"Crimes Reais" rouba a cena na Bienal do Livro SP

Nos dois sábados do evento, leitores e ouvintes se reuniram para ver e ouvir Ilana Casoy, Ivan Mizanzuk, Carol Moreira e Mabê Bonafé
por
Bianca Novais
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13/07/2022 - 12h

A 26a edição da Bienal do Livro de São Paulo retornou no sábado (02), após quatro anos de hiato. Devido à pandemia de Covid-19, não houve edição em 2020, com isso o número de pessoas que compareceram ao Expo Center Norte durante os nove dias de evento demonstra o sucesso que é a Bienal: 660 mil pessoas.

Além das atrações próprias de cada estande, a Bienal contou com 1.300 horas de programação cultural. Entre elas, o painel "Crimes Reais", no primeiro dia. Ivan Mizanzuk, Carol Moreira e Mabê Bonafé bateram um papo sobre o gênero, com mediação de Duds Saldanha, na Arena Cultural.

Mizanzuk é jornalista, professor e ficou conhecido nacionalmente pelo seu podcast Projeto Humanos, em especial pela temporada O Caso Evandro, em que aborda a investigação e o processo judicial do desaparecimento e assassinato de crianças em Guaratuba, Paraná, nos anos 1990. À época, o caso ficou conhecido como "Bruxas de Guaratuba", mas o jornalista explicou durante o painel porque preferiu não usar o título sensacionalista: "Se eu quisesse fazer sucesso logo de cara, coloraria o nome conhecido. Mas ele é acusativo, determina de quem é a culpa. Já 'caso Evandro' era usado por alguns promotores e juízes, e achei importante porque dava foco à vítima".

O Caso Evandro , inspirou a produção da série documental homônima, que estreou em 2021 na Globoplay. No mesmo ano, o livro O caso Evandro: Sete acusados, duas polícias, o corpo e uma trama diabólica foi publicado pela Harper Collins.

A obra originou-se no formato de podcast, que atualmente é um dos grandes responsáveis pela popularização do gênero true crime no Brasil e no mundo. Produções internacionais como Serial (Serial) e My Favorite Murder (Meu Assassinato Favorito) acumulam centenas de milhões de downloads. Além do podcast de Mizanzuk; Modus Operandi e o mais recente fenômeno A Mulher da Casa Abandonada são os representantes brasileiros do crescente nicho.

Carol Moreira e Mabê Bonafé são apresentadoras do Modus Operandi e lançaram seu primeiro livro, de mesmo nome, durante a Bienal. A maior parte dos presentes na Arena Cultural durante o painel era feminino. De acordo com Saldanha, que também é roteirista do Modus, "Mulheres são as pessoas que mais consomem conteúdo de crimes reais porque elas aprendem como sair de uma situação, caso aconteça".

Em entrevista exclusiva à AGEMT, Bonafé confessa a surpresa que teve com a quantidade de presentes no painel. "A gente estava muito empolgada, mas não sabíamos como era nossa audiência, porque não fizemos nenhum evento presencial. Veio muita gente, foi muito especial".

Uma semana depois, no penúltimo dia de Bienal, a dupla do Modus retornou à Expo Center Norte, para entrevistar a criminóloga e escritora best-seller Ilana Casoy. Dessa vez, os leitores se reuniram em frente ao estande da Submarino. A desorganização da editora, conhecida como a gigante do comércio on-line, não foi o suficiente para fazer os fãs das três autoras desistirem de assistir à gravação ao vivo do podcast. Enquanto a fila de entrada que dava voltas no estande passava entre o palco e os espectadores, Bonafé e Moreira realizavam o que disseram ser seu sonho.

Casoy é especialista em perfil psicológico de criminosos, com foco em serial killers, há mais de 20 anos. Sua lista de obras é extensa e inclui casos de grande repercussão no Brasil. O Quinto Mandamento, que trata sobre o homicídio do casal Richthofen, e A Prova É A Testemunha, sobre o caso Nardoni com relatos inéditos, são alguns de seus livros mais famosos. Bom Dia, Verônica, sua obra mais recente, com coautoria de Rafael Montes, se tornou uma série da Netflix de mesmo título.

Parte do trabalho de Casoy envolve entrevistar face a face assassinos e estupradores. Durante o painel, a escritora conta como foi a experiência de estar na mesma sala com serial killer misógino. Sua estratégia para fazê-lo falar foi se colocar submissa ao psicólogo que a acompanhava. Colocou ele sentado na cadeira mais imponente da sala, se ofereceu para buscar água, e quando saiu o psicólogo fez "aquela cara de macho para macho", em suas palavras. Apesar do malabarismo, Casoy esclarece que são ossos do ofício: "Precisa ter bem claro o que se quer obter, porque quem não sabe o que procura, não acha".

Na Bienal dos reencontros, podcast e literatura se misturaram, consolidando a mídia de áudio do início dos anos 2000 e provando que os leitores – e os ouvintes – estavam morrendo de vontade de sair do virtual.

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