O movimento estudantil da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) paralisou as atividades no campus Monte Alegre na última quarta-feira (21) para exigir o básico: dignidade no ambiente acadêmico para todas as pessoas que fazem parte dele.
A história de luta pela democracia da PUC como instituição é motivo de orgulho para quem já passou e passa pela universidade. O ano é 2025 e exigir combate ativo e contundente contra o racismo, a lgbtfobia e o assédio racial em nosso campus, iniciativas de inclusão de pessoas trans na comunidade universitária, ampliação dos direitos de alunos em programas de financiamento, atualização de currículos acadêmicos, aumento na disponibilidade de bolsas de estudos, revisão e congelamento de mensalidades, manutenção de cursos de pós-graduação abertos e transparência nos gastos da mantenedora são, no mínimo, razoáveis. Prezamos por políticas de inclusão e que assegurem verdadeiramente o acesso à educação.
Essas pautas não são novas e conforme cada uma foi negligenciada, elas se acumularam. Dois casos mais recentes de falhas estruturais e de saneamento, foram o estopim para o movimento de ocupação do campus: o desabamento de uma parte do teto no chamado prédio velho e o flagrante de um rato no refeitório terceirizado.
Para ser coerente com a tradição da PUC-SP, a reitoria se posicionou contrária à decisão judicial solicitada pela mantenedora, a Fundação São Paulo, que determina a reintegração de posse do campus, inclusive com o uso de força policial, se necessária. Ainda, afirma estar aberta ao diálogo, mas até o momento só ofereceu estratégias para lidar com as questões a respeito da discriminação racial, da estrutura do restaurante universitário, do programa de pós-graduação San Tiago Dantas, de Relações Internacionais, e subsídio integral à alimentação de alunos do FIES Social.
Em respeito ao educador e sociólogo Mauricio Tragtenberg, que dá nome à agência, a AGEMT apoia a luta bolsista, racial e LGBTQIAPN+ na universidade. Prestamos nosso apoio aos coletivos Saravá, Da Ponte para Cá, aos Centros Acadêmicos, e especialmente aos estudantes e minorias atingidos. Como dizia Tragtenberg, “a luta é a grande escola do trabalhador, é através dela que ele forma sua consciência social.”
Quando Tropa de Elite chegou aos cinemas, em 2007, o Brasil parou. Mesmo com o escândalo de pirataria no pré-lançamento, o filme fez com que todos pagassem o ingresso para assistir mais uma vez. E quando digo “todos”, quero dizer todos realmente. O longa atraiu desde aqueles obcecados pelos blockbusters hollywoodianos, até os mais apreciadores do cinema cult. O que resultou em uma das maiores bilheterias do ano e o filme mais comentado do Brasil. Tropa de Elite foi um fenômeno.
Mas, depois de 14 anos do lançamento do primeiro “Tropa”, muita coisa mudou. Em meio a um mundo rodeado pelas redes sociais e pela polarização política, uma questão me veio à mente: Como seria se “Tropa de Elite” fosse lançado em 2021?
Imaginemos que o longa chegaria para reabertura dos cinemas no Brasil e iria mobilizar milhares de pessoas. O impacto seria tão grande quanto foi em 2007, com todos comentando sobre as questões sociais que o filme aponta.
“Geraria um debate rico e polêmico ao mesmo tempo.”, afirma o professor de Estética de Cinema, Mauro Luiz Peron. E continua: “Questões como o armamento, a função da polícia e desigualdade social seriam mais exploradas em 2021 do que em 2007.” A partir dessa visão, os debates estariam presentes em diversos lugares, desde conversas entre amigos até as redes sociais.
Porém, em meio a uma era de antagonismo político, é um fato de que as discussões entre os extremos só se intensificariam. Sendo que o próprio filme sugeriria a polarização a partir da história de um personagem: André Mathias.

O arco do Mathias se baseia nele tentando equilibrar-se entre dois opostos. Por um lado, ele é um policial que combate o tráfico nas periferias, e por outro, é um universitário que convive com jovens que se opõe a ação da polícia nos morros cariocas. Mesmo seus colegas não sabendo de sua profissão, Mathias lida bem com a vida dupla, até que seu amigo, Neto, é morto cumprindo um favor seu.
O assassinato faz André Mathias se transformar. Ele desiste da faculdade, rompe suas relações com os colegas e se torna um policial do BOPE, mergulhando-se na figura militar para sempre. Com isso, o filme sugere que é incabível ser policial e conviver com universitários de esquerda. É incabível estar nos dois lados. E, para confirmar o ponto, a todo momento em que Cap. Nascimento narra (em off) a história do Mathias, ele escancara que sua vida dupla não daria certo. E, esse fato, seria o argumento perfeito para os extremos políticos se distanciarem cada vez mais um do outro.
Agora, sabendo que Tropa de Elite intensificaria a polarização política, é claro que os dois lados interpretariam o filme diferentemente.
Imagino que o longa seria visto pela extrema direita como uma forma de representação visual do que as políticas de Bolsonaro tentam reproduzir: um homem incorruptível, respeitado e honesto. Isso faria com que os apoiadores do presidente se exaltassem e destaquem a importância do armamento para a proteção de uma suposta liberdade e justiça do cidadão.
Com isso, o lançamento de Tropa de Elite hoje poderia, de certa forma, auxiliar na reeleição de Bolsonaro em 2022. Como justifica Mauro:” A exaltação da extrema direita, com o filme, poderia ser um triunfo contra a esquerda nas eleições, retroalimentando a ideia de armamentismo e aclamando a força policial.” Esse fator, poderia unir a direita e concentrar suas forças no auxílio a Bolsonaro e levá-lo a presidência por mais quatro anos.
Entretanto, pela perspectiva da esquerda, acredito que seriam destacados outros pontos, como suposto pelo professor Peron: “Penso que os grupos de esquerda apontariam para a brutalidade policial e a discriminação social, fazendo o filme funcionar mais como um modo de denúncia.”
A esquerda evidenciaria como o cotidiano brutal afetava os moradores das periferias, demostrando o abuso de autoridade dos policiais. Além disso, poderia usar a violência explicita do filme contra a própria ideia de armamentismo.
Argumentariam que, já que nem mesmo um militar treinado teve estrutura mental o suficiente para se manter em um ambiente violento, imagine um civil sem preparo e sem instrução. Só aumentaria as taxas de homicídio, amplificando a violência no Brasil.
Portanto, apesar do novo cenário, Tropa de Elite seria visto de forma diferente, mas não perderia sua profundidade e nem seu crédito. Na verdade, só os potencializaria, mantendo seu posto como um dos maiores filmes brasileiros de todos os tempos.