A importância de Zico para o futebol no Japão

A revolução japonesa nos pés de um brasileiro
por
Gabriel Yudi Gati Isii
|
06/08/2023 - 12h

 

O futebol no Japão tem uma história curiosa. Não se sabe exatamente quando o esporte chegou no país nipônico, mas foi nos anos 90 que a modalidade se profissionalizou com a criação de um campeonato comandado por uma federação. Arthur Gomes Coimbra, mais conhecido como Zico, levou, nesta mesma época, a prática esportiva do futebol para outro nível.  

A profissionalização do futebol

A chegada do esporte no país é incerta. Há histórias de que o primeiro campeonato aconteceu em 1870. No entanto, a primeira equipe profissional foi o Tokyo Shukyu Dan, em 1917. Além disso, no mesmo ano, a seleção japonesa realizou sua primeira partida, contra Filipinas, na qual os Samurais Azuis perderam por 15 a 2.

O futebol se profissionalizou de fato no Japão nos anos 90. A popularidade do beisebol, que era o esporte mais popular no país, foi dividida com a atividade mais famosa do mundo. Com a popularização, o Japão deu início à J-League, o campeonato japonês. A chegada de um craque mudou o patamar da competição, Zico, o Galinho, aterrissava na terra do sol nascente.

O Zico foi quem deixou maior legado entre as estrelas estrangeiras, porque fez o Kashima Antlers, um time até então, desconhecido, onde ninguém tinha ouvido falar, se tornar o maior campeão do país. O Zico levou a profissionalização pro Kashima, ele mudou a mentalidade dos jogadores. Ele mudou praticamente tudo, não só dentro de campo, mas fora também. Por isso virou ídolo lá e ganhou estátua na frente do estádio”, disse Tiago Bontempo, jornalista e escritor do livro Samurais Azuis.

O desenvolvimento da liga levou a Seleção Japonesa Masculina à Copa do Mundo de 1998. A primeira participação do país na maior competição de futebol.

A chegada de Zico

Em 1991, a Associação de Futebol Japonês (JFA) convidou Zico, craque e ídolo brasileiro, para começar e "ensinar" os jogadores nativos os truques, estilo de jogo e tudo que envolvia o campo. A ideia era aprender com quem realmente sabia. Vale ressaltar que a J-League não existia ainda, só teria seu início em 1992.

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Zico atuou em apenas um time no Japão, o Kashima Antlers, que quando chegou era conhecido como Sumitomo Metals. Em 1992, recebeu o nome atual e se reforçou muito bem para brigar em alto nível no futebol japonês. Contratou dois brasileiros para jogarem com o Galinho de Quintino, o atacante Milton Cruz e o volante Carlos Alberto Santos. Na temporada de 92, o Kashima venceu a Copa Muroran e foi semifinalista da J-League, perdendo para o Tokyo Verdy.

Em 1993, Zico pediu a contratação do ponta direita Alcindo. No ano, o Kashima Antlers venceu a primeira fase da J-League. Porém bateu na trave na hora de conquistar o título. Nessa temporada, o time conquistou três títulos: Copa Suntory, Meiers Cup e Pepsi Cup. 

Apenas em 1994 o Kashima conseguiu chegar forte na disputa pelo Campeonato Japonês. Na primeira partida da final, contra o Tokyo Verdy, o Antlers foi derrotado. A equipe sentiu a ausência de Zico, que ficou fora da partida por lesão. No jogo de volta, o camisa 10 voltou e com a necessidade de vencer, abriu o placar. Mas nos instantes finais, os adversários empataram o jogo após um pênalti contestado. Os jogadores do Kashima Antlers ficaram extremamente bravos e com o craque brasileiro não foi diferente. O Galinho foi expulso após cuspir na bola.

Após perder o título, Zico decidiu encerrar sua carreira como jogador.

Um ídolo no outro lado do mundo

Zico é mais contemplado no Japão do que no Brasil. O camisa 10 afirmou nas Olimpíadas de 2020, onde carregou a tocha no país nipônico: 

Um dia inesquecível em minha vida. Muitas coisas aconteceram em minha vida quando chegava Olimpíadas. […] Depois do meu país e na minha cidade terem me negado essa oportunidade de carregar a Tocha Olímpica. Hoje realizei meu sonho de participar de uma Olimpíada”.

Fica aqui meu agradecimento a todos que me enviaram mensagens de carinho e ao povo japonês pelo respeito e gratidão a minha dedicação ao desenvolvimento do futebol japonês”.

Arthur Gomes Coimbra tem sua importância mundial, porém a sua valorização no Japão ultrapassa as quatro linhas.

Em 1999 treinou como interino o Kashima Antlers e após isso, em 2002, iniciou os trabalhos na Seleção Japonesa, local no qual ficou até 2006. Comandou os Samurais Azuis a Copa da Asia em 2004, título marcante na história do país. O ídolo, mesmo sem ter conseguido avançar de fase na Copa do Mundo, é reverenciado por ter mudado o estilo de jogo da seleção.

Depois de acabar sua carreira como técnico, virou coordenador técnico do Kashima, onde está na sua segunda passagem. A primeira foi em 1996, quando conquistou a Supercopa do Japão, Copa do Imperador e a J-League. Em 2018 retornou e está até hoje. 

A gratidão do Kashima fez com que a equipe mudasse a cor de um dos uniformes da cor vermelha para a amarela. Uma peça comemorativa. Zico é ídolo em solo tupiniquim, mas apenas na terra do sol nascente conseguiu alcançar um status muito além do esporte. 

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

No entanto, não é só Zico que expandiu o esporte por lá, visto que alguns nomes como Gary Lineker, Dunga, Arsene Wenger, Felipão e tantos outros craques jogaram no país

Em 1993, o futebol foi muito consumido pelos japoneses. Esse foi o momento difusor da liga. A chegada desses grandes caras ajudou demais a alavancar o futebol no Japão”, relata Matheus Braga, jornalista do JapãoFC.