Estudantes da PUC-SP ocuparam a universidade a partir da noite de quinta-feira (22), em reivindicação de políticas antirracistas e melhorias na infraestrutura do campus Monte Alegre. Os alunos passaram as noites de 23 a 26 de maio no edifício Cardeal Motta, conhecido como “prédio velho”, organizando manifestações e palestras em defesa de suas demandas.
Os Centros Acadêmicos de Ciências Sociais (CACS), Serviços Sociais (CASS), Relações Internacionais (CARI) e a Coletiva Afroindígena Saravá já organizavam a paralisação geral de seus cursos desde 19 de maio. Após assembleia geral com a presença do reitor Vidal Serrano, na sexta-feira (23) à noite, o comitê de greve definiu o início da ocupação.
Como foi a ocupação?
Em entrevista à AGEMT, o graduando de Direito Hector Batista, militante da União da Juventude Comunista (UJC) e da União Estadual dos Estudantes (UEE), conta como foi o processo.

“Foi uma experiência incrível de conexão com muitos estudantes, que vieram, ou para passar a noite, ou para participar de algum momento do dia, com apoio até de professores que vinham aqui nos ajudar”, apontou o militante. “Foi um processo coletivo importante pra gente se fortalecer enquanto Movimento Estudantil, mas também para criar uma conexão com os outros alunos”, completou.
Durante a ocupação, os estudantes organizaram diversos eventos no campus, como rodas de conversa, aulas abertas, oficinas de confecções de cartazes, atividades esportivas e atos de protesto.
Hector descreveu como foram as atividades estruturadas pelo comitê de greve. “Teve uma palestra para falar sobre a questão da Palestina, uma para falar sobre o que é o CONSUN [Conselho Universitário], o CONSAD [Conselho Nacional de Secretários de Administração], a reitoria e a FUNDASP. A gente decidiu que não estamos deixando de ter aula, mas estamos construindo as nossas próprias aulas aqui durante o dia”, afirmou.
O movimento foi abraçado por muitos alunos e familiares que, mesmo não podendo estar presentes na ocupação durante os dias, colaboraram com doações de refeições e em dinheiro para o comitê. Alimentos e itens essenciais de cuidado foram fornecidos para que os estudantes que passaram as noites pudessem se manter.
“A gente acordava todos os dias bem cedo e tomava café da manhã em coletivo, então a gente recebeu muita doação de alimentos”, conta Hector. Ele continua: “A galera trouxe fruta, pão, tudo que a gente precisava. A mãe de um estudante nos trouxe até um caldo de mocotó para comermos, então foi um processo bem interessante”.
De acordo com Hector, os estudantes se dividiram em comissões para cuidar dos diferentes aspectos da ocupação. “A gente se dividia em tarefas: tinha a comissão de alimentação, de limpeza e de segurança, que precisava ficar de olho o tempo todo aqui pra caso a gente tivesse algum problema nas entradas”.
Toda a função de cuidado e limpeza dos espaços da universidade ficou por conta dos próprios alunos. Os centros acadêmicos e salas utilizadas passaram por uma faxina completa, assim como todos os bloqueios de cadeiras e mesas presentes no prédio foram removidos na noite de segunda-feira (26). Nas palavras do estudante de Ciências Sociais e militante do PCBR, Pedro Bezerra, durante assembleia realizada na manhã de segunda-feira (27) não seria justo deixar aos funcionário da universidade cuidarem do espaço utilizado ao longo da ocupação pelos próprios alunos.

Em uma assembleia organizada com os três setores da PUC-SP - estudantes, funcionários (representados pela Associação de Funcionário da PUC, AFAPUC) e professores (Associação de Professores da PUC, APROPUC) -, na segunda-feira (26), foi realizada uma votação sobre a continuidade da ocupação. O comitê de greve propôs que os alunos desocupassem o campus na mesma noite ou na manhã do dia seguinte, após reunião com o padre José Rodolpho Perazzolo, diretor executivo da FUNDASP.
Após consulta realizada nas duas sessões da assembleia (diurna e noturna), a decisão foi de manter a ocupação até o dia seguinte. Pela manhã, foi determinado que os estudantes voltassem para suas casas e o movimento de paralisação terminasse após conversa com a Fundação.
Em comum acordo entre movimento estudantil e reitoria, o fim da manifestação foi comunicado através das redes sociais das partes na noite de terça-feira, com retorno normal das atividades no campus Monte Alegre na quarta-feira (28).