Funk: O ritmo que incomoda

por
Matheus Monteiro da Luz
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20/04/2022 - 12h

Por Matheus Monteiro

No final da década passada se iniciou um debate a respeito da posição que o Funk ocupa na cultura brasileira ou até mesmo na música como um todo. Em 2017, alegando crime à saúde  pública e propagação de falsa cultura, o empresário Marcelo Alonso foi responsável por uma sugestão legislativa que tentou criminalizar o funk. Após o Projeto de Lei ganhar o apoio de mais de 20 mil pessoas, foi endereçado aos cuidados da Comissão de Direitos Humanos (CDH).

Na comissão o projeto perdeu força, uma vez que, o relator do processo, o senador Romário, julgou a proposta como um desrespeito a uma parcela da população. Visto que o relator ganhou o apoio de diversos artistas, antropólogos e pessoas interessadas na valorização do funk como uma expressão genuína da cultura brasileira, debates relacionados a criminalização do funk deixaram de percorrer as esferas do legislativo, se limitando a discussão em em fóruns e redes sociais espalhando-se pela Internet.

Tendo em vista esse fato, em 2019, Fabricio Di Paolo; mais conhecido na Internet como Lord Vinheteiro, começa a  ganhar notoriedade com vídeos questionando a qualidade da música e a real posição do gênero para a cultura brasileira. Em um vídeo intitulado “Por que Funk é tão ruim?” Vinheteiro alcançou 2,2 milhões de acessos e reacendeu esse debate que parecia. Em sua explanação o pianista clássico, trata o funk como desrespeito em falas como “o funk é um gênero musical de fezes. Termos aliás que o youtuber adora classificar o funk em qualquer lugar onde tenha opinião sobre o assunto.

Apesar dessa manifestação carregada de preconceitos e opiniões pessoais, ela ganhou muito relevância e compartilhada por parte da população brasileira. Funkeiros e produtos musicais oriundos da periferia saíram em defesa do funk. E os palcos para esse debate novo acabou sendo a internet que aproveitou a nova onda do Talks Shows, para aumentar sua repercussão.

O motivo pelo qual a pergunta do título é cogitada é o fato do brasileiro de médio e de alta classe não reconhecer, muito menos se identificar com o rimo. O desconhecimento da realidade cantada pelos cantores de funk, vai em desacordo com os valores pregados por essas classes mais privilegiadas. É óbvio que ele contém machismo, desvalorização da mulher, apologia ao uso de drogas e o crime, entretanto o que está sendo desconsiderado é a realidade do morador das comunidades brasileiras. Como vai ser cantado algo diferente? Nem os compositores, nem os consumidores alvos conhecem outra realidade.

Outra coisa que é deixada de lado é que parece que todas as produções do gênero contém esses aspectos negativos, o que é outra ideia que mostra a ignorância da população em relação ao Funk. Esse tipo de letra representa uma camada, que bem verdade não é pequena, mas também não compreende a totalidade do funk. Cantoras como Valesca Popozuda e Ludmilla se apresentariam na Rede Nacional cantando músicas que vão em desacordo com a família tradicional brasileira? Claro que não.

Mas infelizmente se fecha os olhos para os aspectos positivos do Funk, suas letras positivas e de valorização da favela, a criação de novas oportunidades para quem mora em comunidades periféricas. O Funk pode também representar a porta de entrada de muitos jovens ao mundo da música, talvez para alcançar patamares maiores, tanto na questão instrumental, vocal ou de produção. Foi o Funk que impulsionou Anitta para alcançar o topo do Spotify, tendo a música mais ouvida na plataforma, com o hit “Envolver”, posto que nunca tinha sido alcançado por um brasileiro.

O produtor Bruno Ramos, numa conversa com o próprio Lord Vinheteiro, veiculadas do canais digitais da GNT, disse que um gênero musical não pode ser responsabilizado por uma deficiência de formação social. Na visão dele não é a música que vai influenciar alguém a ter um comportamento de violência contra as mulheres, por exemplo. Esse comportamento é apenas um reflexo do apresentado nesse contexto social.
 

O Funkeiro ainda complementa, dizendo que outros segmentos culturais também apresentam comportamentos considerados imorais, e nem por isso são responsabilizados ou taxados de possuir qualidade inferior por conta disso. Nesse ponto que está localizado o problema está muito preocupado com o conteúdo e entretenimento que o povo periférico está produzindo, mas não se discute suas condições de vida.

Nada é feito para promover uma mudança nessas condições,a infraestrutura já é precária para a sobrevivência, imagina então para uma produção musical. Mesmo com esses fatores jogando contra muita arte de qualidade e relevância está sendo produzida no local. E por mais que esse tipo de produção enfrente barreiras, ele está em evoluindo tecnicamente e conquistando cada vez mais seu espaço dentro da cultura brasileira.

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