O Brasil tem um dos maiores mercados de pets do mundo. A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) estima que o mercado atingiu um faturamento de R$ 77,3 bilhões em 2024, representando um crescimento de 12,6% em relação a 2023. Neste cenário, o mercado de animais silvestres e exóticos é o que mais cresce proporcionalmente a cada ano.
Entre 2022 e 2024, o mercado brasileiro de aves ornamentais apresentou um crescimento significativo. O faturamento aumentou de R$ 41 milhões para R$ 47 milhões, representando um incremento de R$ 6 milhões, ou aproximadamente 14,6% no período. No mesmo intervalo, o segmento de animais não convencionais, que inclui pequenos mamíferos, répteis e anfíbios, registrou um aumento de faturamento de R$ 10 milhões para R$ 14 milhões. Isso equivale a um crescimento de R$ 4 milhões, ou 40% no período. Ezequiel Dutra é biólogo, responsável técnico e gerente do Galpão Animal, loja de animais exóticos mais tradicional de São Paulo. Com mais de 16 anos de experiência no local, ele acompanha de perto a evolução do mercado e o crescente interesse por esses animais. Assista a entrevista completa em vídeo
Na cidade de São Paulo, os passageiros de ônibus enfrentam diariamente desafios para se locomover, devido a atrasos, trânsitos e falhas na infraestrutura para mobilidade. No começo de 2025, o valor da tarifa de ônibus foi ajustado pela Prefeitura de R$4,40 para R$5,00, um aumento de 13,6%. As principais razões apontadas para o reajuste são a diminuição do número de passageiros pagantes e o aumento de custos operacionais.
Para Reynaldo Mantovani, motorista da cidade de São Paulo, os principais desafios enfrentados são as dificuldades de locomoção. “As ruas estão superlotadas de carros e por mais que o rodízio ajude, não é o suficiente. O ideal seria diminuir a quantidade de carros nas ruas no horário de pico, que é das 7h às 10h e das 17h às 20h. Além disso, as ruas são bem apertadas. A gente acaba tendo que dividir com pedestres e ciclistas, isso atrasa bastante”, diz Mantovani.
Segundo a pesquisa Viver em SP 2024, realizada pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ipec, o tempo médio de deslocamento diário de quem utiliza transporte público em São Paulo é de 2h47, somando cerca de 42 dias por ano. Além da demora para se locomover, os paulistanos ainda enfrentam ônibus lotados, realidade ainda mais crítica nas periferias. Segundo Mantovani, a superlotação tem se agravado nos últimos anos. “O problema da lotação existe e não vai acabar tão cedo, porque as pessoas estão cada vez mais nessas áreas. As empresas não investem tanto na periferia, o que acaba sobrecarregando e criando muito transtorno para quem está dentro do ônibus”, desabafa.

Nesses locais a falta de manutenção e acessibilidade das ruas, estradas e vias de acesso são mais visíveis e dificultam o processo do percurso do passageiro. Marília Mendonça, moradora da Freguesia do Ó, usuária dos ônibus 9014-10 Morro Grande/Terminal Lapa e 917M Morro Grande/Ana Rosa, evidencia a precariedade da infraestrutura da cidade, a falta de supervisão das periferias e o tempo de espera. “Existem muitos buracos e quase não há manutenção nas ruas, além de ter muita lotação e demora para o ônibus passar. Algumas vezes chego atrasada ou tenho que sair bem mais cedo de casa, principalmente em horários de pico. Nos últimos tempos as vezes compensa mais usar carro de aplicativo”, explica Mendonça.
O principal projeto de mobilidade do prefeito Ricardo Nunes aposta na implementação de ônibus elétricos como solução sustentável e econômica para a cidade. Esse planejamento não contempla todos os problemas enfrentados pelos usuários, como a dificuldade de integração entre as regiões periféricas e o centro, a lotação dos veículos e o aumento do tempo de espera.
Em janeiro deste ano, a startup chinesa DeepSeek, sediada em Hangzhou, lançou o modelo de inteligência artificial DeepSeek-R1. Um chatbot que concorre com os modelos ocidentais em desempenho, como o ChatGPT, o Google Gemini e o MetaAI, mas com custos menores. Este lançamento destaca a rápida evolução da China no campo da inteligência artificial, desafiando a hegemonia tecnológica dos Estados Unidos e sinalizando uma mudança no equilíbrio global da inovação.

Para consolidar sua posição, a gigante asiática tem investido massivamente em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Em 2021, o país destinou mais de 400 bilhões de dólares para o setor, tornando-se um dos maiores investidores em inovação. De acordo com o 14º Plano Quinquenal (2021 - 2025), o governo chinês estabeleceu a meta de aumentar esses investimentos priorizando áreas estratégicas como inteligência artificial e biotecnologia.
O impacto desse avanço se reflete no surgimento das grandes empresas chinesas de tecnologia, como Huawei, Tencent, Alibaba e Xiaomi, que competem diretamente com empresas ocidentais no setor digital e de telecomunicações. Em entrevista à AGEMT, Edgar Nishiyama, diretor de dados, análises e inteligência artificial, da Qbem, e John Pierman, engenheiro em aprendizagem de máquina, da Arancia, detalham as questões que as companhias chinesas ainda enfrentam para superar as norte-americanas.
“A China continuará avançando em setores onde tem autossuficiência (ex.: baterias, energia solar), mas a dependência de semicondutores ocidentais limita sua capacidade de liderar em IA e computação quântica. Sob sanções de Trump, a liderança será fragmentada: EUA dominarão tecnologias de ponta; China, aplicações comerciais em escala.” diz Nishiyama, que acrescenta: "apesar da rápida evolução chinesa e o forte empenho do país em inovação, a confiabilidade da população mundial em produtos estadunidenses segue consolidada e pode ser um empecilho para a aderência do público em tecnologias vindas do oriente".
Após, o lançamento da IA chinesa, a Microsoft e a OpenIA iniciaram uma investigação para checar se haviam tido acesso indevido aos dados de treinamento de modelos avançados da empresa. Há desconfiança no campo global a respeito do tratamento de dados por parte da China, que possui uma Lei de Segurança de Dados Cibernéticos que exige o acesso a dados sensíveis de empresas privadas em seu território. A respeito do roubo de dados, com frequência os Estados Unidos os acusam de alguma forma.
O banimento temporário do TikTok durante o Governo Biden, acendeu alertas no mundo todo, por alegar armazenamento de informações de milhares de estadunidenses a pedido do governo chinês, afirmação que foi negada pelos proprietários do aplicativo. Depois de quase um mês fora das lojas de aplicativo, Trump adiou a aplicação da lei que exige a venda da empresa ou a saída do país.
“Acredito que a única maneira da China ser líder global em inovação é, não apenas continuar a desenvolver inovações revolucionárias em vários setores de tecnologia, mas também deve haver alguma queda de confiança na inovação americana”, explica Pierman.
A ascendência chinesa desafia mais do que apenas o mercado tecnológico, mas uma forte política mundial centrada nos países ocidentais, em especial, os Estados Unidos, que trava uma guerra tecnológica silenciosa que visa minar o crescimento do rival.
Essa expansão não é de hoje, mas, liderada pelo Partido Comunista Chinês (PCC), teve início na década de 1980, impulsionada pelas reformas promovidas por Deng Xiaoping. Ele assumiu o poder em 1978, após a morte de Mao Tsé-Tung, fundador da República Popular da China. Diferente de seu antecessor, Deng implementou uma série de medidas para modernizar a economia, adotando elementos do capitalismo enquanto mantinha o controle centralizado do Estado. Entre suas principais iniciativas estavam a criação das zonas econômicas especiais (ZEEs) que atraíram investimentos externos, e a flexibilização da propriedade privada nos setores produtivos. Essas estratégias transformaram a China em um dos principais polos industriais do mundo e abriram caminho para sua atual aspiração à liderança tecnológica.
Olinda, reconhecida como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco e identificada pelas autênticas festas populares no carnaval, recebeu mais de 4 milhões de foliões neste ano (2025). Essa celebração, que tem suas raízes na resistência e identidade popular, representa grupos africanos e indígenas que deram forma a um dos carnavais mais tradicionais do Brasil.
O carnaval, apesar de ser organizado sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal de Olinda, tem como protagonismo a participação popular. Em sua origem, no século XIX, festas populares como o entrudo – um tipo de brincadeira de rua em que as pessoas jogavam uns nos outros farinha, baldes de água, luvas cheias de areias etc. – deram lugar a blocos organizados, clubes de frevo, trocas carnavalescas e o maracatu, que estão vivos até hoje.
Com diferentes tipos de festas, como o tradicional clube de frevo “Vassourinhas de Olinda”, as Troças Carnavalescas como “Eu Acho É Pouco”, Clube do boneco com a famosa “Corrida dos Bonecos Gigantes” e o Maracatu, o carnaval acontece gratuitamente nas ruas, sem sambódromos, cordões de isolamento ou trios elétricos segregando as pessoas.
O jornalista Leokarcio Cavalcanti, pós-graduado em estudos cinematográficos, tem 31 anos e usa da riqueza cultural olindense para criar conteúdos no Instagram e Youtube, conhecido pelo nome de Anfitrião de Olinda. Nascido em Timbaúba, na Zona da Mata, norte de Pernambuco, morou a maior parte da vida em Olinda. Ele comenta sobre a essência popular da festa: “A principal característica dessa festa é ser de rua, feito pelo povo. Qualquer um pode brincar, seja rico ou pobre”.
Além disso, o frevo e o maracatu são não apenas símbolos da cultura pernambucana e do carnaval, mas também resistência de grupos reprimidos de uma cidade histórica, que possui a religião de matriz africana e indígena em sua construção. Leokarcio acrescenta que “O batuque do frevo e do maracatu eram marginalizados pela elite, sendo motivo de detenção policial. Assim, os grupos artísticos enxergaram sua entrada no carnaval como uma tentativa de sobrevivência”.
Segundo o jornalista, o frevo surgiu no Recife no final do século XIX, com a abolição da escravatura e a Proclamação da República, derivado de uma mistura de ritmos musicais, como o gênero “dobrado”, vindo das marchas militares europeias, e do grupo “fanfarras”, músicos que tocam instrumentos de metal. A manifestação musical foi criada pelos especialmente pelos homens, negros, escravos recém libertos que encontravam no Carnaval de rua sua resistência.
De acordo com o historiador Mario Ribeiro, devido as brigas e resistências do povo com os movimentos da capoeira durante as festas, o governo proibiu esse esporte. Quando os escravos estavam jogando capoeira na rua e chegava um militar, eles trocavam os movimentos, surgindo, assim, o passo do frevo. A influência da capoeira no passo é perceptível até hoje, no movimento corporal da dança e no nome dos passos. Com uma música de ritmo acelerado, a palavra “frevo” tem origem em 1907, vem do verbo “ferver” e faz associação a como as pessoas dançavam nas ruas, como se estivessem em ebulição.

A mistura de ritmos, quando somado o povo e a sua diversidade, fez do frevo uma expressão cultural singular, e de grande relevância para o carnaval. Sua contribuição sociocultural é tanta, que teve reconhecimento como Patrimônio Imaterial do Brasil, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Unesco.
Outra manifestação cultural que marca o Carnaval de Olinda é o maracatu. Dividido em duas principais vertentes, o maracatu nação (ou baque virado) e o maracatu rural (ou baque solto), essas tradições também têm raízes na cultura ancestral. Manifestação cultural performática criada para homenagear os Reis do Congo, no qual um cortejo real, composto por rei, rainha, príncipes, princesas, figuras da nobreza, vassalos, baianas, dentre outras personagens, desfilam pelas ruas de Recife e Olinda. O maracatu executa uma dança específica e é acompanhado por uma orquestra percussiva, composta por instrumentos como alfaias (tambores grandes), caixas e taróis, gonguê e ganzás. Este representa uma cultura negra ancestral, presente na região metropolitana do Recife desde o século XIX, com as antigas nações de escravos africanos. Em sua maioria, possuem vínculo religioso com as religiões de matriz africana, como o candomblé.

Já o maracatu rural, influenciado pela cultura afro-indígena, teve sua origem nas áreas onde foi consolidada a economia açucareira e possui forte presença na Zona da Mata, norte de Pernambuco. Desfilam em cortejo sob a orientação do apito do mestre e sua música apresenta instrumentos percussivos e de sopro. Trata-se de uma manifestação do sobrenatural, em que entidades protetoras são invocadas, em rituais de umbanda, para que propiciem aos brincantes do maracatu sucesso nas suas andanças.

Leokarcio ressalta que “o frevo e o maracatu existem no carnaval de Olinda não apenas como grandes símbolos da nossa cultura, mas como resistência de uma cidade histórica, que, até os dias de hoje, sente as consequências da escravidão, formada em grande parte por descendentes de pessoas escravizadas. Naturalmente existe uma grande relação dos moradores da cidade na manutenção do frevo e do maracatu pela própria identificação cultural".
Assim, o carnaval de Olinda vai muito além de uma simples festividade. É uma manifestação viva da história, da resistência e da identidade popular. Com raízes nas tradições dos povos africanos e indígenas, o frevo e o maracatu expressam a luta e a criatividade de um povo que transformou a rua em palco de afirmação cultural. No pulsar do frevo e na cadência do maracatu, a cidade reafirma mais um ano seu compromisso com a memória coletiva e com a liberdade de expressão, fazendo do carnaval uma celebração da liberdade, identidade e cultura.
O GP de Interlagos de 2005 teve em sua equipe de bombeiros civis Patrícia Alves Cardoso, uma das primeiras mulheres nesse ofício no estado de São Paulo. O fato chamou a atenção do alemão Michael Schumacher que fez questão de conversar com a brasileira e, admirado, afirmou que a função de bombeiro em seu país, à época, não era exercida por pessoas do gênero feminino. Ele ainda a presenteou com seu boné oficial, que tem nele chip contendo as informações de Schumacher naquela corrida. “Me ofereceram muitos dólares e eu não aceitei, fora de cogitação. Tenho até hoje, ele (o boné) tem um apego sentimental muito grande”, afirma Patrícia.

Após alguns anos, foi a vez de Martinho da Vila conhece-la e se ver admirado pela postura da bombeira, que solicitou ao cantor que apagasse seu cigarro devido ao risco de incêndio. Martinho teria dito que em 64 anos de carreira, ninguém nunca tinha feito ele apagar um cigarro e que só fez porque Patrícia tinha “um jeitinho muito maneiro de pedir”.
“Bati na porta e disse ‘oi, tudo bem com o senhor?’ e ele com um cigarrão na mão, ‘está vendo esse negócio aí em cima? Se chama detector de fumaça, o senhor não pode fumar aqui. Se quiser um outro lugar em que o público não veja o senhor fumar eu arrumo sem problema algum’”, ela conta. “Ele não me respondeu nada, só virou as costas, foi até o banheiro, apagou o cigarro, mostrou o cigarro apagado e jogou fora”, relembra.
Apesar do reconhecimento de celebridades, Patrícia enfatiza as dificuldades que teve, principalmente no começo de carreira, em que pouco existiam mulheres no ramo. “Comecei há 23 anos, não tinha bombeiro civil feminino em São Paulo, logo quando eu entrei, nos meses seguintes começaram a chegar mulheres que não aguentaram o peso da profissão”, explica. “Hoje é um pouco mais fácil, mas antigamente tinha muita discriminação de você chegar no local de ocorrência e a pessoa falava: ‘você pode chamar seu superior?’, sempre viam você como um sexo frágil”, afirma.
Ela revela que seu sonho de consumo não era ser bombeira, mas sim, parteira, “não obstetra – parteira!”, como faz questão de enfatizar. O desejo não teria tido nenhuma motivação específica, sendo essa uma paixão do qual se identificava desde pequena, e que a vida a fez realizar de outra forma, sendo ela a responsável pelo parto de sua irmã. “Eu fui até o hospital, já era bombeira, mas não tinha feito parto.
Foram 36 horas, e na hora que o bebê foi nascer ela travou as pernas. Tinha duas enfermeiras bem menores do que eu”, conta. “Não conseguiam destravar as pernas dela e a cabeça dele (do filho) estava sendo espremida. Eu consegui debruçá-la para que o processo de parto fosse feito. A médica falou que foi ali que eu salvei mais uma vida, que foi a do meu sobrinho”, explica.
Mesmo que o sonho de realizar partos tenha se transformado na realidade de apagar incêndios, é possível dizer que o codinome salva-vidas sempre esteve no DNA de Patrícia que, com apenas 16 anos de idade, socorreu por três vezes um garoto de apenas quatro anos, que morava na casa ao lado. A primeira vez foi quando seu vizinho caiu no topo do telhado da casa em que ela morava. A adolescente prestou os cuidados, porém, ao retirar o menino do telhando, ele teve uma convulsão seguida de parada cardiorrespiratória. “Posso dizer que foi Deus que me ensinou a como fazer massagem cardíaca”, comenta.
“Alguns meses depois esse moleque estava sentado no meio da rua e um caminhão sem freio desceu a rua da minha casa. Não pensei nas consequências, simplesmente atravessei e joguei ele para o outro lado”, relata Patrícia, sobre o segundo salvamento à mesma criança. No terceiro episódio, ela conta que o mesmo menino estava convulsionando em casa, até que a mãe dele, já sabendo do histórico de salvamentos por parte da vizinha, bateu a sua porta desesperada e conseguiu novamente com que a futura bombeira salvasse seu filho.
Patrícia diz que a principal inspiração para seguir no ofício que exerce partiu de seu falecido marido, que era bombeiro. Segundo ela, a morte do esposo a motivou em fazer o curso da profissão. Essa, porém, não foi a primeira relação afetiva dela. A bombeira conta que passou por uma relação abusiva em seu primeiro casamento, em que teve um filho, passando por agressões e ofensas pelo fato de ser mulher.
“Casei com uma pessoa de um jeito e ao longo dos meses ele foi se tornando quem ele é, um cara machista ao último, de bater na minha cara na frente dos outros, de gritar comigo como eu não tinha direito a voz”, revela. Ela conta que durante essa relação ela era proibida de trabalhar ou ter amizades, e fugiu de casa com o filho após seguidos episódios. “Ali foi meu grito de guerra, quando eu decidi que eu não queria mais aquilo. Eu preferia morar num barraco de madeira que não tinha piso do que estar ali”, afirma.
A maior dificuldade da carreira para uma mulher na função de bombeiro, segundo ela, foi lidar com o ambiente masculino em sua volta, passando por dificuldades estruturais que transmitem a mensagem de “você tem que se virar, a mulher que se vire”, como ela diz, ao explicar que já trabalhou em lugares sem local para se trocar ou um banheiro próprio para mulheres.
“Você está no alojamento e os bombeiros olham para você perguntando ‘vai se trocar onde? Não tem lugar para você’, parece ser simples, mas não é, isso magoa, ver todos guardando suas roupas e você não ter esse direito mínimo”. Patrícia ainda afirma ter sido assediada moralmente e perseguida durante sete anos em um local em que trabalhou, tendo entrado com fama de “amante do gerente” por parte de outros funcionários que colocavam sua capacidade em xeque diante do fato de ser uma mulher exercendo aquela profissão.
“Acontecia de eu estar na minha sala fazendo o serviço e vir um segurança bem devagarzinho para ver se eu estava com um homem lá dentro”, relata. Segundo seu depoimento, acontecia de pessoas colocarem falsas evidências em seu carro para apontarem ela como amante de outro homem que teria lhe cedido o emprego. Nesse mesmo serviço, ela relembra de alguns outros episódios em que duvidaram de sua capacidade profissional em detrimento de gênero. Em um desses, ela teria alertado o chefe de manutenção do estabelecimento sobre uma árvore que estava prestes a cair, dizendo que era melhor arrancá-la antes que caísse e machucasse alguém.
“Eu escutei a seguinte frase: ‘Patrícia, eu vou pedir para um homem ir lá e ver o serviço, se ele falar que vai cair, daí a gente arranca’, não deu tempo de eu chegar na minha sala e a árvore caiu, graças a Deus não pegou ninguém”, comenta. “Ele podia dizer que ia pedir a um outro funcionário, que era um jeito dele não me ofender, mas enfatizava a palavra homem”, reitera. “Hoje eu não tolero muita coisa que eu tolerava, se uma pessoa falar para mim que vai pedir a opinião de um homem eu levo para a delegacia”, afirma.
Por fim, ela comenta sobre o movimento feminista no país, elucidando que "tem que ser mais objetivo e sem se perder”, relatando que viu vários movimentos feministas perdendo o foco de sua pauta principal. “Se você se propôs por uma causa, vá até o fim, não importa quantos nãos vão te falar, mas vá em frente! O feminismo não é só para mulher”, opina.