IA e música: qual é o impacto na indústria?

Discussão vem à tona após estadunidense arrecadar US$10 milhões com bandas fictícias
por
Catharina Morais
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12/11/2024 - 12h
The Weeknd, Billie Eilish, Drake e Taylor Swift, artistas que figuram o top 10 global no Spotify. Foto (da esquerda para a direita): Reprodução/@theweeknd @billieeilish @champagnepapi @taylorswift/ Instagram
The Weeknd, Billie Eilish, Drake e Taylor Swift, artistas que figuram o top 10 global no Spotify. Foto (da esquerda para a direita): Reprodução/@theweeknd @billieeilish @champagnepapi @taylorswift/ Instagram

A Inteligência Artificial (IA) transforma constantemente  inúmeras indústrias, e uma das mais afetadas— talvez a mais vulnerável quando se trata de questões legais e criativas—é a da música. A discussão sobre a importância da regulamentação da IA surgiu quando Michael Smith, um americano de 52 anos, foi acusado de utilizar a IA para criar músicas de bandas fictícias, e publicá-las em plataformas de streaming. 
Damian Williams, procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, e Christie M. Curtis, diretora assistente interina do escritório de campo do FBI em Nova York, publicaram no site oficial da Justiça do governo dos EUA (United States Attorney’s Office- Southern District of New York) que Smith foi formalmente acusado em três processos criminais relacionados ao esquema. Segundo a diretora, para o site oficial da Justiça do governo dos EUA (United States Attorney’s Office- Southern District of New York),  ele arrecadou cerca de US$10 milhões em royalties através do uso de inteligência artificial e bots automatizados. 
Smith não apenas criou centenas de milhares de faixas com auxílio da IA, mas também usou bots para simular ouvintes, que reproduziam as músicas repetidamente para inflar os números de streaming. O golpe, que durou sete anos, permitiu que ele desviasse milhões de dólares, com suas bandas fictícias — que atendiam com nomes como Callous Post, Calorie Screams e Calvinistic Dust — e figuraram nas paradas das principais plataformas de música. A data ainda não foi divulgada mas seu julgamento será analisado por um magistrado dos EUA na Carolina do Norte. 

Tribunal de Condado de Nova York, onde o caso está sendo julgado. Foto: Reprodução/Viajando Para Nova Iorque
Tribunal de Condado de Nova York, onde o caso está sendo julgado. Foto: Reprodução/Viajando Para Nova Iorque

A escala massiva permitida pela IA foi crucial para que o crime passasse despercebido por tanto tempo, o que serviu como alerta para as plataformas de streaming reforçarem suas medidas de prevenção de fraudes. Embora algumas plataformas já tivessem sinalizado atividades suspeitas relacionadas a Smith em 2018, ele conseguiu operar até 2024.  
Essa combinação resulta na perda de uma fatia maior da receita de streaming, que prejudica aqueles que dependem de uma remuneração justa pelo seu trabalho criativo. A tecnologia de IA, capaz de compor melodias, harmonias e letras, está expandindo os horizontes criativos, mas gera debate entre os artistas. Em entrevista para a AGEMT, o artista e produtor Silvera comenta sobre benefícios, mas alerta: "Eu me divirto usando [IA] para fazer música. Para mim, o fator humano é quem faz e fará sempre a diferença".
No entanto, Pablo Cândido, que também trabalha na área de produção musical, vê a IA uma perda de autenticidade e da alma do trabalho humano. “Atualmente, as músicas feitas por IA são como hambúrgueres de fast food: sem gosto, parecem que estão lá pra preencher um vazio, enquanto a música ‘de verdade’ se tornou como um [hambúrguer] artesanal”, compara ele, também para a AGEMT.

O produtor musical Silvera, que produziu a música “Viver é sentir”. Foto: Reprodução/@silveramusic/Instagram
O produtor musical Silvera, que produziu a música “Viver é sentir”. Foto: Reprodução/@silveramusic/Instagram


A fraude do streaming e o papel da IA 


A música gerada pela IA se tornou um ponto de discórdia na indústria. A fraude do streaming reúne duas grandes preocupações dos artistas: a diluição dos royalties e o uso de bots para manipular os números de reprodução. O guitarrista Ney Silva comentou, em entrevista para a AGEMT sobre o assunto: "Com o uso da IA, perdemos o princípio de que música é a arte de expressar os sentimentos contidos em nossas almas... É sobre tocar vidas". 

Internacionalmente, músicos como Slash, do Guns N' Roses, já expressaram preocupação com a perda da autenticidade na música gerada por IA: "fria, sem alma e confusa". Ed Sheeran também falou sobre o impacto no mercado de trabalho, para a Audacy Live: "Se você está tirando o emprego de um ser humano, provavelmente é algo ruim". Embora a IA possa abrir portas para novas formas de criação, o futuro da música ainda enfrenta o desafio de definir até que ponto a tecnologia pode melhorar a produção musical sem comprometer sua essência.

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