“Redes sociais podem ser uma máquina de moer a autoestima”

Segundo a psicóloga Tamara Macedo, dependência de adolescentes por filtros digitais e comparação com influenciadores refletem insegurança de jovens com sua aparência
por
Beatriz Gabriele, Carolina Raciunas e Maria Eduarda Frazato
|
30/09/2021 - 12h

 

Segundo a psicóloga Tamara Macedo, a autoestima é uma construção social de valores, podendo afetar a própria percepção visual ou intelectual. Conforme o relatório “Girls’ Attitudes Survey 2020” mostrou, 80% das meninas de 11 a 21 anos pensam sobre mudar sua aparência. 

Psicóloga Tamara Macedo Foto: Arquivo Pessoal
Psicóloga Tamara Macedo Foto: Arquivo Pessoal

Macedo explicou que a era digital tem forte influência nessa elevada parcela de jovens com baixa autoestima. Segundo ela, o uso das redes sociais pode ser a principal causa do problema: “A comparação com influenciadores digitais impacta negativamente a autoestima das pessoas, principalmente os mais jovens. Se já é difícil para adultos, para adolescente é pior, porque eles ainda estão em processo de desenvolvimento.”

O “Girls’ Attitude Survey 2020” mostra também que questões relacionadas à baixa autoestima podem ser mais intensas para pessoas que sofrem preconceito. Cerca de 54% das jovens se sentem esteticamente pressionadas ao verem anúncios nas redes sociais. No entanto, esse número é ainda maior para as que compõem a comunidade LGBTQIA+, chegando a 67%.

Ainda de acordo com o relatório, cerca de 5 a cada 10 meninas que dizem querer mudar a aparência física, esperam melhorar a autoconfiança, mas 32% delas buscam a aprovação e a sensação de aceitação social. 

Pensando em mudar a aparência e em meio ao peso das redes, jovens recorrem a ferramentas digitais que retocam a pele, aumentam os lábios e os olhos, e reduzem o nariz. Segundo uma pesquisa realizada pelo projeto “Dove pela Autoestima”, aos 13 anos, 84% das meninas já usam filtros, como os do Instagram. Por isso, monitorar as redes e controlar o tempo de uso, bem como quem o usuário segue, é uma forma de amenizar os impactos, como conta a psicóloga: “É importante fazer uma limpa, selecionar quem você segue, com base no que te faz bem e proporciona maior representatividade.” 

Macedo explica ainda que a má relação com o próprio corpo pode levar jovens adolescentes a desenvolver problemas psicológicos, levando ao adoecimento. Dismorfia corporal, síndrome de borderline, transtorno de imagem e distúrbios alimentares são algumas das possíveis consequências psíquicas. Além disso, os jovens frequentemente limitam suas ações: “Quando falamos sobre a baixa autoestima de adolescentes, é sobre eles não se permitirem fazer coisas simples, como tirar fotos.”

Cabeleireira Letícia Gonzaga Foto: Arquivo Pessoal
Cabeleireira Letícia Gonzaga Foto: Arquivo Pessoal

Apesar das redes terem forte influência nesse processo, outros fatores podem desencadear a baixa autoestima. Um estudo realizado pelo Centro de pesquisas sobre aparência, da Universidade West of England, mostrou que mães que não aceitam o próprio corpo tendem a ter filhos com maior possibilidade de desenvolver o mesmo problema. 

A cabeleireira formada em Estética e Cosmetologia, Letícia Gonzaga, contou que, em seu salão de beleza, é comum ver clientes buscando renovação. Segundo ela, essa insatisfação frequentemente é gerada por comentários dos próprios familiares ou de pessoas próximas: “Muitas vezes, as meninas fazem alguma mudança estética, ou deixam de fazer, para agradar outras pessoas. Vejo jovens que não cortam o cabelo, porque têm medo de desagradar o namorado.”

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