Ministério da Saúde confirmou, nesta quinta-feira (09), 24 casos e cinco mortes na capital paulista
por
Juliana Bertini de Paula
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09/10/2025 - 12h

Desde o dia 18 de setembro, diversos quadros de intoxicação por metanol têm sido relatados por hospitais de diferentes estados. Nesta quinta-feira (09), o Ministério da Saúde divulgou um novo balanço, com 5 mortes e 24 casos confirmados em tratamento. Outros 235 são investigações apenas na cidade de São Paulo. Outros casos também despontaram em diversos estados do Brasil, bem como em São Bernardo do Campo e outras cidades da Grande São Paulo.

A intoxicação é provocada pela ingestão de metanol em bebidas adulteradas. Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Piauí, Espírito Santo, Goiás, Acre, Paraíba e Rondônia também investigam casos de intoxicação. Paraná e Rio Grande do Sul confirmaram ocorrências.

Entre as mortes confirmadas estão Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46 anos e Marcelo Lombardi, de 45 anos, moradores de São Paulo, além de Bruna Araújo, de 30 anos, de São Bernardo do Campo, e Daniel Antonio Francisco Ferreira, 23 anos, de Osasco.

Na capital paulista, em 30 de setembro, 7 locais foram alvo de investigação da vigilância sanitária. Em dois deles foram encontradas bebidas com metanol. Mais 11 estabelecimentos foram interditados. O bar Ministrão, na Alameda Lorena, nos Jardins, e o bar Torres, na Mooca, foram fechados temporariamente. Seis distribuidoras e um bar em São Bernardo do Campo também foram interditados.

Bar Ministrão, nos Jardins. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Bar Ministrão, nos Jardins. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O que dizem as autoridades?

Nesta segunda-feira (06), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), realizou uma coletiva de imprensa, junto com representantes das secretárias de Saúde, Segurança Pública, Justiça e Cidadania, Desenvolvimento Econômico, Fazenda e Planejamento. Além deles, estavam presentes representantes do ramo de bebidas, que auxiliaram no treinamento de agentes públicos e comerciantes para a identificação de falsificações.

Durante a entrevista, o governador contrariou as declarações do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e descartou a possibilidade de envolvimento de facções criminosas na adulteração de bebidas, sem revelar qual a hipótese que está sendo seguida pela polícia paulista. Tarcísio foi criticado por brincar com a situação dizendo que “quando falsificarem Coca-Cola, vou me preocupar”. No dia seguinte, em suas redes sociais, Freitas publicou um vídeo no qual pedia desculpas pela afirmação.

Em fevereiro deste ano, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgou que 13 bilhões de litros de bebidas adulteradas são comercializados ilegalmente todos os anos, com perdas fiscais que podem chegar a R$ 72 bilhões, sendo a segunda maior fonte de renda das facções de crime organizado, que perde apenas para combustíveis adulterados.

O Fórum destaca ainda a prática ilegal conhecida como refil, quando há reutilização de garrafas para envasamento de bebidas falsificadas. Só em 2023 foram apreendidas 1,3 milhão de garrafas do tipo. Há também anúncios online de venda de garrafas vazias com rótulos das bebidas. Além disso, em 2016, durante o governo de Michel Temer, o Sistema de Controle de Produção de Bebidas, o Sicobe, foi suspenso sob alegação de altos custos de manutenção (R$ 1,4 bilhão ao ano), o que tornou a fiscalização federal inexistente e realizada por meio de autodeclaração dos bares.

Em nota para a AGEMT, a Secretária Municipal de Saúde de São Paulo disse que “as ações da Vigilância Sanitária do município são constantes, com fiscalizações em comércios varejistas (restaurantes, bares, adegas, lanchonetes, entre outros) e distribuidores/atacadistas de bebidas, na verificação da procedência da bebida: se há nota fiscal de aquisição, lacre de segurança, integridade e legibilidade da rotulagem, se apresenta todas as informações obrigatórias (dados do fabricante/importador, lote, registro no órgão oficial), bem como a manipulação. A pasta está intensificando ações em comércios junto à vigilância estadual e à Secretaria de Segurança Pública.”

A Secretaria de Segurança Pública não se pronunciou para a AGEMT. O espaço segue aberto.

Sintomas e tratamentos

Em entrevista à AGEMT, o farmacologista e toxicologista Maurício Yonamine conta que a rapidez para o atendimento médico é o fator mais crítico para a chance de recuperação em caso de intoxicação por metanol. “O prognóstico é melhor quanto mais rápido for o diagnóstico e o início do tratamento, pois o tempo é o que permite que os subprodutos tóxicos (principalmente o ácido fórmico) se acumulem e causem danos irreversíveis.”

Maurício Yonamine, toxicologista formado pela USP. Foto: Reprodução/RevSALUS
Maurício Yonamine, toxicologista formado pela USP. Foto: Reprodução/RevSALUS

 

Maurício conta que o principal problema do metanol é que ele deixa o sangue extremamente ácido e, após ser metabolizado pelo fígado, gera subprodutos extremamente tóxicos, principalmente o formaldeído e o ácido fórmico. “O acúmulo desses metabólitos, especialmente o ácido, interfere na função celular, ataca nervos e órgãos.”

Os sintomas de intoxicação por metanol nas primeiras horas podem ser confundidos com uma ressaca forte, náuseas, dor abdominal, tontura e dor de cabeça. Muitas vezes, os sintomas são leves, o que atrasa a procura por atendimento médico. “Os sintomas iniciais podem ser traiçoeiros”, diz Yonamine.

