Especialista alerta para riscos do uso acrítico de plataformas de IA na educação
por
Thomas Fernandez
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04/10/2025 - 12h

A inteligência artificial (IA) ganhou rapidamente espaço em diferentes setores da sociedade, e a educação não ficou de fora dessa tendência. Plataformas capazes de corrigir redações, recomendar atividades personalizadas e até mesmo substituir parte das tarefas do professor estão em alta.

A promessa, vendida por empresas de tecnologia e gestores entusiasmados, é de que a IA pode democratizar o ensino, personalizar a aprendizagem e aliviar a carga de trabalho docente. Não por acaso, de acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC), sete em cada dez estudantes do Ensino Médio já utilizam ferramentas de IA generativa em trabalhos escolares, mas apenas 32% afirmam ter recebido orientação na escola sobre como usar esses recursos de forma pedagógica. 

Há quem veja nesse movimento um risco de precarização do trabalho dos professores, transformando a inovação em mais uma engrenagem de uma lógica de cortes de custos e desvalorização profissional. Afinal, a inteligência artificial na educação é realmente uma aliada do professor ou pode acabar sendo um instrumento de substituição e perda de direitos? 

Em entrevista à AGEMT, Pedro Maia, cientista de dados e pesquisador em ética e tecnologia, alerta para o risco de que a IA seja utilizada como justificativa para reduzir a presença e a importância dos professores. Para ele, é preciso estar atento à lógica de mercado que move grande parte das inovações tecnológicas aplicadas à educação: “O risco é que as escolas passem a enxergar a inteligência artificial não como apoio, mas como substituição. Se uma plataforma consegue corrigir automaticamente atividades e sugerir trilhas de estudo, a tentação de reduzir o quadro docente e cortar custos é enorme”, explica. 

Segundo Maia, isso poderia levar a uma precarização ainda maior do trabalho docente, em um cenário no qual professores já enfrentam baixos salários, excesso de carga horária e falta de condições adequadas de trabalho. “A promessa de eficiência pode esconder a intenção de enxugar gastos. É a lógica neoliberal aplicada à educação: menos investimento em pessoas, mais aposta em soluções padronizadas”, acrescenta.

Pedro Maia, cientista de dados.
Pedro Maia, cientista de dados. Foto: Arquivo Pessoal.

 

Maia também chama atenção para o risco de aprofundar desigualdades: “Nesse cenário, a IA não democratiza, mas acentua a exclusão. O aluno da periferia continua com menos oportunidades que o de elite, ainda que ambos usem supostamente a mesma tecnologia”. Esse alerta encontra respaldo nos números. Em 2023, 69% dos estudantes já conheciam a IA; em 2024, esse índice subiu para 80%, segundo levantamento nacional feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES).

No entanto, nem todos têm acesso à mesma qualidade de ferramentas ou de acompanhamento pedagógico. Enquanto escolas privadas de ponta conseguem incorporar plataformas sofisticadas, parte da rede pública depende de versões limitadas, com pouco ou nenhum suporte docente.

Mesmo assim, o cenário não é apenas de resistência. Pesquisas feitas pela SEMESP (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), mostram que 74,8% dos professores acreditam que a IA pode ser aliada no processo de ensino, e 39,2% já utilizam a tecnologia regularmente em sala de aula. Esses dados revelam uma categoria dividida, mas que enxerga potencial na tecnologia quando aplicada como ferramenta de apoio, não como substituição. 

Além disso, iniciativas públicas começam a surgir. O governo federal, em parceria com a UNESCO e a Huawei, lançou o projeto “Open Schools” na Bahia e no Pará. Ambos locais foram escolhidos pela falta de infraestrutura educacional, conectividade e recursos tecnológicos. A iniciativa foca na formação de professores em competências digitais e uso de IA, além de investimentos em conectividade e infraestrutura. O objetivo é reduzir desigualdades e preparar a rede pública para essa transição.

A coexistência desses dois pontos de vista - o risco de precarização e a promessa de apoio pedagógico - evidencia o dilema atual: A IA pode ser tanto aliada quanto algoz, dependendo da forma como for implementada. Se o objetivo for cortar custos, há risco de enfraquecer a profissão docente. Mas se, por outro lado, houver investimento em formação, infraestrutura e regulação, ela pode abrir espaço para práticas pedagógicas mais ricas e inclusivas.

