Feira da Diversidade: show de inclusão e representatividade

A 22ª edição aproximou o público de temas políticos invisibilizados e debates sobre a saúde física e psicológica
por
Giuliana Barrios Zanin
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10/06/2023 - 12h

Na última quinta-feira, 8, o Memorial da América Latina recebeu diversas entidades da comunidade LGBTQUIA+, com a iniciativa da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT-SP). A feira reuniu estandes de gastronomia, artesanato e conversas com temáticas LGBTQUIA+, além de show com artistas queer.

O encontro surpreendeu aqueles que esperavam encontrar apenas diversão. Houve debates sobre as realidades de cada grupo e as devidas mudanças nos cenários de acessos à saúde; à educação; à segurança e também à legislação. Aliás, o evento proporcionou os devidos recursos de acessibilidade, desde a atenção especializada na retirada dos ingressos por canais de mensagem, até intérpretes de LIBRAS, informações autodescritivas e espaços reservados para pessoas com deficiência.

Pelo menos 24% das pessoas se identificam com alguma deficiência, correspondendo a 45 milhões de brasileiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021. Porém, do número total do território nacional, um pouco mais de 23% está no mercado de trabalho, enquanto mais de 63% é ocupado pelas pessoas sem deficiência. Todas as políticas são inclusivas? Apenas em 2008, a Organização das nações Unidas (ONU) lançou uma política nacional de educação inclusiva, por meio de uma emenda constitucional, que assegura os direitos educacionais em todos os níveis dessa parcela.

Barraca com pessoas vendendo acessórios LGBTQUIA+
A Feira  Cultural da Diversidade recebeu mais de 50 atrações artísticas.Foto: Divulgação

O encontro também abriu espaço para os criadores comercializarem suas obras por meio do estande Casa dos Criadores, para a experenciação da vida drag queen, em parceria da Casa Fluida e a retificação do nome social patrocinada pela empresa Amstel.

A presença de órgãos públicos foi essencial para afirmar o objetivo da Parada este ano: "Políticas para LGBT+ queremos por inteiro e não pela metade". As secretarias estaduais de Justiça e da Cultura e a municipal dos Direitos Humanos estavam disponíveis para discutirem os respectivos trabalhos para com a parcela. O reconhecimento da cidadania também ocorreu com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) que atendeu àqueles que não possuíam ainda o título de eleitor, visto a medida tomada em 2018 que permite a inclusão do nome social no documento. 

Outro tópico relevante foi a politização da saúde da minoria. Uma das ações foi a distribuição gratuita de autoteste de infecções como Sífilis e Aids. Em 2020, um marco nos direitos sociais foi conquistado. "OSTF entendeu como institucional o impedimento à doação de sangue por homens que mantêm relações sexuais com pessoas do mesmo sexo.", declaração feita pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM, que promoveu o julgamento. A polêmica surgiu a partir da preconcepção de que esse grupo transmitia o vírus da imunodeficiência humana, o HIV.

Atualmente, entende-se que a propagação dessa doença é irradiada por instrumentos cortantes não esterilizados, agulhas compartilhadas, durante a gravidez de uma mãe infectada e sexo não seguro, e, portanto, não produz relação direta com os homossexuais e bissexuais. Mas sim, o estigma que impedia discutir e acessar a saúde sexual de todas as pessoas.

A coordenadora do Centro de Referência e Apoio à Vítima (CRAVI), Luane Natalle, conversou coma AGEMT sobre a importância da feira para o seu trabalho. "O nosso principal foco hoje é promover ações de prevenção À violência e ampliação do serviço". O CRAVI oferece oficinas mensais abertas a toda a população, no Fórum Criminal da Barra Funda e em outras unidades espalhadas pelo país.

Em 2022, a cada 34 horas, uma pessoas LGBTQUIA+ era assassinada ou vítima de suicídio, segundo o dossiê realizado pelo Observatório de Mortes e violências contra LGBTQIA+ no Brasil. O tema deste ano prevê combater esses números coma inclusão da minoria em políticas públicas. "Pouco é falado do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O SUAS deveria garantir a proteção social aos cidadãos, prestando apoio à comunidade no enfrentamento de suas dificuldades. No entanto, mostra-se fragilizado quando se trata do público LGBT+." - trecho do manifesto de 2023 desenvolvido pelo APOLGBT-SP.

Em outro estande, o Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas promoveu a apresentação do projeto e dos objetivos para um plano de âmbito nacional. "Queremos chegar na política nacional, no marco regulatório, orientar todas as federações e movimentos", explicou uma das representantes do Conselho.

Disponibilizadas no site da APOLGBT-SP, as reinvindicações são claras: os serviços não representam todo mundo. "A maior parte dos seus serviços e benefícios são disfarçadamente direcionados às famílias e indivíduos cisgêneros e heterossexuais."A comunhão reforça que não há nenhum olhar específico para eles e atencioso às suas necessidades.

Essa feira antecede a atração que reúne milhões de pessoas na Avenida Paulista, a Parada LGBTQIA+, que, este ano, reforça a temáticas de representatividade na políticas e nas leis. Em 2022, o mote "Vote com Orgulho" foi referente ao ano de eleições e recebeu mais de 2 milhões de integrantes dentro e fora da comunidade.

A Parada é utilizada não apenas como arte de comemoração e orgulho, mas também como um instrumento de voz e ação para evidenciar a realidade de coletivos que são excluídos tanto pelas condições de saúde quanto pelas identidades de gênero e orientações sexuais.