Depois, começam aparecer os sintomas mais fortes, resultado do ácido fórmico que tem uma afinidade particular pelas células do nervo óptico. Entre eles estão a visão turva, a fotofobia e a aparição de pontos luminosos. Além disso, o sangue ácido causa respiração acelerada, fraqueza, confusão mental e sobrecarga no coração e nos pulmões.

Se não tratado com urgência, o quadro evolui para complicações graves em até 48 horas. O ácido atinge o sistema nervoso central, podendo causar convulsões, rebaixamento de consciência, coma e arritmias cardíacas. A partir disto, os danos passam a ser sistêmicos: coração, pulmões e rins entram em colapso progressivo, consequência direta da acidose metabólica (sangue ácido) severa e da sobrecarga tóxica. É nesse momento que o risco de morte se torna elevado e, mesmo com tratamento, as chances de cura caem drasticamente. 

No sábado (05), o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou a compra de 2,6 mil antídotos para a ingestão de metanol durante uma coletiva de imprensa em Teresina. O medicamento chamado fomepizol não possui registro no Brasil e foi comprado de maneira emergencial, juntamente com a Organização Panamericana de Saúde, de um fabricante japonês, Daiichi Sankyo. 

 

 

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Ativo desde 2011, canal produzia conteúdos sobre a Universidade de forma educativa, contava com mais de 100 mil inscritos e ficou 12 dias fora do ar
por
Khauan Wood
Victória da Silva
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01/10/2025 - 12h

Perfil da TV PUC, canal Universitário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) no YouTube foi reativado pela plataforma na tarde desta quarta-feira (01) após ter sido retirado do ar sem aviso prévio ou justificativa no último dia 19 de setembro.

A conta tem um importante e extenso acervo histórico e cultural da instituição. 

Em publicação realizada em seu Instagram oficial, a Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da PUC-SP, denunciou no dia 30 de outubro que o canal havia sido simplesmente retirado da grade da plataforma repentinamente.

Ainda na publicação, a instituição informou que a empresa, que é ligada ao Google, enviou apenas um e-mail informando que a retirada seria causada por descumprimento das regras e diretrizes da plataforma, sem detalhar de que se tratava, acrescentando que as políticas de spam, práticas enganosas e golpes não teriam sido seguidas.

A Universidade abriu uma contestação dentro da plataforma, em que constava um prazo de 48 horas para o retorno. Após o prazo, uma nova mensagem enviada dizia que uma nova resposta seria dada dentro de 24 horas. Mas esses prazos não foram respeitados, o que motivou a denúncia nas redes sociais que mobilizou a comunidade acadêmica.

O time da TV PUC afirmou à Agemt que tudo começou quando um dos integrantes da equipe tentou gerar um link para uma live, mas a página não abria corretamente. Em seguida, eles receberam uma notificação de que o perfil havia sido retirado do ar.

Também em entrevista à Agemt, Julio Wainer, professor da PUC-SP e diretor da TV PUC, relata que em anos de canal, nunca receberam sequer uma advertência. O diretor contou que houve avisos pontuais sobre conteúdos com direitos autorais, que foram retirados imediatamente.

Ainda segundo ele, a equipe jurídica da Fundasp esteve em contato direto com a plataforma durante todo o período de inatividade para tentar reaver o canal. 

De acordo com a Fundasp, a TV PUC existe desde 2007, mas publica vídeos regularmente desde 2011. O canal contava com mais de 5 mil publicações e já ultrapassara o número de 100 mil inscritos.

Ao publicar novamente o canal, a plataforma enviou mensagem à TV PUC desculpando-se pelo ocorrido. Os responsáveis pelo canal ainda avaliam se todo o conteúdo e os seguidores da página foram mantidos.

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A TV PUC produz conteúdos ativamente há 14 anos. Foto: Victória da Silva

O conteúdo do canal universitário é diverso e produzido por professores e alunos. Sobre isso, o diretor da TV PUC afirma que o canal possui “de tudo um pouco”, já que conta com trabalhos institucionais de alunos e professores sobre temas variados, além de lives e programas. 

“Tudo que nós produzimos, nós colocamos lá como repositório para ir acumulando visualizações e as pessoas ficarem sabendo”, contou. O canal tem como missão promover os assuntos debatidos na universidade, mostrando o que é feito para diferentes cursos e com o que os alunos têm engajado na rotina universitária.

A TV PUC também acompanha palestras e outros acontecimentos da universidade e publica os eventos na íntegra, além de resumi-los em outros vídeos com depoimentos dos participantes. A recepção de calouros, que acontece todos os anos e recebe figuras importantes no Tucarena para a abertura do semestre, é um exemplo dos vários registros que o canal tinha antes da retirada.

Falas de personalidades históricas, professores e intelectuais foram derrubadas após a retirada do canal do ar, além de documentários relevantes e outros materiais importantes para a história da PUC-SP apagados pela plataforma ainda sem justificativa.

A TV PUC também tenta trazer os estudantes para as telas e enxergar a PUC-SP a partir do olhar deles. Para isso, as matérias sempre contam com entrevistas e conversas com os alunos que se envolvem nas diferentes atividades que ocorrem durante o ano. Os vídeos são informativos e promovem pautas científicas, culturais e políticas.

O professor do curso de jornalismo, Aldo Quiroga, destacou em um vídeo em seu perfil no Instagram que a Roda de Conversa com os vencedores do Prêmio Vladimir Herzog, em que os jornalista contam como as reportagens vencedoras foram realizadas, também é um dos exemplos dos conteúdos “sequestrados pelo Youtube”, na derrubada do canal. É a TV PUC quem faz a transmissão anual da Roda de Conversa Vladimir Herzog e do Prêmio que também leva o nome do jornalista morto pela ditadura militar.

