Dina DI e Tasha e Tracie abrem espaço para negras na música

Feministas negras conquistam palcos do Hip Hop, Rap e Trap na cena brasileira
por
José Pedro dos Santos
Ian Valente
Francisco Vecchia
|
02/06/2022 - 12h

O feminismo negro surgiu a partir de mulheres que não se sentiam representadas dentro das pautas do feminismo hegemônico. O movimento feminino existente em meados da década de 1980 era representado majoritariamente por mulheres brancas e de classe média. As populações femininas negras e periféricas se encontravam marginalizadas tanto da sociedade como do movimento das mulheres. Visto que tanto o feminismo hegemônico não pensava nestas mulheres negras, como as próprias pautas do movimento se mostravam insuficientes para a emancipação de mulheres que além de serem oprimidas pelo patriarcado também sofreram racismo. 

O “hip-hop” abraçou de sua maneira este novo feminismo; todavia, como o machismo é onipresente na sociedade, ate mesmo em um movimento negro as mulheres precisaram e precisam lutar parra se fazerem ouvidas.

A cena do rap foi construída com bases masculinas, entretanto mulheres ocupam este espaço para mostrar realidade questões de gênero que não são abordadas pelo patriarcado. O cenário nacional ganhou as primeiras vozes femininas no final da década de 1980, quando surgiu Dina Di, nome artístico de Viviane Lopes Matia, ela afirmava que o homem pode ver, mas não pode sentir o medo que cada mulher sente durante sua vida. Além disso a rapper comentava sobre a forma como os homens definem as mulheres no rap, com palavras que questionam a imagem do sexo feminino, fazendo com que as artistas se sentissem obrigadas a se vestirem com roupas largas ou masculinas.

Nos anos 2000 o Rappers MV Bill se juntou com Kamila CDD, e lançaram a música “estilo vagabundo” que retrata uma discussão de um casal, onde ela não se cala e afronta as ações e argumentos machistas e misóginos masculinos dentro do relacionamento. “tu tá muito confiante, me tratando tipo Amelia. Cansei de ser boba e me vestir tipo uma velha.” 

Alguns anos depois as irmãs gêmeas Tasha e Tracie Okereke surgiam na cena do Hip-Hop nacional com o blog e movimento Expensive shit, que tinha como intenção valorizar a autoestima e autonomia de jovens periféricos e negros pelo conhecimento, moda e cultura. 

Em 2019 a dupla lançou o EP Rouff, em parceria com a cantora Ashira. O trabalho tem 6 músicas compostas por diversos produtores famosos da cena do rap, como Mu540, Devasto, CESRV e Pizzol, além da direção artística do rapper DonCesão e ser lançado pelo selo Ceia Ent.

O trabalho seguinte delas, “Diretoria'', é um EP feito em parceria com Pizzol, onde as cantoras falam sobre conquistas e empoderamento, que se relaciona com toda a trajetória delas como ativistas e cantoras. No portal popline, Tasha e Tracie afirmam que apesar de ser um álbum mais denso, Diretoria foi mais divertido, apesar de tudo o que alguém marginalizado dizer ser politizado, segundo elas o álbum traz uma proposta mais leve do que Rouff.

Ainda na entrevista as duas se dizem se considerar ativistas periféricas, não querendo se limitar dentro de um grupo ou área de atuação, já que seus trabalhos giram em prol da luta das pessoas negras.