Clodovil Hernandes nasceu no interior de São Paulo, em Elisiário, no dia 19 de junho de 1937. Neste ano de 2024, completam 15 anos da sua morte. O garoto teve uma educação rígida e estudava em um colégio interno católico, mesmo não tendo tantos subsídios para isso. Sua formação inicial foi de professor, entretanto, acabou não seguindo a profissão, pois seus interesses eram outros. Não chegou a conhecer a sua família biológica, mas foi adotado por uma de espanhóis. Mudou-se de cidade algumas vezes, para Catanduva e Floreal, onde seu pai abriu uma loja de tecidos, e lá sua mãe fazia e vendia vestidos de noiva. A partir desse acontecimento, lhe foi despertada a curiosidade pela moda.
Iniciou sua carreira nos anos 50, em uma época, onde meninos gostarem de ‘’coisas femininas’’, como assuntos que envolviam o universo da moda e habilidades de corte e costura, eram considerados ‘’errado e impensável’’, apesar de seu talento nato, desde jovem para técnicas de desenho. Aos 20 anos, em 1937, se mudou para São Paulo. Nos anos 60, engatou de vez como estilista e nos anos 70, ganhou notoriedade.
Ele foi um dos pioneiros a trazer o prêt-à-porter - roupas de boa qualidade, feitas por um designer, que não são sob medida, mas sim, produzidas em grande escala para serem vendidas ao público; para o Brasil, apesar de, também, ter alcançado sucesso na alta-costura. Em 1991, durante uma entrevista dada a jornalista Lilian Pacce, ,para o veículo da Folha de S.Paulo, foi questionado sobre a sua maior invenção de moda, e respondeu, sem titubear, ‘’inventei o Saint-tropez – o biquíni pedia um cós baixo. Lancei o uso da saia curta por um erro da contramestra. Mandei descer 8 cm num vestido que a Elis Regina usaria no “Fino da Bossa” e ela subiu 8 cm. Só vi na TV. Disse para a Elis: você é louca. Ela respondeu: você mandou! Como boa cliente, não questionava minha criação.’’
Sua casa de moda estava localizada na rua Oscar Freire - um dos redutos mais nobres da cidade paulistana, e seu público-alvo era a alta sociedade que desejava vestir modelos elegantes para festas de debutantes e de casamentos (os mais requisitados), sendo a maioria deles exclusivos. Em suas coleções, era detalhista e apostava sempre nas listras, no xadrez inglês, e adorava trabalhar com linho - era o seu tecido favorito. Suas peças eram focadas no glamour e na elegância da mulher aristocrata. Entre suas clientes mais famosas, estavam a cantora Elis Regina, a atriz Cacilda Becker e as famílias Diniz e Matarazzo.


A parte de sua função como estilista, também chegou a exercer os ofícios de figurinista e ator, trabalhando em algumas produções do audiovisual, do teatro e da dramaturgia: no filme ‘’Corpo Ardente’’ (1966) dirigido por Walter Hugo Khouri; na telenovela ‘’Beto Rockfeller’’, exibida na TV Tupi (1968/1969), e em ‘’Marron Glacé’’ (1979/1980) na mesma emissora. Atuou em algumas obras, interpretando ele mesmo, inclusive em uma peça de sua autoria, intitulada ‘’Ela & Eu’’. Além disso, fez os croquis e os projetos de figurinos da mesma.
Nos anos 80, apresentou o programa ‘’TV Mulher’’ na Globo junto de Marília Gabriela, Marta Suplicy, Ala Szeman e Xênia Bier, que foi um marco na televisão aberta por falar livremente sobre sexo e comportamento feminino. Em 1983, foi para a Band fazer um programa chamado ‘’Clodovil’’. Em 1987, estreou seu primeiro programa solo na Manchete, ‘’Clô para os íntimos’’.
Nos anos 90, a sua marca homônima ficou enfraquecida, e a moda deixou de ser sua fonte de renda principal, perante a isso, ele decidiu mudar o rumo de sua vida, e seguir carreira como apresentador. Em 1992, estreou em um programa de maior visibilidade, ‘’Clodovil abre o jogo’’. Foi nesse talk show em que ele disse, pela primeira vez, um de seus bordões mais famosos: ‘’olha para a lente da verdade e me diz...”. Ainda na televisão, teve uma passagem pela Gazeta no ‘’Mulheres’’ em 2001, e pela RedeTV, no ‘’A casa é sua’’ em 2003. A última atração foi ‘’Por excelência’’ na TV JB, em 2007, após ser eleito deputado federal.
Após alguns desentendimentos que culminaram em sua demissão, decidiu entrar para a política, e se candidatou como deputado federal, por meio do PTC (Partido Trabalhista Cristão). Foi eleito com 493 mil votos, se tornando o terceiro candidato mais votado do país e de São Paulo, sendo o primeiro homossexual eleito neste cargo. A sua orientação sexual, contudo, não o deteve de se posicionar contra a Parada do Orgulho LGBT, contra o casamento homoafetivo e contra o movimento LGBT (na época, só era utilizado a sigla com estas quatro letras). Em uma entrevista para o jornalista Ruy Castro, em 1980, à revista Playboy, Clodovil chegou a proferir o seguinte comentário ‘’nunca fiz apologia de homossexualismo e nunca farei, porque acho um horror levantar bandeira de qualquer coisa. É uma besteira esse negócio de homossexual querer direitos e não sei o quê (...) Este excerto foi publicado posteriormente no jornal Folha de S.Paulo, em 2009.
Em 2007, filiou-se ao PR (Partido da República). Em 2008, apresentou uma proposta de emenda constitucional, que tinha como objetivo reduzir a quantidade de deputados, de 594 para 250, pela economia e eficiência do trabalho. Em 2009, deixou o partido alegando que havia sofrido perseguição interna. Neste mesmo ano, dez dias após a sua morte, três de seus projetos foram aprovados na Comissão de Constituição e Justiça: a obrigatoriedade das escolas divulgarem a lista de material escolar 45 dias antes da data final para a matrícula, a criação do ‘’Dia da Mãe Adotiva’’, como uma homenagem à sua mãe adotiva e a obrigatoriedade da menção dos nomes dos dubladores nos créditos das obras audiovisuais dos quais eles tenham participado.

Cometeu incontáveis gafes ao longo de sua trajetória. Foi racista quando proferiu a frase ‘’Macaca de tailleur’’ para a vereadora Claudete Alves; antissemita quando afirmou que o holocausto havia sido causado pelos judeus, além dos comentários maldosos, por exemplo, quando falou para a deputada Cida Diogo, a seguinte frase: ‘’digamos que uma moça bonita se ofendesse porque ela pode se prostituir. Não é o seu caso. A senhora é uma mulher feia’’. Para celebridades, não tinha papas na língua, dizia que enxergava a ativista Luisa Mell como uma ‘’atriz pornô’’, falava que a apresentadora Luciana Gimenez devia ser alvo do Programa Pânico mais do que ele, e que a prefeita de São Paulo, da época, Marta Suplicy, era ‘’uma idiota que pensa que é poderosa’’. Estilista, figurinista, político, apresentador de TV e ator foram algumas das facetas que Clodovil Hernandes chegou a desempenhar antes de falecer em março de 2009, em detrimento de um AVC hemorrágico.
Ocorreu na quarta-feira, 13 de março, uma conversa na PUC-SP sobre a crise climática e o chamado antropoceno, conhecido como a era dos humanos. Os convidados eram o ativista e escritor Ailton Krenak, o climatologista Carlos Nobre e a jornalista Daniela Chiaretti. Foi debatido, principalmente, as mudanças climáticas e o impacto da humanidade na Terra. Krenak abriu a conversa falando sobre como a crise climática afeta de diferentes maneiras as populações, entre as mais desenvolvidas e as mais pobres, existe uma grande diferença de consequências e a gravidade delas. Citando o também escritor Eduardo Galeano, ele diz: “A serpente prefere picar o pé descalço, não de quem usa bota”.

Em sua primeira fala, Chiaretti comentou o fato de o dinheiro proveniente de investimentos para a descarbonização das economias globais foi destinado majoritariamente para países com situação econômica forte, ao invés dos mais fragilizados, citando como exemplo que apenas 6% foram enviados à países latino-americanos. Ela terminou dizendo que “sem dúvida”, a crise climática ameaça as democracias, visto que ela agrava problemas sociais.

