"Eu faria tudo, tudo de novo!": a temporada do Coldplay em São Paulo

Série de shows convida o espectador a uma experiência multissensorial. Músicas, hologramas e pulseiras luminosas destacam sustentabilidade, amor e união.
por
Ana Julia Bertolaccini
Beatriz Brascioli
Fernanda Travaglini
|
20/03/2023 - 12h

 

Imagem: Fernanda Travalini
Imagem: Fernanda Travaglini

    A banda britânica Coldplay, que está em passagem pelo Brasil com a turnê Music of the Spheres, se apresentou em São Paulo, no Estádio do Morumbi, nos dias 10, 11, 13, 14, 17 e 18 de março. O repertório engloba sucessos consagrados pelo público como “Viva la Vida”, “ The Scientist”, “Yellow” e “Paradise”. Além destes, os artistas farão mais 5 shows no país, ainda em março, sendo dois em Curitiba, no Estádio Couto Pereira (dias 21 e 22) e dois no Rio de Janeiro, no Estádio Nilton Santos Engenhão (dias 25, 26 e 28).

    As expectativas para a turnê em São Paulo eram altas depois da repercussão positiva de sua apresentação no Rock in Rio 2022. Como esperado, a estrutura do evento contou com um formato único que incluiu: três palcos decorados com esferas que simulavam planetas, grandes telões circulares, hologramas, show de luzes e fogos de artifício, além, das tradicionais pulseiras distribuídas ao público que emitem luzes coloridas durante o espetáculo.

    As performances também contaram com convidados nacionais, como Seu Jorge e Sandy, incentivo às práticas de sustentabilidade e uma filosofia de amor de união. Sentimento demonstrado por frases de agradecimento em português como em: “Obrigado pelo esforço de estar aqui hoje, mesmo com a chuva, o trânsito e todos os problemas. Gratidão!”.

Uma plateia cheia de estrelas

Imagem: Fernanda Travalini
Imagem: Beatriz Brascioli


    Jogos de luzes, arranjos musicais, hologramas e fogos de artifício compõem a cena que o espectador encontra em Music of the Spheres (Música das Esferas), nome do nono álbum da banda que intitula a turnê. O espetáculo se inicia com um recorte da música "Flying Theme" (John Williams), do clássico "E.T" (1982), aclamado pela crítica e pelo público na década de 1980. Em entrevista à Agemt, Beatriz Miranda, 24, designer gráfica, relata que a escolha "foi linda, combinou com a entrada deles e fiquei emocionada". 

    Os fãs da banda tiveram uma experiência  espetacular composta por elementos de iluminação e som: "(...) as pessoas de fora ficaram chocadas com a grandiosidade. Muitas questionaram o lugar que eu fiquei [arquibancada], por ser distante do palco. Porém, eu escolhi estar naquele lugar. Queria ver tudo: fogos, multidão cantando e pulando, pulseiras – que não são só para a beleza e têm um propósito na composição do show. A banda pensa em cada detalhe, para os fãs e o planeta. As crenças pessoais dos integrantes [Chris Martin, Jonny Buckland, Guy Berryman e Will Champion] são trazidas para suas músicas e show", comenta Beatriz. 

    As pulseiras mencionadas pela entrevistada são conhecidas como "Xylobands" e controladas por meio de radiofrequência. Mudam de cor de modo sincronizado e foram idealizadas por um fã, Jason Regler, após uma performance da música "Fix You" em 2005, na Inglaterra. Ele conta que passava por um momento difícil e os versos "lights will guide you home" (as luzes te guiarão para casa, tradução livre), despertaram a ideia de pulseiras luminosas. Hoje, elas integram as performances do Coldplay e têm um papel fundamental na composição das imagens do show: criam uma plateia que ativamente faz parte da experiência das apresentações. 
Outros meios utilizados para criação de deslumbre visual são os fogos de artifício e hologramas que imitam o céu e emocionam a multidão. Balões gigantes também foram distribuídos pela pista, criando uma ilusão de ótica que fizeram com que o ambiente parecesse um verdadeiro sistema solar – com planetas suspensos, numa atmosfera sem gravidade. 

Simpatia, amor e união


    Beatriz conta que as músicas da banda fazem parte de seu dia-a-dia, "eu pulo com eles, choro com eles". A designer relata que além de grandes artistas, são pessoas incríveis: "fui ao show do sábado. Quando li que o show da sexta tinha sido atrasado pela banda para que todos pudessem entrar, isso me tocou: não somos apenas um número". 

