Campeonato da inclusão em BH busca visibilidade

Em entrevista, organizador da Copa Inclusão explicita a importância da diversidade no esporte
por
Beatriz Barboza
Giuliana Zanin
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29/08/2023 - 12h

No dia 20 de agosto, aconteceu a 1° edição da Copa Inclusão, no estádio Poliesportivo Dom Bosco, em BH. O evento reuniu oito equipes do futebol amador. “Como nunca tivemos condição de participar de um campeonato, decidimos nos juntar”, explica em áudio,  Victor Miguel, responsável pela organização da competição junto com Erick Estrela. Os precursores do projeto são homens trans, amantes do futebol e conscientes da falta de incentivo aos atletas não profissionais. 

A dupla fundou o Elite Futebol Clube, o primeiro time formado por homens trans do estado mineiro. “Nosso time é carente. A maioria não trabalha. Tem menino que nem tem chuteira. Ganhamos nosso primeiro uniforme de uma empresa que promove a parada LGBTQIA+”. Movidos pela ideia de que o “futebol é para todes”, Victor e Erick convidaram equipes femininas, LGBTQIAPN+ e periféricas para a disputa.  

Com poucos recursos, Victor se responsabilizou pela organização da equipe e pela promoção dos treinos. Recebeu doações de chuteiras para os meninos e recorreu à Prefeitura para conseguir um espaço para os treinamentos. A mesma força de vontade que o incentivou a promover o time, norteou-o a organização da Copa. O mineiro comemora que, o que antes era uma Copinha somente com os atletas, antes do engenho, havia 220 pessoas confirmadas. “Tomou uma proporção muito grande!”, ele afirma orgulhoso.

O criador do projeto afirma que, apesar de não ter conseguido muitos patrocinadores, recebeu apoio de jovens que ele guiou anteriormente. “Quando eu tinha 19 anos, eu treinava uma galera sub15 e o patrocinador é um desses meninos que, hoje, tem uma condição melhor que os demais e se dispôs a ajudar.” O patrocinador doou troféus à disputa.

Segundo o organizador, a competição é muito mais que um evento desportivo. “Não é só a Copa. Estamos promovendo um evento interligado à bandeira trans. O que é uma pessoa transgênero? O que ela carrega? Quais são suas dificuldades? Quais são os preconceitos?” A competição é símbolo de representatividade, diversidade e incentivo àqueles que, quando mais novos, não recebiam apoio e seguem fora do radar da profissionalização.

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Os atletas da Copa Inclusão competiram no último fim de semana./ Instagram 


PARA ALÉM DO FUTEBOL 

Para além das quatro linhas, o futebol é pertencimento e amizade. “Eu nunca tive contato com outros caras trans. Eu não tive amigos trans. Eu não tinha pessoas próximas para conversar. A principal parte de participar do time é a resenha.”, conta Theo Sander, 29 anos, professor de matemática que entrou no T Mosqueteiros, time paulista de futebol formado por homens trans.

Theo conta que, desde muito novo, é amante do futebol. Seu pai o incentivou a procurar uma escola preparatória, chegou a treiná-lo para ser goleiro, mas sua mãe não apoiou a ideia, afinal, “futebol não é para meninas”. “Eu falo para ela, hoje, que isso é uma das coisas que mais me machucou.”, desabafa o lecionador. 

O professor explica que, quando começou a pensar na transição, passou a acompanhar pela internet homens trans que já participavam do time. Theo hesitou em entrar em contato com a equipe por dois meses, mas em junho de 2022, acompanhou um treino do T Mosqueteiros. 

“Trazer para sociedade olhar o futebol não só com outros olhos mas enxergar as pessoas como ser humano. Se a pessoa é feliz jogando futebol, não tem porque julgar. Não só o futebol é inclusivo.A vida em si é inclusiva e as coisas podem ser inclusivas.”, afirma Victor Miguel.

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo