Na pandemia, entregadores de aplicativo trabalham mais e recebem menos

Com a alta demanda dos aplicativos durante o advento do coronavírus, trabalhadores dependem das entregas para sobreviver
por
Otávio Rodrigues Preto
|
27/06/2020 - 12h

O entregador de aplicativo Renato Sicero, de 31 anos, é um entre os milhares de
entregadores que não pararam de trabalhar por causa da pandemia do novo coronavírus na
grande São Paulo. Há quatro anos Sicero percorre vários quilômetros pela Vila Matias, onde
mora, e pelo bairro do Tatuapé onde há maior demanda de pedidos do aplicativo Rappi.
Mesmo com salário menor, segue fazendo entregas diariamente.

“A demanda aumentou um pouco, mas antes da pandemia as taxas eram melhores, você fazia
10 entregas e já ganhava 100 reais, cento e pouco, hoje pra fazer 100 você tem que fazer
14/15 entrega”, diz Sicero.

O motociclista recordou que duas semanas atrás atendeu uma encomenda de supermercado e
ganhou pelos 6km rodados e os 10kg carregados o valor de R$ 7,50. “Foi bem menos do que
eu recebia antes, a mesma corrida eu ganharia por volta de uns 15 reais”, conta.

Sicero menciona a necessidade de seu trabalho e traça planos para o ano que vem. “Eu
trabalho por necessidade, e minha mulher está desempregada, sabe? Minha renda depende do
aplicativo, eu não tenho serviço físico, e também vou me casar ano que vem aí preciso mais
ainda do dinheiro, ainda não está marcado por causa da pandemia que atrapalhou nossos
planos.”

Já a situação de Hugo Siqueira de 34 anos, morador da Vila Nova York é diferente. Siqueira
trabalha há 2 meses como entregador do Uber Eats e viu na pandemia uma oportunidade de
“tirar um dinheiro a mais”.

“Vi a moto de um amigo encostada em um canto e resolvi fazer uma grana”. Siqueira
trabalha como técnico de radiologia em um laboratório no Tatuapé, e se aproveita da boa
localização para fazer as entregas. “Esse lado aqui da zona leste é onde tá mais pegando as
entregas por causa dos bares, restaurantes e tudo mais. Eu saio do laboratório, já ligo o
aplicativo e vou fazer a correria.”

O entregador revela quanto tem faturado em média nos últimos meses. “Eu estou tirando em
média 60 reais por dia, mas trabalhando bem, trabalho mais ou menos umas 7 horas direto,
sexta por exemplo eu trabalhei das 11 da manhã até as 6 horas da tarde.”

Siqueira também revela ter medo da exposição ao vírus: “eu tomo os cuidados básicos, uso
mascara, sempre passo álcool em gel e também evito o contato direto com o cliente, mas
mesmo assim o medo existe, pelo menos eu moro sozinho, então se eu pegar o vírus não vou
passar pra ninguém.”

Embora more sozinho, Siqueira não deixa de tomar os cuidados em casa. “Eu chego, já deixo
o tênis do lado de fora pra não entrar nada, coloco toda a roupa pra lavar e vou direto tomar
um banho, são essas as precauções que eu tomo.”

Denner Montie, de 41 anos, partilha dos mesmos medos e receios, residente na Vila
Formosa, ele se desloca todos os dias para a região do Tatuapé há mais de 1 ano e meio,
sempre com sua motocicleta e seu baú do Ifood, mas a situação já não é mais a mesma.

Montie diz que tem dias que quase não faz entregas por conta da grande concorrência nessa
pandemia. “Agora com o desemprego muita gente tá trabalhando com o aplicativo, a
concorrência ta grande, hoje mesmo eu só consegui fazer 2 entregas daqui a pouco to indo
embora”.

Entregador Denner Montie. OTÁVIO RODRIGUES PRETO 

 O entregador é outro que reclama que está trabalhando mais e recebendo menos. “Antes os valores eram bem melhores agora caiu bastante, antes eu tirava 150 reais por dia, hoje com sorte eu tiro 50/60 por dia.”  

 Em uma pesquisa feita pela Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) ouviu 252 pessoas de 26 cidades entre os dias 13 e 20 de abril por meio de uma pesquisa online. Os dados da pesquisa revelaram que, antes da pandemia 48,7%, dos entregadores recebiam, no máximo, R$ 520,00 semanais. Durante a pandemia, estes passaram a ser 72,8% dos entrevistados.  

 Apenas 25,4% dos cadastrados nas plataformas de entrega dizem ganhar acima desse valor na quarentena, o equivalente a R$ 2.080 por mês. Antes, eram 49.9%. 

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