Bancos de investimentos crescem com empreendedorismo

Em um cenário com maior número de pessoas jurídicas e investidores, tendência é que o segmento seja cada vez mais procurado
por
Thiago Pereira
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01/06/2021 - 12h

Dia 18 de maio de 2021. Não parece, mas há um ano já enfrentávamos a maior crise de saúde pública dos tempos modernos: a pandemia de Covid-19. O coronavírus, causador da doença, e a situação de isolamento social trazida por ele exigiram que o mundo repensasse muitas coisas: gastos foram cortados, relações interrompidas e vínculos remanejados. Está provado que as medidas de distanciamento tomadas para conter a disseminação do vírus foram, e em alguns países ainda são, essenciais para ajudar o sistema de saúde  a lidar com a sobrecarga em uma pandemia. Contudo, embora necessárias, essas ações acabam por causar outros problemas, como o aumento do nível de desemprego.        

Seja por vontade própria ou por necessidade, a deterioração do mercado de trabalho foi um dos fatores principais que fizeram o brasileiro buscar novas alternativas de renda para o seu dia a dia, e o empreendedorismo e a interação no mundo dos investimentos vêm se destacando. Segundo Carlos Melles, diretor-presidente do Sebrae, para a revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, “o desemprego está levando as pessoas a se tornarem empreendedoras. Não por vocação genuína, mas pela necessidade de sobrevivência”. Segundo pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) com dados da Receita Federal, o número de novos registros como Microempreendedor Individual (MEI) bateu recorde em 2020, por exemplo. Foram 2,6 milhões de formalizações, a maior adesão dos últimos 5 anos. Junto das 7,5 milhões de micro e pequenas empresas, esse setor da economia representa 99% dos negócios privados do país. Ao mesmo tempo, no mesmo período, o total investido no Brasil por pessoas físicas não só cresceu, como bateu seu recorde: R$ 3,7 trilhões. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), o ritmo de crescimento do estoque dos investidores em 2020 foi de 13,4%, um dos maiores da história.

Mesmo que tenha crescido o número, isso não quer dizer que a aplicação deu resultado para o investidor. O mercado pode ser enganoso e traiçoeiro às vezes, e por isso é importante estar atento a alguns pontos antes de se investir em uma empresa, como as demonstrações financeiras, o balanço patrimonial e a relação entre a dívida bruta e o patrimônio líquido.

Além desses, outros fatores também influenciam na hora de estudar possíveis investimentos, e, dentro desse mercado, existe quem seja especialista nessa matemática não tão precisa. São os bancos de investimento. Os bancos de investimento têm um foco diferente dos bancos “convencionais”, e para ajudar a entender melhor como atuam, convidamos Lucas Bordonco, analista de mercado de capitais de dívida do Br Partners, um banco de investimentos independente brasileiro, fundado em 2019. Confira:

Como atua um banco de investimentos?

Existem dois tipos de banco: o tradicional e o de investimentos, que são chamados também de banco de varejo e banco de atacado, respectivamente. O banco tradicional atende, em sua maioria, pessoas físicas, enquanto o banco de investimentos foca em pessoas jurídicas. As áreas em que um banco de investimento atua são: investment banking, onde existe uma assessoria para bancos que estudam compras e fusões e um auxílio para empresas que desejam abrir capital na bolsa; debt capital markets, onde eu atuo ajudando a estruturar produtos específicos de dívida para empresas que querem e precisam de crédito para se financiar, fazendo a ponte entre essas empresas e os investidores. Tem também a área de sales e trading, que trabalha bastante com mercado de moedas, com produtos de juros e inflação, a mesa de operações. Essa parte oferece para o cliente proteção contra a variação dos preços de moeda, entre outras coisas. Enfim, existem diversas áreas, mas o principal ponto do banco de investimentos é realizar operações estruturadas, seja de crédito, seja de fusões ou aquisições, seja para combater a variação do câmbio, e geralmente sempre movendo grandes volumes.

 

Como a pandemia afetou o mercado de investimentos produtivos?

No momento em que a pandemia surgiu, assim como em outros grandes períodos de crise da história, o principal fator para o mercado como um todo se tornar menos produtivo é o fato de que os investidores, num ato para se proteger dos riscos altos de alguns tipos de investimento, acabam vendendo os mesmos e estes perdem valor, atingindo a bolsa de diversos países como um todo e fazendo cair as taxas de juros. No momento de retomada atual, já com a vacina, a inflação tem subido bastante, elevando novamente as taxas de juros e recuperando o mercado. Quem injetou dinheiro lá em março, logo após o início da pandemia, já ganhou muito com a valorização de ações, por exemplo.

Hoje, existe algum ramo de atividade que dê certeza de retorno para o investidor? Se sim, isso continua no futuro?

Essa é uma pergunta delicada, mas é seguro dizer que não existe um ramo que dê certeza absoluta de retorno, pois por maior e mais rica que seja a empresa em questão, são milhares os fatores que nós não podemos controlar e que podem interferir no valor dela. O que eu posso afirmar é que analisando o mercado e seus setores, fica mais fácil optar pelo investimento certo no momento certo. Por exemplo: atualmente, o dólar está nas alturas, então, investir em empresas que exportam provavelmente é um bom negócio, pois seus custos são cobrados em real e sua receita vem em dólar, ou seja, “valendo cinco vezes mais”. Como já disse, não existe uma empresa que dê certeza de retorno para o investidor, o que existe são oportunidades a serem aproveitadas. Apesar disso, o mercado de ações, se pensarmos no longo prazo, sempre tende a subir; mesmo que tenha existido um momento em que o coronavírus atingiu e derrubou a bolsa, no longo prazo, isso representa só uma pequena onda. Por isso, acho que o foco do investidor deve ser sempre no longo prazo, sempre balanceando sua carteira e não focando apenas em um tipo de ativo. É muito importante você ter um mix completo para o seu perfil como investidor.

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