No vídeo, Quiroga também ressalta a influência das Big Techs sobre o Congresso Nacional para impedir a regulamentação dessas empresas pela sociedade civil, que se encontra refém de decisões como essa.

Em nota enviada à Agemt, o Google afirmou que está apurando o motivo do encerramento do canal e que retornaria em breve. O espaço segue aberto.

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Embora sem data definida, a bandeira chinesa estará no mercado ainda esse ano
por
Lucca Cantarim dos Santos
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03/10/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Os cartões da bandeira de pagamentos chinesa UnionPay chegam ao Brasil em 2025. Detendo cerca de 40% do mercado global em transações com cartões, o que é mais do que as norte-americanas Mastercard e Visa juntas, a empresa oferece uma alternativa para os Brasileiros. Segundo o financista José Kobori, a iniciativa representa uma oportunidade de “descolonizar” o mercado financeiro, justamente por diversificar o setor no País, essa discussão ganha mais potência com as recentes taxações e tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, essa tensão levantou questionamentos sobre o grau de dependência do mercado financeiro brasileiro nos estadunidenses.

Kobori, o responsável pela vinda desta forma de pagamento tem uma história que se relaciona diretamente com sua movimentação atual. O economista era conhecido por ter uma visão neoliberal de mercado, principalmente, diz ele, por estar inserido nesse setor. Em entrevista ao podcast "Market Makers", o financista conta os motivos que o fizeram mudar completamente sua visão de mercado, e por consequência, abandonar o neoliberalismo. 

O economista alega que sempre gostou de se informar e procurar pensadores com opiniões diferentes das que ele tinha, e como naquele momento era possível dedicar mais tempo a isso, ele começou a ler cada vez mais autores diversos, como autores Keynesianos.

No entanto, o maior ponto de ruptura do financista com o neoliberalismo, foi o momento em que ele começou a sair na rua e perceber com olhos mais atentos a desigualdade. Ele conta aos entrevistadores a história do dia em que saiu para almoçar, e de dentro do carro, viu um jovem comendo lixo na rua, essa experiência o levou às lágrimas, e fez com que Kobori começasse a se questionar de como era possível existir um sistema que funcionasse tão bem para ele, mas não para as outras pessoas.

Diferencial da UnionPay

Um dos diferenciais da UnionPay, é o fato de seus cartões operarem fora do sistema “SWIFT”, sigla para “Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication”, ou Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, em português.

O SWIFT é um sistema de transações internacionais que permitem o envio de dinheiro de um país para outro, em síntese, cada banco tem um código em seu respectivo país. O problema é, que por ser gerenciado majoritariamente pelos Estados Unidos, em caso de sanções ou remoção de um banco do sistema, vários brasileiros seriam afetados.

E é justamente por operar fora do SWIFT, que a UnionPay dá à população brasileira mais opções para transferências internacionais, permitindo que sejam feitas e recebidas mesmo que em um possível cenário de sanções ou tensões geopolíticas, como afirma Cristina Helena, professora de economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Ou seja, em um cenário onde os conflitos com Trump se agravem e o Brasil acabe sancionado, usuários do cartão Union Pay não seriam afetados, e poderiam continuar recebendo e enviando dinheiro livremente para outros países.

Outro diferencial que chama a atenção, e pode ser crucial para a competitividade da bandeira no mercado é a possibilidade de redistribuição de receita, segundo informações da Contec, será possível reverter parte das taxas cobradas nas transações para causas sociais escolhidas pelo usuário. Taxas essas, que no caso de cartões de crédito de bandeiras norte-americanas, como American Express; Visa e Mastercard são taxas de câmbio, que vão diretamente para os Estados Unidos.

Os Desafios

O maior desafio enfrentado pela empresa é a aceitação ampla, segundo Cristina, além da compatibilidade com as fintechs e bancos digitais e de lojistas habilitarem essa forma de pagamento, a ideia de um cartão chinês no país ainda levanta muita suspeita e desconfiança entre os brasileiros, embora a China seja um dos maiores parceiros comerciais do Brasil na atualidade, levando em consideração sua presença no BRICS.

No entanto, as operações da UnionPay serão supervisionadas pelo Banco Central, segundo confirmado pelo Ibrachina, a bandeira deverá cumprir normas de operação, submeter-se à fiscalização do BC e precisará de autorização regulatória, assim como toda e qualquer bandeira em operação dentro do território nacional.

Outro ponto a se levar em consideração, é se a entrada de um sistema novo no mercado de crédito, principalmente em meio à tensões e conflitos geopolíticos com os Estados Unidos, não poderia significar uma troca de monopólio. A professora Cristina acredita que não, devido à robustez do sistema financeiro brasileiro, mas também alerta que caso essa integração não seja diversificada e balanceada, o Brasil corre o risco de se manter dependente de uma potência estrangeira.

Os cartões não têm data definida para serem completamente integrados no mercado financeiro brasileiro, embora esteja confirmada para chegar ainda em 2025. Mas já são aceitos em grandes centros turísticos, como Salvador, Rio e São Paulo através de terminais parceiros (Rede e Stone), além disso, como comparação, a bandeira tem alta taxa de aceitação nos Estados Unidos, somando 80% dos estabelecimentos e 90% dos caixas eletrônicos brasileiros.

 

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Estúdios acusam a plataforma de IA de violar direitos autorais ao permitir a criação de imagens com personagens protegidos.
por
Lucca Andreoli
Henrique Baptista
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17/06/2025 - 12h
Logo da Midjourney
Logo do serviço de IA Midjourney. Reprodução

A Walt Disney Company e a Universal Corporation, dois dos maiores estúdios de Hollywood, abriram no dia 11 de junho um processo conjunto contra o Midjourney — um serviço de inteligência artificial criado e desenvolvido pelo laboratório de pesquisa independente, Midjourney, Inc. —  na U.S. District Court for the Central District of California. O serviço de inteligência artificial está sendo acusado de utilizar propriedade intelectual dos estúdios sem autorização.

Segundo a ação, o Midjourney usou de forma “intencional e calculada” obras protegidas — como personagens de Star Wars (Darth Vader, Yoda), Frozen (Elsa), The Simpsons, Marvel (Homem-Aranha, Homem de Ferro), Minions, Shrek e O Poderoso Chefinho — para treinar seus modelos e permitir a geração de imagens derivadas altamente similares.

 

Disney e Universal afirmam que já haviam solicitado que a plataforma bloqueasse ou filtrasse esse tipo de conteúdo, mas não foram atendidas. Para a vice-presidente jurídica da NBCUniversal, Kim Harris, “roubo é roubo, independentemente da tecnologia usada”.

A petição descreve o Midjourney como um “poço sem fundo de plágio”. Estima-se que a plataforma tenha gerado cerca de 300 milhões de dólares em receita em 2024, contando com mais de 21 milhões de usuários.

Os estúdios pedem uma liminar para impedir novas infrações e uma compensação financeira — que pode ultrapassar os 20 milhões de dólares. Horacio Gutierrez, diretor jurídico da Disney, declarou: “Pirataria é pirataria — o fato de ser feita por uma IA não a torna menos ilegal”.
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Além disso, a ação se insere em um cenário crescente de disputas semelhantes — como os casos envolvendo a Stability AI, a OpenAI e o New York Times. Também aponta para a criação de um serviço de vídeo de IA que em breve poderá criar clipes animados com materiais não autorizados, ampliando ainda mais os riscos à propriedade intelectual e ao controle de suas criações. O processo reforça a pressão por regulamentações mais claras que protejam a criatividade humana frente ao avanço da IA.

A preocupação no meio artístico a respeito das inteligências artificiais é um tema crescente que já gerou polêmicas anteriormente, como a questão das fotos “estilo estúdio Ghibli” no início deste ano. 

O processo representa um marco legal na relação entre Hollywood e a inteligência artificial. É o primeiro grande embate judicial do tipo envolvendo empresas de entretenimento, e pode abrir precedente para que outras companhias exijam licenciamento prévio ou filtros automáticos em ferramentas de geração de imagens.

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Banda faz uma pausa na carreira, suspende shows em novembro e apresentação na COP30
por
Lucca Andreoli
João Pedro Lindolfo
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26/05/2025 - 12h
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023 Imagem: Raph_PH
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023
Imagem: Raph_PH

A banda Coldplay cancelou a turnê que faria no Brasil em novembro deste ano, que incluiria cerca de dez apresentações. De acordo com o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o grupo decidiu fazer uma pausa na carreira e, por isso, suspendeu toda a agenda na América do Sul. 

No entanto, não houve pronunciamento ou qualquer confirmação oficial até agora. A banda era aguardada para uma apresentação na COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém (PA). 

Em 2022 a banda passou pelo festival Rock in Rio e em 2023 esteve no Brasil pela última vez para 11 shows. A apresentação na COP30 seria a primeira vez da banda no Pará, algo que Chris Martin, vocalista do grupo, já demonstrava interesse. 

No ano de 2021, em uma postagem no X (antigo twitter) sobre ações climáticas, o cantor mencionou o governador do Pará, Helder Barbalho, convidando-o para assistir ao show deles no Global Citizen.

Durante a passagem da banda no Brasil em 2023, os integrantes tiveram um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que o convite para a COP30 foi feito.

Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023— Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução
Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023 — Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução

De acordo com o colunista, a apresentação em Belém ainda deve acontecer, informação garantida pelo governo paraense. A dúvida que resta é se Chris Martin estará sozinho ou acompanhado pelo grupo.

por
Bruna Galati e Leticia Galatro
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23/03/2020 - 12h

A 20ª edição do reality show da TV Globo tomou conta das redes sociais. Grande parte da discussão vem das estratégias de marketing adotadas pelos participantes, principalmente Bianca Andrade e Manu Gavassi. A estratégia foi convidar personalidades da internet para participar ao lado de anônimos, trazendo não apenas a renovação da audiência do programa, mas também grandes lições de marketing digital para o mercado.

Os famosos do BBB 20 encontraram maneiras de continuar ganhando dinheiro, influência e até dar uma melhorada na carreira mesmo isolados do convívio social e virtual. Eles possuem grande alcance no mundo digital, mas existem pessoas que não são atingidas com seus canais, mas que continuam sendo um público consumidor interessante.

Um exemplo é a carioca, Bianca Andrade de 25 anos, conhecida popularmente na internet como Boca Rosa. Começou no Youtube e hoje contabiliza 10 milhões de seguidores. Ela lançou uma linha de cosméticos que é vendida em lojas de departamentos de todo o país.

Escolheu ir para o Big Brother como uma forma de fazer propaganda da sua linha, sem custo financeiro e em rede nacional, diante de uma audiência que ela nunca alcançaria no digital. 
O Big Brother marcou 28 pontos na Grande São Paulo (cada ponto equivale a pouco mais de 74.987 domicílios no Kantar Ibope), o recorde do programa até fechamento desta reportagem. E de acordo com a blogueira, a venda de seus produtos, triplicaram enquanto ela estava confinada. Bianca também deu uma ajudinha, fazendo um tutorial de make dentro do programa, usando apenas seus produtos.

Além disso, a equipe da blogueira aproveitava para compartilhar no Instagram todos os looks, planejados e fotografados previamente, que ela utilizava no programa. Ao ser eliminada, a própria Bianca contou nos stories do seu Instagram que ela memorizou as roupas e makes que tinha que usar a cada semana. As cores das roupas dela combinavam com a cor das postagens no feed da semana, o que remetia a um produto de sua marca, já que ela usava um batom que combinasse com o look.

No caso de Bianca, o consumidor que a vê utilizando o produto no BBB, consegue descobrir qual é esse produto e perceber seus efeitos na pele. Gostando do que assiste pode comprá-lo no mesmo momento, acessando o Instagram. Uma verdadeira aula de consumo digital. 

Várias plataformas integradas

Escrever uma narrativa transmídia é agregar várias plataformas de comunicação, que entrelaçadas geram diversos conteúdos digitais com forte impacto de compartilhamento.  E embora esse termo já exista há 10 anos cunhado pelo pesquisador norte-americano Henry Jenkins (http://henryjenkins.org/), atualmente, ele apresenta mais recursos para transcender essa mensagem.
Vale mencionar que a história aplicada à transmídia deve apresentar em seu contexto os valores de alguma marca e não apenas a trajetória da pessoa. É necessário que valores e enredo estejam aliados de forma interessante e atraente. Produzir conteúdo transmídia não é uma tarefa fácil, mesmo porque requer conhecimento em diversas áreas: marketing, design, cinema e jornalismo. 

Quem também está usando dos recursos transmídia é a Manu Gavassi, que fez sucesso em 2010 com a sua música Garoto Errado (https://www.youtube.com/watch?v=OeczcR5zKfo). Entrou no programa com o objetivo de se descobrir, entender quem é "Manu Gavassi", a própria chamou o BBB de "Retiro espiritual" (https://www.youtube.com/watch?v=kyhnChgDZK4). Um pouco sumida dos holofotes, Manu voltou com tudo em 2018, investindo na produção de conteúdo autoral para seus canais na internet, ganhando o status de influencer, pessoa capaz de influenciar o comportamento e opinião de milhares de pessoas por meio do conteúdo que publica em seus canais de comunicação, como Facebook, Instagram, Twitter e YouTube. Seu principal projeto do ano foi uma websérie para o Youtube chamado "Garota Errada", em que tira sarro de sua própria trajetória de ídolo teen. 
Manu também se planejou para o reality e deixou gravado novos episódios da websérie, onde respondia perguntas que o público teria quando a visse no programa, como quem ela é e porque ela foi para o BBB. 
Todo o conteúdo foi produzido de forma cronológica e fortemente trabalhado no storytelling (capacidade de contar histórias de maneira relevante), onde os recursos audiovisuais são utilizados juntamente com as palavras. É um método que promove o seu negócio sem que haja a necessidade de fazer uma venda direta), para dialogar com o tempo de confinamento da cantora. 
Manu também apela para o lado dos memes, suas frases e poses típicas no programa viralizam no exato momento que são faladas ou feitas. Consequentemente, as pessoas sentem a curiosidade de saber quem é essa pessoa e vão atrás do seu Instagram (https://www.instagram.com/manugavassi/?hl=pt-br). A cantora começou no programa com 5 milhões de seguidores e hoje está com 9 milhões. Os novos episódios da websérie não passaram de um marketing de vendas de produtos para construir e qualificar a audiência até que estivessem preparados para “comprar” sua música.

Para falar mais sobre o assunto entrevistamos duas jornalistas. Rosa Santos, especialista em Marketing Digital e sócia da agência de comunicação digital Original Marketing e Media e Priscila Fonseca que trabalha há 3 anos como assessora de comunicação da SMPED

O que você achou sobre a estratégia do BBB20 de convidar celebridades?

Rosa: Logo que saíram as primeiras informações de que o Big Brother Brasil 20 seria uma mistura de convidados celebridades e pessoas que tinham se inscrito, eu fui uma das pessoas que falei "nossa, mas é muito injusto essa disputa, porque a pessoa tem um público muito grande aqui fora, para que precisa disso?", só que me enganei. Acho que foi uma receita que deu super certo, já que desde o Big Brother 10 a gente não tinha uma temporada tão boa em termos de estratégia e de elenco. Isso se deve muito por conta do time todo, são pessoas de personalidade muito forte. E falando dos famosos, cada um que entrou já tinha traçado todos os seus objetivos, tudo o que eles queriam. Tudo foi muito planejado com as equipes, o objetivo pelo qual eles entraram, porque obviamente não é pelo dinheiro, eles quiseram ser mais reconhecidos em um outro nível, sair da internet para ir para uma mídia de massa, que eles não conseguiriam só com a internet restrita. Acho que foi um grande desafio, foram corajosos, muito corajosos.

Por que você acredita que a produção resolveu optar por chamar influencers para esse BBB?

