‘Escândalo Íntimo’, uma viagem pela psique de Luísa Sonza

Álbum estreia batendo o recorde nacional do Spotify
por
Bruna Quirino Alves
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10/09/2023 - 12h

O álbum, intitulado Escândalo Íntimo, apresenta Luísa Sonza em seu estado mais vulnerável enquanto navega pelo seu subconsciente e aborda suas aflições e fragilidades com profundidade e clareza, mostrando suas incoerências e insatisfações consigo mesma e com o mundo à sua volta. Não deixando de lado a sua ousadia e irreverência características ao experimentar com os conceitos sonoros e visuais que incomodam e subvertem os sentidos e réguas morais, te colocando para fora da zona de conforto.

Seu conceito disruptivo e desaforado chama a atenção do público desde o primeiro single lançado. “Campo de Morango” dividiu opiniões e causou diversas polêmicas. O clipe brinca com a sensualidade da fruta ao mesmo tempo que faz a contraposição trazendo visuais vermelhos que remetem à sangue e beiram o perturbador.

Luísa no clipe "Campo de Morango" em cima de uma cama coberta de tinta vermelha com dançarinas ao seu lado
Trecho do clipe de Campo de Morango. Foto: Divulgação

O álbum

O álbum é dividido em quatro blocos marcados pelos interlúdios: “Dão Errado” e “Todas as histórias”

O primeiro bloco apresenta seu manifesto de autoestima e poder com faixas como “Carnificina”, em que Luísa reafirma o seu valor e a sua influência enquanto dá o recado: “Eu tenho números e ainda sou artista” e o hit pop dançante “A Dona Aranha”, que ressignifica a antiga cantiga infantil com elementos do funk, brincando com as palavras e retratando um lado animalesco da cantora como a própria aranha.

O segundo bloco apresenta a parte mais romântica do álbum, enquanto o terceiro e último bloco lançado, que começa a partir do interlúdio “Dão Errado”,  introduz o sample de “Não me deixe só” de Vanessa da Mata e termina com uma alusão à uma crise de ansiedade, com respirações descompassadas e ofegantes, junto de sons angustiantes para quem ouve.

Luísa revelou em entrevistas que a construção conceitual do projeto foi pautada em torno de um relacionamento tóxico consigo mesma e uma representação de seu subconsciente, seus pesadelos, aflições e autosabotagens – o que pode ser visto em faixas como “Principalmente me sinto arrasada” e “Não sou demais” – que narram suas angústias e cobranças a si própria, além da visão distorcida com a qual ela se enxerga e os seus discursos controversos e incoerentes.

Trecho do clipe de Luísa onde ela olha sorrindo pra tela
O clipe de "Principalmente me sinto arrasada" exibe um clima de terror. Foto: Reprodução/Youtube

Nas faixas mais sentimentais do disco, a cantora cria uma atmosfera imersiva mais emotiva através dos sons, emulando suas emoções e fazendo com que seus sentimentos se projetem até o ouvinte.

Escândalo Íntimo é um projeto de 26 faixas, porém apenas 18 foram lançadas. Posteriormente, as outras 8 serão liberadas junto com os visuais, que formarão um curta-metragem.

O álbum conta com a participação de artistas como: Baco Exu do Blues, Marina Sena e Duda Beat, porém o maior destaque foi a parceria com a cantora pop norte-americana Demi Lovato que canta em português na faixa “Penhasco 2”. 

É notável a versatilidade do disco em mesclar estilos musicais diversos através das colaborações e referências, enquanto mantém uma sonoridade coesa que se conecta até o final da narrativa.

A faixa “Surreal”, com Baco Exu do Blues, apresenta elementos de R&B ao descrever uma noite de romance tórrida e sensual, com vozes arrastadas, compasso marcado e melodia grave que captura o sentimento de desejo intenso - como em Hotel caro, a outra parceria dos dois, lançada em 2022, que também é referenciada nos versos de Baco: “Hotéis caros, festas na espanha, mistura intensa, somos uísque com tequila".

“Ana Maria” traz a leveza de Duda Beat para o final do disco, quebrando a melancolia e espantando a ansiedade enquanto nos leva para uma atmosfera mais alegre e otimista, além de revisitar a interlude do bloco e responder Vanessa da Mata enquanto anuncia: “Não sinto mais medo do escuro, agora ele tem medo de mim”.

Luísa volta para o sertanejo sofrência, com gaitas ao fundo e vocais fortes em “Onde é que deu errado”. O sertanejo não é estranho para a artista, que já explorou esse gênero no single “Coração Cigano” em parceria com Luan Santana e em “melhor sozinha” com Marília Mendonça para seu álbum anterior, “DOCE 22”.

Já “Iguaria” e “Chico” trazem traços de bossa nova no ritmo enquanto a artista abraça o romantismo se declarando para o companheiro. Em “Iguaria” ela revela quão preciosa é a relação dos dois com trechos cheios de referências à MPB, como: “Deságua em mim como chuva”– referenciando ‘Oceano’, um dos maiores sucessos dos anos 90, composto por Djavan. 

“Chico” narra uma história de romance que se passa no Rio, que como “Garota de Ipanema” do Tom Jobim é ritmado pelas ondas do mar e o seu movimento, mas ao invés de observar Helô Pinheiro caminhar na praia de Ipanema, a serenata de Luísa é para Chico Veiga e se passa em um bar na Lapa. Essa faixa vem para aquecer o coração daqueles que não perderam a fé no amor, apesar das desilusões. Na letra, ela diz: “Chico, se tu me quiseres, sou dessas mulheres de se apaixonar”, uma referência à Folhetim, escrita por Chico Buarque e cantada por Gal Costa.

Em “Outra Vez”, como na canção de Roberto Carlos, Luísa está presa nas memórias de um amor antigo enquanto tenta lidar com o seu fim e seguir em frente. A música traz todas as emoções vividas no processo de superar um término e a vontade agridoce de se apegar à dor quando ela é tudo o que resta. 

Outras alusões à MPB e bossa nova usadas no álbum também não passaram em branco para os ouvintes, como a faixa “Lança-menina” que foi um tributo à rainha do rock, Rita Lee, além do áudio da própria Rita falando no final. Na letra, Luísa exalta a si mesma e a sua própria incoerência, além de ironizar o conceito de ser uma “boa menina”.

A faixa “Luísa Manequim”, conta com o sample de samba-rock do compositor Abílio Manoel durante a música e o trecho que diz “sabor de fruta mordida”, referenciando Cazuza em uma de suas faixas mais famosas, “Todo amor que houver nessa vida”. Nessa faixa, Luísa mostra um pouco da cobrança que vem com a vida sob os holofotes e muda o sentido da música original enquanto se coloca como a garota que está sendo observada, onde tudo e todos querem a sua atenção, tecendo elogios ou criticando. 

Tweet onde Luísa Sonza escreve "gente meu fãs pelo amor de deus comecem a escutar música brasileira, artistas brasileiros Cássia Eller, Cazuza, etc se não vocês não vão me acompanhar nos raciocínios
Tweet da cantora é relembrado nas redes socais. Foto: Reprodução / Twitter

O álbum apresenta uma nova era na carreira de Luísa Sonza e demonstra um vasto repertório e amadurecimento musical, além da experiência audiovisual que virá com o lançamento do curta-metragem.

Escândalo Íntimo está disponível nas plataformas digitais e foi performado pela primeira vez no festival The Town em São Paulo, no primeiro domingo.

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