Turismo se transforma para sobreviver à pandemia

Cancelamento de feiras e eventos obriga setor a rever estratégias em São Paulo; público local ganha mais relevância
por
Camila Alcântara
|
02/07/2020 - 12h

A cidade de São Paulo foi uma das mais afetadas do país pela pandemia da Covid-19. Movimentada pelos grandes comércios, eventos, áreas de lazer e pontos turísticos, além de ser um atrativo para os negócios, as regras de isolamento social geraram uma grande crise no setor do turismo, que ao longo dos anos vem crescendo constantemente.

Segundo estudo realizado pelo Centro de Inteligência e Economia do Turismo, vinculado à Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, só no ano de 2019, o turismo foi responsável por 16,5% dos empregos, gerando mais de 43 mil oportunidades em São Paulo. Além disso, o segmento fechou o ano acima da média nacional, com expansão superior a 5%.

Após o decreto da pandemia, dados divulgados pelo IBGE revelam que houve uma queda de 52% nas atividades turísticas do estado. Atualmente, com o plano de retomada da economia, o Plano São Paulo, algumas flexibilizações irão contribuir para a reparação inicial do setor, que deverá adotar regras sanitárias rígidas e inovações para atrair visitantes, tendo em vista que grandes eventos, como shows, viradas culturas, festivais e convenções, sairão da lista de lazer por tempo indeterminado.
 

Aeroporto de Congonhas
Aeroporto de Congonhas pouco movimentado

Em entrevista à Agemt,  a estudante de Lazer e Turismo da EACH-USP Júlia Felippe Goldman apontou algumas estratégias para a retomada do turismo na cidade. Ressaltando que ainda é um cenário incerto, por conta dos desdobramentos futuros da pandemia, a estudante disse que autoridades analisam algumas tendências aplicadas em países que já estão na fase de superação da crise.

As consequências  econômicas indicam que o ‘satycation’, a viagem por destinos dentro da própria cidade ou estado, pode crescer ainda mais. A nova tendência pode contribuir positivamente para o desenvolvimento de outros setores do turismo em São Paulo. “Acredito que os setores do turismo que mais se desenvolverão após a pandemia serão os de alimentos e bebidas, com a busca das pessoas pela gastronomia da cidade, e, posteriormente, o setor de entretenimento, com a reabertura de museus, cinemas, parques e diversos espaços de lazer”, afirmou Júlia.

Outra estratégia que já está sendo adotada pela Secretaria de Turismo de São Paulo para alavancar a retomada do turismo é promover o destino para moradores de cidades e estados vizinhos. “Minas Gerais criou um site com experiências de realidade virtual  pelas suas cidades turísticas, mostrando seus principais atrativos turísticos, e assim fomentando o turista a considerá-las como o destino de sua próxima viagem. A estratégia mais vantajosa para São Paulo, portanto, seria realizar campanhas para que moradores do Estado que não conhecem a capital venham a conhecer”, explicou a estudante.

Com alguns planos já em prática, o governo de São Paulo anunciou neste mês uma parceria coma plataforma Airbnb, empresa que oferece arranjos para hospedagem em lares e experiências em viagens, para estimular a volta do turismo pós-pandemia e promover destinos do estado através do alcance que a plataforma tem nos meios digitais.
 

Aplicativo Airbnb
Aplicativo Airbnb

Segundo Júlia Goldman, a parceria também torna-se extremamente benéfica a partir do momento em que a hospedagem em uma moradia ofertada pelo aplicativo garante um contato com um menor número de pessoas, diferente do hotel. Além disso, o aplicativo, assim como demais empresas e corporações do setor de turismo, está revendo suas políticas e elaborando uma nova política de higiene para a segurança do turista. “Após a pandemia, o que se observará será uma mudança nos hábitos de higiene das pessoas. Acredita-se que a higiene passará a ser uma das principais preocupações das pessoas [na hora de]  viajar, podendo, inclusive, ser um fator eliminatório de certos destinos”, ressaltou.

Outra preocupação predominante do setor de turismo é a retomada do turismo de negócios. A capital paulista é o principal destino de viagens a trabalho do país e é palco de cerca de 42% das feiras de negócios, segundo relatório da SPTuris, agência municipal de turismo. Com o aumento de empresas que adotaram o home office, o turismo de negócios poderá ser impactado fortemente, sendo o de mais difícil recuperação. “As iniciativas que podem contornar essa crise seriam os destinos ofertarem-se como destinos seguros e que superaram a crise para a realização de congressos e conferências, reforçando o turismo a ser realizado na localidade, além do tempo destinado ao evento”, explicou Júlia.

Apesar das dificuldades a serem enfrentadas, a estudante disse que as autoridades consideram o turismo nacional como uma grande aposta para o segundo semestre deste ano, e afirmou: “Vê-se um esforço dos estados em promover suas localidades como possíveis destinos turísticos. Entretanto, mesmo sendo o caminho, digamos assim, mais rápido, será um caminho demorado, pois muitas pessoas ainda  sentirão insegurança em viajar”.