A brasileira chamou atenção das grandes casas de moda pelo mundo depois da indicação de "Ainda estou aqui"
por
Giovanna Laurelli
Wildner Felix
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01/04/2025 - 12h

Na cerimônia do Oscar 2025, Fernanda Torres chega na passarela usando um vestido de alta costura assinado pelo estilista belga Olivier Theyskens. A peça, inteiramente preta e com um imponente decote nas costas, foi ajustada especialmente para a atriz. O look não apenas ressaltou sua elegância, mas também garantiu seu lugar na lista das mais bem-vestidas do Globo de Ouro, segundo a renomada revista americana W Magazine.  

A escolha do vestido não foi aleatória. O tom sóbrio refletia a decisão de Fernanda e de seu estilista Antonio Frajado, de homenagear a trajetória de Eunice Paiva, personagem que a atriz interpretou no filme. Eunice, esposa de Rubens Paiva, enfrentou o desaparecimento do marido durante a Ditadura Militar e dedicou sua vida à busca por respostas e justiça.

 

Confecção do vestido de alta costura utilizado por Torres no Bafta Film Awards 2025, desenvolvido por Maria Grazia Chiuiri
Confecção do vestido de alta costura utilizado por Torres no Bafta Film Awards 2025, desenvolvido por Maria Grazia Chiuiri (Dior). (Foto: Reprodução/ Instagram @oficialfernandatorres)

 

Para a jornalista de moda, da Revista Capricho, Sofia Duarteem entrevista à AGEMT, “a moda é uma ferramenta de comunicação, e é exatamente dessa forma que Torres e Frajado a enxergam. No contexto da divulgação de “Ainda estou aqui”, um filme tão importante para a nossa história, é inevitável, portanto, olhar para as produções da atriz brasileira e pensar sobre a mensagem que elas carregam”, diz Duarte.

Os diversos vestidos utilizados por Fernanda Torres em suas aparições públicas foram foco do público e da mídia não apenas por sua beleza e elegância, mas pelo uso da técnica de method dressing. “O termo em inglês vem do method acting, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra!”, explica a pesquisadora, jornalista e professora de cinema e literatura Paula Jacob.   

Fernanda Torres pronta pro oscas
Fernanda Torres pronta para o Oscar 2025, com confecção da Chanel. (Foto: Reprodução/ Instagram @oficialfernandatorres)

“O method acting é um método de atuação, que é bem famoso no cinema principalmente. O ator meio que vive a vida do personagem, para entrar em um nível de profundidade e interpretar.” Continua Jacob. “O method dressing é uma coisa mais estética, não é que as atrizes - porque principalmente atrizes fazem isso - estão interpretando essas personagens no tapete vermelho ou em press conference. Elas estão usando esse método de transpor a personagem ou a atmosfera do filme para eventos, para criar toda uma comunicação visual, um storytelling”, explica Jacob.  

Alguns exemplos famosos da tática de unir a moda à promoção de um filme foram a americana Zendaya, durante a campanha de Duna (2021) e Challengers (2024), e a australiana Margot Robbie com Barbie (2023). A motivação comum para o uso de roupas de alta costura é simples: “tudo isso faz um buzz em torno do filme, da atriz e chama à atenção das pessoas, virando notícia” , analisa a pesquisadora. “O method dressing seria essa parte mais lúdica, de você conseguir, esteticamente, resumir o personagem, o filme, a atmosfera”. 

Torres conseguiu se destacar pelo fato de que sua vestimenta não estava atrelada necessariamente à promoção de seu trabalho, mas a um espaço de respeito pela figura que representava, a Eunice Paiva. “Ela estava respeitando a essência da história. Evitando usar coisas muito grandiosas, coloridas, festivas. Ela não estava promovendo um filme festivo, ela estava promovendo um filme sério”, afirma Jacob.

“Isso pedia uma certa descrição. Mas não que essa descrição fosse sufocante a personalidade dela, muito pelo contrário. Eu acho que rolou essa questão, de ter o respeito à personagem, o respeito à história, e ter um respeito à personalidade da própria Fernanda”, acrescenta Jacob. 

Fernanda Torres vestindo um vestido de grife
Torres, estilizada por Antônio Frajado, com vestido da grife The Row, para o Jantar dos Indicados ao Oscar 2025. (Foto: Reprodução/ Instagram @antoniofrajado)

Duarte, que realizou uma conversa pela Capricho com Frajado esse ano, confirma o conforto de Torres. “Ele (o estilista) me contou que o preto já é uma cor que a Fernanda gosta; a escolha de preservar a memória de Eunice está mais nas silhuetas clássicas, que garantem um resultado sofisticado mas não desfocam do assunto principal. Essa decisão demonstra um posicionamento político”, diz. 

Nesse universo da moda, as mulheres dominam a cena, sendo constantemente observadas e julgadas por suas roupas. No cinema, essa relação se intensifica, pois o figurino reflete diretamente a obra em que estão inseridas, tornando a mensagem transmitida pelas roupas ainda mais evidente. A jornalista, professora e pesquisadora de cinema Paula Jacob destaca a moda como um poderoso artifício político, capaz de comunicar ideias, imagens e mensagens sem perder sua essência. Como ela afirma: "não consigo ver a moda como apenas um pedaço de pano".

Essa visão se contrapõe à efemeridade das tendências da internet, que desaparecem em questão de minutos. Em contraste, o method dressing — técnica que alinha a vestimenta das atrizes à narrativa do filme — transforma o tapete vermelho em uma extensão da obra cinematográfica. Ao observar os looks das atrizes, é possível identificar referências diretas ao filme, tornando a experiência visual ainda mais marcante para o espectador.

Entenda como a pressão dentro e fora de campo podem afetar o psicológico de um atleta
por
João Lucas Palhares
Nicolas Beneton
Theo Fratucci
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31/03/2025 - 12h

No início do mês de março, o mundo do futebol sulamericanao registrou mais um caso de racismo. Durante a partida entre Cerro Porteño e Palmeiras, válida pela Libertadores Sub-20, o atacante Luighi, do verdão, sofreu diversas ofensas racistas por parte da torcida adversária. Enquanto o jogador Figueiredo era substituído, torcedores paraguaios o chamaram de “macaco”, o mesmo ocorreu com Luighi, que foi substituído logo depois.

As ofensas foram ignoradas pelo árbitro Augusto Menendes. Após o apito final no estádio, Luighi, durante entrevista para TV Conmebol, mostrou sua indignação com o caso, perguntando se o repórter não ia abordar o acontecido na entrevista e chorando. Além disso, o atleta pediu que algum órgão responsável, a CBF ou a Conmebol, tomasse alguma ação contra os racistas, definidos pelo atacante como criminosos.

Após o caso, o Cerro Porteño recebeu uma punição da Conmebol. De acordo com a entidade sul-americana, o Cerro Porteño terá de pagar uma multa de 50 mil dólares (cerca de R$ 290 mil) em até 30 dias da notificação ao clube, e foi decidido que o time paraguaio terá que publicar uma campanha para conscientização contra o racismo em suas redes sociais.

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Luighi, do Palmeiras, às lágrimas em entrevista após sofrer caso de racismo em partida da Libertadores SUB-20. Foto: Reprodução / CONMEBOL TV 

Atos racistas infelizmente não são novidade no esporte, o que acaba refletindo na sociedade em geral. O número de casos e de jogadores ofendidos não parece diminuir, especialmente em relação aos brasileiros jogando em outros países da América do Sul e da Europa, como os ocorridos com Vinícius Jr, do Real Madrid, sendo um dos casos de maior repercussão até hoje. 

Em entrevista à AGEMT, o psicólogo Matheus Vasconcelos, especializado em psicologia do esporte e influenciador digital afirma: "sofrer o crime de racismo dentro do ambiente de trabalho é algo que impacta muito no psicológico dos atletas. O Supporting Professional Footballers Worldwide - FIFPRO  (organização que representa os jogadores profissionais no mundo todo), tem um relatório que aponta a importância das instituições implementarem iniciativas de cuidado com a saúde mental em relação a esse tipo de violência que os jogadores sofrem”, diz Vasconcelos

O preconceito com a psicologia no mundo do esporte é algo que por muitas vezes, trava o desenvolvimento pessoal e profissional de vários atletas, porém, indagado sobre, Vasconcelos disse que "existe uma melhora notável em relação a aceitação da necessidade de ajuda psicológica vindo dos jogadores e acredita que atualmente, o grande desafio para essa barreira ser ultrapassada de vez, são as próprias instituições que não se profissionalizaram e não buscam especialistas certificados para atuar dentro de suas dependências", ressalta.

Um exemplo é o do futebolista brasileiro Richarlison, do Tottenham e da seleção. O atacante de 27 anos passou por um momento conturbado pós Copa do Mundo de 2022, onde era o camisa 9 da amarelinha. Após a eliminação para a Croácia nas quartas de final, Richarlison passou a receber duras críticas de jornalistas e torcedores, e juntamente a isso, passou por problemas em sua vida particular. Segundo relatos do próprio atacante para ESPN, “a psicóloga salvou minha vida, eu só pensava em besteira, pesquisava sobre morte. Hoje eu posso falar, procure um psicólogo”. 

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Richarlison, atacante brasileiro declara que passou passou por momentos emocionalmente difíceis e a ajuda psicológica foi muito importante nessa fase (Foto:Reprodução/ESPN)

Trazendo um lado mais abrangente de nossa análise, Matheus define que o psicológico está em tudo que atravessa a experiência do atleta, ou seja, até aspectos que, observando de fora, não imaginamos o influenciam mentalmente, desde problemas familiares, relações fora do trabalho. Assim como as partes externas, mais relacionadas às condições de trabalho, o clima, a cultura, a educação e a língua do local onde cada um está. No Brasil, vivemos um contexto de acesso precário à educação, que é algo que segue o atleta desde o início de sua formação, esse fator educacional pode ser diferente entre cada um, devido a experiência individual que passou em sua vida. Outro fator é a função e a  fase que o atleta vivência profissionalmente. Ou seja, esses fatores que podem influenciar o psicológico do esportista, podem vir tanto de fatores externos, quanto internos.

Até que ponto o psicológico pode participar da criação de um atleta de alto nível? Na verdade, ele é um dos pilares para um profissional do esporte ser bem sucedido em sua área. Vasconcelos diz que estar bem mentalmente tem participação direta com sua performance durante a partida. “A psicologia pode influenciar diretamente no desempenho auxiliando o atleta a desenvolver diferentes níveis de habilidades psicológicas, sejam elas pessoais, interpessoais, atléticos ou de performance da modalidade praticada, através das intervenções do psicólogo e do conhecimento transmitido.”, explicou sobre a maneira correta de se trabalhar com esse grupo específico. Além disso, o psicólogo ressalvou que essas “intervenções” devem ser feitas de maneira cuidadosa e gradativa, para não correr o risco de prejudicar a saúde mental do esportista.
 

Estudos apontam aumento do estresse e ansiedade em períodos de calor extremo, que levanta alertas para a saúde pública
por
Ana Clara Souza
Juliana Salomão
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31/03/2025 - 12h

Os riscos para a saúde física causados pelo intenso calor já são bem conhecidos, mas os impactos nas condições psicológicas ainda são um tema crescente de estudo. Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que as mudanças climáticas estão afetando diretamente a saúde mental e o bem-estar psicossocial, com consequências cada vez mais preocupantes.

Em entrevista à AGEMT, a psicóloga Fernanda Papa discute como as ondas de calor impactam os grupos mais vulneráveis, além dos efeitos das altas temperaturas sobre os estímulos hormonais no corpo humano e as emoções que surgem nesse contexto. A especialista em meteorologia, Andrea Ramos, também explica sobre as consequências climáticas e as medidas necessárias para lidar com esses impactos em um cenário de intensificação das mudanças climáticas. 

Confira a reportagem completa:

 

Comércio de rua gera renda aos colaboradores e mantém viva uma tradição paulistana
por
Nathalia de Moura
Victória da Silva
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27/03/2025 - 12h

As feiras livres paulistanas já ocupam seus espaços pela cidade há anos. Gerando rendimento para muitos feirantes e possuindo uma variedade de produtos para a população, elas são essenciais para a geração de empregos. Com um público diverso, elas também são tradicionais no estado de São Paulo e dão a oportunidade de conhecer diferentes culturas e pessoas. Segundo a Prefeitura de São Paulo, por meio das secretarias de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), a primeira feira livre oficial aconteceu em 1914, através de um ato do então prefeito Washington Luiz Pereira de Souza. A ação surgiu para legitimar uma prática que já acontecia na cidade, mas de forma informal. Na ocasião, cerca de 26 feirantes estiveram no Largo General Osório, na região da Santa Ifigênia. Mais tarde, em 1915, outra feira se instalou, dessa vez no Largo do Arouche, e teve a presença de 116 feirantes.

As feiras não possuem um público-alvo e esse é seu diferencial. É possível ver crianças, jovens, idosos, famílias, moradores locais e até turistas usufruindo a multiplicidade de mercadorias que existem. Em sua grande maioria, pessoas da classe média e da classe trabalhadora são as que mais frequentam as feiras. Muitos também aproveitam para comprar legumes, verduras e frutas frescas, além de conhecer a cultura local.

São Paulo tem registrado cerca de 968 feiras livres e com a expansão desse comércio tão tradicional, a movimentação financeira gira em torno de R$ 2 bilhões por ano, incluindo a venda de até mesmo peças artesanais. Além disso, mais de 70 mil empregos, diretos e indiretos, são gerados.

Em Guarulhos, por exemplo, Quitéria Maria Luize, de 62 anos, vende condimentos e temperos em quatro feiras de bairros diferentes (Jardim Cumbica, Jardim Maria Dirce, Parque Alvorada e Parque Jurema), sendo essa sua única fonte de renda. “Ela é toda a minha renda, de onde eu tiro o sustento. Criei toda a minha família trabalhando com esses temperos. E começando lá de baixo, não comecei lá em cima”, diz Quitéria em entrevista à AGEMT. 

A feirante afirma que antes de estabelecer seu comércio nas feiras, ela iniciou vendendo temperos pelas ruas com um carrinho de pedreiro: “peguei esses temperinhos emprestados que a minha tia já vendia, saí nas portas, batendo palma e contando minha história”.

 

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Diversos condimentos são comercializados na barraca de Dona Quitéria. Foto: Victória da Silva

Vendedor das mais diversas frutas, Queiroz - como é conhecido e gosta de ser chamado - é feirante por tradição. Seu pai e seu avô participaram de feiras livres e passaram o negócio para ele, que vive disso até hoje, aos seus 60 anos. “O meu avô começou na feira em 1945, ele tinha uma chácara, colhia e vendia. Aqui em Guarulhos não tinha nada, mas já tinha a feira”, informa.

“A feira é patrimônio do Estado de São Paulo” afirma o vendedor, defendendo a existência dela como crucial para a vida dos paulistas e paulistanos. Queiroz diz que as feiras são tão importantes quanto os mercados, já que foi por meio desse comércio que eles passaram a existir: “Até o leite era vendido na feira. A feira era uma festa!", relembra QQueiroz. 

 

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Barraca de frutas do seu Queiroz. Foto: Victória da Silva.

