Desemprego dispara na pandemia

Segundo economista da FGV, recuperação pode levar mais de um ano
por
Maria Fernanda Hohlenwerger
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21/06/2020 - 12h

A taxa de desemprego disparou depois da adoção de medidas de isolamento para enfrentar a pandemia de Covid-19.  No Brasil, a taxa de desemprego atingiu a marca de 12,9% no trimestre encerrado em maio, um aumento de 1,2 ponto percentual em comparação ao trimestre anterior (dezembro a fevereiro), segundo o IBGE. O número de desempregados chegou a 12,7 milhões, com o acréscimo de 368 mil brasileiros à procura de trabalho, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).  

As projeções para este ano são de forte queda no nível de atividade econômica, além de contínuo aumento na taxa de desemprego. De acordo com pesquisa feita pelo Ibre/FGV a pedido do Estadão/Broadcast, as empresas preveem mais demissões nos próximos três meses. A indústria de vestuários e acessórios e a indústria têxtil pretendem reduzir mais de 80% e 60% o quadro de funcionários, respectivamente. 

A expectativa é que essa situação seja revertida no longo prazo, quando empresários devem começar a planejar contratar, ao invés de demitir. Em entrevista à Agemt, o economista e coordenador da Sondagem do Comércio e Investimentos do Ibre/FGV, Rodolpho Guedon Tobler, comentou que a taxa de desemprego, por não considerar as pessoas que não procuraram uma vaga na semana de referência da pesquisa, não é a melhor métrica para observar as consequências da pandemia no mercado de trabalho. “Os primeiros resultados já mostram um impacto”, afirmou.

O economista destacou a queda recorde do número de pessoas ocupadas no trimestre encerrado em abril – um recuo de 5,2% em relação aos três meses encerrados em março. "Ao longo do ano, apesar de toda a incerteza, já existem previsões de 18% na taxa média de 2020", disse Tobler. Em 2019, a taxa média de desemprego foi de 11,9%.

O emprego vai se recuperar mais lentamente em relação à atividade econômica. As empresas levarão um tempo para se reerguer e, até que isso aconteça, a previsão é de que haja mais demissões com o objetivo de reduzir custos. Na avaliação de Tobler, a taxa de desemprego deve se recuperar ainda este ano, dependendo, no entanto, dos desdobramentos da pandemia de Covid-19. Ele afirma que, ao patamar de 11%, o indicador só deve retornar após 2021.

Até que haja uma melhora no cenário econômico, contratações não são uma opção, já que as empresas tentam conter gastos e encontrar maneiras de superar a crise, que deixará sequelas nos próximos anos.

 

Foto: WikiMedia Link: https://bityli.com/YjXqe
Foto: WikiMedia Link: https://bityli.com/YjXqe 

Em meio à instabilidade, o desemprego também está impactando a renda per capita. Segundo levantamento da empresa de pesquisa Plano CDE, 51% dos brasileiros das classes D e E, que possuem renda per capita de até R$ 500, perderam metade ou até mais de suas rendas durante a pandemia. 

Essas classes, em sua grande maioria, são compostas por trabalhadores informais, muito afetados pelas medidas de isolamento. Com isso, muito deles ficaram desempregados e, em consequência disso, acabaram por aceitar empregos com salários inferiores. Ao contrário dessa situação, nos postos de trabalho com carteira assinada, há um "conforto" maior, que permite passar por um período de crise com um pouco mais de tranquilidade. Um exemplo disso é a MP 936, que permite a suspensão de contratos e redução de salários, como uma tentativa para evitar demissões em grande escala. 

Tobler diz que a queda da renda deve se manter no médio prazo. "A tendência é de que os rendimentos fiquem um pouco abaixo, à medida que houver algum sinal de recuperação da atividade econômica, com um número excessivo de trabalhadores desocupados, espera-se que haja algum movimento de redução salarial." 

Diante desse cenário, a incerteza prevalece. As taxas de desemprego e a retração da economia acompanham a pandemia, que determinará as ações e medidas econômicas a serem tomadas. O mercado de trabalho sofrerá mudanças, e as empresas que conseguirem passar por essa crise terão que se reinventar e buscar novos jeitos de atender o público e a demanda. "A economia vai se recuperar em relação ao momento atual, com certeza, mas voltar ao nível pré-pandemia vai demorar mais de dois anos", afirmou o economista da FGV Daniel Duque ao jornal O Estado de S.Paulo.