O que está em jogo, portanto, não é apenas a chegada de uma nova tecnologia, mas o modelo de educação que o país pretende construir. A questão central permanece: a inteligência artificial será um recurso a serviço de professores e alunos ou mais um instrumento de precarização do trabalho em nome da eficiência econômica?

Enquanto não há consenso, cresce a urgência em debater publicamente os rumos dessa transformação. O futuro da escola não depende apenas das máquinas, mas das escolhas políticas, sociais e econômicas que definirão como, para quem e com quais propósitos a tecnologia será utilizada.

“Professor, amante da literatura e do bom jazz” era como ele se descrevia nas redes sociais; amigos e alunos lamentam a partida
por
Maria Eduarda Camargo
Khauan Wood
Bianca Novais
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29/09/2025 - 12h

O professor doutor José Salvador Faro, de 78 anos, morreu na madrugada desta segunda-feira (29), no hospital Samaritano Higienópolis, em São Paulo capital. 

Morre, aos 78 anos, o professor José Salvador Faro
Morre, aos 78 anos, o professor José Salvador Faro.
Foto: @cursojornalismopucsp via Instagram.

O velório será realizado no Cemitério São Paulo, localizado na Rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, nesta segunda, a partir das 13h. Às 17h, o corpo seguirá para cremação em Jandira, município da região metropolitana de São Paulo.

Historiador pela Universidade de São Paulo (USP), Faro seguiu seus estudos no campo da comunicação no mestrado e doutorado, na Universidade Metodista de São Paulo (1992) e na USP (1996), respectivamente. Dedicou-se à produção acadêmica, com mais de cem artigos e quatro livros publicados, ao longo de mais de 30 anos de carreira.

Desde 2000, fazia parte do corpo docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde lecionou com paixão e entusiasmo nos cursos de comunicação da instituição.

Nas redes sociais, amigos, colegas de trabalho e alunos lamentaram a partida do professor.

Luisa Ayres, estudante de jornalismo da PUC-SP, lembra como eram as aulas: “Fui aluna, monitora e grande admiradora do Faro. Como era gratificante termos um professor que ainda prezava por sentarmos em círculo e conversarmos, discutirmos, ouvirmos e olharmos uns nos olhos do outro”.

Luisa guarda com carinho pequenos detalhes da convivência diária com o professor Faro: “O sorriso, o jeitinho de estar lendo suas notícias e escrevendo para seu blog sempre nos momentos que antecediam as aulas. A preocupação às quartas à noite com o jogo do Corinthians que se desenrolava no mesmo horário”. 

Victoria Silva, também aluna de jornalismo, destaca como Faro lecionava com empolgação dentro e fora das salas de aula: “Nas reuniões da iniciação científica, ele sempre chegava com o seu entusiasmo e conversava outros mil assuntos que não se relacionavam com o tema, mas sempre pertinentes com a realidade. Isso mostra como em qualquer momento, mesmo que fora das salas de aula, José Salvador Faro ensinou.

Faro fazia tratamento contra o câncer desde 2022, mas se manteve na sala de aula até o primeiro semestre de 2025, quando precisou se afastar para cuidar da saúde. 

“Fica aqui nosso muito obrigado, Salvador! Sua história e suas aulas com certeza salvaram muitos de nós”, se despede Luisa.

“Vai deixar muita saudade! Sua trajetória vai continuar ensinando, suas aulas vão continuar nas mentes e sua risada nos corações”, garante Victoria.

José Salvador Faro deixa a esposa Rozana Faro, as filhas Paula e Patrícia e o enteado Pedro.

A AGEMT lamenta a partida do professor Faro, que com alegria, paixão e confiança em seus estudantes, colaborou para a formação de senso crítico e ética de centenas de jornalistas e comunicadores ao longo de sua docência.

 

Quando o padrão de beleza tem idade, o que resta é virar resistência
por
Laila Santos
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19/09/2025 - 12h

Não é segredo que envelhecer é visto como inimigo geral da nação pela maioria das pessoas, principalmente mulheres, que lidam com suas próprias inseguranças e com a pressão imposta pelos outros nesse processo. Com o passar do tempo e a intensificação da era digital, parece que essa fase da vida bate na porta cada vez mais cedo. Uma sociedade que atrela a jovialidade à beleza e acredita estar sempre atrasada não é uma combinação amigável para quem está envelhecendo.

O molde representado na mídia e nos meios digitais tem forte influência nessa negação da idade porque valoriza o oposto. Nesse sistema, o idoso é visto como insuficiente e desatualizado, o que é lido como desnecessário, e isso resulta na invisibilidade de suas causas e dores.

A estudante de Psicologia Rafaelly Ketellyn, de 20 anos, dividiu o que escutava sobre o envelhecimento na infância: “Eu escutava que envelhecer era sinônimo de limitação, doença e solidão. Parecia ser sempre algo pesado, quase como se fosse o fim da linha e poucas vezes era falado sobre o lado positivo, como o aprendizado acumulado e a experiência.”

Já Maria Marinalva, de 55 anos, disse que, quando criança, ouvia que quanto mais a pessoa envelhece, mais ela fica chata e ranzinza. Ela afirma que não quer se encaixar nesse rótulo.

Segundo o relatório da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) divulgado em junho deste ano, o Brasil é o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos não cirúrgicos. Entre as intervenções mais recorrentes estão: toxina botulínica, mais conhecida como Botox (45,7%), ácido hialurônico (22,9%) e procedimento de rejuvenescimento da pele com efeito lifting (7,9%). Todos esses métodos buscam, de alguma forma, retardadores de envelhecimento. O primeiro pode eliminar linhas de expressão; o segundo é usado para restaurar a elasticidade da pele, consequentemente, promete prevenir rugas; e o terceiro, por si só, já carrega a promessa de apagar os sinais da idade.

Atualmente, chegar à velhice se tornou ainda mais indesejado, por conta do padrão criado pelas redes sociais. A alta porcentagem de procedimentos estéticos é um reflexo disso. A juventude sempre foi um dos requisitos para mulheres na TV, como as “Paquitas”, assistentes de palco da apresentadora Xuxa, as dançarinas do Faustão ou até as Panicats. Hoje em dia, essa lógica migrou para a internet, cada vez mais presente na nossa rotina. Criadoras de conteúdo jovens têm mais patrocinadores e visibilidade.

Você é quem cria a sua fonte da juventude

Contra essa onda de pessoas que veem o envelhecimento como um pesadelo, há quem levante a bandeira de maturidade mais alto. Rafaelly lida naturalmente com esse processo da vida e pensa ser parte dela, embora entenda que não seja uma situação simples. Porém, sabe que é inevitável e tenta levar esse fato como uma oportunidade de amadurecimento e ganho de sabedoria. Para ela, o lado positivo do tempo é o de poder colher frutos que já plantou, uma chance de viver novas etapas e aprender a valorizar o presente.

O tempo como vilão está presente em diversas obras, como filmes, livros e mitos. O longa-metragem A Substância, estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, traz luz sobre o envelhecimento na indústria do entretenimento e critica a pressão para manter a juventude e a beleza, especialmente sobre as mulheres. No livro O Retrato de Dorian Gray, o personagem principal se sujeita a um pacto para nunca ficar velho e manter sua aparência jovem para sempre. Além disso, há também o mito da fonte da juventude, representada em vários trabalhos, por exemplo, Os Trapalhões e a Árvore da Juventude, que, por incrível que pareça, nunca envelhece.

Marinalva também tem um pensamento mais aliviado com a passagem de idade. Ela compartilhou que lida super bem com isso e não deixa a mente envelhecer com o corpo. Acredita que precisamos aprender a aceitar para não ver isso como um grande problema. Porque a idade mais avançada faz parte da vida e acontece com todos.

Muitas mulheres buscam se encaixar no padrão imposto pela sociedade e sofrem com isso, porque é um ideal impossível de sustentar para sempre. Enquanto houver vida, não há como fugir da passagem do tempo e o que resta é aprender a lidar com isso e, principalmente, não deixar de viver por causa disso. 

Especialistas em arbitragem comemoram a decisão e ressaltam a importância da qualificação, para além da tecnologia
por
Tamara Ferreira Santos
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29/09/2025 - 12h

Por Tamara Ferreira

 

No dia 10 de agosto de 2024, após o empate por 1 a 1 contra o Flamengo, pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro, Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, disparou contra a arbitragem brasileira, classificando o sistema como arcaico e dizendo não confiar no VAR, nos árbitros e nem nas televisões. O treinador declarou, inclusive, que só passaria a acreditar e confiar nas decisões dos lances quando a tecnologia fosse modificada. Na época, era o segundo jogo seguido da equipe contra o Rubro-Negro. No duelo anterior, realizado no dia 7, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, Flaco López chegou a marcar, mas o impedimento foi assinalado — decisão contestada por amantes do futebol e, principalmente, palmeirenses, que reclamaram da falta de critério na marcação das linhas.

Parece distante, já que o lance ocorreu em 2024, mas o que não faltam são gols anulados por impedimentos milimétricos que, pela fama da arbitragem brasileira, geram dúvida se estavam irregulares ou não. Muitos desses lances, a olho nu, aparentam ser legais.

Recentemente, Samir Xaud, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deu diversas declarações afirmando a chegada do impedimento semiautomático ao Brasil em 2026 para a disputa do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil. Popularizado na Copa do Mundo do Catar, em 2022, a tecnologia também foi utilizada na Champions League e na Copa do Mundo de Clubes de 2025, além de ser protagonista nos dois jogos da final do Campeonato Paulista deste ano. O sistema usa de 12 câmeras especiais para recriar o lance em 3D e dar o veredito final do lance aos responsáveis pela arbitragem. O VAR que se conhece hoje custa mais de R$ 20 mil por partida, porém, estima-se que o novo sistema vai custar cerca de R$ 100 mil por jogo. Samir declarou no programa Seleção, do SporTV, que é um investimento alto, mas o trata como uma ferramenta importante e necessária para diminuir ainda mais os erros da arbitragem, reforçando sua ideia de transformar a arbitragem brasileira na melhor do mundo.

Sálvio Spínola, ex-árbitro e comentarista da Record, comemorou a utilização da nova tecnologia a partir do próximo ano. Assim como Abel, ele classificou o modelo atual como arcaico, por ser baseado em uma computação gráfica manual, na qual o árbitro de vídeo precisa traçar as linhas azul e vermelha sobre o ombro ou outra parte do corpo. Para Sálvio, o novo sistema é mais preciso, exige menos intervenção humana, garante decisões mais rápidas e confiáveis e, consequentemente, traz mais segurança ao público e aos profissionais envolvidos no jogo.

Paulo Vinícius Coelho, mais conhecido como PVC, jornalista e comentarista da Paramount+ e do UOL, vê o impedimento semiautomático como algo objetivo, já que a máquina será responsável por determinar a distância do atacante em relação ao último marcador, encerrando assim as discussões sobre impedimentos milimétricos e o trabalho manual de traçar linhas.

A 17ª rodada do Brasileirão deste ano também trouxe polêmicas, desta vez, em dois jogos diferentes, com lances muito parecidos, onde um o gol foi confirmado e no outro o impedimento foi assinalado. 

Em São Paulo x Fluminense, Ferreirinha marcou de cabeça após cruzamento de Marcos Antônio, ampliando para 2 a 0. Pouco depois, em Cruzeiro x Ceará, Marcos Victor fez o terceiro do Vozão, mas o gol foi anulado. O problema é que, nos dois lances, as linhas estavam praticamente sobrepostas e de acordo com a regra que a CBF tornou válida a partir de 2025, nos casos em que as linhas traçadas (a vermelha, do atacante, e a azul do defensor), ficassem uma em cima da outra, mesmo que o atacante esteja à frente, o impedimento seria desmarcado e o gol validado — o que não aconteceu no gol do Ceará. 

Renato Gaúcho, técnico do Flu, não poupou críticas à arbitragem, afirmando que toda rodada há uma polêmica com o VAR. Segundo ele, se a imagem mostrada no telão do Morumbis for a oficial, Ferreirinha estaria impedido e o gol deveria ter sido anulado. Irritado, disse ainda que erros como esse podem custar posições, rebaixar clubes e até definir o campeão.

Já Renata Ruel, ex-árbitra e comentarista da ESPN, destacou que a chegada do impedimento semiautomático ao Brasil é fundamental por sua precisão. Ela lembrou que o sistema atual pode errar até 30 centímetros por lance, margem significativa para jogadas milimétricas. Também ressaltou que as longas análises atrapalham a dinâmica do jogo e que as linhas atuais não passam credibilidade, já que não se sabe ao certo de onde são traçadas e qual é o frame da bola.

Samir Xaud, também declarou, desta vez ao BTB Sports que, a princípio, a entidade arcará com os custos da tecnologia, mas que futuramente o custo passará por um processo de transição para os clubes — o que preocupa, especialmente os de menor expressão, que já enfrentam dificuldades financeiras.

Sobre isso, Sálvio afirma que alguns estádios do Brasil não têm infraestrutura suficiente e não estão preparados para adotar a tecnologia, dependendo inclusive dos clubes que subirem para a Série A do Campeonato Brasileiro. Ele classifica a implementação em todas as fases da Copa do Brasil como algo praticamente inviável, acreditando que só deve ocorrer a partir das oitavas de final ou fases seguintes. O comentarista também ressaltou a necessidade de tempo hábil para preparar os estádios.