Quem trabalha ou frequenta as feiras falam delas com muito carinho e cuidado. Além disso, os feirantes e moradores também podem ajudar na fiscalização das feiras. Caso identifiquem alguma irregularidade, eles podem acionar as subprefeituras para checarem, pois elas são responsáveis pelo monitoramento. Já a organização e a supervisão são feitas pela Prefeitura por meio da SMDHC e da Executiva de Segurança Alimentar e Nutricional e de Abastecimento (SESANA).

Marcos Antonio da Silva é vendedor de ovos na feira do Jardim Cumbica há 10 anos, mas, diferente de Quitéria, durante os dias úteis trabalha em outra profissão: motorista de caminhão. O caminhoneiro de 52 anos diz que o comércio feirante é uma ótima forma de conseguir renda extra aos finais de semana. Contudo, as mudanças econômicas do país em 2025 fizeram as vendas caírem. “A feira me distrai muito. Aqui tem muita gente boa, atendo bem os clientes, tenho muitos, eles gostam do meu trabalho, eu gosto deles, mas a venda deu uma caída, subiu o preço do ovo, subiu o café, subiu o alho, subiram muitas coisas”, finaliza.

Ir à feira é um evento. Vemos diversas cores e sentimos vários cheiros e sabores. Mas as feiras livres possuem mais do que frutas, temperos e artesanatos. Elas apresentam histórias de vida e ali, amizades e novas experiências podem ser compartilhadas. 

No mês de março, torcida organizada realiza evento para apresentar novo projeto
por
Laila Santos
Tamara Ferreira
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24/03/2025 - 12h

No dia 8 de março, o Departamento Social da torcida organizada Gaviões da Fiel lançou a Secretaria da Mulher, que tem como principais iniciativas: apoio psicológico, jurídico e profissional; conscientização; arte e cultura; integração e diálogos. O objetivo desse pioneiro projeto é oferecer suporte e acolhimento às torcedoras e adeptas, promovendo ações voltadas para as mulheres dentro e fora das arquibancadas. O evento contou com homenagens, sorteios de serviços e produtos de mulheres empreendedoras, treino funcional e de defesa pessoal, exposições fotográficas de mulheres na torcida e café da manhã.

Confira no vídeo as entrevistas que fizemos com algumas fiéis torcedoras nesse dia memorável e marcado pela representatividade:

 

Descubra como a criação legal de animais selvagens pode contribuir para a preservação da biodiversidade
por
Francisco Barreto Dalla Vecchia
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18/03/2025 - 12h

O Brasil tem um dos maiores mercados de pets do mundo. A  Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) estima que o mercado atingiu um faturamento de R$ 77,3 bilhões em 2024, representando um crescimento de 12,6% em relação a 2023. Neste cenário, o mercado de animais silvestres e exóticos é o que mais cresce proporcionalmente a cada ano.

Entre 2022 e 2024, o mercado brasileiro de aves ornamentais apresentou um crescimento significativo. O faturamento aumentou de R$ 41 milhões para R$ 47 milhões, representando um incremento de R$ 6 milhões, ou aproximadamente 14,6% no período. No mesmo intervalo, o segmento de animais não convencionais, que inclui pequenos mamíferos, répteis e anfíbios, registrou um aumento de faturamento de R$ 10 milhões para R$ 14 milhões. Isso equivale a um crescimento de R$ 4 milhões, ou 40% no período. Ezequiel Dutra é biólogo, responsável técnico e gerente do Galpão Animal, loja de animais exóticos mais tradicional de São Paulo. Com mais de 16 anos de experiência no local, ele acompanha de perto a evolução do mercado e o crescente interesse por esses animais. Assista a entrevista completa em vídeo

 

 

 

Em 2025, após o aumento de 13,4% na tarifa de ônibus, a população segue questionando qualidade e falta de investimentos na infraestrutura da cidade
por
Mariane Beraldes
Thainá Brito
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18/03/2025 - 12h

Na cidade de São Paulo, os passageiros de ônibus enfrentam diariamente desafios para se locomover, devido a atrasos, trânsitos e falhas na infraestrutura para mobilidade. No começo de 2025, o valor da tarifa de ônibus foi ajustado pela Prefeitura de R$4,40 para R$5,00, um aumento de 13,6%. As principais razões apontadas para o reajuste são a diminuição do número de passageiros pagantes e o aumento de custos operacionais.

Para Reynaldo Mantovani, motorista da cidade de São Paulo, os principais desafios enfrentados são as dificuldades de locomoção. “As ruas estão superlotadas de carros e por mais que o rodízio ajude, não é o suficiente. O ideal seria diminuir a quantidade de carros nas ruas no horário de pico, que é das 7h às 10h e das 17h às 20h. Além disso, as ruas são bem apertadas. A gente acaba tendo que dividir com pedestres e ciclistas, isso atrasa bastante”, diz Mantovani.

Segundo a pesquisa Viver em SP 2024, realizada pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ipec, o tempo médio de deslocamento diário de quem utiliza transporte público em São Paulo é de 2h47, somando cerca de 42 dias por ano. Além da demora para se locomover, os paulistanos ainda enfrentam ônibus lotados, realidade ainda mais crítica nas periferias. Segundo Mantovani, a superlotação tem se agravado nos últimos anos. “O problema da lotação existe e não vai acabar tão cedo, porque as pessoas estão cada vez mais nessas áreas. As empresas não investem tanto na periferia, o que acaba sobrecarregando e criando muito transtorno para quem está dentro do ônibus”, desabafa.

Terminal Grajaú, zona sul de São Paulo. Foto: Oliver Santiago
Terminal Grajaú, zona sul de São Paulo. Foto: Oliver Santiago

Nesses locais a falta de manutenção e acessibilidade das ruas, estradas e vias de acesso são mais visíveis e dificultam o processo do percurso do passageiro. Marília Mendonça, moradora da Freguesia do Ó, usuária dos ônibus 9014-10 Morro Grande/Terminal Lapa e 917M Morro Grande/Ana Rosa, evidencia a precariedade da infraestrutura da cidade, a falta de supervisão das periferias e o tempo de espera. “Existem muitos buracos e quase não há manutenção nas ruas, além de ter muita lotação e demora para o ônibus passar. Algumas vezes chego atrasada ou tenho que sair bem mais cedo de casa, principalmente em horários de pico. Nos últimos tempos as vezes compensa mais usar carro de aplicativo”, explica Mendonça. 

O principal projeto de mobilidade do prefeito Ricardo Nunes aposta na implementação de ônibus elétricos como solução sustentável e econômica para a cidade. Esse planejamento não contempla todos os problemas enfrentados pelos usuários, como a dificuldade de integração entre as regiões periféricas e o centro, a lotação dos veículos e o aumento do tempo de espera.

 

Lançamento de inteligência artificial chinesa evidencia a rivalidade com os EUA
por
Ana Julia Mira
Victória Miranda
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18/03/2025 - 12h

Em janeiro deste ano, a startup chinesa DeepSeek, sediada em Hangzhou, lançou o modelo de inteligência artificial DeepSeek-R1. Um chatbot que concorre com os modelos ocidentais em desempenho, como o ChatGPT, o Google Gemini e o MetaAI, mas com custos menores. Este lançamento destaca a rápida evolução da China no campo da inteligência artificial, desafiando a hegemonia tecnológica dos Estados Unidos e sinalizando uma mudança no equilíbrio global da inovação. 

Aba de início da nova I.A. chinesa, DeepSeek, representada por uma baleia
DeepSeek é concorrente direto de ChatGPT. Foto: Arquivo pessoal.

Para consolidar sua posição, a gigante asiática tem investido massivamente em pesquisa e  desenvolvimento (P&D). Em 2021, o país destinou mais de 400 bilhões de dólares para o setor, tornando-se um dos maiores investidores em inovação. De acordo com o 14º Plano Quinquenal (2021 - 2025), o governo chinês estabeleceu a meta de aumentar esses investimentos priorizando áreas estratégicas como inteligência artificial e biotecnologia. 

O impacto desse avanço se reflete no surgimento das grandes empresas chinesas de tecnologia, como Huawei, Tencent, Alibaba e Xiaomi, que competem diretamente com empresas ocidentais no setor digital e de telecomunicações. Em entrevista à AGEMT, Edgar Nishiyama, diretor de dados, análises e inteligência artificial, da Qbem, e John Pierman, engenheiro em aprendizagem de máquina, da Arancia, detalham as questões que as companhias chinesas ainda enfrentam para superar as norte-americanas.

“A  China continuará avançando em setores onde tem autossuficiência (ex.: baterias, energia solar), mas a dependência de semicondutores ocidentais limita sua capacidade de liderar em IA e computação quântica. Sob sanções de Trump, a liderança será fragmentada: EUA dominarão tecnologias de ponta; China, aplicações comerciais em escala.” diz Nishiyama, que acrescenta: "apesar da rápida evolução chinesa e o forte empenho do país em inovação, a confiabilidade da população mundial em produtos estadunidenses segue consolidada e pode ser um empecilho para a aderência do público em tecnologias vindas do oriente". 

Após, o lançamento da IA chinesa, a Microsoft e a OpenIA iniciaram uma investigação para checar se haviam tido acesso indevido aos dados de treinamento de modelos avançados da empresa. Há desconfiança no campo global a respeito do tratamento de dados por parte da China, que possui uma Lei de Segurança de Dados Cibernéticos que exige o acesso a dados sensíveis de empresas privadas em seu território. A respeito do roubo de dados, com frequência os Estados Unidos os acusam de alguma forma.

O banimento temporário do TikTok durante o Governo Biden, acendeu alertas no mundo todo, por alegar armazenamento de informações de milhares de estadunidenses a pedido do governo chinês, afirmação que foi negada pelos proprietários do aplicativo. Depois de quase um mês fora das lojas de aplicativo, Trump adiou a aplicação da lei que exige a venda da empresa ou a saída do país.

“Acredito que a única maneira da China ser líder global em inovação é, não apenas continuar a desenvolver inovações revolucionárias em vários setores de tecnologia, mas também deve haver alguma queda de confiança na inovação americana”, explica Pierman. 

A ascendência chinesa desafia mais do que apenas o mercado tecnológico, mas uma forte política mundial centrada nos países ocidentais, em especial, os Estados Unidos, que trava uma guerra tecnológica silenciosa que visa minar o crescimento do rival.

Essa expansão não é de hoje, mas, liderada pelo Partido Comunista Chinês (PCC), teve início na década de 1980, impulsionada pelas reformas promovidas por Deng Xiaoping. Ele assumiu o poder em 1978, após a morte de Mao Tsé-Tung, fundador da República Popular da China. Diferente de seu antecessor, Deng implementou uma série de medidas para modernizar a economia, adotando elementos do capitalismo enquanto mantinha o controle centralizado do Estado. Entre suas principais iniciativas estavam a criação das zonas econômicas especiais (ZEEs) que atraíram investimentos externos, e a flexibilização da propriedade privada nos setores produtivos. Essas estratégias transformaram a China em um dos principais polos industriais do mundo e abriram caminho para sua atual aspiração à liderança tecnológica.

A presença de frevo e maracatu nas ladeiras estreitas do sítio histórico da cidade mantém vivas as suas raízes culturais
por
Maria Dantas Macedo
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17/03/2025 - 12h

Olinda, reconhecida como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco e identificada pelas autênticas festas populares no carnaval, recebeu mais de 4 milhões de foliões neste ano (2025). Essa celebração, que tem suas raízes na resistência e identidade popular, representa grupos africanos e indígenas que deram forma a um dos carnavais mais tradicionais do Brasil. 

O carnaval, apesar de ser organizado sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal de Olinda, tem como protagonismo a participação popular. Em sua origem, no século XIX, festas populares como o entrudo – um tipo de brincadeira de rua em que as pessoas jogavam uns nos outros farinha, baldes de água, luvas cheias de areias etc. – deram lugar a blocos organizados, clubes de frevo, trocas carnavalescas e o maracatu, que estão vivos até hoje.

Com diferentes tipos de festas, como o tradicional clube de frevo “Vassourinhas de Olinda”, as Troças Carnavalescas como “Eu Acho É Pouco”, Clube do boneco com a famosa “Corrida dos Bonecos Gigantes” e o Maracatu, o carnaval acontece gratuitamente nas ruas, sem sambódromos, cordões de isolamento ou trios elétricos segregando as pessoas.  

O jornalista Leokarcio Cavalcanti, pós-graduado em estudos cinematográficos, tem 31 anos e usa da riqueza cultural olindense para criar conteúdos no Instagram e Youtube, conhecido pelo nome de Anfitrião de Olinda. Nascido em Timbaúba, na Zona da Mata, norte de Pernambuco, morou a maior parte da vida em Olinda. Ele comenta sobre a essência popular da festa: “A principal característica dessa festa é ser de rua, feito pelo povo. Qualquer um pode brincar, seja rico ou pobre”. 

Além disso, o frevo e o maracatu são não apenas símbolos da cultura pernambucana e do carnaval, mas também resistência de grupos reprimidos de uma cidade histórica, que possui a religião de matriz africana e indígena em sua construção. Leokarcio acrescenta que “O batuque do frevo e do maracatu eram marginalizados pela elite, sendo motivo de detenção policial. Assim, os grupos artísticos enxergaram sua entrada no carnaval como uma tentativa de sobrevivência”.

Segundo o jornalista, o frevo surgiu no Recife no final do século XIX, com a abolição da escravatura e a Proclamação da República, derivado de uma mistura de ritmos musicais, como o gênero “dobrado”, vindo das marchas militares europeias, e do grupo “fanfarras”, músicos que tocam instrumentos de metal. A manifestação musical foi criada pelos especialmente pelos homens, negros, escravos recém libertos que encontravam no Carnaval de rua sua resistência. 

De acordo com o historiador Mario Ribeiro, devido as brigas e resistências do povo com os movimentos da capoeira durante as festas, o governo proibiu esse esporte. Quando os escravos estavam jogando capoeira na rua e chegava um militar, eles trocavam os movimentos, surgindo, assim, o passo do frevo. A influência da capoeira no passo é perceptível até hoje, no movimento corporal da dança e no nome dos passos. Com uma música de ritmo acelerado, a palavra “frevo” tem origem em 1907, vem do verbo “ferver” e faz associação a como as pessoas dançavam nas ruas, como se estivessem em ebulição.  

Passistas em frente ao Mosteiro de São Bento, no compasso do frevo.
Passistas em frente ao Mosteiro de São Bento, no compasso do frevo. Crédito: Prefeitura de Olinda

A mistura de ritmos, quando somado o povo e a sua diversidade, fez do frevo uma expressão cultural singular, e de grande relevância para o carnaval. Sua contribuição sociocultural é tanta, que teve reconhecimento como Patrimônio Imaterial do Brasil, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Unesco.

Outra manifestação cultural que marca o Carnaval de Olinda é o maracatu. Dividido em duas principais vertentes, o maracatu nação (ou baque virado) e o maracatu rural (ou baque solto), essas tradições também têm raízes na cultura ancestral. Manifestação cultural performática criada para homenagear os Reis do Congo, no qual um cortejo real, composto por rei, rainha, príncipes, princesas, figuras da nobreza, vassalos, baianas, dentre outras personagens, desfilam pelas ruas de Recife e Olinda. O maracatu executa uma dança específica e é acompanhado por uma orquestra percussiva, composta por instrumentos como alfaias (tambores grandes), caixas e taróis, gonguê e ganzás. Este representa uma cultura negra ancestral, presente na região metropolitana do Recife desde o século XIX, com as antigas nações de escravos africanos. Em sua maioria, possuem vínculo religioso com as religiões de matriz africana, como o candomblé. 

Dama do paço e calunga no maracatu nação
Dama do paço e calunga no maracatu nação. Crédito: Tiago Guillen Coreg

Já o maracatu rural, influenciado pela cultura afro-indígena, teve sua origem nas áreas onde foi consolidada a economia açucareira e possui forte presença na Zona da Mata, norte de Pernambuco. Desfilam em cortejo sob a orientação do apito do mestre e sua música apresenta instrumentos percussivos e de sopro. Trata-se de uma manifestação do sobrenatural, em que entidades protetoras são invocadas, em rituais de umbanda, para que propiciem aos brincantes do maracatu sucesso nas suas andanças. 

Em Cidade Tabajara, bairro de Olinda, foliões dançam no Encontro Estadual de Maracatus de Baque Solto de Pernambuco
Em Cidade Tabajara, bairro de Olinda, foliões dançam no Encontro Estadual de Maracatus de Baque Solto de Pernambuco. Crédito: Prefeitura de Olinda 

Leokarcio ressalta que “o frevo e o maracatu existem no carnaval de Olinda não apenas como grandes símbolos da nossa cultura, mas como resistência de uma cidade histórica, que, até os dias de hoje, sente as consequências da escravidão, formada em grande parte por descendentes de pessoas escravizadas. Naturalmente existe uma grande relação dos moradores da cidade na manutenção do frevo e do maracatu pela própria identificação cultural".

Assim, o carnaval de Olinda vai muito além de uma simples festividade. É uma manifestação viva da história, da resistência e da identidade popular. Com raízes nas tradições dos povos africanos e indígenas, o frevo e o maracatu expressam a luta e a criatividade de um povo que transformou a rua em palco de afirmação cultural. No pulsar do frevo e na cadência do maracatu, a cidade reafirma mais um ano seu compromisso com a memória coletiva e com a liberdade de expressão, fazendo do carnaval uma celebração da liberdade, identidade e cultura. 

O então piloto de F1 disse a ela que em seu país não se tinha mulheres nessa função e a presenteou com seu próprio boné
por
Vinícus Evangelista
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20/11/2024 - 12h

O GP de Interlagos de 2005 teve em sua equipe de bombeiros civis Patrícia Alves Cardoso, uma das primeiras mulheres nesse ofício no estado de São Paulo. O fato chamou a atenção do alemão Michael Schumacher que fez questão de conversar com a brasileira e, admirado, afirmou que a função de bombeiro em seu país, à época, não era exercida por pessoas do gênero feminino. Ele ainda a presenteou com seu boné oficial, que tem nele chip contendo as informações de Schumacher naquela corrida. “Me ofereceram muitos dólares e eu não aceitei, fora de cogitação. Tenho até hoje, ele (o boné) tem um apego sentimental muito grande”, afirma Patrícia.

 

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Patrícia e Cristina, as duas únicas mulheres que trabalharam na equipe de bombeiros do GP, são citadas no “jornal da tarde”, em 22 de setembro de 2005. Foto: arquivo pessoal 

Após alguns anos, foi a vez de Martinho da Vila conhece-la e se ver admirado pela postura da bombeira, que solicitou ao cantor que apagasse seu cigarro devido ao risco de incêndio. Martinho teria dito que em 64 anos de carreira, ninguém nunca tinha feito ele apagar um cigarro e que só fez porque Patrícia tinha “um jeitinho muito maneiro de pedir”.  

“Bati na porta e disse ‘oi, tudo bem com o senhor?’ e ele com um cigarrão na mão, ‘está vendo esse negócio aí em cima? Se chama detector de fumaça, o senhor não pode fumar aqui. Se quiser um outro lugar em que o público não veja o senhor fumar eu arrumo sem problema algum’”, ela conta. “Ele não me respondeu nada, só virou as costas, foi até o banheiro, apagou o cigarro, mostrou o cigarro apagado e jogou fora”, relembra. 

Apesar do reconhecimento de celebridades, Patrícia enfatiza as dificuldades que teve, principalmente no começo de carreira, em que pouco existiam mulheres no ramo. “Comecei há 23 anos, não tinha bombeiro civil feminino em São Paulo, logo quando eu entrei, nos meses seguintes começaram a chegar mulheres que não aguentaram o peso da profissão”, explica. “Hoje é um pouco mais fácil, mas antigamente tinha muita discriminação de você chegar no local de ocorrência e a pessoa falava: ‘você pode chamar seu superior?’, sempre viam você como um sexo frágil”, afirma. 

Ela revela que seu sonho de consumo não era ser bombeira, mas sim, parteira, “não obstetra – parteira!”, como faz questão de enfatizar. O desejo não teria tido nenhuma motivação específica, sendo essa uma paixão do qual se identificava desde pequena, e que a vida a fez realizar de outra forma, sendo ela a responsável pelo parto de sua irmã. “Eu fui até o hospital, já era bombeira, mas não tinha feito parto.

