Zé Celso morre aos 86 anos em São Paulo

Diretor estava internado desde terça-feira (04) com queimaduras. Zé foi revolucionário nas artes cênicas no Brasil e fundador do Teatro Oficina
por
Bianca Novais
Maria Eduarda Camargo
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06/07/2023 - 12h

O dramaturgo, ator e diretor José Celso Martínez Corrêa, ou “Zé Celso”, faleceu na manhã de quinta-feira (6), aos 86 anos. O ator estava internado na UTI do Hospital das Clínicas com queimaduras desde terça-feira (04), após um incêndio atingir seu apartamento na Zona Sul de São Paulo. A morte por falência múltipla dos órgãos foi confirmada pelo Teatro Oficina.

Zé Celso, ator, diretor, dramaturgo e artista fundador do Teatro Oficina. Foto: Divulgação/Christina Rufatto.
Zé Celso, ator, diretor, dramaturgo e artista fundador do Teatro Oficina. Foto: Divulgação/Christina Rufatto.

Natural de Araraquara, interior de São Paulo, Zé Celso se mudou para a capital em 1955, para cursar Direito na Universidade de São Paulo (USP), que não chegou a finalizar. Enquanto ainda integrava a faculdade, em 1958, Celso e outros colegas criaram a Companhia de Teatro Oficina — na época amadora. Desde 1961, a Companhia se profissionalizou e hoje integra o famoso nome de Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona.

O dramaturgo foi o precursor do movimento tropicalista e modernista no país — considerado em muitas de suas encenações como antropofágico e sensorial — e consagrado em 1967 com a peça "O Rei da Vela", escrita por Oswald de Andrade, no mesmo ano em que reconstruiu a Companhia de Teatro Oficina, um ano após um incêndio. A encenação é uma de suas mais famosas até hoje. A última exibição foi em 2018, no Teatro do Sesi, em Porto Alegre.

Outra peça de destaque é "Roda Viva", com texto de Chico Buarque, que estreou em 1968. Priorizando a experimentação e provocação, Zé Celso estava em ascensão no meio artístico quando foi exilado em 1974, devido a perseguições da Ditadura Militar. 

Nesse período, vivendo em Portugal, o diretor trocou os palcos pela câmera e fez dois documentários: “O parto”, sobre a Revolução dos Cravos, e “Vinte e cinco”, sobre a independência de Moçambique.

Zé Celso após retornar do exílio, em 1978. Foto: Silvio Correa/Agência O GLOBO
Zé Celso após retornar do exílio, em 1978. Foto: Silvio Correa/Agência O GLOBO.

Retornou a São Paulo em 1978 e se dedicou a manter o espaço do Teatro Oficina aberto, localizado no bairro da Bela Vista. Com projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi, a construção foi tombada em 1982. O terreno do Teatro foi protagonista de muitas disputas judiciais entre Zé Celso e o apresentador e empresário Silvio Santos, este que pretendia construir um shopping center no local.

Desde que voltou ao Brasil, Zé escreveu, dirigiu, produziu, contracenou e traduziu diversas peças de teatro, além de publicar um livro em 1998, "Primeiro Ato - cadernos, depoimentos, entrevistas (1958-1974)", e atuar na telenovela "Cordel Encantado" em 2011, da TV Globo. Venceu mais de vinte premiações nacionais e internacionais, entre elas o Prêmio APCA, da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1961, como Diretor Revelação.

Em 2023, Zé Celso se casou com seu namorado Marcelo Drummond, após um relacionamento de 36 anos. Apesar de morarem no mesmo edifício, mas em apartamentos separados, Marcelo também foi acometido pelo incêndio no apartamento de seu esposo ao inalar monóxido de carbono e recebeu alta da internação nesta quinta-feira.

Zé Celso e Marcelo Drummond em 2009. Foto: Celso Tavares/G1.
Zé Celso e Marcelo Drummond em 2009. Foto: Celso Tavares/G1.

"Tudo é tempo e contra-tempo!", publicou o Teatro Oficina em sua página oficial no Instagram.

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