Paralisação na PUC-SP não tem apoio do maior centro acadêmico da universidade

22 de Agosto escolhe não aderir a mobilização e contribui para a descredibilizar movimento estudantil
por
Annick Borges
Davi Rezende
Manoella Marinho
Rafael Pessoa
|
29/05/2025 - 12h

Sem o apoio do maior centro acadêmico da universidade, paralisação realizada pelos alunos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) na última semana foi alvo de disseminação de informações falsas. Estudantes contrários ao movimento e até figuras políticas propagaram desinformação sobre as manifestações, na tentativa de enfraquecer os atos.

Os protestos e a paralisação na universidade conquistaram importantes avanços para o movimento estudantil, além de atenção na mídia. Pela seriedade das reivindicações, todos os coletivos estudantis e centros acadêmicos da PUC-SP se manifestaram aderindo ou não aos atos.

Estudantes esperando a assembleia nas arquibancadas
Plateia da assembleia organizada pelo Centro Acadêmico 22 de Agosto, na manhã do dia 22 de maio, na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto: Manoella Marinho.

 

Iniciadas pelos Centros Acadêmicos de Ciências Sociais (CACS), Serviços Sociais (CASS), Relações Internacionais (CARI) e pela Coletiva Afroindígena Saravá, as manifestações que paralisaram as atividades dos cursos da Faculdade de Ciências Sociais (FACSOCS), e logo ocuparam o edifício Cardeal Motta, conhecido como “prédio velho”, foram adotadas pelos demais CAs da universidade. Em 21 de maio, dois dias após o início das manifestações, os Centros Acadêmicos de Psicologia (CAPSI), Jornalismo (Benevides Paixão), Letras (Clarice Lispector), assim como o Coletivo de Bolsistas Da Ponte Pra Cá e o Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP), também demonstraram apoio.

Laís Hera se dirigindo aos estudantes das arquibancadas que estavam assistindo a assembleia
Lais Hera, presidente do CA 22 de Agosto, em assembleia do curso de Direito no dia 22 de maio, na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto: Eduardo Bettini.

 

Desde o início da mobilização, o Centro Acadêmico de Direito, o 22 de Agosto, liderado pela gestão Alvorecer, não se fez presente de forma ativa para entender os motivos da paralisação ou explicar aos alunos do curso que representam. Através de um pronunciamento no Instagram, Lais Hera, presidente do CA, afirmou que fez um movimento rápido de votação sobre a adesão à greve, três dias após o início do processo. Na quinta-feira (22), falou sobre a paralisação com os estudantes de Direito, porém, em entrevistas para a AGEMT, alunos que não quiseram se identificar deixaram claro que muitos não sabiam os motivos da manifestação, mas mesmo assim foram incentivados a votar a favor ou contra em um formulário on-line.

Em publicações feitas nas redes sociais, como o X (antigo Twitter), alunos do curso de Direito demonstraram insatisfação com as manifestações do dia 20 de maio. Nas postagens, criticam o movimento, ainda que assumam que não conhecem as pautas reivindicadas.

Reprodução de um tweet
Publicação no X em crítica às manifestações feitas no dia 20 de maio, na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto: Reprodução/X.

 

O resultado foi um espetáculo na quadra da universidade, sem equipamento de som de qualidade, onde quem quisesse ser escutado precisava gritar. Em sua imensa maioria, os estudantes de Direito do período diurno votaram contra a paralisação e deram seguimento às aulas. Na sessão noturna, o cenário foi diferente. Alunos presentes relataram uma assembleia caótica, virtual e presencialmente, com direito a uma chuva de comentários preconceituosos por meio de alguns que estavam presentes via transmissão ao vivo.

Comentário preconceituoso feito na assembleia geral transmitida pelo 22 de Agosto
Comentário feito por usuário do Instagram em transmissão ao vivo da assembleia do curso de Direito na noite do dia 22 de maio, na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto:Reprodução/Instagram.

 

No domingo (25), o Centro Acadêmico 22 de Agosto se pronunciou sobre o ocorrido da última sexta-feira e defendeu a presidente do CA, Lais Hera, que foi alvo de comentários preconceituosos na live. Embora a intenção fosse de tomar a responsabilidade de apoiar Hera, o pronunciamento criticou o movimento estudantil de diversas formas, inclusive em uma parte específica explicando que “uma mobilização deve obedecer a etapas claras e transparentes, que legitimam qualquer deflagração grave”. 

 

No mesmo dia, outro comunicado foi expedido pela presidente do Centro Acadêmico. Em vídeo, Hera alegou que só poderiam votar na assembleia geral aqueles que aderiram à manifestação. “Os alunos de Direito não votam sobre a paralisação geral, pois esta continua somente para os cursos em que se aderiram à paralisação”, afirmou. A informação falsa só foi desmentida pela mesa composta pelo comitê da paralisação na manhã de segunda-feira (26), na Assembleia dos Três Setores. 

Dada a situação de informações conflitantes, os alunos que estavam presentes na assembleia geriram uma votação pela volta do DCE (Diretório Central dos Estudantes), a fim de solucionar problemas futuros com gestões de CA. Por unanimidade, os estudantes votaram a favor da volta do Diretório na PUC-SP.

Gian Lucca, aluno do Direito discursando em meio a quadra na assembleia
Gian Lucca, aluno do curso de Direito, em discurso durante assembleia organizada pelo Centro Acadêmico 22 de Agosto, no dia 22 de maio, na PUC-SP, campus Monte Alegre. Foto: Eduardo Bettini.

Durante a sessão noturna da Assembleia dos Três Setores, alguns estudantes presentes foram atingidos pelo que relataram ser “água e lixo”, arremessados do terceiro andar. As reclamações ocorreram três vezes ao longo da noite, e mesmo a equipe de segurança da PUC-SP e a AGEMT terem tentado identificá-los, os agressores não foram encontrados.

No mesmo dia, em meio às falas dos estudantes, o ex-deputado do MBL, Douglas Garcia, compareceu à assembleia no intuito de criar conteúdo para o seu Instagram e atrapalhar o seguimento das discussões. “Só vocês falam e não deixam mais ninguém falar”, disse o deputado, que não é aluno da PUC-SP, dirigindo-se à mesa.

No primeiro momento, uma estudante o chamou para expor suas ideias. Garcia aceitou, porém, enquanto estava se dirigindo para a mesa, foi barrado por vários alunos. “A gente não dá palco para fascista”, completou Pedro Bezerra, militante do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário).

Essa não é a primeira vez que o ex-deputado grava vídeos no campus Monte Alegre. Em 26 de março, em frente à universidade, ele filmou conteúdos em defesa da anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro e os condenados pelos ataques a Brasília de 8 de janeiro de 2023. Durante a assembleia de 23 de maio, o militante do MBL foi expulso da instituição por alunos, seguranças e professores com gritos  de  “Fora fascista, fora!”