Uma análise sobre a passagem do físico e teórico alemão pelo Brasil e o apagamento das mulheres na ciência
por
Natália Matvyenko Maciel Almeida
Joana Grigório
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16/11/2025 - 12h

Em 1925, Albert Einstein desembarcou na américa do sul, na cidade do Rio de Janeiro, para uma sequência de palestras e nesse vídeo exploramos uma parte dos relatos escritos em seu diário e a falta de registros de pessoas racializadas e também de mulheres nas conferências.

Referências utilizadas para esse vídeo: 

1. Tolmasquim, Alfredo Tiomno. Einstein, o Viajante da Relatividade na América do Sul (2003)
Este livro oferece um olhar detalhado sobre a visita de Albert Einstein à América do Sul, incluindo sua passagem pelo Brasil. O autor explora a recepção do cientista e seu impacto no cenário científico da época.

2. Haag, Carlos. "Tropical Relativity" (2004)
Artigo publicado na revista Pesquisa FAPESP, que aborda os diários de viagem de Einstein na América do Sul, com destaque para suas observações sobre o Brasil e suas interações com a ciência local.

3. Moreira, Ildeu de Castro. Entrevista: Visita de Einstein ao Rio de Janeiro promoveu valorização da ciência pura (2025)
Entrevista com Ildeu de Castro Moreira, que discute o impacto da visita de Einstein ao Rio de Janeiro, enfatizando a valorização da ciência fundamental e os desdobramentos para a pesquisa no Brasil.

4. Fundação Oswaldo Cruz. Museu tem atrações em homenagem aos 100 anos da visita de Einstein (2025)
A Fundação Oswaldo Cruz celebra o centenário da visita de Einstein ao Brasil com exposições e atividades que relembram a importância histórica dessa passagem do cientista.

5. Observatório Nacional. 100 Anos de Einstein no Brasil (2025)
O Observatório Nacional comemora o centenário da visita de Einstein ao Brasil com uma série de palestras e reflexões sobre o impacto de sua passagem no campo científico brasileiro.

6. Rosenkranz, Ze'ev (org.). The Travel Diaries of Albert Einstein (2018)
Esta coletânea organiza os diários de viagem de Einstein, incluindo suas observações sobre diferentes regiões do mundo, com destaque para seus comentários sobre a América do Sul, e apresenta uma análise crítica sobre seus pontos de vista racializados.

7. Artigos de divulgação histórica sobre os diários de Einstein e racismo
Diversas publicações, como matérias da History.com e do The Guardian, discutem as anotações de Einstein sobre suas viagens à Ásia e outros lugares, destacando seus comentários sobre raça e cultura.

Nota de Checagem de Fatos
As informações sobre a visita de Einstein ao Brasil e seu impacto no país, incluindo o papel de Carlos Chagas e a análise dos diários de viagem, foram baseadas em fontes como Fiocruz, Observatório Nacional, e pesquisas de Ildeu de Castro Moreira. As reflexões sobre os comentários racializados de Einstein seguem a análise crítica adotada por estudiosos como Tolmasquim, Haag e Rosenkranz.

Releitura transmídia da estadia do físico no Rio de Janeiro em 1925
por |
03/11/2025 - 12h

Em maio de 1925, Albert Einstein visitou o Rio de Janeiro por uma semana hospedando-se no Hotel Glória, quarto 400. Apesar da recepção calorosa como celebridade, sua passagem foi um desastre cômico. A comitiva que o cercava não tinha um único físico ou matemático - apenas médicos, advogados, políticos e militares da elite social brasileira. No Clube de Engenharia, falou para uma plateia lotada que não entendia alemão nem suas ideias, em uma sala barulhenta e sem acústica. Na Academia de Ciências, teve que ouvir três discursos vazios em francês mal falado, incluindo um sobre "a influência da Relatividade na Biologia". O ápice foi quando o jurista Pontes de Miranda tentou desafiá-lo em alemão com considerações sobre metafísica e direito. Einstein levou de presente um papagaio que repetia "Data venia, Herr Einstein", lembrando-o sempre, com humor, da "ciência" dos doutores brasileiros.

“Einstein: visualize o impossível” é um projeto dos estudantes do quarto semestre de jornalismo da PUC-SP, da disciplina de jornalismo transmídia. O projeto aborda, de diferentes maneiras, uma releitura da icônica visita do físico ao Brasil em 1925. Todos os relatos estão em um site especial. Além de produções visuais e sonoras, o especial propõe uma narrativa em quadrinhos que conecta ciência, história e imaginação, tendo como cenário o Observatório Nacional (espaço que recebeu Albert Einstein). 

A produção contou com a colaboração de Bruno Matos, vice-diretor da Escola Estadual Professor Walter Ribas de Andrade. Já o vídeo “Os impactos de Albert Einstein na educação brasileira explicado por doguinhos” apresenta as contribuições das teorias do cientista para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a partir da entrevista com o professor de física Dediel Oliveira.  

Em “Diário do Einstein”, o leitor encontra coletânea de depoimentos em formato de diário sobre a passagem de Albert Einstein pelo Rio de Janeiro no ano de 1925, comentando ao longo de cada dia, pontos turísticos e palestras presenciadas por ele. No podcast "A carta que revolucionou a corrida armamentista", discute carta assinada pelo físico Albert Einstein em agosto de 1939, que alertava o presidente dos EUA, Franklin D.Roosevelt, sobre o potencial da Alemanha nazista em desenvolver uma bomba atômica.

O vídeo vertical “Einstein no Brasil” narra o encontro do físico com Carlos Chagas, marcando um momento científico crucial. A produção destaca a troca intelectual entre os dois grandes nomes da época. Por fim, é possível compreender uma sutil crítica sobre a omissão de um encontro com cientistas mulheres consagradas, como Bertha Lutz. Em “Einstein: uma análise de sua trajetória política”, as cartas de Einstein e seus discursos que expressavam preocupação com a violência e os conflitos no Oriente Médio são revisitadas. Nas declarações, o físico defende uma convivência justa entre judeus e árabes, e o projeto analisa como suas palavras ecoam no contexto atual da guerra entre Israel e Palestina, mostrando que o tempo passa, mas as perguntas sobre humanidade e coexistência continuam urgentes. 

Finalmente, o livro "Os Sonhos de Einstein", de Alan Lightman, pela Cia das Letras, apresenta uma série de sonhos imaginários que o jovem Albert Einstein teria tido enquanto desenvolvia a Teoria da Relatividade, em 1905. Em cada um deles, o tempo funciona de um jeito diferente, às vezes para, volta ou corre mais rápido e essas variações servem para refletir sobre a vida, as lembranças e as escolhas humanas. "Neste mundo, a textura do tempo parece ser pegajosa. Porções de cidades aderem a algum momento na história e não se soltam. Do mesmo modo, algumas pessoas ficam presas em algum ponto de suas vidas e não se libertam".
 

O uso excessivo do celular está moldando comportamentos e lucros empresariais das Big Techs
por
Julia Cesar Rangel
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27/10/2025 - 12h

Por Julia Cesar

 

O som começa suave, quase hipnótico. A vinheta colorida anuncia: “Cocomelon!”. Em segundos, os olhos se fixam na tela, o corpo se acalma e o mundo ao redor desaparece. Por trás dessa inocente animação infantil, há uma equipe bilionária que lucra com cada clique, cada minuto de atenção e cada vídeo que não para de rodar.

Nos últimos anos, o uso excessivo do celular tem preocupado especialistas, pais e educadores. Plataformas e canais, especialmente os voltados para o público infantil, estão sendo desenhados para capturar e reter o olhar humano o máximo possível. No caso das crianças, os efeitos são ainda mais intensos, já que seus cérebros ainda não estão totalmente formados para compreender o que é viciante e prejudicial.

A mãe Bianca Rangel, por exemplo, percebeu esse impacto em casa. O pequeno Gael, de 3 anos, começou a reconhecer a música do Cocomelon apenas pelo primeiro segundo de som. Ele largava qualquer brinquedo para correr até o celular. No início, Bianca achava a cena fofa, mas com o tempo notou que o filho ficava irritado e chateado quando o aparelho era desligado.

Preocupada, ela tentou limitar o tempo de tela, mas enfrentou forte resistência. Foi então que decidiu buscar orientação profissional e entendeu que substituir o tempo de tela por atividades com “dopamina boa” não era apenas uma escolha, e sim uma necessidade.

De acordo com a psicóloga Mayara Contim, formada pela USP e atualmente atuando na escola St. Nicholas, esse tipo de comportamento é resultado de mecanismos psicológicos cuidadosamente estudados pelas plataformas. Ela explica que não se trata apenas do Cocomelon: hoje, vídeos são planejados para ativar o sistema de recompensa do cérebro. As músicas, as cores e o ritmo acelerado são pensados para liberar dopamina, o hormônio ligado ao prazer imediato. Isso cria um ciclo de dependência semelhante ao que ocorre com jogos e redes sociais entre adultos e adolescentes.

A psicóloga ressalta que o problema não está apenas nas crianças. Segundo ela, os adultos também são vítimas desse design, já que as redes sociais funcionam com a mesma lógica de manter o usuário rolando infinitamente. No entanto, o impacto é mais grave nas crianças, pois seus cérebros ainda estão em desenvolvimento.

Um estudo recente da Common Sense Media apontou que, em média, crianças de até cinco anos passam quase três horas por dia em frente a telas. O dado assusta, mas reflete uma realidade cotidiana: celulares se tornaram babás digitais, distrações práticas para pais cansados e ferramentas de lucro para empresas que vendem publicidade a cada visualização.

Bianca admite que o uso do celular facilitava sua rotina. Enquanto o filho assistia aos vídeos, ela conseguia trabalhar ou realizar tarefas domésticas. Com o tempo, porém, percebeu que estava trocando momentos de qualidade com o filho por alguns minutos de silêncio.

Para Mayara Contim, o primeiro passo é não culpar os pais, e sim compreender o contexto. Ela destaca que vivemos em um mundo hiperconectado e que o caminho está na consciência e nos limites. O ideal, segundo a psicóloga, é que os pais assistam junto com as crianças, conversem sobre o conteúdo e ofereçam outras formas de estímulo — como brincadeiras, leitura e contato com a natureza.

Enquanto isso, a indústria continua explorando cada segundo de atenção possível. Canais como Cocomelon acumulam bilhões de visualizações e lucros altíssimos com publicidade, licenciamento e produtos derivados. O looping digital virou negócio, e nós, espectadores, nos tornamos o produto.

Mayara resume a lógica de forma direta: a atenção é a nova moeda. E, no fim, essa frase ecoa como um alerta — quanto mais tempo passamos presos às telas, mais alguém, do outro lado, está lucrando com isso.

O Brasil é pioneiro na criação de um medicamento que regenere a medula óssea de pacientes
por
manuela schenk scussiato
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03/11/2025 - 12h

Por Manuela Schenk

 

Não fora uma sexta-feira qualquer para Júlia. A caminho do ponto de ônibus para voltar para sua casa após um dia de aula na faculdade um motorista embriagado atropelou-a e fugiu sem prestar socorro que mudou sua vida para sempre quando tinha apenas 19 anos. Júlia teve lesões nas vértebras T8, T9 e T10 que a deixaram paraplégica depois de cinco dias em coma quando recebeu a notícia de que jamais andaria novamente.

Hoje Júlia tem 22 anos e teve que reaprender a viver. Coisas que jamais imaginou ter dificuldades agora são grandes conquistas, como quando conseguiu tomar banho sozinha pela primeira vez ou quando pode se deitar na própria cama sem auxílio. Escadas se tornaram rampas, seu restaurante favorito virou delivery, já que não possui acessibilidade para que ela consiga entrar na cadeira de rodas. As festas que frequentava semanalmente agora são eventos anuais, pois a locomoção dentro de uma balada é quase impossível para alguém que não consegue usar as próprias pernas.

No início se adaptar parecia impossível, noites mal dormidas quando chorava no travesseiro até seus olhos cederem. Depois de receber alta do hospital ela foi encaminhada para terapia, consultas três vezes por semana que depois de dois anos se tornaram duas. A fisioterapia que antes era uma tortura aos poucos se tornou um momento divertido.

Nos anos que se passaram Júlia conheceu mais pessoas na mesma situação que ela e de pouco a pouco sua nova vida se tornou mais tolerável, mas mesmo depois de quase 4 anos do acidente ela ainda tem dias ruins, sua autoestima nunca mais foi a mesma já que por muito tempo não conseguia se arrumar como antes. Júlia conta que o momento mais difícil da vida dela foi descobrir que seu caso não tinha cura. Sem possibilidade de tratamento ou cirurgia, uma menina que antes era ativa, amava se exercitar, sair com suas amigas, passear com sua cachorrinha, agora se vê forçada a reaprender a viver.   

É possível perceber as dificuldades que marcam a vida das pessoas que são afetadas pela paraplegia. Infelizmente muitos casos não são reversíveis, mas graças a estudos de um grupo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o mundo pode estar mais próximo de encontrar uma cura para uma deficiência que interrompe a vida de tantas pessoas.

A pesquisa, desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, representa um marco para a medicina brasileira. O medicamento experimental chamado Polilaminina foi criado a partir de uma proteína natural da placenta humana, capaz de estimular a regeneração das células nervosas. Em estudos com animais, especialmente cães que haviam perdido os movimentos, o tratamento apresentou resultados impressionantes: alguns conseguiram voltar a andar mesmo após anos de paralisia. Esse avanço chamou a atenção da comunidade científica internacional e fez com que o Ministério da Saúde e a Anvisa classificassem o estudo como de prioridade absoluta no País.

A equipe liderada por Tatiana Sampaio começou o estudo da eficiência polilaminina para promover a regeneração de fibras nervosas/axônios e reconectar áreas lesadas da medula espinhal começou em 2007, embasado em outro estudo da faculdade que iniciou em 1998. São quase três décadas de trabalho árduo que trouxeram a equipe ao sucesso que é exposto para o mundo hoje, com seis dos oito pacientes humanos recuperando, parcial ou completamente, os movimentos que lhes foram tomados. 

Além dos testes clínicos em andamento, o projeto da UFRJ tem recebido apoio de instituições públicas e privadas, como o Laboratório Cristália, que colabora na etapa de desenvolvimento farmacêutico e produção em larga escala da substância. O próximo passo dos pesquisadores é a realização de estudos em uma quantidade maior de voluntários, o que permitirá avaliar com mais precisão a segurança e a eficácia do medicamento. Caso os resultados se confirmem, o Brasil poderá ser o primeiro país a oferecer um tratamento realmente regenerativo para lesões medulares, uma conquista inédita na história da ciência.

Para Júlia e milhares de pessoas que convivem com a paraplegia, essa descoberta reacende uma esperança que parecia perdida. Mesmo que o caminho até a cura ainda seja longo, cada passo da pesquisa representa uma vitória contra a limitação imposta pela lesão medular. A história de Júlia mostra a força de quem se reinventa diante da adversidade. O que a ciência da UFRJ faz agora é provar que o impossível pode estar mais perto do que se imagina. Aquilo que antes era apenas sonho, agora começa a ganhar forma nas mãos de pesquisadores brasileiros dedicados a devolver o movimento e com ele a liberdade a tantas vidas interrompidas.

Especialista alerta para riscos do uso acrítico de plataformas de IA na educação
por
Thomas Fernandez
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04/10/2025 - 12h

A inteligência artificial (IA) ganhou rapidamente espaço em diferentes setores da sociedade, e a educação não ficou de fora dessa tendência. Plataformas capazes de corrigir redações, recomendar atividades personalizadas e até mesmo substituir parte das tarefas do professor estão em alta.

A promessa, vendida por empresas de tecnologia e gestores entusiasmados, é de que a IA pode democratizar o ensino, personalizar a aprendizagem e aliviar a carga de trabalho docente. Não por acaso, de acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC), sete em cada dez estudantes do Ensino Médio já utilizam ferramentas de IA generativa em trabalhos escolares, mas apenas 32% afirmam ter recebido orientação na escola sobre como usar esses recursos de forma pedagógica. 

Há quem veja nesse movimento um risco de precarização do trabalho dos professores, transformando a inovação em mais uma engrenagem de uma lógica de cortes de custos e desvalorização profissional. Afinal, a inteligência artificial na educação é realmente uma aliada do professor ou pode acabar sendo um instrumento de substituição e perda de direitos? 

Em entrevista à AGEMT, Pedro Maia, cientista de dados e pesquisador em ética e tecnologia, alerta para o risco de que a IA seja utilizada como justificativa para reduzir a presença e a importância dos professores. Para ele, é preciso estar atento à lógica de mercado que move grande parte das inovações tecnológicas aplicadas à educação: “O risco é que as escolas passem a enxergar a inteligência artificial não como apoio, mas como substituição. Se uma plataforma consegue corrigir automaticamente atividades e sugerir trilhas de estudo, a tentação de reduzir o quadro docente e cortar custos é enorme”, explica. 

Segundo Maia, isso poderia levar a uma precarização ainda maior do trabalho docente, em um cenário no qual professores já enfrentam baixos salários, excesso de carga horária e falta de condições adequadas de trabalho. “A promessa de eficiência pode esconder a intenção de enxugar gastos. É a lógica neoliberal aplicada à educação: menos investimento em pessoas, mais aposta em soluções padronizadas”, acrescenta.

Pedro Maia, cientista de dados.
Pedro Maia, cientista de dados. Foto: Arquivo Pessoal.

 

Maia também chama atenção para o risco de aprofundar desigualdades: “Nesse cenário, a IA não democratiza, mas acentua a exclusão. O aluno da periferia continua com menos oportunidades que o de elite, ainda que ambos usem supostamente a mesma tecnologia”. Esse alerta encontra respaldo nos números. Em 2023, 69% dos estudantes já conheciam a IA; em 2024, esse índice subiu para 80%, segundo levantamento nacional feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES).

No entanto, nem todos têm acesso à mesma qualidade de ferramentas ou de acompanhamento pedagógico. Enquanto escolas privadas de ponta conseguem incorporar plataformas sofisticadas, parte da rede pública depende de versões limitadas, com pouco ou nenhum suporte docente.

Mesmo assim, o cenário não é apenas de resistência. Pesquisas feitas pela SEMESP (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), mostram que 74,8% dos professores acreditam que a IA pode ser aliada no processo de ensino, e 39,2% já utilizam a tecnologia regularmente em sala de aula. Esses dados revelam uma categoria dividida, mas que enxerga potencial na tecnologia quando aplicada como ferramenta de apoio, não como substituição. 

Além disso, iniciativas públicas começam a surgir. O governo federal, em parceria com a UNESCO e a Huawei, lançou o projeto “Open Schools” na Bahia e no Pará. Ambos locais foram escolhidos pela falta de infraestrutura educacional, conectividade e recursos tecnológicos. A iniciativa foca na formação de professores em competências digitais e uso de IA, além de investimentos em conectividade e infraestrutura. O objetivo é reduzir desigualdades e preparar a rede pública para essa transição.

A coexistência desses dois pontos de vista - o risco de precarização e a promessa de apoio pedagógico - evidencia o dilema atual: A IA pode ser tanto aliada quanto algoz, dependendo da forma como for implementada. Se o objetivo for cortar custos, há risco de enfraquecer a profissão docente. Mas se, por outro lado, houver investimento em formação, infraestrutura e regulação, ela pode abrir espaço para práticas pedagógicas mais ricas e inclusivas.

O que está em jogo, portanto, não é apenas a chegada de uma nova tecnologia, mas o modelo de educação que o país pretende construir. A questão central permanece: a inteligência artificial será um recurso a serviço de professores e alunos ou mais um instrumento de precarização do trabalho em nome da eficiência econômica?

Enquanto não há consenso, cresce a urgência em debater publicamente os rumos dessa transformação. O futuro da escola não depende apenas das máquinas, mas das escolhas políticas, sociais e econômicas que definirão como, para quem e com quais propósitos a tecnologia será utilizada.

O evento contou com Oppenheimer liderando a premiação, a presença do cachorro Messi e manifestações pró-Palestina.
por
Julia da Justa Berkovitz
Mohara Ogando Cherubin
Giulia Fontes Dadamo
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11/03/2024 - 12h

A premiação do Oscar 2024 ocorreu na noite de domingo (10) e contou com vitórias previstas: Cillian Murphy como Melhor Ator, Emma Stone como Melhor Atriz e Oppenheimer como Melhor Filme. A premiação teve performances de Billie Eilish e Finneas O’Connell, Ryan Gosling, Becky G e Jon Batiste. Um dos destaques da noite foi a apresentação da Wahzhazhe, pelos Osage Singers, representantes do povo indígena Osage. Andrea Bocelli e Matteo Bocelli homenagearam artistas que morreram em 2023, dentre eles Matthew Perry e Michael Gambon. 

Manifestações pró-Palestina estiveram presentes na premiação. Os manifestantes cercaram a rua do Dolby Theater, teatro no qual o Oscar ocorreu, e criticaram as ações de Israel na Faixa de Gaza, além de pedir pelo cessar fogo no conflito. "Enquanto você assiste, bombas estão caindo", dizia uma das placas. Artistas como Joaquin Phoenix, Mark Ruffalo, Kristen Stewart e Swann Arlaud compareceram ao evento utilizando broches com o símbolo do movimento Artists4Ceasefire, como uma espécie de manifestação silenciosa. e pediram por ajuda humanitária, libertação dos reféns e pelo cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Imagem com 3 artistas
Billie Eilish, Mahershala Ali e Mark Ruffalo utilizando broche pró-Palestina (Reprodução/ O Povo)

"Está começando. Estamos atrasados. O protesto [pró-] Palestina interrompeu o Oscar esta noite. A humanidade vence", disse Mark Ruffalo em uma rápida entrevista. Devido aos protestos, a transmissão do Oscar precisou ser adiada por alguns minutos e alguns artistas tiveram dificuldades de chegar ao teatro. Confira mais informações sobre a 96ª edição do Oscar no link a seguir: https://www.instagram.com/reel/C4bACyjueDE/?igsh=MW1lNHM3d2ZnbjZ0OA== 

Capela dos Aflitos é parte da história apagada da região, conhecida pelo comércio e tradições nipônicas derivadas da imigração japonesa
por
Ana Julia Bertolaccini
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11/11/2023 - 12h

A Capela Nossa Senhora das Almas dos Aflitos, fundada em 27 de junho de 1779, é um dos poucos símbolos históricos que restaram do período que antecedeu a imigração japonesa do século XX no Bairro da Liberdade em São Paulo. O local foi de 1175 até 1858, um cemitério, onde eram enterrados pobres, escravizados, criminosos e indígenas. Segundo os monitores da capela, o nome do bairro se deu pela história de Francisco José das Chagas, cabo do primeiro batalhão de Santos que foi condenado à morte por enforcamento depois de liderar uma revolta causada pela falta de pagamento a 5 anos. “Liberdade” era o que gritavam na praça em que Chaguinhas ou “Protetor do Excluídos”, como é conhecido, foi colocado à forca pela terceira vez e a corda arrebentou.

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Capela dos Aflitos, localizada no final da Rua dos Estudantes no Bairro da Liberdade //Autora: Ana Julia Bertolaccini

 

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Sandra, monitora da capela//Autora: Ana Julia Bertolaccini
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Painel informativo e de protesto, localizado ao lado da capela// Autora: Ana Julia Bertolaccini
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Painel informativo e de protesto, localizado ao lado da capela// Autora: Ana Julia Bertolaccini
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Haroldo, voluntário da capela// Autora: Ana Julia Bertolaccini
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Placa que explica a origem do nome do Bairro// Autora: Ana Julia Bertolaccini
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Sala de promessas e agradecimentos da capela// Autora: Ana Julia Bertolaccini
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Velas da sala de promessas, normalmente direcionadas à Chaguinhas// Autora: Ana Julia Bertolaccini
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Agradecimentos de fiéis à Chaguinhas// Autora: Ana Julia Bertolaccini
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Imagem de Chaguinhas, conhecido como santo protetor dos excluídos// Autora: Ana Julia Bertolaccini
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Altar da Capela dos Aflitos// Autora: Ana Julia Bertolaccini
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Placa de Memória Paulistana// Autora: Ana Julia Bertolaccini

 

No mundo virtual de Roblox, a paródia da Libertadores faz sucesso no Brasil e também na Argentina.
por
João Pedro Lopes Oliveira
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13/11/2023 - 12h

 

A Copa Roblox é a principal competição de futebol no Roblox entre times da América do Sul. Ela é organizada pelo youtuber brasileiro Santos Masinha na sua primeira edição em 2023. É um dos torneios mais prestigiados do jogo e se tornou um fenômeno virtual tão imenso que nos dias das partidas, a mídia esportiva tem dedicado uma cobertura abrangente à competição. 

Roblox é uma plataforma de criação e jogo online que permite aos usuários criar, compartilhar e jogar jogos criados por outros jogadores. Seu grande atrativo é a capacidade dos usuários de criar seus próprios mapas usando uma programação simples e fácil, permitindo que desenvolvedores amadores e profissionais deem vida às suas ideias. Com uma comunidade global ativa, o game se destaca como uma plataforma de entretenimento online onde a criatividade e a diversão se encontram. Em Agosto a Roblox Corporation divulgou que o jogo registrou mais de 65 milhões de usuários ativos diários.

Na Copa Roblox, o jogo simula partidas de futebol disputadas em dois tempos de 20 minutos, onde os jogadores controlam seus avatares para chutar, driblar, passar e marcar gols, seguindo as regras do jogo. A competição possui fases eliminatórias, começando nas oitavas de final, seguindo para as quartas, semifinais e pôr fim a grande final, com equipes avançando à medida que vencem os jogos. O campeonato teve uma grande expansão, sendo transmitido até mesmo em bares argentinos. O perfil oficial da Copa no X (antigo Twitter) já conquistou mais de 145 mil seguidores, incluindo o popular streamer e apresentador esportivo Casimiro Miguel – que expressou sua decepção quando seu time do coração, Vasco da Gama, perdeu na Copa do Brasil virtual.

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Banner da competição. Imagem: Copa Roblox no Twitter/X

Para ilustrar o alcance desse fenômeno, a partida das quartas de final do torneio, que colocou Boca Juniors e River Plate frente a frente, atraiu uma audiência impressionante de mais de 606 mil espectadores simultâneos, juntando as transmissões das plataformas Twitch e Youtube. O CEO do metaverso Roblox, David Baszucki, fez uma postagem no Twitter na qual se revela fascinado com o sucesso do torneio. “A visão de um criador do Roblox levou a um ecossistema de e-sports, com equipes, arenas, árbitros e fãs de todo o mundo…”.

Todas as equipes da competição homenageiam times da vida real, com camisas e escudos iguais, os estádios das partidas foram também construídos aos moldes dos verdadeiros. Os Jogos contam com narradores e comentaristas nas transmissões. No entanto o torneio passou por algumas polêmicas, após fechar contrato de patrocínios com a Bonoxs (site de compras de jogos) e Centauro, chamando a atenção da CONMEBOL (Confederação Sulamericana de Futebol) que pediu para que tirassem o nome “Libertadores” do torneio e todas as suas referências.

