Como evitar dívidas através da educação financeira

Ausência de organização está entre as causas; especialistas dão dicas de planejamento para evitar contas no vermelho
por
João Serradas
Otavio Preto
Thomaz Cintra
|
14/04/2023 - 12h

A falta de planejamento financeiro está entre os principais motivos para o endividamento de boa parte da população. Por isso é de extrema importância que as pessoas tenham em mente noções básicas de educação financeira. Com algumas técnicas simples, é possível aprender a gerenciar o dinheiro de maneira eficaz e evitar cair em armadilhas ou situações delicadas. 

Quando se refere a essa população menos favorecida, a educação financeira se torna uma grande ferramenta, os ajudando a lidar com as despesas diárias. Porém, nem tudo é fácil, já que muitas dessas pessoas sofrem certos empecilhos que as impedem de se aprofundarem sobre o tema ou que fazem de suas vidas mais difíceis em relação à prática do estudo financeiro. 

Um dos motivos para esta situação ocorrer é justamente a falta de renda. Muitas pessoas vivem com salários baixos ou irregulares, o que dificulta o pagamento de despesas e a formação de uma reserva financeira. Quando surge uma emergência, como uma doença ou um acidente, muitas pessoas são forçadas a recorrer a empréstimos para cobrir suas despesas, o que pode levar a um endividamento insustentável. A partir desse momento, torna-se quase impossível a chance de poder ter o privilégio de guardar ou investir uma certa quantia de dinheiro. 

E apesar da faixa salarial dos brasileiros ser o grande indicador de dívidas, várias pessoas com diferentes rendas, até mesmo aquelas com uma situação mais favorável, sofreram as consequências do endividamento no último ano. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em março deste ano, cerca de 78,3%de famílias brasileiras estão endividadas. Entre os mais pobres o número é ainda maior, sendo 80%. A pesquisa considera como dívidas as contas a vencer em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa. A partir disso, é notável o fato de as pessoas enfrentarem desafios em relação à gestão de suas dívidas com as despesas mensais. 

O professor de Economia José Geraldo Portugal, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), diz que administrar as finanças com dívidas já existentes não é uma tarefa fácil, mas existe solução.  “O principal desafio para uma boa administração financeira por parte de uma pessoa é obter a compatibilidade entre despesas e receitas totais, ao longo do tempo. A melhor estratégia é ter sempre presente o grau de comprometimento da nossa renda antes de assumir uma nova despesa.”  Além disso, ele ressalta a importância de as pessoas terem consciência em relação ao que se compra, estando atentas a gastos desnecessários e compras em excesso. “mas, sobretudo, ter uma avaliação clara do que realmente precisamos de modo a evitar compras de impulso.” 

Partindo disso, é necessário que não somente as pessoas de renda mais baixa como toda a população em geral, tenham como foco a execução de um planejamento doméstico em suas vidas,. adotando hábitos financeiros saudáveis e que não pesam em suas rotinas.  Economizar no consumo de gás e luz e reduzir os gastos no mercado, são medidas simples que podem ser implementadas rapidamente e, com o tempo, mostrarão resultados. Desse modo, a consciência financeira tende a mudar, viabilizando planos e estratégias mais elaboradas.  Entretanto, mesmo com algumas pessoas se esforçando e buscando melhorar seus quadros financeiros, existem aquelas que ficam pelo caminho e acabam, uma hora ou outra, retornando ao acúmulo de dívidas e se encontrando novamente em uma situação preocupante. 

Segundo Cristiano Sousa, assessor de planejamento financeiro da Andaluz Investimentos, o pior erro que alguém pode cometer é não conhecer suas finanças, ou seja, não ter os próprios gastos mensais mapeados. Deste modo, as pessoas acabam assumindo prestações que são maiores que a capacidade de honrá-las. Para Cristiano, a divisão ideal da renda seria a seguinte: 50% para os custos fixos, 30% para qualidade de vida e 20% para reserva de emergência e investimentos.  Como qualidade de vida, o assessor se refere a objetivos de longo prazo, como um carro, uma casa própria e outros desejos que cada um possa ter. Já a reserva de emergência, é necessária para imprevistos, como um acidente, uma doença ou qualquer outra situação que não esteja nos planos.  

Segundo Sousa, é necessário realizar investimentos para que o dinheiro renda de alguma maneira. Investimentos em renda fixa, por exemplo, são considerados os mais seguros hoje. Entre as suas possibilidades está adquirir títulos de empresas e, após um período estipulado, receber o dinheiro de volta com alguma rentabilidade. O assessor também recomenda “se pagar primeiro”, ou seja, fazer os investimentos e separar a reserva de emergência logo no início do mês, evitando que os aportes deixem de ser feitos devido a outros gastos.  

Uma grande aliada no processo de educação financeira é a tecnologia. A cada ano que passa, novas ferramentas são desenvolvidas e isso se intensificou após o surgimento do coronavírus, quando  as pessoas tiveram que se adaptar e procurar resolver suas tarefas diárias, como trabalho e estudos, de forma remota, totalmente online. O uso da tecnologia diariamente facilitou muito a vida das pessoas. Utilizar os aparelhos e aplicativos digitais para aprender sobre educação financeira e gerenciar suas contas e gastos, reduz o tempo que necessário para administrar as finanças pessoais, pois muitas tarefas podem ser realizadas com o auxílio de aplicativos.

Outra coisa muito importante é o hábito de usar as ferramentas simples de seu celular, como o bloco de notas. Ter controle das entradas e saídas do  dinheiro, saber onde e como está gastando é essencial, pois num momento de crise será possível identificar quais gastos podem ser cortados e quais não devem ser cortados. Portugal também reforça a importância dos usos da tecnologia nesse processo. Ele defende a ideia de as pessoas utilizarem mecanismos de consulta financeira e aplicativos voltados para a educação financeira, esclarecendo as dúvidas e mostrando os melhores caminhos para o usuário. 

Cristiano Sousa diz que é possível confiar nas ferramentas digitais. Ele destaca a existência de diversos aplicativos que auxiliam a população, como a própria planilha do Google. As planilhas são ótimas aliadas quando se trata de conhecer os próprios gastos, já que, ao anotar os seus custos mensais, como alimentação, vestuário e prestações, a pessoa terá noção de seu poder de compra. “Eu gosto de usar a própria planilha do Google., Eu compartilho com a minha esposa e por lá nós temos um controle maior”, conta o assessor da Andaluz.

Grande parte das pessoas que têm problemas financeiros podem ser associadas à falta de educação financeira, e muitos dos indivíduos presentes nesse grupo são representantes da classe de baixa renda no Brasil. Por isso, é de extrema importância que haja investimentos por parte do Estado na área, analisando esse cenário atualmente, essa parece ser a melhor solução.