Godard deixa o mundo imortalizando a sua arte

Por meio de suícidio assistido, o pai de Nouvelle Vague, morre aos 91 anos, deixando um legado de filmes e história.
por
Julia Takahashi
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15/09/2022 - 12h

Por Júlia Takahashi

“A liberdade cai por terras aos pés de um filme do Godard”. A passagem que Paralamas do Sucesso traz em seus versos na música ‘Selvagem’ mostra como Jean-Luc Godard será lembrado: o cineasta que revolucionou a forma de se fazer cinema. Com uma câmera na mão e a inquietude de não seguir os padrões hollywoodianos impostos, Godard, em 1960, estreia seu primeiro filme, Acossado, dando início ao movimento francês, Nouvelle Vague, traduzido para o português como Nova Onda”.

O cineasta franco-suiço faleceu nessa última terça-feira, 13 de setembro, em Rolle, Suíça, aos 91 anos. Era o último integrante vivo do movimento vanguardista e recorreu, de forma voluntária, ao suícidio assistido, mecanismo permitido legalmente no país em que morava. A informação foi confirmada pelo porta-voz e conselheiro da família, Patrick Jeanneret, à Agência France Presse. Além disso, a cineasta Anne-Marie Miéville, próxima à Godard, comentou que ele estava em casa e cercado de pessoas próximas. O presidente francês Emmanuel Macron, também comentou sobre a morte do cineasta e o nomeia como tesouro nacional com um olhar de gênio.

Goudard sentado com a câmera para filme
Jean-Luc Godard em 2010. © Sipa - Ronald Grant / Mary Evans

JLG atuou ao lado de grandes cineastas do movimento, como François Truffaut, Claude Chabrol, Jacques Rivette e Eric Rohmer. Os quais se propunham à liberdade criativa, valorizando o “cinema de autor”, em que o controle criativo está todo nas mãos do diretor durante toda a produção. Godard buscava uma narrativa fora da linearidade e dessa forma é considerado uma lenda na sétima arte, inspirando outros cineastas e artistas.

Em seu contexto histórico, criou o grupo Dziga Vertov, em homenagem ao cineasta russo, e teve a possibilidade de explorar a radicalização política, tendo  forte influência dos movimentos estudantis de 1968.  Abordava as questões políticas e filosóficas da época, principalmente as existenciais e marxistas, em seus filmes e dessa forma foi considerado um dos cineastas mais radicais durante as décadas de 60 e 70.

 

“As pessoas diziam que estou ocupado com a política, com a revolução, mas cada vez mais estou preocupado com o cinema e com a realidade.”- Jean-Luc Godard

 

No Brasil, teve alguns filmes censurados, como Sauve qui peut (la vie), de 1969 e Prénom Carmen, de 1983. Durante o governo de Sarney, em 1985, teve o filme “Je Vous Salue Marie” (Ave, Maria), também proibido, pois além de cenas de sexo, trazia a imagem de Maria como uma frentista e José como taxista, revoltando a Igreja Católica, que alegou ser uma ofensa à fé cristã. Foi com essa censura, já fora da ditadura militar de 64, que Paralamas do Sucesso usou como referência em sua música Selvagem, por conta da repercussão do ataque à liberdade de expressão. Três anos depois, o filme voltou a circular, mas não teve tanta adesão do público.

Durante a carreira de Jean-Luc Godard, foram produzidos mais de 40 longas-metragens, vários curtas, ensaios, vídeos de música e documentários experimentais. Ganhou prêmios Ursos no Festival de Berlim, Leões no de Veneza e do Júri de Cannes, além de inúmeras homenagens. Godard ao ser perguntado sobre sua maior ambição, responde “alcançar a imortalidade, e morrer”. Inspirando uma legião de cineastas, artistas e movimentos de luta durante o século 20, tendo a sua arte e história consagrada na sociedade, talvez ele finalmente tenha alcançado a sua maior ambição.

 

 

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