Tabaco: narguilé e cigarro continuam presentes entre os jovens

por
Jennifer Dias Munhoz
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14/11/2019 - 12h

 

 

A origem do narguilé é incerta. Muitos dizem que surgiu entre os indígenas em antigos povos asiáticos, mas há quem aponte o Egito como seu lugar de nascimento. Apesar disso, o produto se tornou conhecido no Brasil recentemente e num modelo mais incrementado em relação a forma original. Além disso, a fumaça inalada hoje resulta não apenas da combustão de plantas, como tabaco e maconha, mas de misturas muito mais sortidas, que incluem melaço, glicerina e essência de fruta, ampliando as possibilidades de gosto e aroma. 

Atualmente o Brasil tem mais de 300 mil fumantes de narguilé. Entre aqueles que declaram fumar diariamente, 63% têm entre 18 e 29 anos e 37% estão entre 30 e 39 anos, o que demonstra que os jovens são os maiores usuários de tabaco, segundo a Pesquisa Especial sobre Tabagismo no ano de 2015,  realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Hoje em dia,  percebe-se um aumento do consumo tanto nas grandes cidades quanto em municípios de menor porte. Em alguns casos, a expansão é atribuída à falta de opções de lazer, como shows, cinemas, teatros ou até mesmo baladas noturnas.  

       Especialistas alertam para os riscos do hábito. O tabaco causa dependência devido à nicotina, podendo tornar os usuários do narguilé fumantes de cigarros tradicionais. Mas, no caso do narguilé, a intoxicação do usuário com monóxido de carbono é ainda maior. 

A Organização Mundial da Saúde afirma que uma sessão de narguilé de 20 a 80 minutos corresponde à exposição de componentes tóxicos presentes na fumaça de cem cigarros. O cigarro é o produto derivado do tabaco mais consumido no Brasil. A produção e o consumo de outros produtos manufaturados a partir do tabaco representam uma parcela pequena do mercado. 

Atualmente, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer) 14,7% da população é fumante. Consequentemente, quanto maior o consumo de cigarros, maiores são os gastos com cuidados médicos - e, portanto maiores os custos econômicos para a sociedade. Ainda de acordo com Inca, o Brasil gasta anualmente R$ 57 bilhões com tratamento de doenças relacionadas ao tabaco e com despesas indiretas. 

Ou seja, considerando os impactos do tabaco no País a balança é deficitária, pois mesmo com alta arrecadação de impostos não é possível suprir os gastos com cuidados de saúde causados pelo produto. 

O Brasil é referência mundial em políticas antitabagistas e foi o segundo no mundo ao alcançar as medidas de controle estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Neste ano, o país assumiu a coordenação do Órgão Intergovernamental de Negociações da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) da OMS, adotando um papel de liderança no controle do tabaco no cenário internacional, apesar de ser um país em desenvolvimento e um grande produtor de tabaco. 

Curiosamente, o Brasil também é um dos maiores produtores de tabaco, se não o maior A produção se concentra na região Sul, que responde por cerca de 95% da produção nacional. 

De junho de 2018 a maio deste ano, o tabaco e seus produtos geraram uma receita de exportação de US$ 2,1 bilhões. 

O valor bruto da produção (VBP), tomando como indicador de faturamento, é de R$600,9 bilhões. (Gazeta, 2019) 

 

Lucas Escobar morava em São Paulo e há três meses voltou para sua cidade natal, Cuiabá (MT), onde ele abriu sua tabacaria “Muzie Tabacaria e Lounge”.    Diante esse assunto, ele respondeu algumas perguntas: 

Por que decidiu abrir uma tabacaria? 

Primeiro porque hoje em dia é mais fácil ganhar dinheiro com o vício das pessoas, tanto com comida, bebida, tabaco, entre outros.

Em segundo, é pelo gosto da cultura, que não é bem vista por conta de algumas tabacarias.

 

Você tem notado um aumento de consumo?

Com certeza, na minha adolescência eu já fazia consumo mas fumava cigarro, hoje vejo que muitos jovens aderem diretamente ao narguilé tanto pelo gosto quanto pela sociabilidade que ele trás.

 

Por que abrir em Cuiabá? 

Cuiabá é a cidade em que eu cresci e vejo que aqui há público sobrando, então uni o útil ao agradável.

 

Qual a faixa etária de pessoas que vão à tabacaria?

Isso varia muito, apesar de eu e meu sócio não aceitarmos menores de idade, a procura deles é grande, mas os que mais frequentam têm entre 18 e 25 anos.

 

Por que você acha que as pessoas mais novas recorrem ao narguilé?

Por conta do cheiro que fica, narguilé é mais suave que cigarro.

Também o fato do fácil acesso a isso, por mais que seja "ilícito" (proibida venda a menores). Acredito que seja por vontade própria de fumar e se tornar aceito em seus grupos sociais.

 

 Quanto você fatura até o fim do mês? 

Faturamento bruto com a pegada sossegada da minha tabacaria, porque não faço festa, nem vendo bebidas destiladas, é algo em torno dos R$ 20 mil.

 

Quanto você paga de impostos?

A aquisição dos produtos é toda feita dentro do estado, que no caso é isenta, fora alguns casos como carvão e acessórios que compramos de distribuidoras em São Paulo SP e Paraná , aí sim, incidindo ICMS. Mas, como não são compras frequentes, acabam sendo valores irrisórios.

 

Há uma tendência de aumento do tabagismo na faixa etária mais jovem, até 24 anos. Numa pesquisa rápida feita com 30 pessoas pelo Instagram, os gastos com tabaco para cigarro e narguilé são de R$ 150 a R$ 600 ao mês. A idade das pessoas consultadas varia de 19 a 28 anos. 

 

Joyce Botelho, 20 anos, que atualmente também trabalha em tabacaria como atendente, começou a fumar narguilé há seis anos. Ela disse que em outubro gastou exatos R$ 580 com o hábito. 

 

 Por que gastar esse valor em narguilé sabendo que poderia ser gasto em outras coisas?                                                                                                                              

Eu entendo que é um valor alto de se gastar... Porém, é algo que eu gosto.Eu fumo quando não tem nada para fazer, às vezes chego só a raiva do serviço e tudo que eu quero é sentar e fumar. A sensação de pegar o narguilé, lavar e preparar, é como se fosse um calmante. 

E pra mim também virou um trabalho, onde eu experimento sabores para poder falar o que é bom ou não para os clientes. Não tem sensação melhor que um cliente chegar a te esperar atendê-lo porque tem confiança em você.

 Então nem me vem à mente gastar em outras coisas, porque eu gosto de gastar mesmo com isso. 

 

Você tem medo a longo prazo de ter algum problema de saúde? 

Minha crença é que nossa história já está escrita e se tiver que acontecer, vai acontecer.  Claro que posso estar adiando, fazendo acontecer mais rápido, né. Mas medo eu não tenho.