Conheça a história do CBLOL

Desde 2012, o Campeonato Brasileiro de League of Legends faz história e influencia gerações
por
Maria Elisa Tauil
Matheus Monteiro
Pedro Premero
|
16/04/2024 - 12h

O que é League of Legends?

League of Legends, mais conhecido como LoL, é um MOBA (Multiplayer Online Battle Arena) onde duas equipes de cinco jogadores se enfrentam com o objetivo de destruir o nexus inimigo. Os jogadores são divididos em uma selva e três rotas: superior, meio e inferior. No mapa há vários objetivos nos quais as equipes disputam para ganhar melhorias e acumular ouro, sendo eles as Vastilarvas, o Arauto do Vale, os dragões elementais, o dragão ancião e o Barão Na’shor.

Lançado em 2009, o jogo disponibiliza mais de 160 campeões, cada um com sua particularidade e kit de habilidades. Os personagens são divididos em seis classes: lutadores, tanques, magos, assassinos, suportes e atiradores.

O game começou a ter um cenário competitivo em 2011, e no ano seguinte, foi criado o Campeonato Brasileiro de League of Legends, mais conhecido como CBLOL, sendo ele o maior campeonato de eSports do Brasil.

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Palco da Arena CBLOL. Foto: Maria Elisa Tauil/AGEMT

CBLOL: 12 anos de história

O início do cenário competitivo brasileiro de League of Legends veio em 2012, pouco tempo depois do lançamento do servidor do jogo no Brasil. Em uma entrevista exclusiva para AGEMT, Murilo “Takeshi” Alves, ex-jogador profissional e atual caster do Campeonato, conta como foi a sensação de presenciar esse acontecimento:

“Quando chegou o evento de inauguração do servidor brasileiro, foi uma parada muito legal. A gente começou a viver outro jogo, se for pensar assim sabe?” Nascido em 1993, Takeshi começou a competir quando o Brasil ainda não possuía servidor próprio. Ao longo de seus 13 anos de carreira, o ex-jogador ficou conhecido como “eterno vice”, devido a quantidade de vezes que ficou em segundo lugar no campeonato brasileiro, cinco no total.

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Murilo Alves, começou a jogar em 2010 e passou a competir em outubro de 2011. Reprodução/X

Conforme Takeshi, os jogadores saíram de 200 de ping para jogar com 8, “o tempo de resposta é um outro jogo, completamente diferente, você tem toda tradução, é legal assim ver a dublagem, tudo traduzido pra você, foi uma parada muito legal.”

Nesse mesmo ano, o primeiro torneio de caráter nacional foi realizado diretamente na Brasil Game Show, a maior feira de games da América Latina, realizada anualmente em São Paulo. O torneio aconteceu durante os três dias de evento e contou com uma premiação de R$50 mil.

O campeonato foi disputado por oito equipes selecionadas, através de três qualificatórios abertos. As vencedoras de cada qualificatória garantiram uma vaga - sendo elas paiN Gaming, Insight Esports e VTi Ignis. As outras cinco vagas ficaram com as equipes que mais somaram pontos nos classificatórios: vTi Nox, inFluxo Gaming, RMA e-Sports, CNB e Verdict.


O torneio acabou sendo decidido pelas equipes irmãs: vTi Ignis e vTi Nox. As duas lineups contavam com jogadores conhecidos até hoje no cenário brasileiro.


A vTi Ignis, que foi a campeã do torneio, tinha como seu jogador mais notável, o top laner, Mylon. O jogador ganhou mais dois campeonatos ao longo de sua carreira, e participou da lendária line-up da paiN de 2015. A bot lane da Ignis era composta pelo atirador ManaJJ, e o suporte Alocs, dois jogadores que marcaram o cenário por seu carisma e pioneirismo.

A equipe da Nox, que conquistou o segundo lugar do campeonato, também apresentava alguns nomes notáveis: o Loop, suporte da equipe que conquistou o título brasileiro em 2014, e o mid laner Yetz, um dos maiores criadores de conteúdo sobre o game no país.

O torneio de 2012 acabou gerando muito apelo entre os presentes na BGS e foi uma das principais atrações do evento, abrindo espaço para o crescimento da competição para os próximos anos.

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Jogadores da vTi Ignis, a primeira campeã brasileira. Foto: Divulgação/Riot Games

Em 2013, o campeonato subiu mais um patamar e foi realizado num evento próprio, no WTC Golden Hall, em São Paulo. Entretanto, diferente do primeiro ano, a competição contou com quatro qualificatórios online para definir os times que jogariam a fase final.

Os times que disputaram foram: Keyd Team, CNB e, Pain Gaming, RMA e-sports, Peesplay Gaming, Play Art, Nex Impetus e Action Team Sports.
O torneio foi disputado em 3 dias, onde os times foram separados em dois grupos, com os dois primeiros de cada um, avançando para as finais. A paiN Gaming, equipe que seria reconhecida como os Tradicionais, faturou o título.

Em 2014, a temporada brasileira passou a ter dois campeonatos durante o ano, algo parecido com os splits atuais. Além disso, o termo CBLOL surgiu para nomear o Circuito Brasileiro de LoL.

Durante o ano seguinte, o Campeonato Brasileiro de League of Legends passou por grandes transformações: a chegada de jogadores estrangeiros pela primeira vez num torneio nacional e as partidas passaram a ser disputadas presencialmente nos estúdios da Riot Games em São Paulo, em modelo de liga, com formato semanal.


Durante 2015, o CBLOL enfrentou uma nova reformulação: com partidas semanais, disputadas em São Paulo, a competição ganhou formato de liga com duas etapas anuais, valendo classificação para os campeonatos internacionais, Mid-Season Invitational (MSI) e o Worlds.

Segundo Takeshi, foi durante esse ano, com a final do 2° Split no Allianz Parque, em São Paulo, que a competição passou a ter uma estrutura mais profissional: “O campeonato passou a ser de fato da Riot, a Riot produzindo, transmitindo, tendo essa parceria com os times.”


O ano de 2016 teve apenas uma grande mudança no regulamento: as chamadas “equipes-irmãs", não seriam mais permitidas. As organizações foram proibidas de ter mais de um time no campeonato: a INTZ Red acabou se tornando Red Canids e a Kabum Black virou Operation Khino.

Dentro do jogo, foi um ano dominado pela INTZ. Pela primeira vez, desde que o esquema de etapas foi implementado, o CBLOL teve uma mesma equipe vencendo as duas etapas no ano, se tornando a primeira equipe tricampeã no Brasil. Grande parte desse sucesso ocorreu devido ao retorno do caçador Revolta à equipe.

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Jogadores da INTZ comemorando a vitória do 2º Split do CBLOL 2016, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Foto: Reprodução/Riot Games

Na temporada 2017, o último time na fase de classificação, passou a ser rebaixado automaticamente. Outra mudança, foi a punição monetária para as organizações que realizavam as inscrições de jogadores fora do prazo. Além disso, devido uma mudança no formato do Worlds, os times brasileiros passaram a se classificar diretamente no Mundial, sem a necessidade de concorrer a uma competição prévia.

Foi em 2018, também, que o CBLOL teve mais algumas atualizações: introdução do sistema de escala nos playoffs e as séries melhores de três partidas (MD3), aumentando o número de jogos no campeonato. A Kabum foi o grande nome desse ano, conquistando ambos os splits.

Já em 2019, a fase classificatória deixou de ser disputada em formato de escala. Os times passaram a jogar, em três turnos, séries melhores de um (MD1), onde os quatro primeiros colocados avançaram para os playoffs. Esse formato se manteve até 2020.

O ano de 2021 foi marcado pela estreia do sistema de franquias no CBLOL. Da mesma forma que é feito em torneios de esportes tradicionais, como a NBA, pelo preço de R$4 milhões a R$4,4 milhões pelas vagas,  as equipes se tornaram sócias da Riot Games. Com isso, além das equipes tradicionais como a paiN Gaming e a INTZ, novos times estrearam no cenário: o Cruzeiro, a Rensga e a LOUD.

Em 2022, após sete anos no Estúdio Qanta, na Vila Leopoldina, o Campeonato Brasileiro de League of Legends passou a ter uma nova casa: a Arena CBLOL. Localizada na Avenida Thomas Edison. 849, na Barra Funda, em São Paulo, o local comporta 142 torcedores e seus ingressos são esgotados em questão de segundos.

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Dentro da Arena CBLOL. Foto: Maria Elisa Tauil/AGEMT

Para o caster Takeshi, a experiência de estar em contato constante com a torcida é algo único. “Eu acho que todos os jogadores da minha época, que pararam antes disso, sentem uma vontade de viver esse momento,” conta o ex-jogador. “Você faz um Barão e as coisas ficam mais intensas com a Arena, com o pessoal. A gente consegue ter esse gostinho, que na minha época só em grandes finais e é um gosto maravilhoso, imagina ter isso todo final de semana.”

“Como ex-jogador queria ter tido a oportunidade de toda semana ir trabalhar com a torcida.”

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Torcida da LOUD na Arena CBLOL. Foto: Maria Elisa Tauil/AGEMT

Em 2023, a mudança aconteceu nas equipes: o Fluxo comprou a vaga da Rensga, a Los Grandes do Flamengo e a Vivo Keyd Stars adquiriu o lugar da Miners.

O CBLOL 2024 também contou com mudanças no formato dos playoffs. Todos os times passaram a se classificar para a chave superior, onde os dois primeiros colocados na tabela avançam direto para a segunda rodada. Além disso, o primeiro lugar pode escolher, dentre os vencedores da primeira rodada, contra qual equipe quer jogar. A última modificação ocorreu no critério de desempate da fase regular.

Após mais de uma década de existência, o CBLOL se tornou o maior campeonato de eSports do Brasil. Na entrevista para a AGEMT, Takeshi conta que nunca imaginou que o Campeonato Brasileiro de League of Legends teria a proporção que tem hoje:

“As coisas foram crescendo junto, então (eu) não fazia a menor ideia de onde que ia parar tudo isso. Se eu voltasse lá pra 2013 e falasse: vai ter uma final no Maracanãzinho, no Allianz, na Jeunesse Arena, no Ibirapuera, não tá maluco isso daí. Não se passava isso na minha cabeça.”

CBLOL: UM FENÔMENO CULTURAL 

É inquestionável o impacto do jogo League of Legends no universo dos esportes eletrônicos. Mesmo com todo investimento da Riot Games no cenário competitivo, uma das principais chaves para todo esse sucesso está na torcida, um dos principais motores da popularização do Campeonato Brasileiro de League of Legends.

Em 2023, a final do 1º Split reuniu, de forma online, 276.078 pessoas simultaneamente. Presencialmente, os ingressos se esgotaram em cerca de 30 minutos. O CBLOL, além de uma opção de entretenimento, se tornou uma forma de expressão cultural e uma maneira de construir vínculos sociais.

Os fãs do eSport, assim como qualquer outro torcedor, são devotos aos seus times e levam sua paixão para além da tela do computador. A TOTradicionais, dedicada ao time paiN Gaming, foi fundada em 2018 e é a primeira torcida organizada no cenário brasileiro:

“A ideia, no começo, foi juntar um ciclo de amigos e aí foi crescendo. E basicamente foi isso, sabe? Juntar o pessoal que torce pra paiN, pra torcer pra paiN num lugar reservado,” relata Sora de 23 anos, responsável pela comunicação da organização.

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Torcedor da paiN Gaming. Foto: Maria Elisa Tauil/AGEMT

O torcedor da paiN Gaming, que acompanha o campeonato desde 2013, conta que existem oito pessoas envolvidas na diretoria da TOT e cada direção tem pelo menos uma pessoa com a função de staff para ajudar. Com a faixa etária que varia entre pré-adolescentes, até pessoas por volta dos 30 anos, a torcida organizada vai além do CBLOL:

“Além de torcer, a gente faz trabalho voluntário e arrecadamos valores para ONGs também” conta Sora. “Ter esse tom acolhedor para que as pessoas não só torçam com a gente, ou com outras organizadas, mas deixar um clima bem agradável.”

Além de movimentar torcidas, o Campeonato Brasileiro de League of Legends também consegue criar um sentimento de pertencimento nos fãs: “Eu jogo League of Legends desde o meio de 2014, comecei jogando com amigos de forma extremamente casual, porém logo no final do ano, assisti a final do mundial entre Samsung White e StarHorn Royal, que terminou com um 3 a 2 para a Samsung,” relata Luis Teixeira de Carvalho, de 22 anos. “Ali nasceu meu amor pelo LoL competitivo e pelo estilo de jogo coreano.”

“Desde do segundo split de 2015 passei a acompanhar assiduamente o CBLOL, pois sempre gostei muito da competitividade e do ecossistema das organizações, principalmente as tradicionais que se mantêm até hoje, todas as rivalidades e os clássicos que criaram toda uma mística no dia de jogo,” relata.

Para o apresentador Murilo “Takeshi” Alves, o grande diferencial da competição brasileira é a comunidade. “É muita coisa que gira em volta do LoL e obviamente do CBLOL.” aponta o caster. “A comunidade brasileira de League of Legends é diferente, tudo aqui funciona de maneira muito legal e as pessoas gostam e espero que continuem gostando.”

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Torcedor do time LOUD. Foto: Maria Elisa Tauil/AGEMT

Para o ex-jogador, sua relação com público é baseada no carinho. “Eu posso falar por mim, não falo todos os casters, 99.9% das pessoas que me vem na Arena falam comigo na minha stream etc, todo mundo elogia bastante, fala muito do bom trabalho, que gostam muito, que são muito fãs.” Ele comenta que como caster nunca teve uma experiência negativa e ainda destaca que só tem elogios ao apoio do público que acompanha o campeonato.