Exposição em Congonhas retrata impacto da emergência climática na vida de refugiados

Mostra do ACNUR em parceria com a Aena reúne fotografias de pessoas que, após fugirem de guerras e perseguições, perderam tudo novamente em desastres ambientais
por
Larissa Pereira José
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02/09/2025 - 12h

O Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, recebe até 15 de setembro a exposição fotográfica “Perder Tudo. Novamente”, realizada pelo ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) em parceria com a operadora aeroportuária Aena. A mostra reúne imagens que documentam histórias de pessoas refugiadas que, após escaparem de conflitos e perseguições, enfrentaram novas perdas provocadas por enchentes, secas e outros eventos climáticos.

Instalada no corredor que conecta embarque e desembarque, a exposição é gratuita e alcança milhares de passageiros diariamente. O espaço escolhido reforça a ideia de deslocamento e recomeço, que marca a trajetória dos refugiados retratados.

As fotografias revelam um drama crescente: o impacto da crise climática sobre populações já fragilizadas pelo deslocamento forçado. O ACNUR alerta que essa sobreposição de crises — política, social e ambiental — cria uma condição de risco permanente.

Davide Torzilli, representante do ACNUR no Brasil, afirmou em comunicado no site da agência da ONU que “os refugiados não apenas precisam reconstruir suas vidas em um novo país, mas também enfrentam o impacto de desastres ambientais que podem levá-los a perder tudo mais uma vez”. Ele destacou que incluir essas populações em políticas de adaptação climática e resposta a emergências é fundamental para garantir proteção e dignidade.

Jovens caminham sobre sacos de areia para atravessar rio em comunidade precária.
“Perder Tudo. Novamente” fica aberta ao público até 15 de setembro. A visita é gratuita. Foto: ACNUR/Andrew McConnell

 

O contexto brasileiro reforça a relevância da mostra. As enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024, afetaram 2,4 milhões de pessoas, entre elas 43 mil refugiados e solicitantes de refúgio, principalmente vindos da Venezuela e do Haiti. O episódio revelou como a crise ambiental no Brasil também atinge diretamente quem vem ao país em busca de abrigo.

Segundo o relatório “Refúgio em Números”, publicado pelo Ministério da Justiça e pelo ACNUR em 2025, o Brasil registrou 68.159 pedidos de refúgio em 2024, um aumento de 16,3% em relação ao ano anterior. Do total, 13.632 pessoas tiveram o status reconhecido. Entre 2015 e 2024, o país acumulou 156,6 mil refugiados reconhecidos.  As nacionalidades mais frequentes foram venezuelana (39,8%), cubana (32,7%) e angolana (5%). No cenário global, o ACNUR estima que 123,2 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar até o fim de 2024.

Para a administração do aeroporto, a iniciativa cumpre o papel de provocar reflexão em um espaço de grande circulação. Em nota, o diretor-executivo de Congonhas, Kleber Meira, lembrou que o aeroporto “é também um ponto de partida e chegada para pessoas que não viajam por escolha, mas porque foram obrigadas a deixar tudo para trás”.

A exposição também dialoga com o calendário internacional. Em novembro, o Brasil sediará a COP30, em Belém, encontro que reunirá lideranças de mais de 190 países para discutir a crise climática. Em nota oficial, o ACNUR destacou que a mostra antecipa um dos debates centrais da conferência: como eventos ambientais extremos intensificam desigualdades e atingem de forma desproporcional populações já vulneráveis.