como elenco nomes como Regina Casé, Lima Duarte e Luiz Carlos Vasconcelos, além de ter canções de Gilberto Gil na trilha sonora. Ainda como diretor de fotografia Silveira também colaborou em “Carlota Joaquina(1995)”,”Traição (1998)”, “Gêmeas(1999)” e tantos outros.
O filme “Dois Filhos de Francisco(2005)”, pelo qual o cineasta ficou conhecido, foi a sua estreia como diretor e, logo de cara, tornou-se o filme mais assistido nos cinemas naquele ano, com mais de cinco milhões de espectadores. A história retrata a trajetória da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano, o longa-metragem recebeu dez indicações ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e ganhou em quatro categorias, sendo uma delas a de melhor filme.
Ainda no cenário de casos reais, Silveira fez “Gonzaga: de pai para filho”, neste, o retrato é do sanfoneiro Luiz Gonzaga e seu filho Gonzaguinha, a obra também lhe rendeu prêmios e uma boa bilheteria. No âmbito das séries, o cineasta realizou “1 Contra Todos”, considerada a obra brasileira mais indicada ao Emmy Internacional, e a recente “Dom” pela Prime Vídeo, que mostra a percepção do pai de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, sobre a trajetória do seu filho de menino da classe média à bandido e dependente químico.
Em entrevista à AGEMT a coordenadora do curso de “Arte: História, Crítica e Curadoria” da PUC-SP Priscila Almeida enaltece a grande carreira de Elifas, “Ele teve em torno de 40 anos de carreira, inúmeros trabalhos, com uma produção muito grande em capas de discos. Assinou obras do Paulinho da Viola, Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Elis Regina. Ele também fez ilustrações de capas de livros, por exemplo da Clarice Lispector”.
A professora complementa dizendo, “A linguagem visual dele, principalmente a conhecida no campo da discografia é bastante pautada em cores vivas, que de alguma maneira dialogam com a cultura popular brasileira e geralmente trabalha com retratos emotivos que humanizam e evocam imagens de um povo brasileiro sofrido, trabalhando também com os signos políticos e que fazem parte da história do país”.
Almeida conta ainda qual é sua obra preferida de Andreato, “ele tem no campo das artes plásticas um painel que foi montado no corredor de acesso ao Plenário da Câmara dos Deputados, onde ele homenageia alguns políticos que tiveram os seus mandatos cassados na época da ditadura civil militar no Brasil. É uma obra que faz parte do resgate da história da ditadura militar, uma obra grande, que tem em torno de 5 metros de comprimento por 1,70 de altura e ela participa como um documento desse período histórico trágico do país”. Ela se refere à tela A Verdade, ainda que tardia, concluída e doada em 2012 para a Câmara. Ela foi exposta durante as homenagens daquele ano a parlamentares cassados pela ditadura e mostra cenas de tortura praticadas pelo regime contra cidadãos brasileiros nos chamados “anos de chumbo” (1968-1974). O quadro ficou um mês exposto na casa legislativa e depois foi levado para um depósito, longe do público, onde está até hoje. Na época, deputados exigiram a retirada por considerar as cenas retratadas, “constrangedoras”.
Para a docente, “desde os anos 60, o trabalho dele (Elifas Andreato) no campo da ilustração, do design gráfico, fez aqui a história da cultura da produção brasileira”.
A filha do artista, Laura Andreato, comunicou que a morte decorreu do infarto sofrido na semana passada. A família informa que o corpo será velado ainda hoje no crematório da Vila Alpina, na Zona Leste de São Paulo, às 16h. A notícia do falecimento foi divulgada por seu irmão, Elias Andreato, em sua conta no Instagram. A publicação tem como foto a bandeira do Brasil dentro de uma lágrima e uma carta com os dizeres: “E quando os homens forem amigos dos homens, vou saber que o meu irmão não sonhou em vão. Que o país que ele imaginou possa ser colorido para todos! Que a política do seu traço seja homenageada SEMPRE! Meu irmão, você retratou o que o nosso povo tem de mais belo: A DIGNIDADE!”.
O jornalista Chico Pinheiro, o ator Paulo Betti, a cartunista Laerte e o rapper Emicida também prestaram homenagens nas redes sociais.
A MPB PINTADA
O vínculo de Elifas com a arte e com a MPB se expressou em fortes traços na época da ditadura militar, principalmente pelo pintor usar isso como uma forma de luta e protesto à repressão sofrida. Na década de 1960, Elifas já participava da criação de inúmeras revistas, como Placar, Veja e História da Música Popular Brasileira, mas foi somente em 1972 que começou a produzir suas capas, estreando com o LP “Nervos de Aço”.
A história de Andreato foi marcada pela produção de mais de 300 capas de álbuns de grandes cantores da MPB, como Elis Regina, Paulinho da Viola, Adoniran Barbosa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Toquinho, entre outros. Em entrevista ao Jornal Correio Braziliense, o artista disse acreditar que “as capas dos discos são convites de fazer as pessoas se interessarem pela arte”. Suas obras foram de grande contribuição para a arte brasileira, principalmente no sentido do combate à repressão e na luta pela liberdade. De forma humilde, o pintor declarou que “a velhice é uma coisa chata, mas eu felizmente estou sempre produzindo e animado; continuo a fazer aquilo que sempre fiz e dentro dos meus limites dou minha contribuição para a cultura brasileira”.
Elifas transformou o conceito de capa da música brasileira, buscando refletir a essência da canção - por isso, o apelido “pintor de sons”. O pintor buscava estampar não apenas o que a música passava, mas o que ela trazia consigo.
Elifas Andreato usou seu talento para transformar capas de discos e painéis em símbolos brasileiros. Transitando nos mais diferentes meios, inclusive no infantil, é dele, por exemplo, a capa do álbum “Arca de Noé”, de Vinicius de Moraes. A vida e obra desse grande artista gráfico marcaram a cultura e a música com sua genialidade. Pensar nas capas de álbuns da MPB é um convite para reviver a presença e a contribuição de Andreato na história da arte brasileira.

Com um nome de peso no mundo artístico, o designer e ilustrador Elifas Andreato, deixa sua marca na memória dos brasileiros por meio de seus traços expressivos e suas contribuições para a literatura e a indústria musical.
Nascido no dia 22 de janeiro de 1946 em Rolândia-PR, mudou-se para São Paulo com 14 anos junto de seus pais. Não passou por um curso superior, indo direto para o mercado de trabalho. Foi inclusive no ambiente organizacional que seu talento para o desenho foi notado, ainda em seus anos de aprendiz na FIAT LUX, seu dom foi incentivado pela diretoria da empresa, chegando a receber dinheiro de seus superiores. Tudo o que recebia era repassado aos pais, a fim de ajudá-los com as despesas familiares. Com 15 anos chegou a cursar o programa de alfabetização para adultos, demonstrando o interesse por sua formação.
Elifas começou sua carreira no meio artístico e gráfico no ano de 1973, com o long-play “Nervos de Aço”, de Paulinho da Viola, dando início ao que seria uma carreira sólida de grandes parcerias com artistas da música popular brasileira. Somente com o vinil, produziu cerca de 362 capas de discos, ilustrando canções de Chico Buarque, Martinho da Vila entre outros nomes de grande relevância na indústria musical. Ele também deixou sua contribuição para literatura, idealizando o design de “Legião estrangeira” de Clarice Lispector.
Além de seu grande talento para as artes, Andreato tinha forte opinião política e se posicionava, em meio à ditadura. Através da arte, ele manifestava a insatisfação com o regime. Ajudou a fundar o semanário “Opinião”, além de participar das publicações “Movimento e argumento”, enfrentando a censura. No ano de 2011, o artista recebeu, pelo conjunto de sua obra, o prêmio Vladimir Herzog, que celebra profissionais que defendem a luta democrática. A cerimônia foi realizada no TUCA, espaço representante da resistência contra a repressão.
O artista ainda foi diretor editorial do Almanaque Brasil de Cultura Popular, revistas oferecidas para passageiros da companhia aérea TAM.
Na noite desta segunda-feira (28), com 76 anos, por complicações decorrentes de um enfarte, Elifas deixa sua linda biografia e marcas históricas para os brasileiros.