“Jornalismo esportivo não pode ser apenas uma conversa de boteco”, diz Unzelte

A espetacularização dos programas televisivos são frequentes nos canais esportivos
por
Felipe Oliveira
Daniel Santana
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06/11/2023 - 12h

Em agosto de 2022, o professor universitário Celso Unzelte, 55 anos, também conhecido por ser pesquisador de esportes, ex-repórter da revista PLACAR e atual comentarista da ESPN Brasil, palestrou em um curso da Faculdade Cásper Líbero (FCL) sobre a história do jornalismo esportivo e como exercê-lo de maneira profissional. Unzelte afirma que o “jornalismo esportivo é antes de tudo jornalismo”, de maneira que não deve só ser abordado como, dito por ele, uma “conversa de boteco”, mas sim com certa seriedade.

Celso Unzelte
Foto: Reprodução Vídeo ESPN

De acordo com o professor, “a produção jornalística esportiva passa pelos mesmos processos de qualquer outra editoria: pauta, apuração, redação e edição. Por isso, não basta ‘gostar’ do assunto, é preciso enxergá-lo como um objeto de trabalho”. Além desses requisitos, ele vai citar a ética e o interesse público como pontos chaves, no qual afirmam que o jornalismo no âmbito desportivo é tão sério quanto dos outros campos da profissão. Mas isso não quer dizer que seja um trabalho propriamente igual ao jornalismo tradicional, uma vez que o entretenimento está diretamente ligado ao esporte. “É um emprego que mexe com a paixão, mas não devemos deixar que isso nos comprometa e atrapalhe no profissionalismo”, diz Unzelte.  

Porém, já está enraizado nos canais de mídia brasileiros o sensacionalismo exagerado das notícias, no qual o show é mais vendido do que a própria verdade. No meio futebolístico, esta espetacularização consegue ser ainda pior, visto que sua frequência é maior e altamente normalizada pelo público que se acostumou, de maneira manipulada, a este tipo de fazer jornalismo. Diversos canais da TV aberta propiciam a alienação da sociedade, por meio do entretenimento exacerbado e comprado, visando exclusivamente o lucro e a audiência.

De acordo com o jornalista José Arbex, autor do livro “Showrnalismo”, em entrevista dada para a TV Brasil, “jornalismo não se confunde com comunicação social em geral”. De acordo com ele, a profissão deveria ter objetivo de entregar a verdade ao público, porém esta tradição jornalística vem perdendo espaço para a espetacularização das coisas. “A informação virou entretenimento”, diz Arbex.

A exemplo disso, temos o programa de debates “Os Donos da Bola”, com o apresentador e ex-jogador que se denomina como “craque” Neto. O mesmo, mantém um personagem que usa o espetáculo para produzir um conteúdo informativo de maneira exagerada, buscando somente a audiência.

Neto Peppa
Foto: Reprodução Vídeo Os Donos da Bola

A obra Infocracia, do sul-coreano Byun Chul Han, traz alguns pontos que também podem ser relacionados com esta espetacularização dos canais de mídia, pois foca na manipulação midiática dos detentores da informação, que controlam o que será passado ao público. No caso do jornalismo esportivo, vemos que a cultura do espetáculo está servindo como arma manipuladora para prejudicar o senso crítico do telespectador.