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Troféu do campeonato. Imagem: Copa Roblox no Twitter/X
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A primeira edição contou com 16 times, sendo nove brasileiros (Atlético Mineiro, Botafogo, Corinthians, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Palmeiras, São Paulo e Vasco da Gama), quatro argentinos (Boca Juniors, Independiente, Racing e River Plate), dois equatorianos (Independiente del Valle e LDU) e um uruguaio (Penãrol). Os brasileiros se classificaram a partir de outras competições criadas por Masinha, a Copa do Brasil de Roblox que deu vaga ao campeão Grêmio e ao vice Atlético Mineiro e os outros sete entraram pela tabela do Brasileirão virtual. As demais equipes da América do Sul foram escolhidas a partir da popularidade dos clubes na vida real.

Após três fases de mata-mata, Boca e Racing acabaram chegando à final. Porém o clube de Avellaneda notificou judicialmente o jogo por direitos autorais - eliminando o Racing que foi renomeado para Corrida FC. Com isso, a final acabou ocorrendo entre Botafogo e Boca Juniors. A final foi no dia três de novembro no estádio virtual do Maracanã - RJ. E o Botafogo se tornou campeão após empate de 0x0 e nos pênaltis ganhando por 3x1.

Bagrão, o jogador que acertou a última cobrança, contou a experiência de jogar o campeonato. “É a terceira vez que sou campeão disso aqui, mas essa copa foi diferente, foi muito mais disputada com times difíceis, mas nós estávamos confiantes, nos pênaltis sempre de cabeça erguida, na hora das batidas eu falei pra equipe se for pra decidir deixa que eu decido. O Botafogo é a minha casa e deu tudo certo no fim porque era assim que tinha que ser, estava marcado nas estrelas, agora que somos campeões é só comemorar.”

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Botafogo campeão da Copa Roblox. Imagem: Twitter/X

O jornal argentino TyC Sports lamentou a derrota do time de Buenos Aires “E infelizmente para os torcedores do Xeneizes, o jogo foi sem emoção durante os 40 minutos, e teve que ser decidido a partir dos 12 passos. Ao contrário do que vem acontecendo, tanto no Roblox quanto na vida real, desta vez os pênaltis viraram as costas ao Boca.”. Após o término da competição, Masinha anunciou em suas redes sociais que ainda tem projetos para mais campeonatos no Roblox e que em breve terá mais jogos nesse metaverso.

Melhores momentos da partida: https://youtu.be/D-PR3Y_mJzA?si=AN2G1-PMSuM2i5XN

Palestinos buscam reconhecimento, autonomia enquanto Estado e pelo direito do território cada vez mais ocupado pelo Estado de Israel.
por
Luan Leão
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07/11/2023 - 12h

A criação do Estado de Israel em novembro de 1947, após resolução da Organização das Nações Unidas, iniciou uma tensão na região. O último capítulo dessa história foi a escalada entre Israel e o grupo islâmico Hamas, retomada no dia 07 de outubro, e que já resultou em mais de 8 mil mortos entre palestinos e israelenses. Para entender a ofensiva dos últimos dias, a AGEMT preparou uma série especial de quatro reportagens sobre o conflito Palestina e Israel. Nesta segunda reportagem, você vai acompanhar o processo de expansão territorial israelense, a movimentação para a organização política de uma resistência palestina e as tentativas de acordos de paz na região.

Com o fim do primeiro conflito árabe-israelense, com o acordo de armistício entre Egito e Israel, em fevereiro de 1949, e depois em julho com o acordo entre Israel e os países árabes vizinhos, o controle da região conhecida como Faixa de Gaza ficou com sob ocupação dos egípcios e a Cisjordânia sob ocupação de forças militares da Jordânia.

O pesquisador Arturo Hartmann, doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, Unicamp e PUC-SP) e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe, ressalta que esse controle feito por egípcios e jordanianos tinham finalidades distintas. “Havia uma diferença da perspectiva desses dois governos. A Jordânia ela quis anexar, ela pensava em controlar politicamente, administrativamente a Cisjordânia. Uma espécie de incorporação. [...] No Egito era diferente, o Egito nunca quis anexar Gaza, ou principalmente, não era esse o objetivo”, avalia o pesquisador.

Crise de Suez

O Canal de Suez tem 163 quilômetros que faz ligação entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho foi construído entre 1859 e 1869, e tem importância estratégica por permitir que embarcações façam o trajeto entre Europa e Ásia sem contornar a África. Por conta da dívida externa, os egípcios venderam o Canal de Suez para a Grã-Bretanha, que instalou tropas britânicas na região em 1882. 

Em julho de 1956, o presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, declarou lei marcial e decidiu nacionalizar a Companhia do Canal de Suez. A medida foi uma reação após Estados Unidos e Grã-Bretanha não financiarem a construção da Barragem de Aswan. O presidente egípcio acreditava que o pedágio recolhido iria financiar a construção em cinco anos. O temor do Reino Unido e da França era a interrupção do fornecimento de petróleo na Europa.

Com o apoio franco-britânico, o Estado de Israel declarou guerra ao Egito e, no dia 29 de outubro, promoveu uma violenta invasão na Península do Sinai. No mesmo período, França e Grã-Bretanha realizaram a tomada do Port-Said, na entrada do Canal de Suez. Apesar de ter conquistado o controle de Sinai, a crise terminou com a retirada de tropas israelenses, britânicas e francesas, depois de a União Soviética ameaçar França e Grã-Bretanha de um ataque nuclear.

O êxito da ação de Nasser estabeleceu a ideia do nacionalismo árabe - ou  “arabismo” - na política árabe. O movimento tinha como ideal a união de países de maioria árabe-muçulmana, para fortalecer a cultura e a causa islâmica ante o Ocidente. O posicionamento de Israel confirmou a visão dos países vizinhos que identificavam o país como uma criação colonial. Dois anos mais tarde da Crise Suez, a queda da monarquia iraquiana - apoiada pelos britânicos - mostrou a força do nacionalismo árabe.


Organização política para resistência

Em 28 de maio de 1964, mais de 300 membros representantes dos países da região - integrantes da Liga Árabe - realizaram o 1º Conselho Nacional Palestino, tido como uma espécie de parlamento palestino no exílio. Das deliberações deste Conselho surgiu a Organização para a Libertação Palestina (OLP). Nos crachás dos delegados que fundaram a OLP estava a palavra “Sanaud”, que significa “voltaremos” em árabe. 

A ideia da Organização para a Libertação Palestina era unificar diversas camadas da sociedade palestina. Na sua estrutura estão representados além da sociedade civil (estudantes, mulheres e trabalhadores) todos os partidos políticos palestinos, dentre eles: Al Fatah (Movimento de Libertação Nacional da Palestina); Frente Popular para a Libertação da Palestina; Frente Democrática para a Libertação da Palestina; Frente de Libertação da Palestina; União Democrática Palestina; Partido Popular Palestino - ex-Partido Comunista Palestino; As-As’Iqa; Frente de Libertação Árabe; Frente de Libertação Popular da Palestina e Frente Árabe Palestina.

O primeiro a comandar a OLP foi o advogado libanês Ahmad Shuqueire. Considerado moderado e hábil politicamente, tinha confiança dos países árabes e havia sido secretário-geral da Liga das Nações Árabes entre 1950 e 1956. Shuqueire permaneceu à frente da OLP até dezembro de 1967, após a derrota dos países árabes na chamada Guerra dos Seis Dias.

“O Nasser (presidente do Egito) se utilizava da resistência Palestina para proveitos próprios. Ele tentava, nessa negociação tensa que ele tinha, transformar em uma frente contra Israel mas que ele podia tanto incentivar, quanto segurar, quando fosse da vontade dele. Outra coisa que simbolicamente era muito importante o Nasser estar ligado à OLP, (era) como se fosse um braço da causa árabe do pan-arabismo dele. Só que em 1968, e tem a ver com a guerra dos seis dias, os palestinos tomam a OLP. A OLP deixa de ser mais controlada pelo Nasser”, analisa Hartmann.

Palestina e Israel
Fatah é o principal partido político da Palestina. Foto: Reprodução

Fundado em 1959, o Al Fatah - acrônimo para Harakat al-Tahrir al-Watani al-Filastini ou Movimento de Libertação Nacional da Palestina - é o principal partido palestino e surgiu com a linha política de resistência armada, da negação da existência de um Estado sionista de Israel e defesa da volta da Palestina histórica, com um só território e sem divisões. O Fatah tem atuação determinante nas ações políticas da OLP a partir de 1968, quando Yasser Arafat, um dos fundadores do Fatah, assumiu o comando após a saída de Shuqueire. Além de Arafat, Mahmoud Abbas, atual presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), também esteve na fundação do Fatah, e sucedeu Arafat à frente da OLP, em outubro de 2004. 

Guerra dos Seis Dias

Em maio de 1967, tropas militares da Síria e da Jordânia passaram a movimentar tropas regulares na fronteira com Israel, ao sul. Com a pressão dos aliados, Abdel Nasser mobilizou tropas egípcias na fronteira ao norte de Israel, na Península do Sinai. O presidente egípcio ordenou, também, a saída de tropas da Organização das Nações Unidas, que estavam lá desde a Crise de Suez, em 1956. Já próximo do final do mês, Nasser instituiu um bloqueio a Israel no Estreito de Tiran, que dava acesso ao golfo de Aqaba, fechando uma importante rota de acesso ao mercado asiático e afetando o recebimento de petróleo do então principal fornecedor israelense, o Irã.

Após as movimentações militares, no dia 05 de junho, por ordens do primeiro-ministro Levi Eshkol, Israel deu início a Mitzvá Moked - Operação Foco - com a destruição de 300 dos 340 aviões de combate do governo egípcio em cerca de menos de duas horas. A ofensiva isralense seguiu com a ocupação das cidades de Rafah, na Faixa de Gaza, El Arish, no Egito, e da Península do Sinai.

As forças militares israelenses também entraram nas cidades de Gaza, Qalqilya e Ramallah, além de cercar a cidade de Jerusalém, no segundo dia de guerra. No dia 07 de junho, Israel tomou o controle de Jerusalém Oriental, que estava sob poder da Jordânia, e chegou ao Estreito de Tiran. Ao longo do conflito as tropas israelense também avançaram sobre os territórios de da Judeia, Jericó, Nablus, Hebrom e as Colinas de Golã, que estavam sob controle da Síria. A derrota árabe foi um duro golpe no movimento nacionalista árabe Abdel Nasser.

Palestina e Israel
Israel ocupou território do Sinai (Egito), Golã (Líbano), além de Gaza e Cisjordânia (Palestina). Arte de Luana Galeno com informações da BBC

A ONU propôs um cessar-fogo imediato ainda no dia 07 de junho, mas só foi concretizado no dia 10, com a assinatura de Jordânia, Egito e Síria. O resultado da Guerra dos Seis Dias foi uma expansão territorial israelense, que triplicou o tamanho com relação ao território estipulado pela ONU no acordo de partilha. A Guerra deixou cerca de 11 mil mortos do lado do Egito, pelo menos seis mil jordanianos e mil sírios. Do lado de Israel, ao menos 700 pessoas morreram e outros seis mil foram feitos prisioneiros. Outros 300 mil palestinos foram forçados a deixar suas casas.

Para Isabela Agostinelli, doutora em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas na área de concentração da Paz, Defesa e Segurança Internacional, e integrante do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da PUC-SP, a postura dos agentes internacionais no pós-guerra dos Seis Dias, com relação a Israel, é importante para entender a expansão da ocupação israelense. “Temos duas posturas, a diplomática e a material. A postura diplomática dos países, principalmente daqueles que concordam com a divisão da ONU, de 1947, de divisão do território entre Israel e Palestina, a Palestina sendo composta pela Cisjordânia e a Faixa de Gaza. [...] Mas em termos materiais, o que a gente vê é a expansão dos territórios israelenses, na Cisjordânia principalmente, e quanto a isso a comunidade internacional está calada.”, explica Agostinelli.

“É tudo quase como se fosse um pequeno teatro. Apenas declarações de apoio a essa resolução da ONU, mas ao mesmo tempo não se fala quase nada sobre a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia” - Isabela Agostinelli, doutora em Relações Internacionais com estudos na área de concentração da Paz, Defesa e Segurança Internacional

Dois dias depois do cessar-fogo, o então primeiro-ministro, Levi Eshkol, ao falar sobre a vitória israelense no Knesset - parlamento de Israel - disse que “a existência do Estado de Israel estava por um fio”, e reforçou a tese israelense de que um segundo holocausto havia sido evitado. No entanto, em um simpósio, em Tel Aviv, no clube Zavta, em março de 1972, o general Mattityahu Peled, chefe do comando logístico da Guerra dos Seis e membro do Estado-Maior de Israel, afirmou que esse argumento “não era nada mais que um blefe que nasceu durante a guerra e depois cresceu”.

O general Peled ainda publicou um artigo, em 24 de março, no jornal israelense Maariv, onde defendeu sua fala e disse que desde 1949, ninguém havia de fato “ameaçado a existência do Estado de Israel”. Também em entrevista ao Maariv, o general Haim Bar-Lev, que era vice-chefe do Estado Maior em 1967, declarou que Israel não havia sido “ameaçado de genocídio na véspera da guerra” e de que não tinham pensado em tal possibilidade. Um artigo intitulado “O Mito da Aniquilação e a Guerra dos Seis Dias”, publicado pelo pesquisador Joseph L. Ryan, em 1973, disponível nos arquivos da Universidade de Cambridge, mostra outras versões de membros do governo israelense na época, e que colocam em contradição o argumento apresentado por Eshkol. 

“O desenho das fronteiras foi estabelecido em 1949, o que acontece em 1967 é o apagamento dessas fronteiras. [...] Quando Israel conquista esses territórios, é uma ocupação militar, mas sem os colonos. Os colonos vão sendo colocados aos poucos, é o tal dos assentamentos. Isso acontece até hoje. [...] É esse processo”, explica o pesquisador Arturo Hartmann sobre o resultado da Guerra dos Seis Dias. 

Ecos da guerra

A derrota árabe na Guerra dos Seis Dias intensificou o descontentamento palestino na região e levou a criação de organizações fedayin - termo utilizado para definir militantes e guerrilheiros. Esses grupos intensificaram suas ações a partir de 1968, depois da derrota. Entre esses grupos, o principal é o Fatah, liderado pelo jovem Yasser Arafat, prometendo uma “libertação de toda a Palestina” utilizando-se da luta armada. Com ações bem sucedidas, a resistência sofreu pela dificuldade em estabelecer uma estratégia política e militar para confrontar as forças militares não apenas israelenses, mas também jordanianas, e até sírias. 

“O dilema dos movimentos de resistência, é como se utilizar de um direito de resistência, pelos meios possíveis, e está implícito a resistência armada, mas ao mesmo tempo muito vaga. [...] Quais são esses meios possíveis? Quando você tem também uma lei humanitária que você não pode matar civis, você tem uma regra da guerra e em uma situação colonial você tem o direito à resistência, em uma situação de ocupação ilegal. No caso dos palestinos, eles têm um momento na década de 70 que sim eles têm uma luta armada.” - Arturo Hartmann, doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, Unicamp e PUC-SP)

Mesmo com a dificuldade, em novembro de 1971, a Organização Setembro Negro, que teve como principal líder Ali Hassan Salameh, assassinou Wasfi al-Tal, então primeiro-ministro da Jordânia. No ano seguinte, em 1972, o mesmo grupo realizou uma ação que ficou conhecida como “Massacre de Munique”. Durante as olimpíadas de Munique, na Alemanha, a organização invadiu a Vila Olímpica e pretendia sequestrar membros da delegação israelense para negociar a soltura de mais de 200 presos palestinos. A ação vitimou 11 membros da delegação israelense, sendo seis treinadores e cinco atletas. Além deles, cinco integrantes do Setembro Negro e um policial da Alemanha Ocidental também morreram.

Camp David e o Sinai

Apesar das tensões crescentes na década de 70, o cenário político no Oriente Médio contou com uma surpresa. Em 1977, dez anos após a Guerra dos Seis Dias, o então presidente do Egito, Anwar Sadat, visitou a cidade de Jerusalém. A visita foi considerada um marco para a história do Oriente Médio, e contou com discurso de Sadat no Knesset, o parlamento israelense.

Por conta da atitude, Sadat passou a ser alvo de críticas por parte dos demais países árabes, até então aliados contra o Estado de Israel. No entanto, a visita abriu caminho para um encontro entre Anwar Sadat e Menachem Begin, então primeiro-ministro de Israel, em setembro de 1978. O encontro aconteceu em Camp David, base militar e casa de campo, no estado de Maryland, nos Estados Unidos, foi mediado pelo então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, e ficou marcado por ter sido o primeiro entre um líder de um Estado árabe e de Israel.

Egito e Israel
Anwar Sadat (esq.), Jimmy Carter (centro) e Menechem Begin durante Acordo de Camp David. Foto: Bob Daugherty/AP Images

Anwar Sadat e Menechem Begin dividiram o Prêmio Nobel da Paz de 1978 pelos esforços nas negociações. 

Antes do encontro foi definido que as duas partes apresentariam uma proposta para a formulação de um acordo de paz. As tratativas tiveram como base a Resolução 242 da Organização das Nações Unidas (ONU), que em novembro de 1967, havia considerado inadmissível a aquisição de território por meio de guerra - como havia feito Israel ao final da Guerra dos Seis Dias. A resolução afirmava, também, a necessidade de se trabalhar pela paz “justa e duradoura na qual cada Estado na região possa viver em segurança”. 

De um lado, Sadat colocou nas negociações as demandas do Egito e de países árabes, como indenizações pelo uso das terras ocupadas, o retorno dos refugiados para a Cisjordânia, a retirada dos militares israelenses de acordo com as fronteiras anteriores ao conflito de 1967 - incluindo a devolução do Sinai, e que Israel permitisse a Palestina formar sua própria nação e ter controle sobre Jerusalém Oriental. Já Begin defendia a manutenção dos territórios ocupados sob a alegação de que a devolução representava um risco à segurança interna. 

Os acordos foram finalizados apenas em março de 1979, em Washington. O primeiro firmou a paz entre Israel e Egito e a recuperação do Sinai - o que aconteceu em 1982. O segundo estabeleceu bases para a negociação do estabelecimento de um Estado autônomo nos territórios da Cisjordânia e da Faixa da Gaza. O primeiro, vingou e tornou diplomática a relação entre Egito e Israel, e até Egito e os Estados Unidos. No entanto, o segundo, que tratava sobre os palestinos, não foi aplicado. 

Para o Egito, o acordo rendeu uma suspensão da Liga Árabe, que trocou sua sede do Cairo para Tunis. Yasser Arafat, presidente da OLP, chegou a afirmar que mesmo com a assinatura, a paz não iria durar. Em 1981, em um ataque reivindicado pelo grupo Jihad Islâmica, o presidente Anwar Sadat foi morto a tiros durante o desfile de celebração da travessia do Canal de Suez durante a Guerra de 1973.

Intifada das pedras

Apesar de ser traduzida como “revolta”, o termo mais próximo do árabe para intifada é se livrar de algo ou alguém através de um movimento de agitação. Em dezembro de 1987 teve início o primeiro levante árabe. Completados 20 anos da ocupação israelense, mais de 2000 colonos armados ocuparam parte do território de Gaza, deixando o restante do território ocupado pelos palestinos densamente povoado.

No dia 08 de dezembro, um caminhão israelense bateu em um outro caminhão que transportava trabalhadores palestinos do campo de refugiados de Jabalya. Quatro pessoas morreram e dez ficaram feridas. A interpretação palestina é de que o acidente na verdade seria uma resposta a morte de um judeu em Gaza.
 

Palestina e Israel
Palestinos atiravam pedras contra soldados israelenses. Foto: AP Images

A Primeira Intifada também é conhecida como “guerra das pedras” já que no dia seguinte os palestinos foram às ruas em protesto, queimando pneus e atirando pedras e coquetel molotov contra forças policiais israelenses. Em Jabalya, uma patrulha do exército de Israel matou um jovem de 17 anos e feriu outro de 16. O movimento foi se disseminando entre a sociedade palestina, além dos jovens, comerciantes e mulheres se uniram à resistência, adotando táticas de boicote. 

Em julho de 1988, a Jordânia renunciou ao controle da Cisjordânia, corroborando com a pressão palestina no território. No mesmo ano, quatro meses mais tarde, a OLP aprovou a proclamação de um Estado palestino independente. Com quase um ano, a Primeira Intifada já tinha mais de 11 mil feridos e cerca de 300 palestinos mortos. Durante todo o processo, as forças israelenses se utilizavam de prisões em massa, espancamentos e torturas para reprimir a organização palestina. Foi no contexto da Primeira Intifada que surgiu o grupo radical Hamas.

“A agenda da Primeira Intifada, de alguma forma, dá um sinal de que não vai se aceitar a ocupação israelense. [...] Mas, em um certo sentido, era quase um reconhecimento de Israel. Porque a revolta ela foi forte, tinha uma coordenação, mas ela dá o sinal de que ela aceitaria a solução de dois estados, quando a OLP, na figura do Arafat, reconhece o Estado de Israel", diz Hartmann. 

Ainda em 1988, Yasser Arafat surpreendeu ao condenar o terrorismo e reconhecer o direito de existir do Estado de Israel, o que abriu caminho para negociações de paz. O líder do Partido Trabalhista israelense, Yitzhak Rabin - ex-general do exército israelense e considerado um herói nacional pela Guerra dos Seis Dias - assumiu o governo de Israel em 1992, com o compromisso de iniciar processos de paz. Uma das ações foi o congelamento da criação de assentamentos em territórios ocupados.

De acordo com dados da ONG israelense B'Tselem, ao longo de toda a Primeira Intifada, morreram cerca de 1.200 palestinos e 179 israelenses.

Ao vivo para o mundo

Na Conferência de Madri, em 1991, um vislumbre de um processo de paz foi iniciado. No ano seguinte, em Oslo, na Noruega, os termos para esse acordo foram elaborados. Com os acenos de Yasser Arafat e Yitzhak Rabin, mais uma vez os Estados Unidos, agora com Bill Clinton como presidente, mediaram um novo acordo, este, diretamente entre palestinos e israelenses.

Palestina e Israel
Aperto de mão entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, com a presença de Bill Clinton.
Foto: Gary Hershorn/REUTERS

Em 13 de setembro de 1993, ao vivo pela televisão, o mundo assistiu a um aperto de mão entre Arafat e Rabin, no jardim da Casa Branca, residência oficial do presidente dos Estados Unidos. Após três décadas de conflito, o representante da OLP e o primeiro-ministro israelense se mostraram dispostos a negociar um acordo de paz.  “Nós que lutamos contra vocês, palestinos, lhe dizemos hoje com voz clara e forte: basta de sangue e de lágrimas. Basta.”, disse o primeiro-ministro Rabin.

No chamado “Oslo I”, Israel reconheceu a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) como representante do povo palestino, com sede administrativa na cidade de Ramallah, na Cisjordânia. Do outro lado, a OLP passou a reconhecer o direito da existência do Estado de Israel. O acordo também condenou a violência como método de negociação para a paz entre os dois Estados. Como parte das negociações, foi criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que de forma interina seria o governo palestino em parte da Cisjordânia e na Faixa de Gaza. O primeiro presidente da ANP foi justamente Yasser Arafat.

O acordo previa ações escalonadas até a criação de um estado palestino independente no prazo de até cinco anos. Nas negociações estavam, também, a saída de Israel do sul do Líbano e o status de Jerusalém. A cidade, sagrada para árabes e judeus, seria dividida - como estabeleceu a ONU em 1947 - com a parte Oriental como capital palestina e a Ocidental, de Israel. Em 1993, quando o acordo foi assinado, cerca de 110 mil colonos judeus viviam na Cisjordânia e em Jerusalém oriental. Segundo a ONU, em 2023, já passam de 700 mil o número de colonos nos assentamentos em território palestino. 

Para o professor Arturo Hartmann, os acordos impuseram aos movimentos palestinos um dilema do que fazer. “Os acordos de Oslo, com a criação da Autoridade, colocam um dilema para a resistência e para os grupos da Palestina em geral. É o caminho da diplomacia e de uma negociação com o teu colonizador, o teu ocupante, Israel. Isso de alguma forma perpassa esse século todo”, analisa.

Como consequência do acordo, a ANP começou a ser responsável por serviços básicos como saúde, educação e segurança nos territórios de Gaza e de parte da Cisjordânia. Ainda sim, 60% da Cisjordânia ainda permaneceu sob total controle israelense.

Palestina e Israel
Arafat, chanceler Shimon Peres e o primeiro-ministro Yitzhak Rabin com o Prêmio Nobel da Paz
Foto: Reuters

As tratativas pela paz renderam o Prêmio Nobel da Paz de 1994 para o presidente da ANP, Yasser Arafat, ao primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e ao chanceler israelense Shimon Peres.

Tensão e fracasso

Na análise de Isabela Agostinelli, os acordos não produziram o resultado esperado. “Foi a primeira vez que israelenses e palestinos sentaram na mesa de negociação para tentar dar alguma solução para a questão palestina. Desde o começo os acordos de Oslo foram um fracasso, porque não resultaram em qualquer momento em paz, tão pouco em autonomia palestina, quem dirá a criação de um Estado palestino, que é a reivindicação desde o começo da questão”, avalia.

Em Israel, a oposição nacionalista era contrária aos acordos. Nome forte da oposição era Benjamin Netanyahu, líder do Likud. Os nacionalistas classificavam Rabin como traidor da pátria pelos acordos assinados. O mesmo Rabin, em 1984, foi ministro da Defesa de Israel em um governo de coalizão com o Likud. Na Primeira Intifada, foi questionado por órgão internacionais pela chamada “política quebra ossos”. Pelas ordens, às tropas de ocupação israelense poderiam quebrar os ossos das mãos de palestinos condenados por atirarem pedras contra soldados israelenses. 

Em setembro de 1995, um novo acordo - “Oslo II” - foi assinado, este tratava especificamente do futuro dos territórios da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. No mesmo ano, em 04 de novembro, o primeiro-ministro Rabin discursou pela paz para 100 mil pessoas. “O caminho pela paz é preferível ao caminho da guerra”, disse o premiê israelense. No dia seguinte, enquanto se dirigia para o carro oficial, Yitzhak Rabin foi morto a tiros pelo estudante israelense Igal Amir, militante da extrema-direita. O assassino foi preso no local do crime e posteriormente condenado à prisão perpétua. Foi Yasser Arafat, presidente da ANP, o primeiro a manifestar suas condolências pela morte do líder isralense. 

Palestina e Israel
Velório de Yitzhak Rabin reuniu lideranças mundiais. Foto: Peter Turnley/CORBIS

Após a morte de Rabin, Shimon Peres assumiu como primeiro-ministro de forma interina e reafirmando as intenções de negociações para a paz. Em 1996, Benjamin Netanyahu foi eleito com o mesmo discurso, no entanto, congelou as tratativas em 1997, ao aprovar a instalação de novos assentamentos israelenses no território de Jerusalém Oriental.

“Muitos acham que talvez de religião, de disputa entre muçulmanos e judeus, e não é nada disso. Na verdade, é uma questão relacionada à terra. E uma questão relacionada à terra por meio da colonização. Então, o enquadramento da questão precisa ser entendido [...] A questão Palestina, ela é desde o início e, estruturalmente, uma questão colonial”, analisa Agostinelli ao explicar o enquadramento dado ao conflito por parte do mundo. 


Na próxima reportagem vamos falar sobre o papel do Hamas, do surgimento até o ataque no início de outubro, e também do grupo Hezbollah, responsável pela resistência no território do sul do Líbano. Além dos dois grupos, vamos entender como a Segunda Intifada, nos anos 2000, mostra a complexidade das negociações para paz no conflito atual. 

A disputa territorial é questão central no conflito do Oriente Médio entre Palestina e Israel
por
Luan Leão
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12/10/2023 - 12h

No sábado (07), integrantes do grupo islâmico Hamas realizaram uma ofensiva contra Israel que desencadeou um novo confronto armado com mais de três mil mortos entre palestinos e israelenses, segundo as autoridades locais. A AGEMT preparou uma série especial de quatro reportagens sobre o conflito Palestina e Israel. Para entender esse novo capítulo da história, é necessário voltar à segunda década do século XX, ao final da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), com a vitória dos Aliados da Entente - aliança militar composta por França, Rússia e Grã-Bretanha - sobre o Império Otomano.

Em 30 de outubro de 1918, foi assinado o Armistício de Mudros, que decretou a derrota do Império Otomano. Dois anos mais tarde, em 10 de agosto de 1920, os Aliados e o Império assinaram o Tratado de Sévres, que concedeu independência à Grécia, Armênia e o Curdistão, deixando o território Otomano restrito à Turquia. Uma guerra civil comandada por Mustafa Kemal Pasha, conhecido como Ataturk (pai dos turcos), colocou fim ao Império Otomano, reconquistou a Armênia e parte do território concedido à Grécia, e proclamou a República da Turquia em 1923.

O novo arranjo territorial resultou no Tratado de Lausanne, em 1923, que reconheceu a República da Turquia com as fronteiras atuais, e colocou os territórios árabes sob mandatos de França e Reino Unido. Os franceses ficaram com a Síria e o Líbano, enquanto os britânicos ficaram com a Mesopotâmia e a Palestina - então formada pela Palestina e a Transjordânia.

Território Mandato Britânico
Território do Mandato Britânico sobre a Palestina a partir de 1923.
Arte de Luana Galeno com informações da BBC



Colonização sionista

O sionismo é um movimento político que surgiu no final do século XIX e defendia a autodeterminação do povo judeu no que chamava de sua “terra histórica”. O primeiro teórico do movimento foi o filósofo alemão Moses Hess (1812-1875), que utilizou a perseguição sofrida pelos judeus para justificar a necessidade da criação de uma nação judaica na palestina. O termo "sionismo", foi criado pelo escritor austríaco Nathan Birnbaum (1864-1937), como referência a Sião, um dos nomes bíblicos para a cidade de Jerusalém. O historiador israelense Ilan Pappé defende que o sionismo secularizou e nacionalizou o judaísmo, utilizando o território bíblico como base para um movimento nacionalista.

O pesquisador Arturo Hartmann, doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, Unicamp e PUC-SP) e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe, explica que o início do processo de colonização do território acontece ainda no século XIX. “Os colonos europeus, sionistas especificamente, começam a chegar na Palestina em 1880, mas era um movimento incipiente. O Arthur Ruppin, como o diretor da companhia de terras da Palestina, que era uma organização sionista, estava imbuído de comprar terras de proprietários árabes, palestinos, alguns eram libaneses, isso ainda no governo Otomano”, conta o pesquisador.

“Era a compra da terra e ali a colocação do trabalhador judeu. Alguns sociólogos israelenses vão falar do ‘trabalho judaico’. Então, era essa chave dupla, no início da prática da colonização na visão desses caras, que era a conquista da terra, nesse momento pela compra, e a inserção de trabalho judaico. E começam a ter primeiras tensões, porque você tinha um sistema de terras de cultivadores palestinos secular. Quando os sionistas compravam aquelas terras, eles [nativos] eram expulsos ou impedidos de cultivar essa terra. [...] Era a primeira percepção de que aquilo causaria um choque” - Arturo Hartmann, doutor em Relações Internacionais e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe 

Em 29 de setembro de 1923 entrou em vigor o “Acordo de Mandato”, da então Liga das Nações, do Reino Unido em território palestino. Nos 28 artigos contidos no texto do Mandato, não há citação direta dos palestinos. No entanto, o acordo cita o “povo judeu” aos quais foi “reconhecido o vínculo histórico do povo judeu com a Palestina e os fundamentos para a reconstituição de seu lar nacional naquele país”.

O texto do que também foi chamado de “protetorado” se baseia na Declaração de Balfour, documento elaborado em 1917 pelo então ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Arthur Balfour, que respalda pela primeira vez “o estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina”. A mensagem de 67 palavras foi enviada por Balfour a Walter Rothschild, importante figura do movimento sionista.

Declaração de Balfour
O texto escrito por Arthur Balfour tem 67 palavras e foi escrito em 1917. Foto: BBC/Reprodução

"O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país"

Tanto o texto do Mandato quanto a Declaração de Balfour previam a preservação dos “direitos civis e religiosos das comunidades não judaicas existentes na Palestina”. No artigo 2º determina que os mandatários serão os responsáveis por “colocar o país sob tais condições políticas, administrativas e econômicas que assegurem o estabelecimento do lar nacional judaico”, o que significou na prática uma repressão a qualquer movimento de autodeterminação palestino.

Em seu 4º artigo, foi previsto que uma “agência judaica” seria reconhecida como órgão público para auxiliar na administração da Palestina. O próprio texto estabeleceu a Organização Sionista como a “agência judaica” responsável. O resultado desse controle foi o reconhecimento de diversas entidades judaicas pelo Império Britânico e nenhuma entidade árabe palestina.

Acordo de Mandato
Acordo de Mandato não citava palestinos.
Foto: Federação Árabe Palestina do Brasil/Reprodução

“A Agência Judaica ali criada naquele momento, ela vai se acoplar e vai quase ser como um departamento de governo dentro da administração britânica. [...] Os britânicos fizeram isso em outros lugares, ele cria um mediador ou um colaborador da colonização de determinado território. E no caso da Palestina, os sionistas se acoplaram como esse mediador. Então, eles ganham acessos a recursos, começam a administrar questões públicas como eletricidade, as empresas sionistas vão receber um aporte britânico [...] e crescem muito a partir da década de 20 e, principalmente, na década de 30”, explica Hartmann.

Em 1929, a tensão entre palestinos e judeus chega ao seu primeiro conflito. A Revolta de Buraq se deu por disputa das duas comunidades com relação ao Muro das Lamentações, local em que muçulmanos e judeus realizam suas orações. Os conflitos duraram de 23 a 29 de agosto, e estima-se que mais de 116 palestinos e 133 judeus foram mortos. Outras mais de 400 pessoas ficaram feridas, entre palestinos e judeus.



A Revolta Palestina


A morte de Sheikh Izz al-Din al-Qassam, líder da resistência palestina, em 1935, em um tiroteio com forças coloniais aumentou a revolta entre os palestinos. A essa altura, a comunidade palestina convivia com uma lei promulgada pelos britânicos que previa o confisco de terras para fins militares. Porém, depois de confiscadas essas terras eram entregues aos colonos judeus.

Em 16 de abril de 1936, em Nablus - hoje território da Cisjordânia -, foi criado um Comitê Nacional Árabe na Palestina. O Comitê convocou os palestinos a uma greve geral, incentivando que os palestinos deixassem de pagar impostos aos britânicos e provocando o boicote a produtos dos colonos judeus. Dez dias depois, comitês nacionais dos países árabes se uniram e formaram o Alto Comitê Árabe, liderado por Amin Al-Husseini.

A greve contou com adesão de parte significativa da sociedade, comprometendo o funcionamento da economia. Em resposta, os palestinos foram presos, torturados, submetidos a buscas e demolição de suas residências. A Grã-Bretanha enviou uma Comissão Real de Inquérito - conhecida como Comissão Peel, por ser presidida por Earl Peel - para apurar as razões da revolta e buscar soluções.

Acreditando no trabalho da Comissão Peel, a greve foi encerrada em novembro de 1936. No entanto, o relatório apresentado pela Comissão, em julho de 1937, fez voltar a insatisfação palestina, já que sugeria a divisão da Palestina em um estado árabe e um estado judeu. Pelo plano elaborado, havia mais transferências de terras e o deslocamento forçado de 225 mil habitantes palestinos.

O resultado do relatório foi a retomada da resistência, dessa vez com mais intensidade, com palestinos assumindo o controle total de cidades do interior, criando instituições para substituir estruturas e serviços do mandato colonial. A resposta britânica foi o envio de cerca de 20 mil soldados e armamento para conter a revolta popular. Essas ações também fortaleceram grupos paramilitares sionistas, que foram treinados e armados pelo mandato colonial, como as gangues Haganah que depois se tornou a força de defesa do então proclamado Estado de Israel.

Uma nova comissão, chefiada por John Woodhead, entregou um relatório em novembro de 1938, afirmando que a partilha não era viável por conta da resistência. A revolta palestina terminou em maio de 1939. Entre 1936 e 1939, segundo números do governo britânico, 3.069 palestinos morreram na revolta, seja em combate, enforcados ou por causa de “gangues e atividades terroristas”. O número, no entanto, foi contestado pelo historiador palestino Walid Khalid, formado na Universidade de Oxford, que afirmou a morte de 5.032 palestinos, além de mais de 14 mil feridos e outros 5.600 presos.
 

Um território e dois Estados


Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando cerca de seis milhões de judeus morreram vítimas do regime nazista, o debate sobre um território judeu na Palestina foi intensificado. Em 18 fevereiro de 1947, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Ernest Bevin, anunciou o fim do mandato britânico sobre o território da Palestina, assumindo o fracasso britânico e deixando a cargo da Organização das Nações Unidas (ONU) a promoção da paz entre árabes e judeus. No mesmo período, países da Liga Árabe, fundada em 1945 e formada por Egito, Iraque, Árabia Saudita e Líbano - que conquistou a independência em 1943 - e Síria, solicitaram uma sessão especial para tratar do fim do mandato britânico e da sua independência.

Criação do Estado de Israel
Plano de Partilha da ONU não incluiu a cidade de Jerusalém.
Arte de Luana Galeno com informações da BBC



O pedido dos árabes foi recusado, enquanto a moção britânica foi aceita e, no mesmo ano, em 29 de novembro, a resolução 181 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu a divisão do território da Palestina em dois Estados independentes: um judeu e outro palestino. Pela resolução, 57% do território seria dos judeus - que na época representavam 32,95% da população - e 43% para os palestinos, com a cidade de Jerusalém sendo considerada território internacional.

Para Arturo Hartmann, a proposta da ONU era a materialização de medo dos palestinos desde o final do século XIX. “É bom pensar em um ciclo final, desde as primeiras colônias lá em 1880, é a década onde começa mais claramente essa colonização, até a década de 40 do século XX, são quase 60 anos. A proposta de partilha era a materialização de uma visão da ameaça que eles já tinham previsto lá no início”, explica.

“A proposta da ONU fez um apanhado dos principais distritos da Palestina em 1947, e tentou separar a Palestina entre onde tinha uma população judaica e onde tinha uma população palestina. Qual era o problema disso, era muito difícil você pegar distritos que não tinham população palestina. Naquele momento, dois terços da população era palestina e um terço era judaico.” - Arturo Hartmann, doutor em Relações Internacionais e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe

Na Assembleia, 33 dos 56 países votaram a favor da partilha, dentre eles Brasil, Estados Unidos e a extinta União Soviética. Outros 13 votaram contra e 10 se abstiveram. A resolução foi rejeitada pelos palestinos e demais estados árabes vizinhos, que se recusaram a acatar a divisão territorial.

Em 14 de maio de 1948, as tropas britânicas se retiraram da Palestina e foi proclamado o Estado de Israel. Antes, o governo colonial elaborou o Plano de Dalet, que alegava ser um plano de contingência e defesa do estado judaico. Na prática, foi um plano de ocupação das instalações civis e militares por integrantes do estado judaico. Ainda na retirada de tropas, os britânicos deixaram parte do seu arsenal militar com os grupos sionistas.

No dia seguinte à saída britânica, países da Liga Árabe iniciaram uma ofensiva militar contra a independência de Israel e consolidação do novo Estado, no que ficou conhecido como a Primeira Guerra Árabe-Israelense. 

 

O terrorismo sionista

Dois grupos clandestinos alinhados com o movimento sionista de direita, se notabilizaram pelo planejamento e execução de ideias para expulsar palestinos do próprio território. O Irgun, liderado por Menachem Begin, que mais tarde seria primeiro-ministro de Israel (1977-1983), e o Lehi, comandado por Avraham Stern. No início dos anos 40, o Lehi ensaiou uma aliança com o nazismo. Os judeus alemães seriam transferidos para a Palestina em troca da expulsão dos ingleses. O acordo não vingou pelo fato de a mão de obra escravizada judaica ser relevante na guerra.


Atentado do Hotel King David

Em 22 de julho de 1946, antes da proclamação da república de Israel, integrantes do grupo Irgun promoveram um atentado, organizado por Menachem Begin, contra o Hotel King David, situado a oeste da cidade de Jerusalém, no território palestino. O Hotel funcionava como uma espécie de sede administrativa do mandato palestino.
 

Hotel King David foi alvo de ataque do grupo Irgun
Hotel King David era sede administrativa da Autoridade Palestina e foi alvo de ataque à bomba pelo grupo sionista Irgun. Foto: WikiCommons

A explosão do prédio deixou 91 mortos entre palestinos, britânicos, judeus e outras cinco nacionalidades, além de 45 pessoas gravemente feridas.

Em 1974, o jornalista britânico Russell Warren Howe conduziu uma entrevista com o líder do grupo Irgun. Na conversa com Begin, Russell perguntou como ele se sentia sendo “o pai do terrorismo no Oriente Médio”. Segundo o jornalista, Begin respondeu: “No Oriente Médio? Em todo o mundo!”.

A conversa foi retratada na coluna “Seeing the Light” ( em tradução, Vendo a Luz), o artigo foi publicado em 12 de julho de 1991 e teve o título de “Fighting the “Soldiers of Occupation,” From WWII to the Intifada” (em tradução, “Lutando Contra os “soldados da ocupação”, da Segunda Guerra Mundial à Intifada”). A coluna na íntegra está disponível no site da revista estadunidense Washington Report on Middle East Affairs.

Massacre de Deir Yassin

No dia 09 de abril de 1948, já com a proclamação do Estado de Israel e dando sequência ao plano de expulsão dos palestinos do território, 120 integrantes desses grupos Irgun e Lehi invadiram o povoado de Deir Yassin, localizado a oeste da cidade de Jerusalém.

Já durante a manhã, o vilarejo de 610 habitantes estava tomado. De acordo com relatos de sobreviventes, os terroristas passaram de casa em casa para assassinar os moradores sejam crianças, mulheres ou idosos. Também há relatos de mutilações, estupros e sobreviventes sendo carregados pelas ruas em uma espécie de desfile da vitória antes de serem executados. Estima-se que morreram entre 100 e 250 pessoas.

A ação foi encerrada à tarde, quando moradores judeus-ortodoxos retornaram e contaram que os demais habitantes do vilarejo sempre foram pacíficos. Cerca de 250 sobreviventes foram levados de caminhão e colocados no lado árabe de Jerusalém. Nada aconteceu com os grupos responsáveis pelo massacre. Em 1949, foi construído o bairro judeu Giayt Shaul Bet no que era o vilarejo de Deir Yassin. Hoje o bairro faz parte de Har Nof, uma região judaica ortodoxa.
 

Expansão israelense e diáspora palestina


O resultado do primeiro embate árabe-israelense, terminado em junho de 1949, foi a vitória do Estado de Israel, expansão territorial que correspondeu a 60% do que seria o território árabe estabelecido pela partilha da ONU. Apenas os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza permaneceram palestinos, com ocupação de forças militares egípcias e jordanianas. A cidade de Jerusalém foi dividida em duas partes, com a parte ocidental sob controle de Israel, e a parte oriental com a Jordânia.

A negociação para o fim do primeiro conflito teve início em fevereiro de 1949, com o acordo de armistício entre Egito e Israel, e depois, em julho do mesmo ano, com o acordo de armistício entre Israel e os países árabes vizinhos. No acordo com o Egito, ficou acertado que a linha de demarcação fosse traçada considerando a fronteira internacional de 1922 entre os egípcios e o Mandato da Palestina. A exceção a essa demarcação foi na região próxima ao Mar Mediterrâneo, que ficaria conhecida como Faixa de Gaza, cujo poder ficou sob controle egípcio. 

O pesquisador Arturo Hartmann analisa que a proposta de partilha feita pela ONU e a guerra árabe-israelense favoreceram um contexto de “limpeza étnica palestina”. “A limpeza étnica é o arcabouço ideológico que vai sendo construído desde o momento que começa a colonização, vai se consolidando uma visão de como a comunidade sionista/judaica deveria se encaixar na palestina, no sentido de criar essa exclusividade étnica, e o dilema e o debate interno era como a gente lida com a maioria da população palestina, árabe, que não é judaica, e que não era europeia sionista, também”, conta. “O projeto que acaba se tornando hegemônico e vai adiante de implementação, é o de exclusividade (étnica). É de você usar a força extrema, e aí nasce o conceito de muralha de ferro em 1920, que é a força militar para bater nos palestinos, para que só sobre os moderados”, diz o pesquisador.

Ao longo do conflito, segundo a ONU, cerca de 700 mil palestinos saíram do território e foram para países vizinhos. A diáspora palestina foi chamada de “Al Nakba” - em árabe, “a catástrofe”. “A Nakba foi esse processo de expulsão e transformação e renomeação do território. [...] Israel vai criar uma série de leis para não permitir que os refugiados voltem, e nessas leis também estão mecanismos para que o Estado possa se apossar das terras dos ausentes. [...] Palestinos que vão se tornar árabe-israelenses pela legislação de Israel [...] Toda a geografia vai ganhar um nome hebraico”, explica Hartmann.

Na próxima reportagem da série especial Palestina e Israel ​​​​​​você vai entender o processo de resistência dos palestinos e como foram estabelecidas as fronteiras de Israel nos limites que conhecemos hoje.