Rosa: O Big Brother está na 20 edição e a dinâmica do programa todo mundo já tinha conhecimento. Como vinham os times, que tipo de pessoa que poderia estar, é uma receita que já estava pronta. Eu acho que por ser uma edição histórica, a direção quis fazer uma coisa completamente diferente, então como poderia ser mais diferente do que você convidar pessoas que influenciam outras, pelo seu trabalho. Foi uma estratégia que funcionou demais, que fez muita gente errar nessa avaliação inicial de que por eles serem conhecidos, eles já teriam vantagens na frente dos anônimos, o que desde o começo a gente viu que não seria assim. Eles conseguiram se renovar, conseguiram dar ao programa o que tinham perdido nos últimos 10 anos, que era a torcida vibrando com as atitudes, conquistas e derrotas dos participantes. O Twitter está pegando fogo por causa do programa e todos estão falando dessa edição, foi um tiro mais que certeiro. 

Quem dos influencers que estão no BBB teve a melhor estratégia de marketing? 

Rosa: Só vamos saber se a estratégia deles deu certo, à medida que eles forem saindo. Então vamos usar o exemplo da Bianca Andrade que entrou na casa, se jogou e acho que ela realmente esqueceu que estava em um programa. Ela foi absolutamente ela mesmo, sem frase feita, sem textinho, sem coach. Entrou para fazer o dela, que era mostrar as maquiagens, mostrar como produzir, ela entrou com uma estratégia perfeita. A cada paredão ela estava com um look que simultaneamente era postado no seu Instagram, tudo estava organizado, ela deixou uma série de fotos prontas até o final do programa, organizou lançamentos. A Bianca acabou de fazer um lançamento de páscoa que se ela tivesse dentro da casa rolaria do mesmo jeito. A exposição no caso dela foi um ponto negativo, ela foi extremamente criticada por uma série de motivos, mas a estratégia dela não deu errado, porque ela conseguiu a meta dela que era chegar nos 10 milhões de seguidores, conseguiu vender três vezes mais os produtos dela, conseguiu zerar estoque e está conseguindo fazer os lançamentos que estavam previstos dentro do que ela imaginava. Mas ocorreram casos opostos também. Como o do Petrix Barbosa(https://www.instagram.com/petrixbarbosa/?hl=pt-br), um ginasta premiado, que entrou e acabou muito queimado. O objetivo dele também era ser conhecido nacionalmente, só que ele se enfiou numa enrascada lá dentro e foi muito detonado. Quando ele saiu, ele teve uma estratégia boa para lidar com a situação que foi bastante positiva, mas com certeza ele teve mais prejuízo do que benefício na passagem dele pelo Big Brother.

Qual é o impacto do Instagram nesse processo? 

Rosa: O impacto é para todos, não só os influenciadores. Ao exemplo da Marcela, médica que logo no começo do programa ganhou a preferência do público. Ela passou de 26 mil seguidores para um milhão muito rapidamente. A semana passada atingiu 4 milhões, só que por uma série de fatores que o público começou a criticá-la, ela perdeu muito seguidores, tiveram que inclusive apagar o post dos 4 milhões. Ela perdeu 500 mil seguidores em algumas horas. Daí você já começa a perceber como as atitudes lá dentro influenciam aqui fora. Para os famosos, por mais que isso aconteça, a coisa não é tão vertiginosa porque eles já entraram com muitos seguidores. Impacta, mas não tanto. A Manu lançou álbum e uma turnê já esgotada, dentro do Big Brother, além de deixar vários vídeos gravados. Não dá para dizer que é ruim. 

Qual o lado negativo de ser uma influencer e estar em um programa desses?

Rosa: Uma coisa é fato, você estar em um reality show confinado por três meses, com pessoas diferentes de você, seja você anônimo ou famoso, é uma exposição que você topa ciente de todos os riscos que você corre nessa situação. Quando você é um influenciador ou uma pessoa famosa o risco é muito maior porque você tem muito a perder. O anônimo vai voltar para vida dele, mas daqui a algum tempo a gente já esqueceu essas pessoas porque isso é normal. Já quando você é uma pessoa famosa, uma influenciadora, dependendo de como foi sua passagem por esse programa você pode ter muito a perder. 

Você acredita que uma pessoa que não tem condições de comprar os produtos e roupas que as influencers usam, se sente afetada ao ver o BBB? 

Priscila: De verdade eu acredito que não, acho que depende muito. Até porque os próprios produtos das influencers são vendidos a preço popular. Os produtos são vendidos tanto em lojas de grife, quanto em lojas com preço popular. Por exemplo Renner, Riachuelo, C&A, que são marcas mais populares, vendem os produtos que as influencers usam. No caso da Boca Rosa, também estão em lojas da 25 de março, em lojas de cosméticos mais comuns. 

Como montar as redes sociais de forma de que essas sejam fiéis ao perfil dos influencers e seus produtos?

Priscila: O mais importante é aquela estratégia de marketing da persona, de você saber para quem esse produto está sendo direcionado e quem você quer alcançar. É importante também ser transparente e honesta com o seu público, o seu papel é sempre trazer a informação de uma forma correta, verdadeira e de uma forma extremamente única. O conteúdo ainda é o essencial e o influencer precisa focar na parte do engajamento que é desde as visualizações, até os compartilhamentos do seu perfil, se algumas postagens também estão sendo salvas e estão trazendo de fato algum tipo de interesse em cima disso. 

 

Big Brother Brasil 

O Big Brother Brasil é um reality show produzido e exibido pela Rede Globo. Os competidores ficam confinados em uma casa cenográfica, sendo vigiados por câmeras 24 horas por dia, não podendo se comunicar com seus parentes e amigos, ler jornais ou usar de qualquer outro meio para obter informações externas. O programa dura 3 meses. A eliminação dos participantes ocorre semanalmente pela votação do público, através do paredão indicado pela casa. O vencedor ganha R$1,5 milhão.


 

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Isabella Mei de Lima Marossi e Giovanna Morais de Almeida
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21/11/2019 - 12h

Por Isabella Mei e Giovanna Morais de Almeida 

As queimadas começaram nas últimas semanas de agosto em pontos isolados no Centro-Oeste e Norte do país, ganhando repercussão mundial no dia 19 de setembro, quando a fuligem das queimadas trazidas pelo vento escureceu o céu de São Paulo. 

O estado de Rondônia foi um dos mais atingidos pelas queimadas e o primeiro a decretar estado de emergência pelos inúmeros pontos de incêndio, que segundo o Corpo de Bombeiros tiveram aumento de 370% referente à mesma época no ano passado. A alta concentração de fumaça fez com que a cidade de Porto Velho fosse encoberta pela densa fumaça dos incêndios que acontecem na região e que podem ser observados do espaço, como apontam imagens dos satélites de monitoramento da NASA.  

Queimadas na Amazônia - Foto aérea mostra fumaça em trecho de 2 km de extensão de floresta, a 65 km de Porto Velho, em Rondônia — Foto: Carl de Souza/AFP
Queimadas na Amazônia - Foto aérea mostra fumaça em trecho de 2 km de extensão de floresta, a 65 km de Porto Velho, em Rondônia — Foto: Carl de Souza/AFP

O mês de agosto registrou o maior número de queimadas desde 2010, 19% acima da média estipulada durante os últimos 21 anos. Recentemente foi divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que até o dia 23, segunda-feira, foram registrados 21.761 focos de queimada na Amazônia.

Em seis de agosto de 2019, o presidente Jair Bolsonaro se autodeclarava o “capitão motosserra”, em relação ao aumento agressivo do desmatamento da Amazônia, divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial). Os números que vêm sendo levantados desde junho não param de subir, causando cada vez mais degradações à pauta do meio ambiente.

Foi a partir das falas agressivas e despreocupadas de Bolsonaro que o “Dia do Fogo” trouxe mais problemas para a questão ambiental, que já não ia nada bem. Em 10 e 11 de agosto, um grupo de fazendeiros e empresários da região de Novo Progresso, no Pará, apontados como os organizadores do crime pela operação “Pacto de Fogo” da Polícia Civil e pela reportagem do Repórter Brasil, atearam fogo em grande parte da área florestal, pelo percurso da BR-163. A partir desse dia, a Amazônia que já estava queimando, teve o número de queimadas substancialmente aumentado por focos de incêndio em reservas florestais das cidades paraenses de Novo Progresso, Altamira e São Félix do Xingu.

No mesmo dia foram registrados 124 pontos de incêndio em Novo Progresso, com aumento de 300% ao dia anterior. Já em Altamira, registram-se 154 focos de incêndios ativos entre 6 e 8 de agosto, e entre 9 e 11 de agosto foram marcados 431 pontos, aumentando 179% em três dias. São Félix do Xingu apresentou aumentos mais significativos ainda: entre 6 e 8 de agosto, o município registrou 67 pontos de incêndios, já nos três dias seguintes, foram 288 focos – aumentando 329%.

As queimadas são consideradas comuns em territórios florestais, pois são tidas como “liberadores” de espaço para criação de pastagem de gado. 17 dias após o incidente do “Dia do Fogo” em 27 de agosto, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou em reunião com Jair Bolsonaro, que eram apenas queimadas " de floresta para fazer pasto. O sujeito vai lá, desmata, queima, faz um pasto e aluga a área para um produtor rural”. E a Amazônia continuava queimando. 

Segundo Danicley Aguiar, da campanha Amazônia do Greenpeace “os que desmatam e destroem a Amazônia se sentem encorajados pelo discurso e pelas ações do governo Bolsonaro que, desde que tomou posse, tem praticado um verdadeiro desmonte da política ambiental do país”. A política bolsonarista em relação ao meio ambiente tem sido bastante omissa, tendo em vista que o orçamento federal para o Ministério do Meio Ambiente caiu 10%, saindo de 625 milhões para 561, e quanto à verba repassada para o setor de controle de incêndios caiu 34%, saindo de 45,5 milhões para 29,6. Bolsonaro, desde a campanha presidencial, prometia cortar investimentos aos fundos de proteção ao meio ambiente, além de flexibilizar as leis ambientais, favorecendo grupos de exploração.

O Ministério Público se encarregou de investigar os incêndios, e o uso da Forças Armadas na região desmatada foi autorizado pelo Presidente Jair Bolsonaro, em 24 de agosto, o auge da crise incendiária. Em 20 de setembro o uso dessas forças foi prorrogado até 24 de outubro.

Em setembro, o Ministério da Defesa divulgou atualizações sobre os casos apurados, entre eles, que R$36 milhões foram aplicados em multas por irregularidades. As penalidades foram aplicadas por órgãos como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Durante os 30 primeiros dias da ação das Forças Armadas na Amazônia, algumas medidas foram tomadas, em uma operação para tentar restabelecer o equilíbrio no local. Cerca de 20 mil metros cúbicos, que equivalem a oito piscinas olímpicas, de madeira foram apreendidos, quatro madeireiras ilegais foram interditadas, 15 caminhões, cinco tratores, seis embarcações e uma escavadeira foram apreendidas. 63 pessoas foram presas, responsabilizadas pelos crimes ambientais.

  

Dados divulgados pelo INPE revelam aumento no desmatamento na Amazônia

Desde junho de 2019, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), vem divulgando dados que denunciam o aumento sintomático do desmatamento na Amazônia, em comparação aos anos anteriores. Em junho, verificou-se um aumento de 88%, comparado ao mesmo período em 2018. Em julho o número sobre o desmatamento da região amazônica subiu para 278%, segundo dados do Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), que sinaliza as áreas de devastação da floresta para órgãos de fiscalização ambiental, como o Ibama.

Com base nas imagens de satélites disponibilizadas pelo INPE, em agosto os números de queimadas chegaram a 196%, com 30.901 focos de incêndios ativos, em comparação aos 10.421 focos no mesmo período em 2018, com bases em imagens de satélites. Considerando todo o território nacional, o crescimento das queimadas foi de 128% no mês de agosto, com 51.936 focos de incêndio, se comparados com os 22.774 focos do ano anterior.

Os dados divulgados não agradaram o presidente da república. Jair Bolsonaro respondeu aos números apresentados afirmando que eram dados falsos e sensacionalistas. 

A repercussão das informações geradas pelo instituto culminou na exoneração de Ricardo Galvão, diretor do INPE. A decisão foi tomada após uma reunião em Brasília entre Galvão e o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Marcos Pontes, em 2 de agosto. O diretor se mostrou indignado com a demissão e em entrevista ao G1 afirmou que sua fala gerou constrangimentos ao presidente, sendo esse o motivo de sua exoneração.

Os ataques de Jair Bolsonaro começaram em 19 de julho, quando o presidente afirmou que Galvão estaria “a serviço de alguma ONG”. O então diretor reagiu com grande indignação, dizendo que as declarações do presidente foram indevidas e taxando-as de “conversa de botequim”. “Ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas”, disse Galvão. A partir da última declaração, o presidente da República passou a cobrar que Galvão se demitisse, alegando que esses posicionamentos “dificultam” negociações comerciais com países estrangeiros.  

O presidente exonerado não cedeu aos ataques de Bolsonaro, e acabou sendo de fato demitido, sob a premissa da “perda de confiança”.  “Se quebrar a confiança, vai ser demitido sumariamente. Perdeu a confiança, no meu entender, isso é uma pena capital”, afirmou Bolsonaro em 1º de agosto, antecipando a decisão de exoneração.

 

 

Discurso de Bolsonaro na ONU acentua divergências políticas

Jair Bolsonaro em sua estréia na Assembleia-Geral da ONU (DREW ANGERER/GETTY IMAGES)
Jair Bolsonaro em sua estréia na Assembleia-Geral da ONU (DREW ANGERER/GETTY IMAGES)

Em 24 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro subiu ao púlpito da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, para afirmar, por meio de seu discurso agressivo, que a soberania brasileira deve ser respeitada, em questões relacionadas à Amazônia.

Bolsonaro fez sua estreia na ONU com um discurso agressivo de cerca de 30 minutos, iniciado afirmando que o Brasil estava à beira do socialismo nos governos anteriores. Em uma sucessão de ataques – aos governos da Venezuela e Cuba, e a Emmanuel Macron –, o presidente voltou a reiterar que o país sofreu ataques aos valores familiares e religiosos, além de uma situação de “corrupção generalizada, grave recessão econômica e altas taxas de criminalidade”.

O primeiro chefe de Estado a se apresentar na Assembleia Geral da ONU, em que os governantes brasileiros são os primeiros a falar desde 1955, Bolsonaro enfim entrou na pauta mais esperada de seus comentários: a Amazônia, anunciando “Senhorita Ysany Kalapalo, agora vamos falar da Amazônia”, referindo-se à indígena que embarcou para Nova York, junto com os representantes, para corroborar o discurso de Bolsonaro. Em mais uma tentativa de se mostrar atento às questões ambientais, o presidente afirmou com ênfase que seu governo está muito comprometido com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável no Brasil.

Em meio ao discurso, o chefe do executivo ainda disse que a região amazônica permanece “praticamente intocada”, e que isso prova que o Brasil é um dos países que mais protegem o meio ambiente. Ao comparar o tamanho da região com a Europa Ocidental, justificou que o clima seco favorece as queimadas espontâneas e criminosas, ressaltando também que uma parcela do problema foi causado por indígenas, que tem como parte de sua cultura e sobrevivência “causar” incêndios.

Jair Bolsonaro voltou a atacar a mídia nacional e internacional chamando-as de sensacionalistas, e declarou que esses ataques “despertaram o sentimento patriótico brasileiro”. Utilizando os argumentos da Amazônia como pulmão do mundo e como patrimônio mundial como falácias, voltou a atacar indiretamente o presidente da França, Emmanuel Macron: “um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista”, afirmando que a soberania nacional foi questionada.

Ainda durante seus 30 minutos de fala, o presidente reiterou que respeita e reconhece os territórios indígenas – inclusive, utilizou um colar de tradição indígena em seu “look do dia”, no jantar da noite que antecedeu a assembleia. Porém, reiterou que há muitas terras reservadas para poucos indígenas, só que dessa vez, com palavras mais polidas, em tom duro, como lhe é convencional.

Por fim, vale ressaltar que o presidente brasileiro foi deixado de fora da cúpula do clima, que ocorreu na segunda-feira, 23 de setembro, por ser considerado cínico em relação à questão ambiental. O discurso no evento apenas corrobora que está mais preocupado em salvar a própria imagem de suas posições destrutivas, do que de fato salvar o território em chamas, que tanto clama como pertencente à soberania nacional.

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