Coreia do Sul enfrenta crise política

Presidente Yoon Suk Yeol enfrenta tentativa de impeachment após tentativa de lei marcial
por
Ricardo Dias de Oliveira Filho
|
06/12/2024 - 12h

A Coreia do Sul vive uma das maiores crises políticas das últimas décadas após o presidente Yoon Suk Yeol decretar lei marcial por algumas horas, uma medida inédita desde o fim dos regimes militares no país nos anos 1980. A decisão, revogada rapidamente devido à forte pressão parlamentar, gerou acusações de tentativa de golpe e abriu caminho para um possível impeachment, que será votado neste sábado (7), às 19h (horário local).

Yoon Suk Yeol, presidente da Coreia do Sul. Foto: Im Hun-jung/Yonhap via AP
Yoon Suk Yeol, presidente da Coreia do Sul. Foto: Im Hun-jung/Yonhap via AP

Decreto polêmico e reação parlamentar

Na noite da última terça-feira (3), Yoon anunciou a lei marcial em um discurso televisionado, justificando a medida como uma ação para proteger a "ordem constitucional da democracia livre" contra forças que ele chamou de "antiestatais". O decreto previa a suspensão de atividades políticas, censura à mídia e proibição de protestos. No entanto, a Assembleia Nacional, liderada pela oposição, reagiu prontamente, reunindo 180 parlamentares para derrubar a medida e forçar a retirada das tropas.

A situação ganhou contornos dramáticos quando helicópteros militares cercaram o prédio legislativo, e parlamentares foram impedidos de entrar. Lee Jae-myung, líder do Partido Democrata e principal rival político de Yoon, precisou escalar cercas para acessar o local, transmitindo o ato ao vivo em redes sociais, onde o vídeo rapidamente viralizou.

A lei marcial é uma medida extraordinária em que os militares assumem o controle, suspendendo leis civis e restringindo direitos, como liberdades políticas e de expressão, para lidar com crises graves ou ameaças à ordem pública.

Acusações e consequências

O decreto de Yoon foi amplamente criticado como uma tentativa de golpe, agravando sua já baixa popularidade, que atingiu 19% segundo a última pesquisa da Gallup. O Partido Democrata, que controla 192 das 300 cadeiras do Parlamento, busca apoio suficiente para atingir os dois terços necessários para o impeachment. Se aprovado, o primeiro-ministro Han Duck-soo assumirá interinamente, enquanto a Corte Constitucional decidirá o futuro do presidente.

A tentativa de lei marcial também provocou a renúncia do ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, e pedidos de afastamento de outros membros próximos ao governo. Yoon ainda enfrenta acusações que podem levar à prisão perpétua ou até à pena de morte, segundo a legislação sul-coreana.

Histórico de Yoon e desafios políticos

Yoon Suk Yeol, eleito em 2022, iniciou sua trajetória política como promotor e ganhou destaque ao investigar casos de corrupção envolvendo figuras importantes. No entanto, seu governo foi marcado por controvérsias, incluindo inflação, restrições à liberdade de expressão e escândalos envolvendo sua esposa.

A decisão de declarar lei marcial ocorre em um momento de tensão com a oposição e em meio a negociações sobre o orçamento do próximo ano, em que o governo sofreu derrotas significativas no Parlamento.

Implicações regionais e internacionais

A medida alarmou tanto aliados quanto adversários internacionais. Enquanto os Estados Unidos declararam surpresa com a decisão, a Rússia considerou o episódio "preocupante". Internamente, a ação foi vista como um retrocesso democrático, algo impensável após 40 anos de consolidação de liberdades civis no país.

A crise atual não apenas ameaça o mandato de Yoon, mas também coloca em xeque a estabilidade de um dos principais aliados dos Estados Unidos na Ásia, reacendendo debates sobre a força das instituições democráticas sul-coreanas diante de líderes autoritários.

Com o impeachment à vista e a pressão internacional aumentando, o destino de Yoon Suk Yeol será decidido em um ambiente político marcado por incertezas e divisões profundas.