Lágrimas invisíveis nos colchões: exposições no Memorial da Resistência de SP

Com uma atmosfera tensa, o museu conta com inúmeras exposições de resistência à Ditadura e comove todos os espectadores
por
Victória da Silva
|
25/04/2024 - 12h

 

“Pegaram meu bebê para me ameaçar, Rose Nogueira.” é uma das frases presentes nas paredes das celas. O sangue ilustrado nas fotos não é artístico, assim como as grades e as portas de cada sala do Deops, servindo para recordar os dias de tortura sofridos pelos presos na Ditadura.

2
A exposição traça uma linha cronológica de acontecimentos mundiais e nacionais, incluindo as resistências contra os atos repugnantes do Regime Militar.  Foto: Reprodução Memorial da Resistência

 

O Memorial da Resistência, criado em 2009 pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, abriga um acervo histórico e muitas apresentações de aspectos diferentes dos 21 anos de Regime Militar no Brasil. 

Há atualmente no local a exposição permanente “Memórias nas celas do Deops/SP” e as temporárias: “Resistências na PUC-SP” e “Mulheres em Luta! Arquivos de memória política”, todas essas agregando um enorme valor à indústria cultural e tornando indeléveis os acontecimentos dessa época.

Entrar nos cárceres do museu e ler a linha cronológica dos fatos ocorridos traz à tona o peso e a tensão vividas na época, evidenciando o período desgastante que atentou contra a democracia, a arte e a liberdade.

Vítor Nhoatto, estudante do 2° semestre de jornalismo da PUC-SP, afirma que toda a visita foi impactante, mas as falas escritas nas paredes o tocaram profundamente: “A parte que mais me chocou foi aquele escrito em que os carcerários sabiam quando os guardas iam até eles ou para levar comida ou para torturar”.

2
Frase impactante está estampada na parede de uma das celas. Foto: Victória da Silva.

Rememorar para resistir

A segunda cela existente no memorial mostra dois colchões no chão e suas paredes completamente rabiscadas com nomes de pessoas que sobreviveram ao Regime e acontecimentos que as levaram a ser presas. Essa foi uma maneira eficaz de dar voz a esses cidadãos, já que segundo o Relatório da Comissão da Memória e da Verdade (CMV) da Prefeitura de São Paulo, um fato marcante dos anos de Ditadura foi a indigência de muitos indivíduos que foram presos, morreram, mas sequer foram velados ou tiveram suas mortes notificadas.

De acordo com o documento da CMV: “...o sepultamento como indigente de militantes assassinados e com a identidade conhecida pelos agentes era uma prática comum para impedir sua localização pela família e acobertar os crimes cometidos pela repressão.” Assim, expressar nos muros os nomes de vários sobreviventes foi uma forma de demonstrar mais uma vez a resistência.

TUCA Incendiado

A exposição “Resistências na PUC-SP” conta como a Pontifícia Universidade Católica foi ponto de referência na resistência contra a Ditadura, abrigando exilados, protestando contra a repressão e ainda, promovendo eventos de ciência, cultura e música durante toda a censura vinda do Estado. 

Por esses motivos, a PUC foi invadida por policiais militares no dia 22 de setembro de 1977 e o TUCA, Teatro da Universidade Católica de São Paulo, foi incendiado sete anos depois, no dia 22 de setembro de 1984. Dessa forma, com a ideia de que lembrar é resistir, a exposição deixa indiscutível a participação da comunidade acadêmica na luta contra toda a oposição à democracia, e também manifesta a relevância que a educação tem no combate ao autoritarismo governamental.

Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP. 

Tags: