Sob aplausos, Andrea Dip conclui sua aula magna na PUC-SP

A jornalista deu detalhes sobre extrema-direita, experiências e jornalismo
por
Bruno Caliman
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10/04/2025 - 12h

A jornalista investigativa, Andrea Dip, foi a convidada de uma aula magna da PUC-SP realizada na última quinta-feira (27), na qual o assunto abordado foi o crescimento da extrema-direita. Ela relatou, principalmente, experiências vividas quando infiltrada em congressos desse espectro político, além de dar dicas de comportamento nessas ocasiões e para o jornalismo em geral.

Andrea Dip é formada e trabalha como jornalista há mais de 20 anos, e durante esse tempo ganhou 13 prêmios na área do jornalismo. Publicou seu primeiro livro em 2018, com o título “Em nome de quem? A bancada evangélica e seu projeto de poder”. Atualmente, Andrea tem uma coluna semanal no UOL e reside em Berlim, na Alemanha.

No início da palestra, a jornalista trouxe alguns detalhes para introduzir os ouvintes no assunto. Classificou os fundamentalistas cristãos conservadores, principalmente os evangélicos, como uma bancada preconceituosa. Também citou os encontros de políticos de direita e os discursos de ódio que ocorrem nessas reuniões, tais como xenofobia e homofobia.

O disfarce é sua principal carta na manga para entrar em eventos de extrema-direita, e não foi diferente na Conferência Nacional do Conservadorismo, também conhecida por NatCon, realizada em Bruxelas, na Bélgica. Andrea contou que é fundamental esconder sua franja curta e tatuagens para se encaixar nos padrões estabelecidos nesses congressos e passar despercebida ao manter esse personagem. Além disso, ela usa seu outro sobrenome para conseguir as credenciais e não entra como jornalista, visto que há desconfiança da extrema-direita em relação à imprensa.

Na própria NatCon, a jornalista presenciou discursos absolutamente nacionalistas e xenófobos, mesmo após revelar à plateia que o dono do local onde estava acontecendo o evento tinha descendência árabe, ou seja, uma situação bem contraditória.

Durante esses anos de cobertura do assunto, Andrea Dip adquiriu uma vasta experiência e compartilhou seu pensamento sobre o crescimento global da extrema-direita. Quando perguntada sobre a relação entre a extrema-direita e os jovens, opinou que esse espectro político cria uma ideia do passado que nunca existiu para propor um futuro utópico, e com isso, traz as pessoas dessa faixa etária junto a ele a partir do uso da imagem própria, sucesso e rebeldia.

Ao ser questionada sobre a direita ao redor do mundo, a jornalista refletiu sobre as diferenças de cada região, como a forte conexão da América Latina com a religião, diferente de outros lugares. Relacionou a Alemanha - onde mora - com o ultranacionalismo e movimentos contra imigrações, além de citar outros países que são contra LGBTs e outras minorias. “Se entendem no geral”, completou.

No decorrer do tempo, Andrea passou algumas dicas sobre jornalismo aos participantes. Disse ficar sempre atenta para não violar os direitos e não acredita na imparcialidade no jornalismo, embora ache a parcialidade inicial perigosa em uma entrevista. Destacou a importância do jornalista guardar consigo o material da reportagem feita, seja gravado ou anotado, pois muito provavelmente será utilizado em outros fins para benefício próprio.

A aula magna teve duração de aproximadamente 2 horas e contou com diversas perguntas, além de um amplo ganho de conhecimento. Ao final, Andrea Dip foi aplaudida, e sem hesitação agradeceu a todos.