Pandemia agrava crise no comércio da 25 de Março

Medidas de contenção da Covid-19 derrubam vendas e geram onda de demissões; 30% fecharam definitivamente
por
Anna Carolina Ferreira
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01/06/2021 - 12h

“O cinto está cada vez mais apertado. Não sei o quanto ainda aguentaremos”, desabafa André Sarkissian Tucci, proprietário da Brinquedos Beija-Flor, uma das 4.800 lojas que funcionam na região da 25 de Março. A angústia de André é a mesma de muitos comerciantes locais, que vivem momentos de incertezas desde março de 2020, quando o comércio fechou em função do avanço do coronavírus.

A assessora-executiva da União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco), Claudia Hurias, expõe que os meses de paralisação e a diminuição de consumidores no local provocaram uma queda de 68% nas vendas em 2020. Até antes de a pandemia se instaurar, o comércio da 25 de Março contava com 40 mil funcionários e atendia um público diário de 400 mil pessoas – chegando a 1 milhão em fins de semana e datas especiais. No entanto, a assessora afirma que, desde então, 30% dos estabelecimentos fecharam as portas definitivamente, provocando 15 mil demissões.

                                                                                                                                       

Ladeira Porto Geral vazia em decorrência do fechamento do comércio
Fechamento do comércio da 25 de Março provoca instabilidade para os comerciantes e funcionários (Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil)

O quadro é mais preocupante ao se levar em conta que esses comerciantes ainda sofriam consequências de uma turbulenta recuperação financeira. Isso porque o mercado da 25 de Março ainda não tinha se reerguido por completo da crise de 2015 – ano em que o faturamento caiu de R$ 13 bilhões para R$ 8 bilhões, em consequência do colapso na economia nacional. O crescimento anual era baixo e a situação econômica não oferecia muita segurança para os lojistas. “Antes da pandemia, as vendas já andavam ruins, já estávamos tendo que diminuir o número de funcionários”, relembra André.

Os primeiros meses de adaptação à nova realidade geraram grandes prejuízos para os comerciantes. Mesmo com a retração nas vendas - que chegaram a cair 85% durante o primeiro fechamento -, os comerciantes precisavam arcar com os custos dos estabelecimentos. As contas de água e luz, os impostos, as taxas de funcionamento, o aluguel e o salário dos funcionários continuaram sendo cobrados, mas com a redução do capital embolsado as despesas não conseguiam ser pagas.

André conta que para tentar reverter o prejuízo passou a investir nas vendas online. “Como a loja estava fechada, eu trouxe muitos produtos aqui para casa, para fornecer a quem encomendasse. Nesse período, a casa ficou lotada de mercadoria”, lembra, descrevendo uma confusão de pacotes que não poupava nem mesmo o banheirinho de serviço.

Assim como André, muitos outros comerciantes da região também recorreram ao comércio digital. Para quem já possuía a estrutura de e-commerce, as vendas online corresponderam de 5% a 15% dos negócios. Já os menos familiarizados, precisaram se adaptar rapidamente com a comercialização através das redes sociais. Apesar disso, esses recursos não supriam as grandes perdas obtidas com a falta das vendas físicas. “Mesmo trabalhando com serviços online, muitos não conseguiram permanecer abertos, levando à falência” relata Claudia.

Em junho passado houve a primeira reabertura do comércio - seguindo todos os protocolos de segurança sanitária -, porém, com o descontrole da pandemia, já foram necessários novos períodos de fechamento. Tal instabilidade e o medo da contaminação desanimam os consumidores a frequentarem a 25 de Março. Por isso, mesmo com a reabertura, o faturamento continua encolhendo. “Desde que reabrimos, no ano passado, o movimento está muito fraco. Apenas em outubro, por conta dos artigos de Halloween, tivemos um aumento nas vendas. O período de festas juninas era o mais lucrativo em minha loja, porém ano passado não teve festas e pelo visto este ano também não”, conta André.

Nesse cenário tão desanimador e com o futuro do país tão incerto - seja pela pandemia ou pela instabilidade da economia no setor de serviços - é difícil fazer projeções, no entanto Claudia faz um breve balanço. “O forte da 25 é o atacado, se o comerciante não vende ele não compra para abastecer e todos perdem. Se este cenário econômico não mudar, se a vacina não acelerar, o comercio será o setor mais afetado e teremos muitos CNPJ encerrados até acabar este ano. Dependemos de ações governamentais para projetar algo e infelizmente não temos isso”.