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Como a desinformação e fake news são as principais agentes por trás da queda na cobertura vacinal da população e da volta de grandes ameaças do passado
por
Jessica Midori
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14/11/2022 - 12h

Por Jessica Midori

As eleições brasileiras de 2022 abriram portas para importantes pautas dignas de debate, dentre elas assuntos relacionados à saúde da população geraram grande comoção na mídia por conta do recente trauma que o Coronavírus deixou, e também, do cenário cada vez mais preocupante do País com o crescimento na volta de registros de doenças erradicadas.

Uma recente entrevista no site g1 com Tarcísio de Freitas recebeu destaque após pronunciamentos do recém eleito governador de São Paulo a respeito da “liberdade de escolha” na vacinação, declaração alarmante na visão de diversos grupos sociais. Profissionais da área da saúde se manifestaram de modo contrário à posição tomada pelo, na época candidato, afirmando os riscos da propagação desse discurso negacionista, combatendo-o com argumentos que mostram a crescente volta de doenças que por conta da vacina eram consideradas controladas, como por exemplo a poliomielite, sarampo e outras.

Além de se declarar contrário à obrigatoriedade da imunização ele afirmou que em seu governo não irá impor medidas de retaliação contra pais que não vacinarem os seus filhos, o que contribui para uma nova geração ainda mais suscetível a negação da vacinação, e consequentemente a doenças. Deixar a responsabilidade de imunizar os mais novos nas mãos dos pais é um ato imprudente, já que o poder da vacina está sendo cada vez mais questionado com a falta de informação e a disseminação de fake news.

Neide Almeida atua como auxiliar de enfermagem no Posto de Saúde do bairro Antônio Zanaga em Americana, e é responsável pela identificação dos que vão se vacinar. Ela conta que ficou indignada com a irresponsabilidade do governador do estado, ao arriscar fazer pronunciamentos tão impactantes na saúde do povo ciente de que muitos seriam influenciados por tais afirmações.

Ao ser questionada sobre como ela acredita que a propagação do discurso negacionista afeta as novas gerações, confessa que se preocupa principalmente com os seus filhos, que por serem jovens podem ser levados a questionar a importância da imunização, e com a possível liberdade de escolha, optarem por não vacinarem os seus futuros filhos.

Quando se trata do número de pessoas que vão ao posto se vacinar, Neide relata que a equipe de vacinação do postinho do bairro notou uma queda no fluxo de pacientes, dando como exemplo o caso da quarta dose da vacina contra a Covid-19, que, dessa vez, o número de pessoas que se apresentaram para tomá-la despencou em comparação as doses anteriores.

Ela acha interessante o fato de que na terceira dose notou a falta de alguns conhecidos seus que foram se vacinar quando estavam aplicando a primeira e segunda. Neide ainda ressalta que agora, na quarta dose a situação piorou, relembrando o tanto de morador do bairro que ela conhece e faz tempo que não vê marcando presença no postinho, tanto criança quanto adulto.

Essa situação não se limita apenas a região onde Neide trabalha. A queda no número de pessoas dispostas a se imunizar é real e isso pode ser comprovado ao se analisar o aumento dos casos nos últimos anos, que piorou em 2021, de doenças controladas anos atrás. Em 2016 o Brasil recebeu o certificado de erradicação do sarampo da OPAS/OMS, porém dois anos depois, a doença voltou com força e nos anos seguintes foram registrados mais de 40 mil casos confirmando a volta da circulação do vírus no território nacional, fato que levou o Brasil a perder o certificado em 2019. Este fato é apenas um dos que provam o retrocesso do Brasil quando se dimensiona a diminuição de políticas de saúde.

Neide lamenta ser muito preocupante a defesa do discurso negacionista afirmando ser esse o primeiro passo para que andemos para trás e voltemos a ser aquele Brasil do passado, afundado em tragédia e tomado pelas epidemias e mortes.

A bióloga Leticia Akemi, formada em ciências biológicas pela Unesp Rio Claro, alega que a desinformação é o principal agente que atua na perda da credibilidade da vacina, pois torna as pessoas suscetíveis a caírem nas notícias falsas e informações distorcidas a respeito da imunização.

Ela alega que as fake news são criadas e disseminadas principalmente por grupos ideológicos que se fortalecem com a desconfiança generalizada, se aproveitam da desinformação popular para criar dúvidas, insegurança e medo. Ainda aponta que com as redes sociais, os apoiadores de tais grupos assumem um papel de propagandistas, contribuindo para o fortalecimento dessas notícias falsas.

Pode-se citar que entre as mentiras mais propagadas sobre a imunização, recebem destaque a desconfiança do governo, o medo de serem submetidos ao controle das autoridades de forma inconsciente, através de um chip implantado no organismo humano por meio dos imunizantes. E também à sujeição a riscos maiores à saúde, como mudanças no DNA dos que fossem vacinados, desfiguração, vulnerabilidade do organismo e até mesmo a morte.

A bióloga diz ser absurdo até onde vão as mentiras, garantindo que as vacinas são completamente seguras, fato que pode ser visto nas últimas décadas com todas as vidas salvas após o acesso à imunização. Declara que as reações vacinais são mínimas e na maioria das vezes, leves e transitórias, em contrapartida às possíveis complicações da doença que uma pessoa desprotegida poderá contrair.

Ela ainda deixa a sua admiração pelos profissionais que participaram do desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19. Dispensando os que questionam a sua eficácia com base na história de que essas vacinas haviam sido criadas rápido demais, afirma que a tecnologia da vacina vinha sendo desenvolvida há anos, e que apenas foi acelerada em função da pandemia, enfatizando que nunca se pulou nenhuma etapa das pesquisas nem se abriu mão da segurança e da eficácia, esclarecendo que esses são requisitos essenciais para o licenciamento.

Leticia finaliza atestando que a maior prova da segurança e eficácia da vacina no geral encontra-se no estado do mundo atual, quantas epidemias combateu e quantas doenças erradicou.

Vale lembrar que o incentivo à vacinação deve ser constante e não somente em períodos de epidemia. Estar com a carteira de vacinação em dia é essencial para manter a proteção contra as doenças. Não se pode deixar que o próprio sucesso das políticas de vacinação no Brasil do passado, seja fator contribuinte para a redução do estado de alerta das pessoas em relação a algumas doenças.

É imperativo não se descuidar por acreditar que essas enfermidades são inofensivas ou simplesmente não existem mais, apenas porque muitos não viveram os tempos trágicos de epidemias, sequelas e mortes que a maioria delas deixaram a sua marca. Essa sensação falsa de que o Brasil está livre das ameaças do passado, e de que a vacinação é uma perda de tempo, é um agente que contribui para a volta de doenças que já estiveram controladas. Pesquise, fique atento e vacine-se já.