COMO AS PESSOAS SE RELACIONAM COM A APARÊNCIA NA PANDEMIA

Cada vez mais pessoas procuram ajuda para saber lidar com as mudanças estéticas que aconteceram durante a quarentena
por
Maria Clara Lacerda e Gabriella Maya
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11/09/2020 - 12h

A humanidade vive um momento sem precedentes, e o isolamento nunca foi tão necessário. A pandemia do novo Coronavírus agora já não é tão desconhecida, porém, depois de mais de cinco meses, a luta ainda é presente. Mas e a nossa autoestima? Como lidar com as mudanças do nosso corpo – e do mundo – vivendo dentro de casa e tendo de conviver todos os dias com nós mesmos?  

Natália Chagas é psicóloga, e contou à reportagem que o principal motivo de suas consultas são para tratar pessoas com assuntos como incapacidade e merecimento de conquistar algo. Em uma breve entrevista, Natália conta que durante a pandemia, isso se juntou à falta de perspectiva e a incerteza, além disso, à questão da aparência, “Também percebi que muitas das pessoas que já vinham numa luta com o corpo, especialmente as com questões de peso, tem se sentido muito mais culpadas por ganharem peso”.

Durante pesquisas para a pauta, entrevistamos 3 jovens que sofrem com a baixa autoestima e que compartilharam um pouco de suas histórias com seus corpos.  

Foto de Maria Clara Lacerda (acervo pessoal)
Foto de Maria Clara Lacerda (acervo pessoal)

A estudante de letras Marina Chagas, 24, conta que sua relação interna aumentou e agora ela consegue pensar de verdade em si mesma, além de ficar mais relaxada com algumas coisas “Com a pandemia, me vejo mais  de pijama e cabelo bagunçado, algo que com a rotina de faculdade e trabalho durante todo o dia, era quase impossível”. Entretanto, a aluna nota e aponta, com mais frequência, algumas características estéticas que antes não prestava tanta atenção.  

Juliana Signorelli, 17, diz que perdeu muito peso como consequência de sua depressão, e com isso sua autoestima abaixou bastante. Ela também contou que, na quarentena, sua maneira de se ver se tornou negativa, já que muito do que fazia antes, não faz mais. Porém, Signorelli diz que não se culpa, principalmente pelo seu diagnóstico já conhecido “Já me senti melhor com meu corpo, mas agora estou aceitando do jeito que está porque sei que estou doente e não posso exigir muito de mim nessas horas”. Signorelli faz terapia com psicóloga e acompanhamento com psiquiatra. 

Victoria Lopes, 16, conta que durante a quarentena, começou a transição capilar, um processo muito difícil que acabou piorando a forma como ela se enxerga.  Lopes conta que não se sente bem com seu corpo na maioria dos dias “Tenho muita mania de comparar o corpo dos outros com o meu e me sinto mal vendo que o meu é tão feio perto de outros”. A mesma recebe acompanhamento com psiquiatra e muito apoio da família.

               Quando perguntamos se as jovens se arrumam para si ou para os outros, Lopes e Chagas contam que este processo ainda se mantém interno. Lopes diz “Me arrumo para mim, para que eu me sinta bem comigo mesma de vez em quando, sabe? Não mudou com a pandemia”, assim como Chagas “Se vestir pra si mesma é um processo, mas pra mim é importante perceber que, mesmo que alguns comentários me deixem triste, não deixo de vestir algo que gosto”.

            Infelizmente com Juliana Signorelli, a situação é diferente “Quando me arrumo na maioria das vezes é pros outros e não pra mim”. A adolescente encontra muita dificuldade, principalmente pela depressão que carrega consigo nesse momento péssimo de quarentena.

            É perceptível que as três entrevistadas possuem inseguranças e histórias em relação a aparência. Signorelli fala “Perdi oito quilos nessa quarentena devido à depressão. Minhas pernas antes eram mais grossas e agora estão bem finas”, o que causa sua péssima visão de si mesma; Victoria Lopes conta “Já cheguei a me machucar muito por detestar o que eu vejo no espelho todos os dias”, a entrevistada diz se achar muito alta e magra.

Foto de Maria Clara Lacerda (acervo pessoal)
Foto de Maria Clara Lacerda (acervo pessoal)

E por fim, Marina Chagas compartilha “O tempo foi passando e comecei enfrentar alguns problemas pessoais que acabei transferindo para minha aparência”, o que causou em um movimento de tentar se encaixar em lugares que ela se sentia péssima, mas queria ser aceita. Para Chagas, felizmente, sua visão mudou e hoje a vida é muito mais leve quando ela se olha no espelho.

A psicóloga Nathália Chagas, quando disserta sobre aceitação e luta com o próprio corpo, fala “Primeiro tenha calma, porque a construção da autoestima é um caminho longo, mas se chega lá sim. Como passamos anos das nossas vidas sendo invalidados por causa de nosso corpo, nossa aparência, cabelo ou cor da pele, a reconstrução da autoimagem e amor próprio realmente precisa ser uma luta diária.”

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