NO BRASIL, 37% DAS MULHERES DIZEM NÃO À MATERNIDADE

A professora Márcia Mesquita e a empresária Priscila Janaudis fazem parte da geração “NoMo”, coletivo de mulheres que não querem ter filhos.
por
Isabelle Maieru
Lidia Rodrigues
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17/06/2022 - 12h
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 “Algumas pessoas me acham egoísta, outras acham que eu tenho problema no aparelho reprodutor, outras acham que não bato bem” pontua Priscila Janaudis, sobre escolher não ser mãe. Em entrevista à Agemt, a empresária diz que sempre teve essa posição definida e que as críticas recebidas não afetam, essa postura não é incomum nos dias de hoje, No Brasil, 37% das mulheres não querem ter filhos e, segundo uma pesquisa global realizada pela farmacêutica Bayer, com apoio da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia, no mundo, o índice chega a 72%.
 
Desde 2016, o número de mulheres que não querem ser mães cresce muito, existe até um nome para o grupo que não deseja fazer parte da maternidade, a “Geração NoMo”, um coletivo de mulheres que discute e naturaliza tal decisão, muitas delas alegam que nos dias atuais não é fácil manter uma criança por conta da alta dos preços, ou pela falta de tempo. São muitos os motivos pelo desapego maternal, Janaudis, por exemplo, não escolheu não ter filhos por conta do trabalho ou por conta do dinheiro, mas sim, por não se sentir neste “lugar de mãe”, que ela define como alguém que sempre teve muita vontade de ter filhos. Além disso, ressalta que, “colocar uma vida no mundo requer disponibilidade para criar e educar e nem todas têm essa vontade ou disponibilidade, não é só pôr o filho no mundo e dar para a babá ou escola criar”.
 
Muitas mulheres consideram a maternidade como um desafio, como foi o caso da professora, Márcia Mesquita, "considerei por um bom tempo da minha vida a maternidade como um obstáculo, porque quis estudar, me especializar na minha área e trabalhar para conquistar uma estabilidade financeira. Não queria ter filhos para outras pessoas cuidarem. Também não me achava preparada para ser mãe", ponto que se iguala à visão de Priscila. "Nem todas as mulheres têm instinto maternal, isso é uma imposição da sociedade, passado pelas gerações", acrescenta. A fala de Mesquita caracteriza a idealização que a sociedade ainda tem da maternidade. Além disso, demonstra preocupação com o fato de ter uma boa estrutura antes de ter filhos, fator que muitas vezes não é levado em consideração pela sociedade quando é feita a imposição em gerar uma nova vida “para obter a felicidade completa”. 
 
A respeito do autoquestionamento de sua decisão após pressões, ela afirma: "Sim, eu até tentei ter, mas já estava com a idade avançada. Fiz duas fertilizações in vitro que não deram certo. Foi uma experiência frustrante, muita expectativa e cobrança das pessoas para que aquilo desse certo. Foi traumatizante e não quis tentar pela terceira vez, assumi que não queria ser mãe". O depoimento da professora retrata o que se passa além do maternar, a trajetória para engravidar para algumas mulheres pode ser longa e dolorosa, e a pressão sofrida durante o processo pode agravar a intensidade traumática.
 
Mesquita, diz ainda sobre o julgamento, “As pessoas, a sociedade, cobram as mulheres que fazem essa opção, não respeitam, acham que se não formos mães, não seremos felizes, realizadas. Criaram um estereótipo para as mulheres”.