O Veganismo sem Faces

Como o veganismo popular pode desalinhar o interesse insólito do capitalismo no movimento.
por
Rafaela Correa de Freitas
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13/11/2020 - 12h

Em pesquisa feita pelo IBOPE em 2018, cresce o número de brasileiros que se declaram veganos, somando 30 milhões no país. Além disso, entre janeiro de 2018 e novembro de 2020, o número de pesquisas pelo termo “vegano” no google, cresceu significativamente com altos picos de interesse ao longo dos 3 anos.

Contudo, o número só é expressivo em regiões como São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o que chama atenção para o pensamento recorrente de que o veganismo não é para todos. Muitos influencers, profissionais e estudiosos vêm tentando desmentir essa afirmação e mostrar o lado acolhedor do movimento, como é o caso de Caroline Soares, estudante de nutrição e moradora de Guarulhos em São Paulo. Em seu Instagram, Caroline conta seu dia a dia como uma mulher vegana, feminista e periférica com receitas e esclarecimentos de dúvidas sobre a alimentação cruelty-free.

 

Nessa foto, Caroline está apontando para sua blusa com desenhos de animais e com a escrita "Não Matarás"
Foto: Instagram @logoeu_veganapobre

Seu despertar começou há 10 anos atrás, quando se perguntou sobre como compactuava com a exploração animal e, então, após uma parada respiratória quase fatal, Caroline decidiu mudar sua vida “Comecei a pensar em como fazer da minha vida algo produtivo, comecei várias mudanças e o veganismo foi uma delas.” Desde então, Caroline luta por um movimento justo e transparente, ainda que as dificuldades pareçam não ter fim.

Apesar de político, o movimento também tem suas ramificações, onde alguns preferem somente deixar o sofrimento animal fora de seus pratos, mas não de seu consumo. Isso aconteceu depois que algumas empresas como Friboi, Sadia e outras passaram a produzir mercadorias veganas, mesmo que sejam empresas condizentes com os grandes impactos ambientais repudiados pelo veganismo.

Esse é um problema que muitos passaram em sua fase de transição, como Caroline “No começo eu acreditava muito em qualquer coisa que me falassem para flexibilizar minha culpa... e de fato eu não queria me aprofundar para não ter o conhecimento”, já outros preferem continuar consumindo mesmo depois de criar consciência sobre a exploração por trás do capitalismo "vegano".

O veganismo alinhado aos valores capitalistas pode ser um perigo para si mesmo e seus adeptos. Quando espalhado por vozes do mercado, a impressão de que o mesmo público e somente ele pode consumir determinado produto (seja pelo preço pedido pela empresa ou inacessibilidade de estabelecimentos equipados com a mercadoria) é facilmente comprada, “O grande problema disso tudo é que os influenciadores que falam sobre veganismo sempre são pessoas brancas, classe média alta. Isso faz com que quem vê de fora, acha que todo movimento vegano é assim, sendo que existem várias pessoas periféricas assim como eu que são veganas e vivem normalmente o dia a dia sem gastar muito”

“Temos a invasão de grandes corporações vendendo produtos ‘veganos’ com preços absurdos, o capitalismo ver o movimento comunista de mercado faz com que vire lucro, isso já aconteceu e faz com que as pessoas vejam alimentos industrializados como a única maneira de se tornarem veganos. A indústria ludibria tanto as pessoas que elas esquecem que arroz e feijão são alimentos veganos.”

Além da sombra do capitalismo pairando sobre o movimento, Caroline conta que para acabar com o preconceito em cima dele depende de um trabalho de base, educando pessoas sobre alimentação real e como a indústria é cruel com os animais. Faz-se necessário uma reeducação alimentar e, segundo ela, não tirar da pauta o veganismo popular e político

 

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