O movimento feminista para igualdade de representação de gênero na política nacional tem conseguido avanços. A cada eleição, o número de mulheres vereadoras, deputadas, senadoras e governadoras cresceu; mas "ainda está longe do ideal de democracia representativa", defende Marlene de Araújo, assessora de imprensa da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).
Segundo divulgação pela CNN Brasil, nas Eleições de 2022, foram eleitas 91 deputadas federais, um aumento de 18% em relação às 77 de 2018. Ainda assim, elas ocupam apenas 17,7% das 513 cadeiras da Câmara. No Senado, as mulheres passaram de 12 para 15 senadoras, representando 18,5% dos 81 assentos. Nas Câmaras Municipais, o percentual de vereadoras passou de 13% em 2008 para 15,3% em 2020.
Araújo, que também tem mestrado na Faculdade Cásper Líbero, avalia que o crescimento da representatividade feminina nas urnas “vem ocorrendo gradualmente por causa do eleitorado feminino”, mas ainda não é significativo. Segundo ela, o principal obstáculo é o machismo presente na sociedade. “Tem a emenda constitucional N°117 que impõe a aplicação de 30% das candidaturas femininas, mas isso não é o suficiente para a igualdade com o gênero masculino. Falta espaço e apoio dentro dos partidos”, afirma.
Esse avanço surgiu no protagonismo das próprias mulheres. “Os fatores que contribuíram para esse aumento foram além da luta das mulheres, as reivindicações inseridas na política, o apoio das políticas públicas e a divulgação dos movimentos feministas, que têm um papel muito importante nesse crescimento”, disse Araújo.
Ela destaca ainda o papel das candidaturas coletivas, das iniciativas de formação política voltadas para mulheres e citou conquistas das mulheres nos contextos históricos no cenário político brasileiro, como por exemplo a conquista do direito ao voto das mulheres na constituição de 1934, a Lei Maria da Penha que tem medidas de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica e a Lei de Feminicídio que criminaliza o homicídio contra as mulheres por razões de condição do sexo feminino.
Para Araújo, os principais obstáculos que impedem o aumento das representatividades são o machismo estrutural, o controle masculino nos partidos e a sobrecarga de trabalho das mulheres, o que reduz o tempo e os recursos disponíveis para se dedicarem as campanhas políticas.
“Muitas mulheres não votam em candidatas que as representariam e as direções partidárias, comandadas por homens, concentram os recursos de campanha neles mesmos.” Além disso, o cenário político atual também exerce influência sobre a viabilidade de candidaturas femininas. “As candidatas conservadoras ganham mais influência do que as progressistas, o que está ligado ao machismo e ao fanatismo de alguns segmentos evangélicos, além da propagação de Fake News”, disse a pesquisadora.
O preconceito de gênero ainda é uma barreira nas urnas e no congresso. “Há mulheres parlamentares que sofrem ameaças por e-mail, são tratadas como objetos sexuais e têm sua fala interrompida ou ignorada”. Araújo citou o caso de machismo em que um senador desrespeitou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ao dizer que “a mulher merece respeito, mas a ministra não” durante discussão na Comissão de Infraestrutura e em outra ocasião que “queria enforcá-la”.
Apesar das barreiras, Araújo acredita que as mulheres eleitas têm potencial para transformar o cenário político brasileiro. “Quanto mais mulheres são eleitas, mais conseguimos trazer pautas políticas que não fazem parte do universo masculino, como foi o caso da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminicídio”, explica.