Professores e alunos dizem se este ano letivo foi ou não perdido.

Com pandemia e aulas remotas, uma preocupação nacional é a educação dos jovens e crianças
por
Laura Mello
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27/11/2020 - 12h

Atípico. Essa foi a palavra mais usada pelos entrevistados para explicar como foi este ano letivo, que, por conta da pandemia do coronavírus, teve o início remotamente a partir do dia 18 de março em medida feita pelo Ministério da Educação (MEC). Com muitos desafios e dificuldades, os alunos entrevistados afirmaram que este ano não foi perdido graças à dedicação dos profissionais da educação, embora houvesse ressalvas.  

Salete Cipriano, coordenadora da Escola Estadual Professora Júlia Macedo Pantoja, diz que um dos maiores desafios foi convencer os professores a trabalhar remotamente. “O professor normalmente é muito tímido e colocá-lo em frente às câmeras foi muito difícil.”, disse a entrevistada, “Dos 47 professores que coordeno, apenas 5 foram convencidos a fazer aulas ao vivo, e os alunos sentem falta dos professores, querem vê-los”. Quando perguntada sobre o aproveitamento do conteúdo, a coordenadora afirma que foi um ano perdido. “O aluno de escola pública não está preparado para este tipo de ensino. Eles não possuem o equipamento necessário e os que possuem um celular para acompanhar não tem internet. Em conteúdo, foi um ano perdido, porém serviu de aprendizagem para lidarmos melhor com as adversidades.”. A aluna Miriã Teixeira Mombeli, que está cursando o último ano de ensino técnico no Instituto Federal de São Paulo, afirma que algumas matérias foram desaproveitadas. “Não acho que tenha sido 100% perdido, mas não foi 100% eficaz. Algumas matérias, principalmente as do ensino técnico, ficaram um pouco defasadas”. A aluna ainda cita que a instituição antes de aderir ao ensino remoto fez uma pesquisa para saber se os alunos tinham o material necessário para este tipo de sistema. “Com a pesquisa as aulas demoraram a começar, e, quando começaram, foi um pouco confuso, já que os professores ficaram livres para ministrar as aulas. Alguns utilizavam plataformas e aulas ao vivo, outros passavam o material e faziam reunião uma vez ao mês.”. 

Em contrapartida, a docente Selma Fonseca do Colégio Dr. Walter Belian disse que a instituição se organizou logo no início da pandemia para observar as prioridades de ensino em cada série. “Não foi possível abarcar todo o conteúdo planejado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas nós conseguimos organizar as matérias de modo que priorizamos aquelas que não seriam mais revisadas novamente em outra série, para não haver defasagem.” A aluna deste mesmo colégio, Victória Padovezi, afirma que foi um ano muito difícil, ainda mais por ser vestibulanda. “Tive dificuldades para me adaptar ao ensino remoto. No começo estava bem aplicada e me esforçando muito, mas agora não sei se estou rendendo tanto quanto deveria. Não considero que tenha sido um ano totalmente inútil, mas creio que terei que retomar ano que vem fazendo algum cursinho pré-vestibular.”. 

De acordo com os dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2018, o Brasil pontua abaixo da média dos países da Organização para a Corporação e Desenvolvimento Econômico (OECD) em leitura, matemática e ciência, além de apresentar 43% dos estudantes abaixo do nível mínimo de proficiência nestas três matérias, quando a média é de 13%. Além disso, o mesmo programa aborda que os alunos em vantagem socioeconômica superam as notas dos alunos em desvantagem em 97 pontos na proficiência de leitura. Estes dados mostram a discrepância entre o ensino em escolas públicas e privadas brasileiras, demonstrando que a abordagem acadêmica de cada escola na pandemia vai além deste cenário atípico. 

O próximo ano 

Apesar das diferenças entre instituições de ensino públicas e privadas, ambas sabem que o próximo ano será um dilema. Com a retomada parcial do ensino presencial e o aumento do número de casos de COVID-19 na cidade de São Paulo ao final deste ano, nada é totalmente certo para o primeiro semestre de 2021. “Estamos preparando os alunos para o próximo semestre à distância.” disse a professora, “planejamos para que o primeiro bimestre seja 100% retomada de conteúdo, a fim de auxiliar os alunos que não aprenderam efetivamente.”. Já a coordenadora afirma que será necessário criar novas estratégias para “encantar os alunos”. “Atualmente, apenas três alunos estão participando das aulas presenciais tendo aulas de recuperação de matemática, todos do Ensino Fundamental. O Ensino Médio optou por não voltar.”. Com retomadas de conteúdo e muito esforço dos profissionais da educação, o que foi perdido este ano pode ser de algum modo recuperado. No entanto, para os alunos do Ensino Infantil, este ano foi totalmente irrecuperável.  

A professora Maria de Lourdes Soares da Silva, docente na Escola Municipal de Ensino Infantil (EMEI) Professor Ítalo Betarello afirma que sua turma não terá como recuperar este ano perdido. “Trabalho no Infantil 1, com crianças de 4 a 5 anos. Não temos matérias para ensinar ou instrumentos avaliativos, nossas aulas servem para a criança interagir com outras crianças, o que é quase impossível no ensino remoto.”, explica a docente. “Neste novo tipo de aulas eu passo atividades descritivas para os pais fazerem com a criança, o que é um ganho neste período, pois as famílias ficam mais próximas dos filhos, mas não são todas que têm esta disponibilidade por diversos motivos. Assim, o próximo ano para eles será uma continuação do que muitos não tiveram.”. 

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