PVC destacou também que, além da tecnologia, a entidade precisa investir nos árbitros, oferecendo mais treinamento em diferentes tipos de lances, para que tenham autonomia e segurança — fatores que hoje ainda não são vistos com frequência. O jornalista lembrou que, durante Copas do Mundo, a arbitragem brasileira costuma se sair bem, mas no cenário nacional o desempenho cai. Para ele, não falta qualidade, mas sim confiança.

Uma fala que remete ao lance inusitado ocorrido no jogo de volta entre Corinthians e Athletico-PR, pelas quartas de final da Copa do Brasil, em 10 de setembro. Na ocasião, Diego, árbitro de vídeo, chamou Davi, árbitro principal, para revisar um pênalti marcado a favor do Athletico, afirmando: “Eu tenho o sentimento de que está fora (da área), está bom? Mas é sentimento.”

Momento do toque na mão de Matheuzinho que resultou em pênalti em Corinthians x Athletico-PR pela Copa do Brasil — Foto: Reprodução/CBF
Momento do toque na mão de Matheuzinho que resultou em pênalti em Corinthians x Athletico-PR pela Copa do Brasil — Foto: Reprodução/CBF

Davi, com personalidade, rebateu de imediato: “Nós não trabalhamos com sentimento, e sim com imagens.” Como o lance foi considerado inconclusivo, a decisão de campo foi mantida.

Além do semiautomático e da qualificação da arbitragem, torcedores e especialistas defendem a adoção de outras tecnologias, como o chip na bola. Isso evitaria dúvidas em jogadas como o gol de Yago Pikachu, do Fortaleza, contra o Sport, pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro. Naquele lance, a bola bateu na trave e quicou próxima à linha, mas sem clareza se entrou ou não. No próprio áudio divulgado pela CBF, os árbitros não chegaram a um consenso, e a decisão de campo foi mantida. Para a comentarista Renata, o uso do chip, junto do semiautomático, é essencial para garantir a precisão e a credibilidade das decisões.

Fato é que a implementação da tecnologia será fundamental para o futebol brasileiro, prometendo transformar o cenário da arbitragem. Porém, ainda será necessário analisar como a CBF conduzirá esse processo, já que os clubes vivem realidades distintas, especialmente no aspecto financeiro. O próprio presidente da entidade já admitiu que o sistema é caro e que haverá transferência de responsabilidade.

Apesar dos desafios, torcedores, atletas e especialistas concordam que a tecnologia é indispensável para reduzir polêmicas. O caminho até 2026, contudo, exigirá investimentos em infraestrutura, capacitação e planejamento. Afinal, como destacou PVC, o objetivo é acabar com discussões que em outros lugares já não existem.

Entenda como a privatização do transporte público influencia na sua segurança
por
Amanda Campos
Gabriela Blanco
Lorena Basilia
Manuela Schenk
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10/06/2025 - 12h

Após o trágico acidente na linha 5-lilás que matou um homem de 35 anos, o assunto segurança no transporte público vem sendo amplamente discutido, principalmente quando se fala das vias privadas. A reportagem a seguir fala sobre a falta de segurança na mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Em entrevista à AGEMT, o especialista Igor Bonifácio responde algumas das perguntas mais recorrentes sobre o assunto. Assista. 

 

 

 

Flávia Lancha e Pedro Faria refletem sobre o impacto do aumento nos preços do café no Brasil
por
Ana Clara Souza
Juliana Salomão
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09/06/2025 - 12h

O café, uma das commodities mais consumidas e exportadas pelo Brasil, tem apresentado uma forte alta de preços nos últimos meses. Neste contexto, investigamos os principais motivos que levaram a um aumento de 80,2% no preço acumulado em 12 meses, conforme registrado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para entender melhor essa realidade e como a alta tem afetado a população brasileira; seja na compra do café em pó, grãos ou cápsulas; convidamos dois especialistas para o nosso podcast Na Ponta da Língua.

O economista Pedro Faria, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em entrevista à AGEMT, faz uma análise detalhada dos elementos que têm contribuído para a alta dos preços. Já a empresária Flávia Lancha compartilha sua percepção como produtora rural sobre como esse aumento tem impactado a produção de café. Crédito da foto: Juliana Salomão

Prepare seu cafezinho e confira todos os detalhes abaixo!

Como as ciências humanas podem esclarecer o mundo diante da crescente influência norte-americana no mercado e na sociedade
por
Júlio Antônio Poças Pinto
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27/05/2025 - 12h

Nesta última sexta-feira em entrevista para o portal Agente da PUC-SP o professor de Sociologia Antônio Fonseca de Deus respondeu perguntas e deu a sua opinião sobre a globalização e a sua relação com a cultura e a economia. Além de falar como o Brasil tem lidado com essa questão.

Na visão do professor Antônio a globalização é uma coisa criada pelos países da américa do norte, e é latente do modo econômico e cultural e gerou grandes avanços tecnológicos.

Quando questionado sobre a participação dos EUA na cultura da globalização ele afirma que os Estados unidos influencia as pessoas pelas mídias, com isso eles propagam a sua cultura pelo mundo divulgando as suas marcas e empresas pelo mundo.

Por fim para responder sobre a participação do Brasil o professor diz, que o nosso pais e emergente e por conta disso já da sinais que aderi ao neoliberalismo. Assista

 

Modelo brasileiro segue baseado na punição, apesar de avanços pontuais
por
Larissa Pereira José
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09/06/2025 - 12h

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal representa um marco jurídico. Em junho de 2024, por maioria de votos, o STF fixou o limite de até 40 gramas ou seis plantas fêmeas para o porte individual. A medida retira a pena criminal e define sanções administrativas, como advertência e prestação de serviços.

"A decisão, embora significativa, está longe de reestruturar a política de drogas no Brasil. O país segue adotando uma abordagem repressiva, mesmo diante de experiências internacionais que priorizam saúde pública e direitos humanos", critica o professor Paulo Pereira, do curso de Relações Internacionais da PUC-SP, em entrevista à AGEMT. 

“O Brasil ainda está muito apegado a uma política de drogas conservadora, desconectada das pesquisas científicas e das práticas mais modernas no mundo”, afirmou o especialista. Ele observa que, em países como os Estados Unidos — origem do proibicionismo —, já há iniciativas estaduais de regulação da cannabis e até de uso terapêutico de psicodélicos. No Brasil, o modelo continua ancorado na criminalização e no controle social.

“O que temos é uma política construída ao longo do século XX, com forte marca repressiva, criminalizadora, racista e classista”, diz Pereira. Ele lembra que essa estrutura penal recai, com frequência, sobre jovens negros e moradores de periferias, ainda que boa parte dos casos envolva pequenas quantidades de droga. O impacto da atual legislação é mensurável. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que, em 2023, 30% da população carcerária estava presa por delitos relacionados à Lei de Drogas. O número reforça as críticas ao encarceramento em massa e à seletividade penal.

Ao mesmo tempo em que o STF avançou com a descriminalização parcial da maconha, o Congresso Nacional tramitou em sentido oposto. A PEC 45/2023, aprovada no Senado em abril de 2024, pretende criminalizar o porte de qualquer droga, independentemente da quantidade. Caso seja aprovada na Câmara, especialistas temem que a proposta torne inócua a decisão do STF e intensifique o encarceramento.

Para o professor, uma política eficaz exige diagnóstico social e territorial. “A melhor forma de elaborar políticas públicas sobre drogas é entender os contextos específicos do uso, os tipos de substância, e as limitações socioeconômicas de cada grupo. A repressão generalizada só perpetua desigualdades”, afirma.

A comparação com outros países reforça esse argumento. Portugal, por exemplo, adotou um modelo de descriminalização em 2001, com foco na redução de danos e reinserção social. Já Canadá e Uruguai legalizaram o uso recreativo da cannabis, criando mecanismos de controle e arrecadação. As estratégias variam, mas têm em comum o afastamento do modelo puramente penal. No Brasil, o tema ainda enfrenta barreiras culturais.

Segundo pesquisa realizada pelo PoderData, em junho de 2024, 50% dos brasileiros apoiam a descriminalização da maconha, enquanto 45% se declaram contra. A divisão reflete o caráter conservador de parte da sociedade e a força de discursos que associam drogas à violência e à marginalidade. Para Pereira, mudar esse cenário exige enfrentamento político e social. “É um desafio de longo prazo. Nossa sociedade foi moldada por uma visão punitiva, e romper com ela depende de informação, escuta e compromisso com os direitos humanos. A transformação não será rápida, mas é necessária”, acrescenta. 

