As redes sociais e as fake news

Acompanhe como os algoritmos influenciam os usuários
por
Gabriel Cordeiro
Pedro Lima Gebrath
|
31/10/2023 - 12h

A internet é fundamental em nossas vidas, estamos conectados quase que inconscientemente a ela, seja jogando, conversando, postando nossas opiniões, buscando conteúdo ou diversas outras funções que a internet pode exercer, mas não podemos nos enganar ao pensar que possuímos total controle sobre ela, pois não possuímos. A internet muitas vezes passa a sensação de um oceano de possibilidades, o que não passa de uma ilusão criada pela própria, tudo que fazemos está sendo observado e condicionado e devido aos algoritmos estamos consumindo apenas o que é condizente com “nossa bolha”.

Esse espaço virtual possui uma vasta capacidade de armazenamento de dados e informações, e por isso ela é capaz de muitas vezes direcionar por meio de seu algoritmo o conteúdo que será apresentado para nós, muitas vezes filtrando nossos gostos e nos privando culturalmente, socialmente e até gastronomicamente, nos privando de muito conhecimento e impedindo uma possível ampliação cultural por conta dessa manipulação causada pelas grandes corporações, que conseguem realizar isso ao possuir um vasto acesso aos nossos dados, que liberamos ao realizar cadastros e respondendo questionários de gostos e personalidade em seus sites e redes.

As redes sociais também podem ter efeitos negativos, por sua grande influência na sociedade atual elas podem ser determinantes para importantes acontecimentos. Um grande exemplo das redes sociais sendo utilizadas de maneira maléfica é no caso das eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016, no qual o candidato republicano Donald Trump foi eleito usando táticas antidemocráticas. O ex-presidente utilizou de uma manipulação dos algoritmos com base em dados pessoais que foram vendidos pelas empresas de meios de comunicação, convertendo muitos dos “indecisos” para votarem a favor de Trump, se utilizando de muitas das chamadas “fake news” (notícias falsas).

Essa prática não foi determinante apenas nessa eleição, esse esquema de manipulação também definiu a votação do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), se utilizando desses dados pessoais dos usuários de redes sociais como o Facebook para a manipulação do indivíduo, se utilizando de uma estratégia de algoritmo com base na personalidade e traçando um perfil do eleitorado visando convencer os mais suscetíveis à se tornarem um possível voto favorável, essa estratégia foi desenvolvida pela empresa Cambridge Analytica.

De acordo com Brittany Kaiser, responsável pelas campanhas de empresa durante o período que compreendeu os dois períodos históricos acima, a ferramenta detida pela Cambridge Analytica não possuía apenas a função de melhorar o marketing da empresa, mas era capaz de manipular mentes de usuários que superava o simples uso das redes sociais; era impossível se libertar dessa influência, visto que ela já se via presente nas mais diversas esferas da sociedade mundial. A empresa reproduzia a verdade conveniente a quem lhe pagava, passando uma imagem distorcida a quem a via e gerando um sentimento de que uma simples tomada de decisão resolveria diversos dilemas impostos de maneira exacerbada na internet.

A vitória do republicano Donald Trump em 2016 foi o início de uma onda da extrema direita pelo mundo que teve impacto também em nosso país, com o resultado das eleições 2018 elegendo Jair Bolsonaro também com grande influência das redes sociais. O candidato e atual presidente da república foi acusado de manter uma rede de trafego de notícias falsas e tendenciosas por meio de grupos informais de conversas, no caso o aplicativo WhatsApp, atitude que pode tê-lo ajudado a ganhar a disputa contra o candidato Fernando Haddad, do PT.

O gráfico a seguir exemplifica as fake news sobre os candidatos do 2° turno nas eleições brasileiras de 2018:

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Segundo essa tabela da Agência Lupa e Projeto Comprova, é apontado que Bolsonaro foi bem mais beneficiado por fake news que seu concorrente Fernando Haddad, com 87,5% das notícias falsas sendo favoráveis ao mesmo. Além das fake news em maior quantidade que favorecem Bolsonaro os temas abordados também são menos genéricos e mais chocantes, podendo se concluir que se trata de um método de sua equipe e não somente coincidências.

 

Uma das fake news mais famosas propagadas pelo atual presidente, com mais de 400 mil compartilhamentos, foi sobre Fernando Haddad (PT) ter criado o “kit gay” para crianças de seis anos. É possível encontrar não só esse, mas também outros boatos acerca do mesmo tema. Além de acusarem Haddad de ter criado o “kit gay”, em outros boatos também o acusam de incentivar a pedofilia e o incesto. O “kit gay”, nesses boatos, teria a função de sexualizar as crianças precocemente e ensinar a elas a “ideologia de gênero”.

O assunto foi tão relevante que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ordenou que as publicações do ex candidato do PSL acusando o ex ministro da educação de distribuir o tal “kit gay” nas escolas públicas enquanto seu período no ministério fossem retiradas do ar, pois este kit nunca existiu

 

No topo das publicações mais compartilhadas está o perfil oficial do candidato Jair Bolsonaro, que reiteradamente se refere a Haddad como o “pai do kit gay” (Reprodução/TV Globo)

Foto de Jair Bolsonaro segurando o livro “Aparelho Sexual & Cia” no Jornal Nacional da Globo (Reprodução/TV Globo)

As noticias falsas atingiram principalmente os idosos, que possuem pouca familiaridade com a internet e redes sociais, normalmente com dificuldades de confirmar o que se vê nos espaços virtuais. Em entrevista com Maria Francisca, senhora de 79 anos, a mesma afirma ter participado de diversos grupos do aplicativo Whatsapp onde eram compartilhadas as noticias, onde se afirmava que haviam fraudes nas eleições de 2022 em relação as urnas. Também era incitado uma possível intervenção militar, o que motivou diversos acampamentos em frente aos quarteis generais, tudo organizado e fomentado nos grupos de Whatsapp e do  Telegram. Maria diz se sentir muito chateada por ter disseminado tanta desinformação e agradece ao Tribunal Superior Eleitoral e as agencias de checagem por informarem os fatos, mesmo que a grande maioria dos outros participantes não acreditem nas fontes e sigam com a versão compartilhada nos grupos.