“O meu trabalho é o meu veículo mais potente de expressão”: como é ser influenciador digital e negro

Inserção dos influenciadores negros no mercado é “tímida”, diz a youtuber Patrícia Rammos
por
Rodrigo Vaz Guimarães Mendonça e Hiero Nina de la Vega de Lima
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20/11/2020 - 12h
Patricia Rammos/ Reprodução Instagram
Patricia Rammos/ Reprodução Instagram 

Nos últimos anos, a figura do influenciador digital - pessoas que produzem conteúdos sobre determinado tema em redes sociais, como o Instagram ou YouTube, muitas vezes conquistando fãs que seguem seu trabalho e publicações - se popularizou na Internet, ganhando cada vez mais espaço. A maior parte dos influenciadores populares é branca, enquanto os negros, minoria.

 

A atriz, youtuber e podcaster Patrícia Rammos, dona do canal “Um abadá para cada dia”, faz parte desse grupo de influenciadores negros. Baiana de nascimento, ela começou sua carreira no teatro. “Durante anos pensei, erroneamente, que não tinha tanto espaço nesse meio porque fazia parte do campo de trabalho altamente competitivo”, conta, em entrevista por e-mail. 

 

A influenciadora comenta que ser negra foi um entrave para conseguir papéis, tendo sido esse o impulso final para se tornar produtora cultural, seguindo na carreira de influencer, poderia produzir os próprios trabalhos, “sem esperar pelos convites”. 

 

A criação do canal veio após a mudança de Rammos para a Califórnia, nos Estados Unidos: “Quando me mudei para os EUA, percebi que poderia fazer tudo que eu estava a fim através da internet e decidi criar meu canal”. Ela não se restringiu apenas a discutir questões raciais, buscando compartilhar leituras, séries, filmes etc. com protagonistas negros. “O meu trabalho é o meu veículo mais potente de expressão”, afirma.

 

Rammos não busca “ensinar” seu público como influenciadora: “É um trabalho de identificação. Que as pessoas me vejam como uma parceira, não como uma professora. Essa tarefa eu deixo para outros influenciadores altamente capacitados que, inclusive, sigo”, afirma. Ela utiliza suas plataformas como meio de comunicação entre ela e o público: “É uma troca, onde transformo e sou transformada, empodero e sou empoderada. Compartilho coisas e depois eles vêm me contar o que acharam, se concordam... Saber que, pelo menos, uma pessoa se sente mais forte a partir do que expresso, me deixa feliz demais!”. 

 

Ela acrescenta que acredita ter o impacto como objetivo seria “muito pretensioso” de sua parte, mas que “seria hipócrita se dissesse que, quando isso acontece, não fico contente”. Refletindo as próprias experiências, enfatiza que seu trabalho “é fazer que as pessoas entendam, por exemplo, que racismo não é só chamar o coleguinha de macaco, mas invisibilizá-lo também. Por isso, falo sobre compartilhar e consumir o que nos contempla. Essa é a minha ideia. Nos mostrar possíveis e visíveis, sem ter que pedir licença e/ou desculpa para existir.”

 

Rammos segue dizendo que a inserção de negros como influenciadores é “tímida e algumas vezes equivocada”, e que “ainda assim, os autodenominados antirracistas acham que é nossa obrigação aceitar qualquer convite e/ou trabalhar sem remuneração. É quando todos se acham nossos salvadores e que só o fato de nos "dar" visibilidade, já é pra nos sentirmos felizes e agradecidos”, mas ressalta que “o bom é que a gente tem se fortalecido através da gente mesmo também. E esse movimento é visto inevitavelmente. Cada um encontrando o seu pequeno quilombo. Um empurrando o outro, se juntando a outros, com ideias e movimentos parecidos aos seus.”

 

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