Suécia: Disputa acirrada entre centro-esquerda e extrema-direita

No governo há oito anos, social-democratas são os mais votados, porém, a maioria absoluta no Parlamento não é assegurada. Partido de extrema-direita cresce e pode liderar bloco de direita/extrema-direita.
por
Luan Leão
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13/09/2022 - 12h

Mais de 7,5 milhões de suecos foram às urnas no último domingo (11) para votar na eleição legislativa no país. A eleição deste ano foi pautada na segurança pública, os recentes tiroteios preocuparam os eleitores. Outros dois pontos de atenção dos votantes na corrida eleitoral foram a inflação crescente e a crise energética após a invasão da Ucrânia.

Segundo as pesquisas mais recentes, a aliança governista receberia entre 48,6% e 52,6% dos votos, contra 47,1% e 49,6% da aliança de direita/extrema-direita.



O que interessou aos eleitores ?

O debate entre os candidatos se baseou em mostrar aos eleitores quem é mais firme contra o crime, em especial de gangues. Tradicional território da direita, o tema da segurança pública foi bastante explorado durante a campanha. Por outro lado, as questões econômicas e energéticas auxiliaram a Primeira-Ministra Magdalena Andersson (Social-Democrata).

Há pouco mais de 10 meses no cargo, Andersson foi Ministra das Finanças de 2014 até 2021, quando se tornou a primeira mulher Primeira-Ministra da Suécia. Contra Andersson, os dois principais opositores são Ulf Kristersson, líder do partido Moderado, e Jimmie Akesson, líder do partido de extrema-direita Democratas da Suécia (SD). 

Eleições na Suécia 2022
Andersson e Kristersson lideram blocos diferentes nas eleições suecas. Foto: Jonathan Nackstrand / AFP 


E os números ?

As apurações preliminares mostram que a coligação de centro-esquerda, formada pelos partidos Social-Democrata, Verdes, de Esquerda e de Centro. A oposição viu o crescimento do partido de extrema-direita Democratas da Suécia (SD) e a queda do partido Moderado.

Os Social-Democratas foram o partido mais votado, com 30,5%. Em segundo lugar aparece o SD, com 20,7%; o partido Moderado, de direita, conquistaram 19% dos votos. Uma pesquisa boca de urna da emissora pública SVT mostrava que o bloco governista havia conquistado 49,8% dos votos contra 49,2% do bloco de oposição, formado pelos Moderados, Democrata Cristão, Popular Liberal e Democratas da Suécia.

Na manhã de segunda-feira (12), o cenário parecia se inverter. Com cerca de 90% dos votos apurados, a oposição estava conquistando 176 assentos contra 173 da centro-esquerda; dos 349 assentos do Parlamento sueco. A autoridade eleitoral prevê o resultado final para ao menos na quarta-feira (14).

Ainda estão sendo contabilizados os votos do exterior e enviados pelos correios e, devido a disputa acirrada, podem alterar o quadro da eleição. Por esse motivo, a Primeira-Ministra, Magdalena Andersson, ainda não reconheceu uma possível derrota. Depois de votar, em um subúrbio de Estocolmo, Andersson falou em “respeitar uns aos outros”. “Quero uma Suécia onde continuamos a desenvolver nossos pontos fortes. Nossa capacidade  de enfrentar os problemas da sociedade juntos, formar um senso de comunidade e respeitar uns aos outros”, disse a premiê.

Primeira-Ministra Magdalena Andersson
Primeira-ministra Magdalena Andersson votando neste domingo (11). Foto: Jonathan Nackstrand / AFP


Em caso de vitória do bloco de direita/extrema-direita, Ulf Kristersson, líder dos Moderadados, surge como favorito para liderar a formação de um governo e se tornar Primeiro-Ministro, colocando fim aos oito anos de governo do Social-Democratas. Porém, com o SD aparecendo com mais votos pode complicar as negociações. “Ainda não sabemos qual será o resultado, mas estou pronto para fazer tudo o que puder para formar um governo novo, estável e vigoroso”, disse Kristersson.

 

Líder dos Moderados pode ser novo premiê
Líder dos Moderados pode ser o Primeiro-Ministro da coligação de direita/extrema-direita. Foto: Fredrik Sandberg / TT News Agency / AFP



Apesar de ainda não ser um resultado definitivo, Jimmie Akesson, líder do SD, comemorou o resultado prévio do partido. “No momento, parece que teremos uma mudança no poder, e nossa ambição é ter um assento no governo”, disse Akesson aos apoiadores. “Independentemente do que aconteça esta noite, a coisa mais importante para mim, para nós, para todos os democratas suecos em todo o país, são os malditos 175 assentos para que possamos finalmente trazer uma mudança de poder e nossa política pró-Suécia”, completou. 
 

Líder da extrema-direita comemora resultado
Líder da extrema-direita, Akesson comemorou o resultado das eleições de domingo (11). Foto: Maja Suslin / EPA

 

De pária a aliado

Com origem neonazista, e um discursos anti-imigração e ultra-nacionalista, o SD passou por uma modernização política, passando a dialogar com maior facilidade com a classe trabalhodora, os aposentados e os setores menos qualificados. Liderado por Akersson desde 2005, o partido se vê em ascensão meteórica, saltando de 3,7% nas eleições legislativas de 2006 para os incríveis 20,7% nas eleições deste ano.

Veja o crescimento em números: em 2010 o partido chegou ao Parlamento, conquistando 5,7% dos votos. Em 2014 a legenda cresceu, subindo para 12,9%; e em 2017 chegou a 17,5%.

Pelo caráter extremista, o SD era considerado um partido pária, e os demais partidos de direita e centro se recusavam a pensar em qualquer aliança para governar que envolvesse a sigla. Porém, nessa eleição, o líder do partido Moderado, Ulf Kristersson, admitiu a possibilidade de uma coligação. Kristersson salientou, porém, que pretende contar com o apoio do SD apenas no Parlamento, optando por formar governo com os Democratas-Cristão e os Liberais.