Foram 36 horas, e na hora que o bebê foi nascer ela travou as pernas. Tinha duas enfermeiras bem menores do que eu”, conta. “Não conseguiam destravar as pernas dela e a cabeça dele (do filho) estava sendo espremida. Eu consegui debruçá-la para que o processo de parto fosse feito. A médica falou que foi ali que eu salvei mais uma vida, que foi a do meu sobrinho”, explica. 

Mesmo que o sonho de realizar partos tenha se transformado na realidade de apagar incêndios, é possível dizer que o codinome salva-vidas sempre esteve no DNA de Patrícia que, com apenas 16 anos de idade, socorreu por três vezes um garoto de apenas quatro anos, que morava na casa ao lado. A primeira vez foi quando seu vizinho caiu no topo do telhado da casa em que ela morava. A adolescente prestou os cuidados, porém, ao retirar o menino do telhando, ele teve uma convulsão seguida de parada cardiorrespiratória. “Posso dizer que foi Deus que me ensinou a como fazer massagem cardíaca”, comenta. 

“Alguns meses depois esse moleque estava sentado no meio da rua e um caminhão sem freio desceu a rua da minha casa. Não pensei nas consequências, simplesmente atravessei e joguei ele para o outro lado”, relata Patrícia, sobre o segundo salvamento à mesma criança. No terceiro episódio, ela conta que o mesmo menino estava convulsionando em casa, até que a mãe dele, já sabendo do histórico de salvamentos por parte da vizinha, bateu a sua porta desesperada e conseguiu novamente com que a futura bombeira salvasse seu filho.  

Patrícia diz que a principal inspiração para seguir no ofício que exerce partiu de seu falecido marido, que era bombeiro. Segundo ela, a morte do esposo a motivou em fazer o curso da profissão. Essa, porém, não foi a primeira relação afetiva dela. A bombeira conta que passou por uma relação abusiva em seu primeiro casamento, em que teve um filho, passando por agressões e ofensas pelo fato de ser mulher.  

“Casei com uma pessoa de um jeito e ao longo dos meses ele foi se tornando quem ele é, um cara machista ao último, de bater na minha cara na frente dos outros, de gritar comigo como eu não tinha direito a voz”, revela. Ela conta que durante essa relação ela era proibida de trabalhar ou ter amizades, e fugiu de casa com o filho após seguidos episódios. “Ali foi meu grito de guerra, quando eu decidi que eu não queria mais aquilo. Eu preferia morar num barraco de madeira que não tinha piso do que estar ali”, afirma. 

A maior dificuldade da carreira para uma mulher na função de bombeiro, segundo ela, foi lidar com o ambiente masculino em sua volta, passando por dificuldades estruturais que transmitem a mensagem de “você tem que se virar, a mulher que se vire”, como ela diz, ao explicar que já trabalhou em lugares sem local para se trocar ou um banheiro próprio para mulheres. 

“Você está no alojamento e os bombeiros olham para você perguntando ‘vai se trocar onde? Não tem lugar para você’, parece ser simples, mas não é, isso magoa, ver todos guardando suas roupas e você não ter esse direito mínimo”. Patrícia ainda afirma ter sido assediada moralmente e perseguida durante sete anos em um local em que trabalhou, tendo entrado com fama de “amante do gerente” por parte de outros funcionários que colocavam sua capacidade em xeque diante do fato de ser uma mulher exercendo aquela profissão.

“Acontecia de eu estar na minha sala fazendo o serviço e vir um segurança bem devagarzinho para ver se eu estava com um homem lá dentro”, relata. Segundo seu depoimento, acontecia de pessoas colocarem falsas evidências em seu carro para apontarem ela como amante de outro homem que teria lhe cedido o emprego. Nesse mesmo serviço, ela relembra de alguns outros episódios em que duvidaram de sua capacidade profissional em detrimento de gênero. Em um desses, ela teria alertado o chefe de manutenção do estabelecimento sobre uma árvore que estava prestes a cair, dizendo que era melhor arrancá-la antes que caísse e machucasse alguém.

“Eu escutei a seguinte frase: ‘Patrícia, eu vou pedir para um homem ir lá e ver o serviço, se ele falar que vai cair, daí a gente arranca’, não deu tempo de eu chegar na minha sala e a árvore caiu, graças a Deus não pegou ninguém”, comenta. “Ele podia dizer que ia pedir a um outro funcionário, que era um jeito dele não me ofender, mas enfatizava a palavra homem”, reitera. “Hoje eu não tolero muita coisa que eu tolerava, se uma pessoa falar para mim que vai pedir a opinião de um homem eu levo para a delegacia”, afirma. 

Por fim, ela comenta sobre o movimento feminista no país, elucidando que "tem que ser mais objetivo e sem se perder”, relatando que viu vários movimentos feministas perdendo o foco de sua pauta principal. “Se você se propôs por uma causa, vá até o fim, não importa quantos nãos vão te falar, mas vá em frente! O feminismo não é só para mulher”, opina.