Enquanto, o Judiciário avança e o Legislativo recua, a política de drogas no Brasil segue marcada por contradições. No centro do debate está uma pergunta urgente: o país continuará punindo o consumo ou buscará soluções baseadas em cuidado, educação e justiça social?

Grande nome da luta antirracista, pensadora reforça sua aliança com vozes progressistas do Sul Global
por
Ana Julia Mira
Victória Miranda
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06/05/2025 - 12h

Uma das principais vozes do feminismo negro, Angela Yvonne Davis, fez parte do grupo revolucionário “Panteras Negras” e do Partido Comunista dos Estados Unidos. Além disso, foi amiga de Herbert Marcuse, um dos principais filósofos da Escola de Frankfurt. Marcuse foi seu orientador durante o tempo em que ela passou na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e a incentivou a explorar suas ideias revolucionárias de forma mais profunda. Ele foi uma grande influência sobre seu entendimento do socialismo, feminismo e teoria crítica. "A liberdade é uma luta constante. Não há fronteiras para a luta pela liberdade", diz trecho do livro "A liberdade é uma luta constante”, um de seus livros de grande repercussão.

Angela Davis tem uma forte ligação com a música, especialmente com o jazz. Ela costumava frequentar os clubes de jazz em Los Angeles e é fã de artistas como John Coltrane e Miles Davis, cujos trabalhos influenciaram sua visão artística do mundo. Além disso, Davis mantém uma profunda admiração pelo Brasil. Suas visitas ao país ao longo dos anos, revelam não apenas um interesse político, mas também um verdadeiro afeto pela cultura brasileira e pelos movimentos sociais locais. “Tive a oportunidade de conhecer Lélia Gonzalez, e minha percepção é que nós temos muito o que aprender com os movimentos do Brasil”, disse ela em sua passagem a São Paulo em 2019 durante sua participação em um ciclo de debates e palestras que aconteceu também no Rio de Janeiro.

Ela reconhece no Brasil um território fértil para o debate sobre raça, gênero e justiça social  “Há uma vibração, um pulso coletivo nos jovens, principalmente nas mulheres negras e jovens, que é muito grande”, diz Davis. Esse carinho pelo país latino-americano se estende desde 1997, quando esteve pela primeira vez em nosso solo, mais especificamente na Bahia, em evento que celebrava o legado da ativista negra Lélia Gonzalez. No geral, em todas as suas passagens pelo país, participou de conferências, encontros com lideranças de movimentos negros e feministas, além de fortalecer laços com intelectuais e artistas comprometidos com a transformação social.

Davis afirma ver no país uma esperança para a luta das mulheres negras e não enxerga a necessidade de buscarem nela uma referência para o feminismo negro, quando ela mesma aprende com figuras como Marielle Franco, Carolina de Jesus e Lélia. Também se posicionou incisivamente diante de questões políticas brasileiras. Durante o lançamento de sua autobiografia “A liberdade é uma luta constante”, pela editora Boitempo, em 2019, se mostrou atenta ao cenário nacional ao defender a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente da República. No mesmo evento, Davis pediu justiça por Marielle Franco, que havia sido vítima de assassinato no ano anterior. 

Angela retornou ao Brasil, em 2024, para participar da abertura da terceira edição do Festival LED falando sobre a educação como ferramenta para a libertação, momento em que exaltou outra figura brasileira: Paulo Freire, dizendo o considerar o maior educador do mundo. Durante o evento, também se posicionou contra a PL Antiaborto, que estava em discussão na época, e a retirada do livro “O menino marrom” de escolas municipais de Minas Gerais. Afirmou que esses movimentos fazem parte de um crescimento conservador que vem afligindo todo o mundo.

Pesquisa aponta redução de cerca de 7 milhões de leitores no Brasil nos últimos quatro anos
por
Ana Clara Souza
Juliana Salomão
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10/05/2025 - 12h

No dia 23 de abril, quando se celebra o Dia Mundial do Livro, a homenagem aos autores e obras contrasta com um cenário preocupante: o Brasil está lendo menos. Dados da 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, revelam uma redução de 6,7 milhões de leitores nos últimos quatro anos, reacendendo o debate sobre os desafios de manter a leitura como hábito em meio a transformações culturais e digitais. Em 2024, a pesquisa apontou que 53% da população, o que corresponde a 93,4 milhões de pessoas, é composta por não leitores. Isso significa que mais da metade dos brasileiros não leu um único livro, e nem mesmo parte dele, nos últimos três meses. 

