Pandemia afeta 98% do setor de eventos 

A crise sanitária causou a extinção dos grandes eventos. Organizadores, promotores e artistas que dependiam deles tiveram sua renda reduzida em até 100%
por
Fernando Bocardo, João Kerr e Pedro Duarte
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09/04/2021 - 12h

O setor de organização e promoção de eventos costumava representar 13% do PIB brasileiro, segundo a CNN. Com a realização de mais de 590 mil eventos por ano, o segmento seria responsável por uma movimentação anual de mais de 1 trilhão de reais em um ano normal. 

A pandemia de Covid-19 tem feito milhares de vítimas por dia e a melhor maneira de combatê-la é praticando distanciamento social, ou seja, sem aglomerações e portanto, sem eventos presenciais. Com isso, o setor de eventos está completamente abandonado.

 

Impacto

Em meados de março de 2020, a crise sanitária causada pela pandemia de Covid-19 fez com que todos os grandes eventos programados para ocorrer no Brasil fossem suspensos. Em entrevista ao G1, Doreni Caramori Júnior, presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape) afirmou que foram mais de 350 mil eventos cancelados ou adiados no ano passado.

Isso impactou de forma drástica a vida de quem trabalha no setor e o funcionamento das mais de 60 mil empresas que dependem da realização de eventos para sobreviver. Apenas durante o período entre março e dezembro de 2020, o prejuízo total do setor de eventos foi de mais de 270 bilhões de reais, de acordo com a CNN. Essas perdas resultaram em mais de 3 milhões de desempregados no período.

“Devo ter umas 20 amigas sem trabalho para cada 1 trabalhando na área” conta Fabiana Ferraz, que trabalha a 17 anos como produtora de eventos. “Quando uma empresa precisa cortar gastos, a primeira coisa que eles cortam são os eventos, que é o que eles consideram mais supérfluo, principalmente quando não se pode ter aglomerações”

Eventos corporativos costumavam reunir centenas de pessoas em um mesmo espaço. (Foto: Matheus Campos)

Após mais de um ano de pandemia, o retorno dos grandes eventos ainda parece distante. “Todas as previsões de retorno que a gente tinha foram furadas. Quando começou a gente achava que em setembro estaríamos de volta. Com o tempo vimos que só em 2021. Chegando em 2021, ainda estamos sem saber quando poderemos voltar com eventos presenciais. E quando isso acontece, as empresas também não conseguem planejar nada”, conta Fabiana.

Judite Codazzi, especialista na assessoria de eventos sociais, afirma que, mesmo após o fim das restrições resultantes da pandemia, a dor de cabeça dos produtores de eventos não vai acabar tão cedo.

“Vai faltar dia pra festa. Todo mundo que já se casaria em 2022, vai ter que competir por datas de espaços, atrações, fornecedores e mão-de-obra com quem queria ter se casado em 2020 ou 2021 e não conseguiu.

As pessoas vão ter que abrir a cabeça e pensar em outras opções, pois não vão conseguir concretizar eventos na proporção que gostariam, mesmo quando não houverem restrições”

 

 

Ações emergenciais

Como é evidente que os grandes eventos não retornarão tão cedo, espera-se que o governo faça algo para respaldar os profissionais do entretenimento. Muitos estão sem renda desde o início da pandemia, pois nem todos se encaixam no auxílio emergencial, o suporte monetário dado pelo governo a trabalhadores informais que recebem menos de três salários mínimos mensais.

 Afonso Nigro atua hoje como empresário do ramo do entretenimento (Foto: Douglas Moreira)

“Vamos começar a perder grandes artistas por conta das dificuldades”, diz Afonso Nigro, ex-integrante da banda Dominó e atual administrador da Nigro Entretenimento. “Meu pianista que já tocou com Ed Motta, Djavan e outros grandes, está trabalhando numa empresa de logística. Esse cara talvez não volte mais. Ele encontrou uma segurança em um momento difícil”.

Afonso é um dos líderes do movimento Brasil Invisível, que promove lives para arrecadar fundos e ajudar os trabalhadores do setor de eventos nesse momento de crise. O movimento tem entre seus pilares a criação de ações emergenciais voltadas para esse setor.

No último mês de março, foi aprovado na Câmara o projeto de lei 5638/20 que prorrogará o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que oferece um benefício financeiro em caso de acordos entre trabalhadores e empregadores nas situações de:

  • redução proporcional de jornada de trabalho e de salário
  • suspensão temporária do contrato de trabalho

O objetivo do programa é evitar demissões no setor do entretenimento.

O projeto 5638/20 também deve prorrogar a lei que dispensa reembolso por cancelamento de eventos durante a pandemia da Covid-19. Ambas as leis perderam validade quando se encerrou o estado de calamidade pública, em 31 de dezembro de 2020 e, portanto, os trabalhadores que tiveram seus contratos suspensos ou reduzidos estão sem nenhum respaldo, aguardando que o projeto seja aprovado.

 

Soluções alternativas

Sem a possibilidade de reuniões presenciais, os organizadores de eventos se reinventam, utilizando os poucos recursos disponíveis. Diversas cerimônias ocorreram de forma virtual e algumas de maneira híbrida.

Cidinha de Conti, especialista em eventos executivos, explica que o conceito de eventos híbridos consiste em reunir pessoas através de plataforma uma customizada (estruturada de acordo com as necessidades do cliente) ou comercial (zoom ou meet são opções), transmitindo vídeos e um palco em estúdio. O palco pode ter interações entre alguns apresentadores e uma plateia com alguns convidados.

Ela afirma que o número máximo de invitados já chegou a 80, quando estivemos em fase verde da pandemia. As fases vermelha e emergencial não permitem plateia.

 

Evento híbrido, no qual alguns participantes estavam reunidos e outros falavam por videochamada, enquanto o público podia acompanhar pela internet (Foto: Divulgação/ADVB)

 

Esse tipo de empreendimento exige todos os protocolos de segurança como distanciamento, máscaras, álcool em gel, medição de temperatura e oxigenação, tanto para os convidados, quanto para organizadores e equipes de apoio e técnica.

Cidinha acredita que os eventos híbridos serão uma tendência nos eventos executivos mesmo após o fim da pandemia. “As empresas vão começar a colocar no papel se vale a pena levar 2 mil pessoas para um congresso. Os espectadores vão poder participar de forma remota, reduzindo os custos para ambos os lados”


Mas mesmo os especialistas em eventos entendem que salvar esse mercado passa por ações emergenciais e vacinação em massa, não por regularizar aglomerações, pondo em risco a saúde de milhares de pessoas.

“Nossos maiores aliados hoje são a vacinação e os protocolos de segurança — aderir a eles e segui-los adequadamente é o nosso maior trunfo para a superação desse momento.
Não podemos ficar falando em fazer algo além do que está sendo feito hoje nos eventos. Sem saúde, nenhum setor da economia é possível”
-Cidinha de Conti
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