Calor, estresse e ansiedade na coletiva de Tarcísio

Estudante de jornalismo cobre primeira entrevista do governador eleito por São Paulo, no Hotel Sheraton, no Brooklin Novo
por
Artur dos Santos
Lucas Allabi
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10/11/2022 - 12h

Em um domingo de eleição, 16h30 da tarde, a espera no ponto de ônibus pode durar muito mais do que se imagina - principalmente quando o destino final do ônibus é a coletiva de imprensa do agora governador eleito Tarcísio de Freitas. Com o horário de eleições já acabando e as projeções já sendo realizadas, as eleições mais importantes desde a redemocratização estavam perto de se concluir. O calor, stress, ansiedade e o sol da tarde cozinhavam quem no ponto esperava por um ônibus.

A coletiva de imprensa desta vez seria no Hotel Sheraton, no Bairro do Brooklin Novo, em São Paulo, ao passo que, no primeiro turno, a coletiva foi realizada no térreo do prédio do chefe de campanha de Tarcísio, Guilherme Afif, na Zona Oeste da cidade. Pelo menos os jornalistas teriam cobertura do frio da noite, pois a coletiva ocorre apenas após a apuração dos votos.

Quando uma equipe de estudantes chega para cobrir um evento desses, é facilmente reconhecida: mais novos, sem crachás ou cara de quem já saiba o que está fazendo, e muitas vezes sem equipamentos - não que isso impeça uma cobertura de qualidade.

O hotel ofereceu a todos os profissionais presentes café, suco, pães de queijo e água, alimentos necessários para jornalistas que ficariam as próximas quatro horas e meia requentando informações às suas emissoras, guardando o melhor lugar à frente do púlpito e conversando com seus colegas de classe, seja pegando dicas _mais uma forma de se perceber uma equipe de estudante _ ou contando causos de outras coberturas. 

A equipe de estudantes que representava a Agência de Notícias Maurício Tragtemberg passava suas quatro horas e meia em um misto de guardar lugar, pegar dicas e até se conhecer, por ser a primeira cobertura que fariam juntos. Após algumas horas de conversa, durante a apuração, a sensação de tensão aumentava, pois, afinal, estava-se decidindo os futuros governador e presidente em meio a um cenário de incertezas políticas, ataques à democracia e à própria profissão à qual estão estudando para exercer. 

Aproximadamente às 19h30, o então candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi considerado matematicamente eleito governador do Estado de São Paulo, após uma apuração que ele liderou desde o início. A virada do agora eleito Presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio um pouco antes, por anúncios de jornalistas ao redor da sala, esporadicamente anunciando “Virou!”. Para uma profissão que acompanhou o primeiro e o segundo turnos com as incertezas e o receio de que poderia ser atacada por mais quatro anos, segundo relato de Guarulhos, câmera da Band, “eu não aguento mais quatro anos disso”, a virada veio como um alívio.

Ao momento da decisão das eleições federais, um clima de semelhante alívio tomou conta da sala na qual se esperava pelo pronunciamento do agora governador Tarcísio, e, em meio a esse clima, algum cameraman de alguma emissora ouviu um vídeo no celular com o áudio de Jair Bolsonaro dizendo “Acabou, Porra!”. A sala, antes tensa, riu.

Com o fim da contagem de votos, Tarcísio de Freitas, governador eleito, desceu à sala para se pronunciar. Em uma coletiva, pergunta quem grita mais alto, independente do veículo que representa. Isso pois, independente de qualquer coisa, a quem gritar mais alto o olhar do entrevistado concederá a permissão para que se conclua a pergunta e se obtenha a tão esperada resposta.

Nesse momento o bastidor acaba, as luzes se acendem e os microfones se abrem para que se registre os únicos 30 minutos de maior interesse público que ocorrerão na ocasião. Após o término da coletiva, o bastidor volta, as luzes são desligadas, os microfones recolhidos e as conexões interrompidas para que volte ao palco o que não interessa mais ao público, agora eufórico ou paranóico quanto aos resultados. 

 

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