“São fatores multifacetados. Não é um único problema. Acho que a queda na leitura do povo brasileiro reforça questões estruturais como, por exemplo, a desigualdade social", diz Bruna Martiolli, mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade do Minho, em entrevista à AGEMT. Ela reforça que questões estruturais, como a desigualdade social, impactam diretamente o acesso à leitura.

Segundo a pesquisa, um dos principais pontos é a disparidade entre as classes sociais. Enquanto 3 milhões de pessoas da classe A são consideradas leitoras (62% desse grupo), nas classes D e E, apesar de o número absoluto ser maior — 19 milhões —, o índice proporcional cai para apenas 35%.

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Foto: Reprodução/Retratos da Leitura no Brasil 


Em Portugal, por exemplo, o público tem consumido cada vez mais livros, registrando um aumento de 9% nas vendas de 2024 em relação ao ano anterior, segundo a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). Em entrevista à revista Executive Digest, o presidente da APEL afirmou que este fenômeno é fruto de um esforço coletivo que envolve pais, educadores, autores, organismos públicos e, inclusive, a influência de criadores de conteúdo. Enquanto os portugueses estão tirando proveito das mídias digitais, o Brasil enfrenta barreiras que vão muito além das distrações das telas. Para a professora Bruna, essa contradição revela que o problema na queda da leitura dos brasileiros não se resume a fatores como globalização ou ao uso cada vez maior das redes sociais.

“A gente lida com um país que vive no auge da desigualdade social. A falta de acesso a livros é um problema, e a falta de interesse em ler é outro”, diz ela, que reforça a falta de espaços de incentivo à leitura, como bibliotecas públicas e comunitárias no Brasil, até os altos índices de analfabetismo que persistem e excluem milhões. 

Interesse pela Leitura

Mesmo em um mundo dominado pelo digital, Bruna Martiolli diz não ter “a menor dúvida de que a literatura não corre perigo algum”, pois "por mais globalizados e conectados que estejamos, os seres humanos não conseguem abrir mão daquilo que faz parte da sua essência — a busca pelo sentido, beleza e reflexão da vida. Cedo ou tarde, a literatura encontra o seu lugar", garante. Ainda que o interesse imediato pareça diminuir entre os mais jovens, o fascínio pela leitura, que se mantém desde o surgimento do livro, nunca desapareceu; o encanto apenas se manifesta em momentos diferentes para cada leitor.

Como é o caso da influenciadora digital e apresentadora Giovanna Souza, conhecida como Gih Souza nas redes sociais. “Na minha escola, existia aquele estereótipo do ‘nerd’ que fica lendo. E eu pensava: ‘Não vou ler, não vou ser a nerd que fica lendo’. Deixei esse meu lado pra lá e, na pandemia, comprei um Kindle [aparelho para leitura digital]. Eu falei: ‘Vou voltar a ler’, e comecei a ler muito”, orgulha-se.

O Kindle, dispositivo que permite o acesso e a leitura de diversas obras, é um exemplo da popularidade do mercado de livros digitais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen BookData, em parceria com a Câmara Brasileira do Livro, 30% dos leitores brasileiros compraram livros tanto em formato físico quanto digital no ano de 2024, enquanto 14% optaram exclusivamente pelo formato digital.

Nesse cenário de transformação nos hábitos de leitura, os criadores de conteúdo digital têm desempenhado um papel na aproximação dos jovens da leitura, adaptando ou “mastigando” as obras para os usuários e seus seguidores, por meio de storytellings que funcionam nas redes sociais e no universo dos algoritmos e vídeos curtos. “Acho que elas [as adaptações] incentivam, sim. Tanto que meus maiores vídeos são quando eu faço resumo dos livros. Às vezes as pessoas gostam de ler para realmente comentar sobre. Gera curiosidade para leitura”, disse Giovanna.

O TikTok, aplicativo chinês famoso pelos vídeos curtos e por ditar as novas tendências na internet, tem se tornado cada vez mais popular entre os jovens. Dentro da rede social, surgiu o movimento “BookTok”, impulsionado por influenciadores digitais, em vídeos são publicados para compartilhar o que o criador está lendo, recomendações e discussões de livros, além de edições e montagens com cenários e roteiros diversos que, das formas mais criativas, incentivam a leitura. 

 

@_gihsouzaf A pergunta de milhões pós #culpatuya é : qual a data de culpa nossa? #culpables #culpamia #nicolewallace #gabrielguevara #culpamiaedit ♬ som original - Gih