    Ao longo de toda performance, na voz de Chris Martin, a banda demonstra prezar pela experiência de seus fãs e pela construção de uma mensagem de união, amor, carinho e fé. No sábado (11), durante a cobertura da Agemt, o vocalista solicitou aos localizados na pista que olhassem para a arquibancada e cantassem juntos. Pediu que erguessem os braços e enviassem amor aos seus – em cena acompanhada pela soltura de fogos de artifício no céu. Letreiros nos telões também espalharam mensagens afetuosas como "I believe in love" (eu acredito no amor) ou "if you want peace, be peace" (se você quer paz, seja paz), entre outras. 

Imagens: Beatriz Brascioli
Imagens: Beatriz Brascioli


Valorização da música e língua nacional


    Durante a temporada de shows em São Paulo, o grupo abriu espaço para a apresentação de artistas nacionais. Vozes como de Seu Jorge, Sandy e a bateria de direito da USP surpreendem e emocionam fãs: "ficamos sempre na expectativa do que eles vão fazer de diferente (...)", relata Beatriz, "no Rock in Rio (2022) apresentaram "Magic" em português, na Argentina uma versão em espanhol (...) e, aqui, convidaram Seu Jorge e Sandy, e ainda cantaram uma música deles! Ver a galera toda cantando, a gente sabe a força que tem. Ainda mais o Seu Jorge, por causa da sua história de vida [trabalho infantil, situação de rua, ataques racistas no Rio Grande do Sul]. São estilos completamente diferentes, a galera levantou e ver o Morumbi inteiro cantando foi incrível".

    No show da segunda-feira (13), Giulia Ayres (16), teve seu pedido concedido pelo vocalista Chris Martin. A jovem escreveu em um cartaz "Can I play Daddy with you? It 's my dream", em português: "Posso tocar Daddy com você? É o meu sonho". A música tem um papel importante na vida da fã, uma vez que fala sobre a relação entre pais e filhos. Giulia perdeu seu pai para COVID-19 em 2021. 


"Não há planeta B": ações da banda em prol da sustentabilidade e causas sociais

    Antes do início do show no último dia 11, três estudantes entram no palco e anunciam o vídeo que demonstra as ações da banda em favor do combate às mazelas ambientais. Entre elas: ajuda ativa a diversas ONGs [Organizações Não Governamentais] e reversão de parte do valor dos ingressos a causas relacionadas à preservação de biomas e espécies.  

Confira a seguir algumas instituições beneficiadas: 

1. The Ocean Cleanup
    Objetiva desenvolver tecnologia para extrair plásticos e limpar oceanos;   
2. One Tree Planted
    Busca reflorestar e criar novos habitat para a biodiversidade; 
3. The Food Forest Project
    Trabalha por mudanças sociais e ambientais de impacto no âmbito rural. 

    A lista conta com mais de dez organizações (ClientEarth, Global Citizen, Cleaners Seas Group, ClimeWorks, Farm Under the Radar, Global Tech Advocates, Project Seagrass, Sea Shepherd, Seafields, The Conservation Collective, The Devon Environment, Sustainable Food Trust). O público é incentivado pela banda a atuar nas causas da sustentabilidade e preservação do meio ambiente e do planeta, como por exemplo as bicicletas elétricas ou plataformas, na qual as pessoas ficavam pulando, eram usadas para  gerar energia e ser “utilizada” durante o show. Para ajudar às ONGs, basta entrar no site para fazer doações ou se voluntariar. 

    As ações também se estendem ao âmbito social. Nesta última quarta-feira (15), a Global Love Button, organização que acompanha a banda, fez um convite para o SP Invisível para chamar pessoas em situação de rua a assistir um show do Coldplay no estádio do Morumbi, sem custos, em ação que busca viabilizar o acesso à cultura. A SP Invisível tem a intenção de dar visibilidade aos moradores de rua da cidade e suas trajetórias.   

"The adventure of a Lifetime": a aventura de uma vida


    Diante de sensibilidade, consciência, amor e uma verdadeira orquestra sinestésica – composta por sons, luzes e cores – Coldplay consegue construir e oferecer uma experiência excelente de concerto. A entrevistada Beatriz, pontua que "Foi além das expectativas. Todo o caminho, o trajeto, eu lembrava do show e eu já ficava arrepiada. Ficamos 3h na fila, conseguimos entrar, e é toda uma atmosfera diferente, é um sentimento único. Pensava: caraca, eu to realizando meu sonho". Termina, adicionando: "Eu faria tudo, tudo de novo". 

Imagens: Beatriz Brascioli
Imagens: Maria Eduarda Nogueira

 

Tags: