A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou, nesta segunda-feira (12), oficialmente, Carlo Ancelotti como o novo técnico da Seleção Brasileira. O renomado treinador italiano, de 65 anos, deixará o comando do Real Madrid ao final da La Liga, campeonato espanhol, e assumirá o cargo no dia 26 de maio. O anúncio aconteceu pelas redes sociais da associação, após semanas de especulações e expectativas.
As idas e vindas da decisão expôs o quanto a CBF estava disposta a tudo para garantir o nome de peso. Nas redes sociais, a entidade se tornou "chacota", desde discursos públicos até silêncios constrangedores, todas as fichas foram apostadas em um nome que não demonstrava interesse.
Uma enrolação digna de novela
No fim de 2022, com a eliminação do Brasil nas quartas de finais da Copa do Mundo e a saída de Tite, Ancelotti passou a ser tratado como “plano A", a CBF garantiu que ele viria. Em 2023, o presidente Ednaldo Rodrigues falou publicamente sobre a vinda dele, como se o contrato estivesse fechado – sem nunca ter um anúncio oficial. Enquanto isso, Ancelotti seguia em silêncio, focado no Real Madrid e nas vitórias, e nunca confirmou nada.
Sem técnico fixo, a Seleção ficou à deriva. O técnico do sub-20 da amarelinha, Ramon Menezes, assumiu como interino e comandou o Brasil em amistosos e no início da preparação olímpica. Era um nome de transição e a pressão pós-copa não ajudou. Logo após, Fernando Diniz entrou como técnico interino enquanto, ao mesmo tempo, comandava o Fluminense. Nesse cenário, a campanha nas Eliminatórias foi um desastre. O Brasil colecionou derrotas e ficou pela primeira vez fora do G-6 da América do Sul.
Em 2024, Dorival Júnior foi chamado para arrumar a casa, e ainda assim, o nome do italiano continuava a circular. A “Era Ancelotti” era uma ilusão sustentada pela esperança e promessas.
Com a demissão do último técnico, Dorival Júnior, no fim de março, o nome de Ancelotti foi novamente citado como um possível substituto. A ideia era convencer o técnico a vir imediatamente, para encerrar de vez o ciclo. Mas o clima esfriou de novo. Internamente, pesava o fato de ele ainda estar no Real Madrid e sem dar sinais claros de querer mudar os ares. O nome sumiu no noticiário por alguns dias, até reaparecer, dessa vez com mais força.
A contratação é histórica, por ser a primeira vez em quase 60 anos que um estrangeiro assume a Seleção Brasileira. O último foi o argentino Filpo Núñez em 1965, que comandou o time por apenas uma partida, em um amistoso contra o Uruguai.
É oficial e imediato. Ancelotti vai fazer sua primeira atuação ainda neste mês de maio, para a convocação de dois jogos das eliminatórias da Copa de 2026. O primeiro acontecerá no dia 05 de junho, contra o Equador no Estádio Monumental Banco Pichincha, em Guayaquil. O segundo acontecerá no dia 10 de junho, contra o Paraguai, na Neo Química Arena, em São Paulo.
A escalação de estrelas do futebol
Carlo Ancelotti começou a treinar clubes no futebol italiano em 1995, assumiu o comando do Reggiana, depois Parma e Juventus. Mas sua trajetória de maior destaque iniciou em 2001 no Milan.
A palavra que define o esquema tático de Ancelotti é adaptabilidade, quando o técnico escalava o Milan em 4-3-2-1, o que possibilitava que um meio campo de Kaká, Pirlo, Seedorf e Gattuso pudessem, juntos, criar jogadas para o atacante mais avançado. Com a equipe italiana, ele conquistou duas Liga dos Campeões (2002-3, 2006-07) e um Mundial de Clubes FIFA em 2007, além das competições nacionais.

Em 2009, Carlo precisou se adequar aos moldes ingleses quando decidiu migrar para o Chelsea. As diferenças do futebol jogado não foram um problema para ele, na temporada de estreia já venceu a Premier League. Ao assumir um esquema tático mais ofensivo e móvel, o técnico conseguia dar espaço para as estrelas Lampard e Drogba serem artilheiros. A era no futebol inglês ficou marcada por uma posição mais conservadora na defesa e de inovação do meio para a frente.
Dois anos depois, Ancelotti recebeu o desafio para comandar um clube de uma liga de segundo escalão e com um jejum de títulos de quase duas décadas. Pode-se dizer que existiu um PSG antes e outro, totalmente diferente, da passagem do técnico. O italiano saiu de Paris com o sonhado título nacional e uma base para uma equipe em evolução rumo à elite do futebol.
Como se a sua glória fosse infinita, em 2014 Ancelotti somou ao extenso histórico de títulos a La Décima, o 10º título da Liga dos Campeões pelo Real Madrid. No ataque o trio BBC e o meio campo seguro de Toni Kroos e Luka Modric, criaram um 4-3-3 sólido que não deixava espaço para o adversário marcar.

Depois de Itália, Inglaterra, França e Espanha, Carlo chegou aos estádios alemães. Em 2016, no Bayern de Munique, para não perder o costume, venceu a Bundesliga no ano em que estreou. O técnico manteve a flexibilidade e espaço para as estrelas do time brilharem.
O retorno do craque tático para a Espanha não fugiu do esperado, o Real Madrid de 2021 estava em processo de adaptação aos jovens que chegavam e Ancelotti soube administrar e lapidar jogadores. Os brasileiros Vinicius Jr e Rodrygo foram conquistando a confiança do técnico e cresceram dentro do time de veteranos. A equipe ficou marcada por viradas históricas e a conquista da tríplice coroa em 2022.
Expectativa para a Copa de 2026
Com a Copa do Mundo de 2026 se aproximando, Ancelotti assume com tempo suficiente para testar, errar e acertar. Mas não há espaço para o fracasso, a pressão é imensa. O Brasil não vence a Copa há mais de 20 anos, e a seleção masculina anda colecionando frustrações. A chegada do italiano é vista como um divisor de águas, para dar esperança à torcida desesperada para resgatar o protagonismo que o país já teve.