Mais tarde, foram respondidas às perguntas do público. Sobre à relação entre o clima e o capitalismo, Carlos Nobre dissertou sobre como estamos chegando perto de ultrapassar os limites em problemas categorizados como “pontos de não retorno”, levando o planeta a um ponto de “ecosuicídio”. Também abordou a questão da juventude, que hoje em dia é mais ansiosa do que nunca, também causado pela incerteza do futuro diante das mudanças do clima.

Nem tudo foi pessimista, porém. Nobre urgiu a todos, dizendo que com uma juventude engajada, é possível tornar o Brasil líder em causas ambientais, ele citou primariamente o problema das emissões de carbono como uma causa viável de ser solucionada.
Fotos por Anderson Guilherme e Matheus Henrique
O aniversário da Agência Pública ocorreu na quarta-feira (13). O local escolhido para sediar o evento foi o Tucarena, teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em parceria com o curso de Jornalismo e a Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes. O público pôde acompanhar três mesas redondas que discutiram os diversos aspectos da defesa da democracia. A primeira, teve como tema: “Desinformação e Populismo Digital” que discutiu o uso de discursos manipulados e extremismo para a promoção de figuras políticas, e como o avanço de tecnologias de inteligência artificial representam uma nova era no combate às fake news.
Em entrevista exclusiva à AGEMT, Natália Viana, co-fundadora da Agência Pública, reforça que deve existir uma maior abertura para o diálogo com diferentes opiniões e que em ambos os lados existem vítimas do discurso único: “O seu adversário político não é seu inimigo, é seu adversário; inimigos mortais não fazem parte da política”, ressalta Viana.

Venha conferir mais informações no link a seguir: https://www.instagram.com/reel/C4tABYuuVZM/?igsh=MXI3MW55dzhxeGdjZw==
Dia 13 de março a Agência Pública comemorou seus 13 anos em um evento realizado na PUC-SP. A agenda contou com três mesas com temas focados no jornalismo independente e luta pela democracia. A mesa “Desinformação e Populismo Digital” trouxe entrevistas com a jornalista e co-fundadora da Pública, Natalia Viana, e de Letícia Cesarino, antropóloga, A cobertura em vídeo para o TikTok pode ser acessada aqui
Na quarta-feira (13), a Agência Pública celebrou seus 13 anos de jornalismo investigativo no Tucarena, em Perdizes, em parceria com o curso de Jornalismo e a Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC São Paulo. O evento "Pública 13 anos: O jornalismo na linha de frente da democracia", contou com três mesas de debate ao longo do dia, reunindo nomes ilustres do jornalismo, da antropologia e do clima. A comemoração discutiu temas como a desinformação, a crise climática e a defesa da democracia.
A primeira mesa, com o tema “Desinformação e Populismo Digital”, foi mediada por Natalia Viana, co-fundadora e diretora executiva da Pública, ela também se graduou em Jornalismo na PUC e mencionou a escolha da universidade para sediar o evento. Segundo ela, “a democracia é a cara da PUC”. Como convidadas, juntaram-se à mesa a antropóloga Leticia Cesarino e a pesquisadora Nina Santos para discutir as ondas de desinformação, a regulamentação da inteligência artificial e o poder das big techs e algoritmos nos sistemas de informação.
Ao final da discussão, também foram abertas perguntas ao público. Geovana Bosak, estudante de jornalismo perguntou: "Como você vê o futuro do jornalismo em um ambiente que está cada vez mais dominado pela manipulação dos algoritmos e pela desinformação?"
Nina Santos:
"O jornalismo está passando por um momento de transformação, porque de fato a economia da atenção, que é o rege o funcionamento das plataformas digitais, acaba mudando muito até a forma de acesso das pessoas ao jornalismo. O que a gente vê nas últimas pesquisas é que as pessoas acessam cada vez mais o conteúdo jornalístico através das plataformas. Ao invés de entrar diretamente nos veículos, elas entram nas plataformas digitais, que são espaços de informação e também de entretenimento, e através dessas plataformas que elas acabam se informando sobre o que tá acontecendo, o que é importante, e sobre o quê que elas precisam agir".
A Agência Maurício Tragtenberg esteve presente na primeira mesa de discussão "Desinformação e Populismo Digital", e gravou um vídeo de cobertura. Para conferir, acesse:
https://www.instagram.com/reel/C4icdfIOyQo/utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==