Cineasta Silvio Tendler morre aos 75 anos

Um dos mais importantes documentaristas brasileiros, ficou conhecido como "o cineasta dos sonhos interrompidos"
por
Daniella Ramos
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05/09/2025 - 12h

O documentarista Silvio Tendler, de 75 anos, morreu na manhã desta sexta-feira (05), no Rio de Janeiro (RJ). Ele estava internado no Hospital Copa Star, no bairro de Copacabana, e sua morte, causada por uma infecção generalizada, foi confirmada pelo Instagram da Caliban, produtora fundada pelo cineasta.

 

 

Silvio ficou conhecido como o “cineasta dos sonhos interrompidos” por se dedicar a contar histórias de João Goulart, Juscelino Kubitschek, Carlos Marighella, Glauber Rocha, entre outras personalidades históricas e políticas. 

Em seus mais de 50 anos de carreira, produziu e dirigiu mais de 70 filmes e 12 séries televisivas. Entre eles, "Os Anos JK – Uma Trajetória Política" (1981), "O Mundo Mágico dos Trapalhões" (1981), "Jango" (1984), “Marighella, retrato falado do guerrilheiro” (2001), “Glauber, labirinto do Brasil” (2003) e “Tancredo: A travessia” (2010).

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Silvio Tendler nas filmagens de O Mundo Mágico dos Trapalhões. Foto: Reprodução/Portal Caliban.

“A minha paixão por cinema vem daquela geração que tinha 14 anos em 1964. Era uma geração que teve a cabeça feita por Glauber, Godard, Truffaut, Joaquim Pedro, Leon. E eu me apaixonei por cinema”, diz Tendler no quinto episódio da série “Cineasta do Real”, criada por Amir Labaki e produzida pelo Canal Brasil. 

O velório está marcado para o domingo, dia 7, às 11h, no Cemitério Comunal Israelita do Caju, na capital fluminense. Silvio Tendler deixa a esposa, Fabiana Fersasi, a filha, a produtora Ana Tendler e um neto.

 

Quem foi Silvio? 

Nascido no Rio de Janeiro em 12 de março de 1950, Tendler começou seu trabalho como cineasta já na década de 1960, e em 1968 se tornou presidente da Federação de Cineclubes do Rio, segundo o portal da produtora Caliban. No mesmo ano, após conhecer o Marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata (1910), gravou seu primeiro documentário sobre o levante. O filme acabou queimado pela ditadura militar e nunca foi exibido.

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Silvio no Dep. de Comunicação Social da PUC/RJ - Anos 1980. Foto: Antônio Albuquerque/Núcleo de Memória PUC-Rio

Tendler chegou a se exilar no Chile e na França no período da ditadura militar brasileira, e passou a fazer filmes sobre o cenário político do país sulamericano, como “La Cultura Popular Vá!” (1973), sobre o governo de Salvador Allende, e “La Spirale” (1975), produzido na França sobre os eventos até o golpe de Estado chileno. No final da década de 1970, voltou ao Brasil e integrou a equipe docente do curso de Comunicação Social da PUC-Rio, onde lecionou por mais 40 anos. 

Em 1981, sua carreira ficou marcada pelo alcance de 1,8 milhão de espectadores que assistiram ao longa-metragem “O mundo mágico dos Trapalhões”, que explora a rotina do grupo de comédia mais famoso do Brasil, e até hoje tem o recorde de documentário com maior público nos cinemas. 

De família judia com raízes ucranianas e bessarabianas, ele viveu grande parte de sua vida na Tijuca e em Copacabana. Silvio lidava com problemas de mobilidade em consequência de uma grave doença desde 2012.

No instagram de sua produtora, há uma das citações de Silvio que é “para colecionadores”: “Luto pelos Direitos Humanos, pelos Direitos da Natureza, e faço da Arte instrumento de luta contra a fome e pela Justiça Social"

 

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